Ameaças ao vento

Por Eliara Santana

Ontem, Steve Bannon – o único e verdadeiro mentor de Donald Trump – afirmou numa entrevista que as “ações” de Trump pedindo por Bolsonaro, afirmando a inocência do ex-presidente e ameaçando Lula, Xandão e o governo brasileiro, eram somente o começo. Muito mais vai vir, garantiu o guru.

Essas inserções midiáticas bombásticas, na cartilha de Bannon, mantêm os grupos mobilizados, apelam pela emoção e criam situações de caos e apreensão. Esses são os objetivos para encobrir a raiva com o sucesso dos BRICS no Brasil. Ninguém está verdadeiramente preocupado com Jair, o inelegível entupido – ele é só um bode conveniente. E que serve ao propósito de bagunçar o Brasil.

Hoje, Eduardo Bolsonaro, vulgo Dudu Bananinha, aquele que fugiu para os EUA, sob as barbas do Estado brasileiro para abertamente conspirar contra o país, está feliz nas redes pela manifestação de Trump. Dudu é bom em criar factoides e mobilizar pelo apelo emotivo – apesar da cara cínica. Pois bem, ele também está anunciando que virão mais ações e que a manifestação de Trump “é só o começo”. Dudu se parece bastante com alguns perfis no Face que ficam dizendo “olha, muita gente me procurando, me telefonando, mas agora não posso contar, aguardem. E me sigam”, tudo para conseguir mais likes e atiçar a curiosidade. Além do que, esse impulso fake encobre as rachaduras da extrema direita – mas esse é outro assunto para daqui a pouco.

Bom, intrigas à parte, o ponto é: essas investidas contra o Governo e a favor de Bolsonaro, vindas de fora para mobilizar os de dentro, vão continuar e devem se aprimorar. Atentos a isso, já vamos também nos mobilizar. Mas o ponto crucial é o seguinte: esse cenário não é tão ruim quanto pode parecer num primeiro momento. Sabem por quê? Porque, como já disse aqui algumas vezes, Trump e Bolsonaro à solta, falando asneiras e fazendo asneiras, são personagens excelentes para arrancar máscaras e sacudir isentões. Porque todas essas ações interpelam fortemente os falsos democratas e aqueles que fingem que Tarcísio gosta de democracia e os obrigam a se manifestar também. E claro, porque tudo isso dá um nó enorme na imprensa, que terá de defender o Brasil. Fortes emoções.

Sigamos!

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Eliara Santana é jornalista, doutora em Linguística e Língua Portuguesa, com foco em Análise do Discurso. Ela é pesquisadora do Observatório das Eleições e integra o Núcleo de Estudos Avançados de Linguagens, da Universidade Federal do Rio Grande. Coordena o programa Desinformação & Política. Também Desenvolve pesquisa sobre desinformação, desinfodemia e letramento midiático no Brasil.

UGT manifesta apoio a Lula em defesa dos vetos e da democracia social

A União Geral dos Trabalhadores (UGT) saiu ontem em defesa dos vetos e da democracia social, posicionando-se ao lado da decisão do presidente Lula de recorrer ao STF pela taxação do IOF. Ao mesmo tempo, critica os retrocessos impostos pelo Congresso Nacional:

“A União Geral dos Trabalhadores – UGT manifesta seu apoio integral à manutenção dos vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje representam a última barreira contra retrocessos sociais e o avanço de uma lógica perversa dentro do Congresso Nacional.

Já tivemos um Parlamento capaz de promover avanços civilizatórios – a promulgação da Constituição de 1988 talvez seja o maior deles. Hoje, porém, vivemos um processo de captura institucional, operado por grupos que atuam com práticas milicianas: trocam votos por favores, negociam verbas públicas para atender lobbies e abandonam as verdadeiras demandas do povo brasileiro.

Este Congresso aprova o aumento no número de deputados, em afronta à Constituição, ao mesmo tempo em que corta recursos da saúde, da educação, da assistência social e ameaça conquistas históricas como o salário mínimo e a aposentadoria. É o mesmo Congresso que manipula tarifas públicas – como a conta de luz – para beneficiar empresários em plena crise social e econômica. O mesmo que preserva bilhões em incentivos fiscais para os mais ricos, enquanto transfere a conta para a população trabalhadora.

Não temos representantes. Temos operadores de interesses privados.

Vivemos uma era de rentismo desenfreado, em que “os de cima sobem e os de baixo afundam”. A lógica de funcionamento do Congresso se assemelha cada vez mais à de uma milícia institucionalizada: proteção em troca de recursos, chantagens – veladas ou explícitas – e absoluto desprezo pelo bem comum.

Diante disso, a UGT reconhece a importância dos vetos presidenciais como instrumentos essenciais de defesa da democracia social e de um equilíbrio fiscal verdadeiramente responsável. O presidente Lula e o ministro Fernando Haddad têm agido com coragem – muitas vezes isolados – para proteger o Estado brasileiro da ruína institucional. Enquanto parte do governo se omite, o Congresso transforma-se em um espaço de chantagem política e destruição do pacto democrático.

A manutenção dos vetos não é apenas uma medida técnica. É uma questão moral.

Ao defender os vetos, estamos defendendo o SUS, a merenda escolar, os investimentos públicos, a agricultura familiar, o salário mínimo e os direitos da maioria da população brasileira. Derrubá-los é aprofundar a crise institucional e empurrar o país ainda mais para o abismo da desigualdade e do autoritarismo.

A UGT acredita que é urgente reconstruir o espaço político com coragem, lucidez e responsabilidade. Não há mais tempo para omissão.
É hora de resistir. É hora de escolher de que lado da história estamos”.

Enilson Simões de Moura – Alemão
Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável
Vice-presidente Nacional da União Geral dos Trabalhadores – UGT

Guerra dos donos: Universal e Assembleia de Deus brigam por mais poder no Congresso em 2026

Por Gilberto Nascimento – Intercept_Brasil

A disputa por poder político de olho na eleição de 2026 já mobiliza três dos principais grupos evangélicos do Brasil. Neste Game of Thrones religioso, está em jogo a pavimentação para a candidatura de Tarcísio de Freitas para a presidência, uma possível indicação de Ricardo Nunes para disputar o governo paulista e o ressurgimento político de figuras como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.

Essa tríade é comandada pelo pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, a Advec; pelo bispo Samuel Ferreira, presidente-executivo da Convenção Nacional das Assembleias de Deus Madureira, que reúne vários templos desse ramo pelo país; e pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus.

“Nesse momento, o que a gente consegue ver com mais evidência são esses três grandes projetos. Mas todos esses projetos estabelecidos apresentam entre si rearranjos e recombinações”, explica o teólogo protestante Fábio Py, professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, o Iuperj.

O deputado federal pelo Rio de Janeiro e pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo Sóstenes Cavalcante, líder do PL na Câmara e tido como um porta-voz informal de Silas Malafaia, disse ao Intercept Brasil que essa ação política de grupos evangélicos pode ser ainda mais ampla. 

“De média a grandes representações evangélicas, temos umas dez. Todas elas têm projeto político, sim. A Igreja Batista, por exemplo, é forte. Tem ainda os presbiterianos, os luteranos, as comunidades evangélicas e a Igreja do Evangelho Quadrangular, uma das mais organizadas e com representatividade muito grande”, pontua Sóstenes, ex-presidente da Frente Parlamentar Evangélica.

Deputado Federal, Sóstenes Cavalcante, do PL do Rio de Janeiro, participou do ato "Justiça Já" que pediu a anistia dos envolvidos no 8 de Janeiro (Foto: Marina Uezima/Brazil Photo Press/Folhapress)
Deputado Sóstenes Cavalcante, do PL-RJ, discursou em ato em SP que pediu a anistia dos envolvidos no 8 de Janeiro (Foto: Marina Uezima/Brazil Photo Press/Folhapress)

Segundo o pastor e líder do PL, essas dez representações deverão se unir na sucessão presidencial, “todas contrárias a um projeto de esquerda para o Executivo, porque a esquerda não consegue conversar com o segmento”. Mas ainda é cedo para dizer que isso está sacramentado. Afinal, cada grupo tem estratégias diferentes. “Os batistas se alinham ao poder, mas não têm projeto de poder. Não vão lançar um candidato a presidente, por exemplo, ou, como denominação, colar numa candidatura a presidente oficialmente”, garante o pastor Sergio Dusilek, da Igreja Batista de Marapendi, no Rio de Janeiro, ex-presidente da Convenção Batista Carioca. 

Entre todos esses grupos, ganha destaque a disputa interna para definir quem tem a hegemonia na Assembleia de Deus, a maior igreja evangélica do país, com 12,3 milhões de fiéis, segundo os dados mais recentes do IBGE, de 2010, sobre o tamanho das denominações religiosas.

A Assembleia de Deus é composta por vários ramos. O maior deles é o da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, CGADB, liderada pelo pastor José Wellington Bezerra, do bairro do Belém, zona leste de São Paulo. 

Para se ter uma ideia do poder político desse grupo, basta olhar para a bancada evangélica na Câmara dos Deputados. Hoje, há 14 deputados federais e três senadores ligados à CGADB – a maioria de partidos à direita ou centro. Apesar de maior do que partidos como PSOL, Avante e Solidariedade, o  grupo atua com discrição. “O Wellington nunca disputou esse posto de voz dos evangélicos”, testemunha o colega pastor Sergio Dusilek.

Na sequência, vêm a Assembleia Madureira, do bispo Samuel Ferreira, com sete deputados federais e um senador; a Vitória em Cristo, de Malafaia, com quatro deputados; e a Assembleia de Deus de Belém, no Pará, ligada à  Convenção das Assembleias de Deus do Brasil, a CADB, liderada pelo pastor Samuel Câmara, com três deputados federais.

Os grupos menores na Assembleia vão agora a campo na política justamente para se fortalecer. “A Vitória em Cristo, porém, transcende sua representação, além da Assembleia, por causa do pastor Malafaia, que, com suas pregações e o seu discurso, atrai a simpatia de evangélicos de outras denominações”, afirma Sóstenes Cavalcante.

O atual presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado e pastor Gilberto Nascimento, do PSD de SP, já foi representante da Assembleia Madureira em São Paulo e hoje é próximo do pastor Silas Malafaia, da Advec. “Ele [Nascimento] frequenta várias igrejas, mas é o candidato do pastor Silas. Ele é o candidato da nossa igreja em São Paulo. É  o candidato que tem uma mala direta com mais de 200 mil nomes de pessoas evangélicas de São Paulo ligados ao pastor Silas”, explica o deputado Sóstenes.

O pastor e deputado procura amenizar a disputa interna entre os evangélicos. “A igreja evangélica é plural. Nós não temos um grupo mais forte do que o outro ou menos forte. Há igrejas maiores, porém, conforme mostram os números do IBGE. Isso se reflete no parlamento”, diz.

Malafaia quer herdar o espólio do bolsonarismo

Pastor Silas Malafaia participou, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro, de ato na Avenida Paulista a favor da anistia aos golpistas do 8 de Janeiro (Foto: Leandro Chemalle/Thenews2/Folhapress)
Pastor Silas Malafaia participou, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro, de ato em SP a favor da anistia aos golpistas (Foto: Leandro Chemalle/Thenews2/Folhapress)

O pastor Silas Malafaia, mentor de Sóstenes, procurou se notabilizar nos últimos anos como um dos líderes do bolsonarismo e como protagonista de um ativismo evangélico conservador, que cresceu e ganhou força no país.

Em busca de um fortalecimento político maior para sua igreja, Malafaia apostou na aproximação com os seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro, do PL, e na manutenção de um alinhamento com a extrema direita. Tenta herdar o espólio do bolsonarismo. 

Malafaia foi o patrocinador e organizador de atos pelo Brasil reivindicando anistia a Bolsonaro, que está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, TSE, até 2030 e é réu na ação penal que apura a tentativa de golpe para mantê-lo no poder após as eleições de 2022.

Aliado tradicional de políticos conservadores, embora já tenha apoiado Lula e o PT no passado, Malafaia e sua igreja têm entre os seus objetivos o combate às ações da esquerda. O presidente Lula e o PT estão entre os seus alvos preferidos. Verborrágico e histriônico, o pastor usa o seu poder midiático e faz um forte apelo emocional nos discursos e pregações. 

Preocupado com a taxação dos super-ricos?

Confira então se seu nome está na lista dos 50 bilionários brasileiros, segundo a atualização mais recente da Forbes/Valor Econômico (abril de 2025). A lista é dominada por banqueiros, rentistas, herdeiros, pastores e agropecuaristas.

Posição no Ranking Brasil:

Nome /  Fortuna (US$)

1 Eduardo Saverin (foto) 34,5 bi

2 Vicky Safra 20,7 bi

3 Jorge Paulo Lemann 17 bi

4 Carlos Alberto Sicupira 7,6 bi

5 André Esteves 6,9 bi

6 Fernando Roberto Moreira Salles 6,5 bi

7 Pedro Moreira Salles 6,1 bi

8 Miguel Krigsner 6,1 bi

9 Max Van Hoegaerden Herrmann Telles 5,8 bi

10 Alexandre Behring 5,7 bi

11 João Moreira Salles 4,5 bi

12 Walther Moreira Salles Jr. 4,5 bi

13 Jorge Moll Filho 4,4 bi

14 Joesley Batista 3,8 bi

15 Wesley Batista 3,8 bi

16 Maurizio Billi 3,7 bi

17 Alceu Elias Feldmann 3,3 bi

18 José João Abdalla Filho 3,2 bi

19 Mário Araripe 3,0 bi

20 João Roberto Marinho 3,0 bi

21 José Roberto Marinho 3,0 bi

22 Roberto Irineu Marinho 3,0 bi

23 Lirio Parisotto 2,5 bi

24 Marcel Herrmann Telles 2,3 bi

25 Alexandre Grendene Bartelle 2,2 bi

26 Julio Bozano 2,1 bi

27 Luciano Hang 2,0 bi

28 Jayme Garfinkel 1,8 bi

29 Edir Macedo 1,8 bi

30 Luiz Frias 1,7 bi

31 Ilson Mateus 1,7 bi

32 Guilherme Benchimol 1,7 bi

33 Alfredo Egydio Villela Filho 1,7 bi

34 Sasson Dayan 1,5 bi

35 Ana Lucia de Mattos Barretto Villela 1,5 bi

36 Artur Grynbaum 1,5 bi

37 Rubens Menin Teixeira de Souza 1,5 bi

38 Rubens Ometto Silveira Mello 1,5 bi

39 Carlos Sanchez 1,5 bi

40 Eduardo Voigt Schwartz 1,5 bi

41 Mariana Voigt Schwartz Gomes 1,5 bi

42 Cristina Junqueira 1,4 bi

43 José Roberto Ermírio de Moraes 1,3 bi

44 José Ermírio de Moraes Neto 1,3 bi

45 Daniel Feffer 1,3 bi

46 David Feffer 1,3 bi

47 Neide Helena de Moraes 1,3 bi

48 Vera Rechulski Santo Domingo 1,3 bi

49 Jorge Feffer 1,2 bi

50 Ruben Feffer 1,2 bi