Grupo Prerrogativas denuncia Damares por beneficiar igrejas com mentiras sobre o Marajó

Por Augusto de Souza, no DCM

O grupo de advogados progressistas Prerrogativas intensificou sua atuação judicial contra expoentes do bolsonarismo. Nesta segunda-feira (16), o coletivo protocolou na Procuradoria-Geral da República (PGR) uma representação criminal contra a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), acusando-a dos crimes de peculato e associação criminosa.

A denúncia se baseia em uma reportagem do Uol que revelou irregularidades no programa “Abrace o Marajó”, criado por Damares durante sua gestão como ministra dos Direitos Humanos no governo Bolsonaro. Segundo a apuração, o projeto, justificado pelo combate a supostos abusos sexuais nunca comprovados na Ilha de Marajó (PA), teria facilitado grilagem de terras e beneficiado igrejas evangélicas.

“Quem critica o Abrace o Marajó o faz de maneira absolutamente ideológica, ou tem interesses políticos próprios”, rebateu Damares ao Uol.

O Prerrogativas aponta na denúncia ainda que:

– Terras comunitárias do arquipélago foram destinadas irregularmente a igrejas evangélicas;
– O programa serviu de fachada para interesses do agronegócio e mercado de crédito de carbono;
– As alegações de abusos sexuais em massa nunca foram comprovadas.

Esta é a segunda ação do grupo contra lideranças bolsonaristas em menos de um mês. Em maio, os advogados já haviam acionado a deputada Bia Kicis (PL-DF) por declarações contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante sessão da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara.

No documento à PGR, o Prerrogativas argumenta que Kicis cometeu calúnia e difamação qualificadas ao acusar Moraes de “adulteração de documentos e manipulação de julgamentos” sem apresentar provas. “Os ataques extrapolam os limites da liberdade de expressão e da imunidade parlamentar”, sustenta o grupo.

O grupo solicitou à PGR que requeira os registros completos da sessão da CCJ onde Kicis fez suas declarações, para subsidiar as investigações. As ações do Prerrogativas refletem a crescente judicialização do conflito político entre governo e oposição. “A democracia exige responsabilidade. O uso da tribuna parlamentar para ataques sem provas não pode ser naturalizado”, afirma trecho do documento.

Coisas que acontecem num certo país infeliz

Por Pedro Cafardo, no Valor Econômico

Num certo país infeliz, espalha-se um enorme pessimismo sobre a economia e, aparentemente, resultados bastante positivos para a vida real de pobres e ricos são quase ignorados nas análises.

Nesse país infeliz, argumenta-se que a inflação está incontrolável, mas ela atingiu em média 4,73% ao ano nos dois últimos anos. Nos quatro anos anteriores, havia alcançado 6,17% ao ano. E a inflação média atual está abaixo da média dos últimos trinta anos (6,5% ao ano), desde que foi criada a atual moeda em circulação.

Nesse país, propala-se que o descontentamento advém das classes mais pobres, que estariam sendo fulminadas por uma inusual inflação dos produtos alimentícios. Mas os alimentos subiram 8% no ano passado, menos que a renda das famílias em geral, que cresceu 10%, e muito menos que a renda das famílias mais pobres, que aumentou 19%.

Nesse país mal-humorado, a taxa de desemprego vem recuando e estava em 6,6% da força de trabalho no primeiro trimestre, em nível próximo do mais baixo da série histórica para o período. A previsão atual é de que caia para 5,9% até dezembro. A informalidade no trabalho recuou para 37,9%, taxa situada entre as menores da série histórica iniciada em 2015.

A desigualdade de renda nesse país infeliz, medida pelo Índice de Gini, foi a mais baixa da história no ano passado. E a renda per capita domiciliar mensal, a maior desde o início da série histórica, em 2012.

Nesse país, segundo o Relatório das Nações Unidas sobre Estado de Insegurança Alimentar no Mundo, o número de pessoas em situação de fome diminuiu de 17,2 milhões em 2022 para 2,5 milhões em 2023. Portanto, cerca de 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome de um ano para outro nesse país infeliz.

O PIB desse país surpreendeu novamente os pessimistas e cresceu 1,4% no primeiro trimestre, índice superior ao dos países da OCDE e do G7 – ambos os grupos avançaram minguado 0,1%. O crescimento se dá a despeito da imposição de uma assombrosa taxa básica de juros, de 14,75% ao ano, nove pontos percentuais acima da inflação, que desincentiva investimentos.

Essas surpresas do PIB ocorrem desde 2020 nesse país infeliz, quando se projetava recessão de 6,5% e ela foi de 3,3%. Em 2021, a expansão prevista era de 3,4% e a efetivada foi 4,8%. Em 2022, estimava-se 0,3% e deu 3%. Em 2023, o esperado era 1,4% e deu 2,9%. Em 2024, previa-se 1,6% e deu 3,4%.

Nesse país, observa-se que os empresários estariam insatisfeitos, mas os lucros das empresas no primeiro trimestre foram excepcionais e superaram as expectativas do mercado. O lucro líquido das 387 companhias abertas não financeiras subiu 30,3% no trimestre, para R$ 57 bilhões, e as receitas cresceram 13,9%, para R$ 976,7 bilhões.

Na área financeira, os lucros dos quatro maiores bancos no primeiro trimestre cresceram em média 7,3% e somaram R$ 28,2 bilhões. Um bancão aumentou seu resultado em 39% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Nesse país pessimista, atingido há décadas pelo vírus da desindustrialização, a indústria voltou a crescer: 3,1% no ano passado. Em março, avançou 1,2% sobre fevereiro e 3,1% sobre março de 2024.

Por que, afinal, a bruma pessimista continua a embaçar toda a economia desse país infeliz? Se prevalecesse a “lei Carville” (É a economia, estúpido!), cunhada na campanha presidencial de Bill Clinton, em 1992, essa neblina não faria sentido.

Resumindo: nesse país infeliz, a inflação está abaixo da média nacional dos últimos 30 anos; a renda dos mais pobres cresce mais que a inflação de alimentos, principal item de consumo nessa faixa de rendimento; o nível de desemprego é o mais baixo da história; o número de pessoas em situação de fome caiu 85% em um ano; a desigualdade de renda é a mais baixa da história, e a renda per capita, a mais alta; o crescimento da produção surpreende positivamente há cinco anos; a safra de alimentos bate recorde; o lucro das empresas financeiras e não financeiras aumenta muito mais que a inflação; a bolsa de valores quebra recordes e rentistas/investidores das classes média e alta ampliam seus patrimônios com os juros de dois dígitos.

Nesse país infeliz, um partido de oposição pôs no ar uma peça publicitária engraçadinha dizendo ter saudade de um ex-presidente porque está tudo “caro”, fazendo rima com o nome do ex. Mas, nos quatro anos desse governo “saudoso”, a inflação média anual foi de 6,17%, índice bem maior que o dos dois primeiros anos do governo atual desse país (4,73%). Os alimentos estariam subindo mais, argumenta-se. Falso. Nos quatro anos “saudosos”, os alimentos subiram em média 8,24% ao ano. Nos dois do atual mandato, 4,36% ao ano.

A peça publicitária foi contestada? Que se saiba, não. O debate econômico se dá basicamente em torno de problemas fiscais, que podem ter impacto nos próximos anos, mas não afetam hoje o humor e o dia a dia das pessoas. Ou esse país infeliz tem graves falhas na comunicação ou talvez sua infelicidade e seu pessimismo não venham da economia, estúpido!

Clássico Re-Pa já começou

POR GERSON NOGUEIRA

Como sempre acontece na semana de Re-Pa, o jogo começa bem antes do pontapé inicial em campo. As tretas, gozações e movimentação de bastidores fazem com que o torcedor não consiga pensar em outra coisa. Até sábado, às 18h30, o cardápio das conversas será o clássico, desta vez inteiramente diferente, valendo por competição nacional.

Há 19 anos isso não ocorria. O acesso do Remo no ano passado permitiu que os rivais se encontrassem na Série B deste ano, com embates muito aguardados desde que a competição começou. O primeiro será neste sábado, 21, no Mangueirão, válido pela 13ª rodada e cercado de expectativas ainda maiores pela situação vivida pelos clubes.

O Remo ocupa a 6ª colocação, com 20 pontos, e o PSC amarga a lanterna, com 7 pontos. O mau começo dos bicolores poderia dar a sensação de uma vantagem natural aos azulinos, mas não é assim que a banda toca no âmbito de uma das maiores rivalidades entre clubes brasileiros.

Por tradição, o clássico representa um ponto fora da curva. Significa que vantagens circunstanciais não entram nesse duelo particular. A superioridade pode ser facilmente anulada, o que quase sempre acontece em função das fortes emoções que envolvem a partida.

Foi assim nos dois jogos válidos pelas finais do Parazão, que ocorreram com o Brasileiro já em andamento e com o Remo já em destaque. Apesar disso, os confrontos não refletiram a posição dos times na tabela da Série B. 

O título estadual foi decidido nas penalidades, após uma vitória para cada lado (3 a 2 para o Remo, 1 a 0 para o PSC). Nada mais ilustrativo do equilíbrio que reina entre os rivais, e que deve prevalecer novamente no embate válido pela Série B.

A presença de dois técnicos estreantes em Re-Pa, Claudinei Oliveira e provavelmente Antônio Oliveira (ou Flávio Garcia), injetam um clima de imprevisibilidade ainda maior. Os desfalques anunciados (11 de cada lado, até a segunda-feira, 16) também ampliam as incertezas quanto às condições do jogo. E, como se sabe, quanto mais dúvida, mais emoção.

Para os azulinos, a boa notícia é a provável presença do meia Jaderson entre os relacionados para a partida, depois de ficar por várias rodadas ausente em face da grave lesão sofrida na decisão do Parazão. Jaderson é o mais regular jogador do Remo, com a capacidade de imprimir dinamismo ao time, transitando de uma intermediária à outra.

No Papão, previsivelmente reformulado com a chegada de 10 reforços na janela de transferências, Denner deve ser titular no meio, para sanar a carência de criatividade que a equipe apresenta. Ao lado dos atacantes Diogo Oliveira e Garcez, ele apareceu bem na vitória diante do Botafogo-SP. O trio deve ganhar a titularidade para o clássico. (Foto: Samara Miranda/Ascom Remo)

Novela do novo técnico inquieta torcida azulina

Por força das circunstâncias, o Remo jogou contra o Operário-PR e o Athletico sob o comando do auxiliar Flávio Garcia. É provável que no Re-Pa a interinidade de Garcia continue. A anunciada contratação do técnico Antônio Oliveira até agora não se confirmou oficialmente. Boatos e especulações cercam o negócio.

A estranheza aumentou com a constatação de que Oliveira já desembarcou em Belém. Ao lado do executivo Marcos Braz, o treinador conheceu alguns pontos turísticos, tomou açaí e experimentou uma variedade de sorvetes, mas não assinou o contrato com o Remo.  

Fontes ligadas ao clube revelam que as partes seguem discutindo detalhes do acordo. O problema estaria na duração do contrato, com Oliveira insistindo por mais de dois anos de vigência. A diretoria defende um acordo mais curto, condizente com a realidade do futebol brasileiro.

Os termos salariais já estariam definidos, com Oliveira embolsando um dos maiores (talvez o maior) salário da Série B atual. O valor da multa rescisória também está em aberto. No Sport, seu último clube, Oliveira foi demitido após quatro jogos e saiu com uma indenização de R$ 6 milhões.

Mundial de Clubes recria overdose de jogos das Copas   

Aquela fartura de jogos na TV, como é típico de Copas do Mundo, tem sido recriado neste início de Mundial de Clubes da Fifa. Criado para substituir a finada Copa das Confederações, competição que era realizada sempre a um ano das Copas, o torneio disputado nos Estados Unidos tem mostrado algumas boas novidades, apesar de alguns jogos bem fraquinhos.

Ontem, por exemplo, em Miami, Boca Juniors e Benfica foi um confronto de muita marcação e algumas boas ideias, mas comprometido pela catimba infernal dos argentinos, que usaram e abusaram das manhas para controlar o jogo na etapa final. Quando venciam por 2 a 1, o Benfica de Bruno Lage teve um jogador expulso, o atacante Belloti.

Com menos um, os encarnados melhoraram e chegaram ao empate com um gol de Otamendi. Aliás, todos os gols argentinos: Merentiel e Battaglia para o Boca; e Di Maria fez o primeiro do Benfica. O clima de Libertadores fez com que dois do Boca fossem excluídos, Vital e Herrera.

Expectativa para a estreia do Fluminense, hoje (13h), contra o Borussia Dortmund, em Nova Jersey. Renato Gaúcho promete coragem para buscar a vitória. O clima no horário da partida pode favorecer o Flu, que não terá Germán Cano e o paraense Ganso na escalação inicial.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta terça-feira, 17)