Estudo da Unicamp atesta propriedades antitumorais de oleorresina de copaíba

Faculdade de Ciências Farmacêuticas analisa farmacologia de produto amazônico

Por Felipe Mateus

As copaíbas são um patrimônio da flora brasileira. Trata-se de árvores com cerca de 25 a 40 metros de altura encontradas na América Central, na América do Sul e na África Ocidental. Mais de 70 espécies de copaíba já foram descritas no mundo, 16 das quais endêmicas do Brasil e ocorrendo principalmente na região amazônica e na Região Centro-Oeste. Conhecidas popularmente como paus-de-óleo, essas árvores possuem troncos que produzem uma oleorresina com propriedades farmacológicas verificadas em modelos experimentais, fazendo do produto um componente importante da medicina tradicional dos povos amazônicos.

Com o objetivo de aprofundar os conhecimentos acerca dessas propriedades, um estudo da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unicamp avaliou o potencial antitumoral da oleorresina de um tipo específico de copaíba, a espécie Copaifera reticulata Ducke. Os testes mostraram que o produto consegue interromper a proliferação de e matar células de linhagens tumorais, abrindo possibilidades para o desenvolvimento de novas terapias contra o câncer. A avaliação fez parte da pesquisa de doutorado de Jhéssica Krhistinne Caetano Frota, com orientação do professor João Ernesto de Carvalho.

Ação antitumoral

O interesse de pesquisadores das ciências farmacêuticas pela oleorresina de copaíba vale-se também dos conhecimentos etnofarmacológicos de povos tradicionais, especialmente os da região amazônica. Segundo a pesquisadora, o uso do produto é amplamente difundido na cultura local. “As pesquisas já comprovaram sua ação anti-inflamatória, antimicrobiana, cicatrizante, antileishmania, antitumoral, antimalárica, antioxidante e antinociceptiva [efeito de redução ou bloqueio da percepção e transmissão dos estímulos de dor]”, enumera Frota.

A amostra de oleorresina utilizada nas análises saiu de uma C. reticulata Ducke da Floresta Nacional dos Tapajós, no município de Belterra, no Pará, amostra essa cedida pelo Laboratório de Biotecnologia de Plantas Medicinais da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). Antes de avaliar a composição e os efeitos farmacológicos do material, a pesquisadora submeteu a oleorresina a um processo de hidrodestilação separando-a em uma fração volátil, de óleo essencial, e em outra fração resinosa.

Realizaram-se ainda fracionamentos para isolar determinados compostos, com o objetivo de comparar os efeitos da oleorresina bruta com suas frações volátil e resinosa e com as subfrações isoladas. No caso das frações volátil e resinosa, Frota conta que o óleo essencial é rico em sesquiterpenos, enquanto a fração resinosa contém mais diterpenos, outro composto da mesma classe, com atividade antitumoral.

A análise in vitro ocorreu em culturas de células de diferentes linhagens cancerígenas, como as de glioblastoma (tipo de câncer que afeta o sistema nervoso central) e de câncer de mama, de ovário, de pulmão e colorretal. Tanto a oleorresina bruta quanto as frações e subfrações isoladas apresentaram efeitos citostáticos, interrompendo a proliferação das células, e citocidas, eliminando-as. Na sequência, foram realizados testes em camundongos, primeiro para determinar a toxicidade aguda e, depois, a ação antitumoral e anti-inflamatória.

No teste de toxicidade aguda, as doses máximas toleradas foram de 500 mg/kg, 1.000 mg/kg e 500 mg/kg para a oleorresina bruta e as frações volátil e resinosa, respectivamente. Já nos testes da ação antitumoral, a oleorresina bruta e sua fração volátil inibiram significativamente o desenvolvimento do tumor experimental. No caso da oleorresina bruta, a dose de 75 mg/kg reduziu o peso relativo tumoral em 44,2% enquanto a dose de 150 mg/kg respondeu por uma redução maior, de 85,3%. Já a dose de 250 mg/kg da fração volátil conseguiu reduzir o peso relativo do tumor em 55,5%.

Também chamou atenção o efeito anti-inflamatório verificado especificamente nas doses de 75 mg/kg da oleorresina bruta e de 250 mg/kg da fração volátil. “Existem linhas de pesquisa que se dedicam a combater os processos inflamatórios que as células de tumores sólidos causam”, afirmou Carvalho. Segundo o docente, conforme os tumores se desenvolvem, as células tumorais induzem processos inflamatórios para se nutrir e crescer. Assim, o efeito anti-inflamatório contribuiria com o combate aos tumores. No entanto os pesquisadores alertam que, de forma nenhuma, o produto deve ser utilizado para enfrentar um câncer. Os resultados das pesquisas, ainda preliminares, carecem de aprofundamento para determinar melhor a toxicidade do produto e seus efeitos farmacológicos.

Manejo sustentável

Por se tratar de um produto tradicional na cultura amazônica, a oleorresina de copaíba é facilmente encontrada tanto em feiras, lojas de produtos naturais e sites especializados quanto em áreas de mata nativa e mesmo nos quintais de casas da região. Se, por um lado, isso amplia suas possibilidades de uso, por outro faz com que fique suscetível a misturas de oleorresinas extraídas de diferentes espécies de copaíba e mesmo a adulterações por meio do acréscimo de outros tipos de óleo. “Como existem 27 espécies de copaíba documentadas no Brasil, quando se fala apenas em ‘oleorresina de copaíba’ não é possível determinar a qual espécie nos referimos”, disse o orientador da tese.

Os pesquisadores ressaltam que a oleorresina de cada espécie apresenta um tipo de composição química específico e fatores como o clima, o tipo de solo e o regime de chuvas podem interferir nisso. No caso, os resultados do estudo referem-se especificamente ao indivíduo da espécie estudada – a C. reticulata Ducke –, encontrado na Floresta Nacional do Tapajós. Segundo Frota, a rastreabilidade da origem da oleorresina representa uma vantagem, pois permite manter a atenção detalhada acerca de suas propriedades e seus efeitos. “Para mim, é um privilégio estudar algo próprio da minha região, da minha casa, e que eu valorizo muito.”

Outra contribuição importante do estudo é valorizar os conhecimentos trazidos pelos povos tradicionais da região, unindo-os a um manejo sustentável das copaíbas e, consequentemente, à preservação da floresta. “Toda a utilização popular, o comércio e a própria pesquisa auxiliam a mantermos a floresta em pé pois a copaíba cresce na Amazônia e, sem a floresta, essas árvores não existiriam”, observou Carvalho.

Quando só a vitória ajuda

POR GERSON NOGUEIRA

O Re-Pa 779 tem tudo para ser o mais empolgante disputado na temporada. Até o momento, os rivais disputaram três clássicos, todos pelo Campeonato Paraense. O equilíbrio prevaleceu: uma vitória para cada lado e um empate. Neste sábado, às 18h30, é certo que acontece o tira-cisma.

Por uma razão bem natural. Remo e PSC precisam da vitória porque o empate é péssimo negócio para ambos a essa altura da competição. Um busca voltar para o G4. O outro tenta sair da lanterna e emendar uma sequência vitoriosa depois de 11 rodadas de tropeços.  

São missões opostas, mas com o mesmo grau de dificuldades. Para alcançar seus objetivos, ambos terão comandantes que nunca trabalharam como (técnicos) no clássico. Claudinei Oliveira, do PSC, disputou o jogo como goleiro do Remo no início dos anos 2000.

Como técnico, Claudinei leva a pequena vantagem de ter estreado no comando do Papão na sexta-feira da semana passada, quando comandou o time na vitória sobre o Botafogo-SP, a primeira na Série B.

Do lado remista, o português Antônio Oliveira chegou no começo desta semana, conheceu os pontos turísticos e a gastronomia paraense, mas só foi apresentado formalmente como técnico da equipe na sexta-feira, 20. Embaraço de ordem burocrática retardou a assinatura do contrato.

No papel de novo comandante, Oliveira tem que mandar a campo um time capaz de superar a má apresentação da 12ª rodada, quando o Remo perdeu para o Athletico-PR, em Curitiba. Por sorte, terá à disposição quase todos os jogadores que estavam lesionados, incluindo o artilheiro Pedro Rocha.  

A responsabilidade de Claudinei não é menor. Com a oferta de 10 reforços, que chegaram praticamente junto com ele, precisa avaliar se é hora de mexidas radicais no time ou se prestigia os remanescentes da campanha sob a direção de Luizinho Lopes. Deve ficar no meio-termo. Benitez, muito questionado pela torcida, pode perder lugar para o novato Diogo Oliveira.

Como se vê, problemas e desafios de tamanho parecido.  

Torcidas responsáveis por um grande privilégio

Poucos são conscientes do tremendo privilégio que é ter um clássico com espaço para duas torcidas, lado a lado, vibrando e se esgoelando antes, durante e depois que a bola rola. O Re-Pa é assim, por enquanto. Apesar das hostilidades e ações violentas, vistas em muitos momentos, torcedores azulinos e bicolores ainda compartilham o Mangueirão.

É quase um milagre que isso permaneça valendo até os dias de hoje, depois que grande parte das capitais brasileiras aboliu a presença de duas torcidas rivais em clássicos regionais. A explicação é simples para o sistema de torcida única em Belo Horizonte e Porto Alegre: o imenso trabalho que é cuidar de gente turbulenta e belicosa nos estádios.

Clubes e órgãos de segurança preferem não assumir a missão de administrar rivalidades. Não se pode condená-los por isso, mas que é um crime de lesa-futebol, ah isso é. Poucas cenas são tão empolgantes quanto a visão de duas torcidas postadas frente a frente, explodindo de entusiasmo e felicidade enquanto seus times se enfrentam em campo.

Sempre que o Re-Pa acontece, é justo que se observe e valorize essa condição cada vez mais rara, com a sensibilidade de entender que a responsabilidade é de todos – torcidas, clubes, jogadores, FPF. Por isso, cada novo confronto entre os rivais é também um teste civilizatório.

Os 50 mil torcedores que irão ao Mangueirão neste sábado (21) têm a missão especial de fazer com que tudo comece e termine bem.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro apresenta o programa, a partir das 23h30 (após a final da NBA), na RBATV. Participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba Baião. Em pauta, o Re-Pa 779, válido pela 13ª rodada da Série B. A edição é de Lourdes Cezar e Lino Machado.  


Botafogo vive noite histórica e consagradora

A batalha contra o PSG foi daquelas noites inesquecíveis, que só o Botafogo é capaz de proporcionar, para o bem e para o mal. Contra o melhor e mais agressivo time do mundo, o sistema tático elaborado por Renato Paiva funcionou às mil maravilhas. O jogo foi sofrido, mas heroico na maior parte do tempo.

Preciso admitir que quase ninguém acreditava, nem eu. Temia um vexame de proporções mundiais. Desde que ficou definido por sorteio o grupo do Botafogo na Copa do Mundo de Clubes, integrado por PSG e Atlético de Madrid, não consegui me afastar da preocupação com um tombo histórico.

A instabilidade do time no Campeonato Brasileiro contribuiu para tornar a expectativa ainda mais sofrida. A estreia contra o Seattle Sounders, com um magro 2 a 1, confirmou meus piores temores em relação ao PSG, todo-poderoso campeão da Europa, metido a surrar todo mundo.

O gol, tipicamente alvinegro, foi construído com troca rápida de passes e finalizado com a categoria de Igor Jesus. Mais que a comemoração pela mítica vitória, desfrutei nas últimas horas do orgulho de achar que o Botafogo é quase assim um campeão mundial. Afinal, bateu o time que deveria ser o outro finalista numa hipotética decisão desta Copa. 

(Colunas publicada na edição do Bola de sábado/domingo, 21/22)