A decisão do ministro Alexandre de Moraes, que determinou nesta quinta-feira (24) a prisão imediata do ex-presidente Fernando Collor, reforçou o temor de aliados de Jair Bolsonaro de que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) pode dar um rápido desfecho às investigações da trama golpista – e não vai tolerar recursos considerados “meramente protelatórios”.
Collor de Mello teve sua prisão determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, após ser condenado por corrupção em um processo derivado da Operação Lava Jato. O pedido de reclusão do ex-mandatário vem 33 anos depois dele ser removido da chefia do Executivo em um processo de impeachment que acabou se tornando símbolo da corrupção no país. Collor foi afastado em definitivo pelo Senado em 30 de dezembro de 1992.
O político assumiu o governo federal em março de 1990. Dois anos e nove meses depois, quando deixou o cargo, foi substituído pelo seu vice-presidente Itamar Franco (PMDB), que governou o país até terminar o mandato, no final de 1994.
A queda de Collor teve a ver com as denúncias feitas pelo seu próprio irmão, Pedro Collor de Mello, e envolviam o tesoureiro da campanha do ex-presidente, Paulo César Farias. As acusações eram de que ele tinha conhecimento de um esquema de tráfico de influência dentro do governo, e de corrupção em reformas na Casa da Dinda, mansão em Brasília na qual morava a família do então chefe do Executivo.
“A queda do Collor está associada à sua incapacidade de se organizar politicamente, junto ao Congresso Nacional, muito em função do fracasso do seu plano de combate a inflação”, analisa Leandro Torelli, historiador e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Collor foi senador por Alagoas até 2022, e deixou o cargo após ser derrotado nas últimas eleições ao tentar ser governador de seu estado pelo antigo PTB, hoje PRD -quando também apoiou a reeleição de Jair Bolsonaro (PL). No mês de junho de 1992, o Congresso instalou uma CPI para investigar denúncias feitas por Pedro Collor de Mello envolvendo Paulo César Farias.
Em entrevista à revista Veja, Pedro Collor afirmou que PC Farias participava de um esquema de corrupção. A lista incluía concorrências fraudulentas, lavagem de dinheiro e pagamento de contas pessoais com dinheiro da campanha.
“PC Farias não tinha cargos oficiais, mas era uma figura que pairava dentro do governo Collor e foi figura importante na campanha”, diz o historiador Leandro Torelli. “É famoso o episódio do Fiat Elba, usado pelo Collor, e que teria sido comprado com dinheiro desviado por PC Farias.”
Durante a CPI, Pedro Collor disse ainda que PC Farias coordenava um sistema de tráfico de influência dentro do governo. Ele acusou o irmão de ter conhecimento e de concordar com o esquema. A corrupção envolveria reformas na Casa da Dinda, mansão em Brasília na qual morava a família Collor.
Diante dos indícios, Collor pediu que a população saísse às ruas de verde e amarelo para demonstrar apoio. Não deu certo. As pessoas foram às ruas de preto, contra o seu governo. As manifestações pelo impeachment cresceram, especialmente com a participação de jovens estudantes que ficaram conhecidos como os Caras Pintadas.
Em meio a um número crescente de manifestações por todo o país pedindo a queda do presidente, em setembro daquele ano a Câmara dos Deputados instituiu uma Comissão Especial para analisar denúncia contra Collor por crime de responsabilidade.
No mesmo mês, no dia 29, a Câmara dos Deputados votou pela abertura do processo de impeachment. Foram 441 votos a favor, 38 contra. O presidente foi afastado do cargo para responder ao processo.
A decisão final sobre impedimentos de presidentes da República é do Senado, segundo a Constituição. Quando aprovado pela Casa o mandatário deixa o cargo em definitivo. Se recusado, retorna ao posto. Os senadores começaram o julgamento de Collor no dia 29 de dezembro de 1992. Ao perceber que o resultado não seria favorável, Collor tentou renunciar. A manobra não funcionou.
Por 76 votos a favor e 2 contra, o Senado decidiu pela retirada em definitivo do presidente. Com a decisão, ele ficou impedido de exercer cargos públicos por oito anos.
Collor é herdeiro de uma família alagoana com histórico de participação política. Formado em economia, foi prefeito de Maceió em 1979 e depois deputado federal pelo PDS (Partido Democrático Social). Em 1986, ganhou a eleição para governador de Alagoas com uma campanha focada no combate à corrupção. Esse discurso ajudou a projetá-lo.
ELEIÇÃO, CONFISCO E QUEDA
Em 1989, depois de disputar um segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Collor foi eleito pelo PRN (Partido da Reconstrução Nacional). Ele foi o primeiro a chegar ao cargo de presidente da República através do voto popular, após o golpe de 1964.
O historiador Leandro Torelli afirma que é importante esse contexto da época para entender o que foi o governo Collor e a sua queda. “Sarney tinha a herança da ditadura sobre si e não conseguiu fazer um governo de sucesso. A economia fracassou, a inflação disparada, o país vivia um cenário econômico muito grave. E ainda teve uma Constituição nova aprovada.”
Quando chegou ao governo, Collor decidiu fazer um congelamento dos preços e o confisco das contas em bancos. A avaliação de sua equipe foi a de que diante de uma inflação tão alta o Banco Central não tinha instrumentos para fazer política monetária.
(Com informações de O Globo e Folha de S. Paulo)
“O que ele fez foi retirar a liquidez numa tacada só. Congelamento de todos os depósitos, inclusive a poupança”, afirma Weller. “Ele pegou muito pesado. As empresas começaram a falir e a economia começou a entrar em uma recessão violentíssima”.
Após as medidas, a relação com o Congresso se tornou tensa. Quando o plano econômico começa a falhar, ele passa a perder apoio de setores importantes da sociedade, e de parte dos parlamentares.
“No começo o Plano Collor teve apoio popular”, diz Leandro Torelli. “A partir do momento que a inflação voltou a subir, a popularidade dele cai dramaticamente. Quando as primeiras acusações de corrupção aparecem, ele fica muito enfraquecido diante desse cenário.”
A conquista da Copa Verde 2025 continua a ser comemorada pela torcida bicolor. O feito animou a diretoria do PSC a lançar uma promoção de ingressos mais baratos, a fim de lotar o Mangueirão para o jogo com o CRB no próximo domingo, 27. Para festejar em grande estilo o penta do torneio regional e homenagear os heróis bicolores, o clube disponibilizou tíquetes a preços reduzidos para a partida da 5ª rodada da Série B.
Os ingressos, disponibilizados no site oficial do clube, custam R$ 30,00 (arquibancada) para o público masculino. As mulheres irão pagar apenas R$ 10,00 pelo ingresso. As cadeiras também estão com valor promocional: R$ 80,00 (promoção válida até esta sexta-feira, 25).
A partir deste sábado, 26, os ingressos irão custar R$ 50,00 (masculino) e R$ 25,00 (feminino). Já o ingresso para as cadeiras custará R$ 120,00. Além da venda virtual, o torcedor pode comprar nas lojas físicas do clube.
O Paysandu (18º) precisa vencer o CRB (3º colocado) para sair da zona do rebaixamento. A partida será no domingo, 27, às 17h, no Mangueirão.
Oscar Paris era um dos mais influentes jornalistas esportivos do Nordeste quando levou ao ar, em 2008, uma reportagem explosiva: os registros federativos de um craque do futebol internacional haviam sido adulterados. Os dados falsos, de acordo com a sua descoberta, garantiriam mais de R$ 900 mil a um clube do interior da Bahia.
Na matéria, uma ex-funcionária da Federação Baiana de Futebol, a FBF, que assinou o documento com informações inverídicas, disse que jamais se esqueceria do nome daquele jogador – Liedson – e que lembrava bem daquele caso. O documento, segundo ela, havia sido “alterado” por Ednaldo Rodrigues, então presidente da FBF.
Foi a última reportagem da vida de Paris e o início do que o jornalista entende ter sido uma perseguição judicial encabeçada por Ednaldo, o agora todo poderoso presidente da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF.
Paris afirma que perdeu os empregos que tinha na TVE, a televisão pública do governo da Bahia, e no jornal A Tarde. Também conta que nunca mais recebeu qualquer oportunidade no jornalismo esportivo. Passou a se dedicar a se defender dos oito processos abertos por Ednaldo e pela FBF contra ele em diferentes varas e esferas judiciais baianas, por calúnia e difamação.
Só em março de 2025, depois de mais de 16 anos, comemorou o que entende ser o fim do calvário: a décima vitória na Justiça (os processos foram unificados na segunda instância), desta vez em decisão monocrática do ministro Sebastião Reis Júnior no Superior Tribunal de Justiça, o STJ.
As despesas com a defesa já se aproximam de R$ 1 milhão, nas contas de Paris e do seu advogado, Gileno Felix. E o valor pode aumentar, visto que ainda há alguns recursos pendentes.
“Eu não esperava essa retaliação, porque não apontei para ninguém, não disse que ninguém fez isso ou aquilo. Eu fiz jornalismo. Eu perguntei o que havia acontecido, por que aqueles erros absurdos teriam ocorrido”, disse Paris, em entrevista ao Intercept Brasil.
Ednaldo afirma que as essas ações “sempre tiveram como único objetivo a reparação de ofensas graves e injustificadas à sua honra e reputação” e “jamais se prestaram a qualquer forma de retaliação ou intimidação à atividade jornalística”.
“Direito de petição não se confunde com perseguição”, diz a nota, enviada pelo mesmo escritório de advocacia que o representa em processos contra jornalistas. Um dos últimos recursos da defesa de Ednaldo foi negado, mais uma vez, pelo STJ, na terça-feira, 22 de abril.
DA TV AO OSTRACISMO
Foi lembrando de tudo que viveu que o veterano chorou ao ler que seis jornalistas haviam sido afastados pela ESPN depois de dedicarem um programa de mesa redonda, o Linha de Passe, à atual gestão da CBF, comandada por Ednaldo.
O afastamento foi motivado pelos comentários feitos sobre uma reportagem da revista piauí que mostrou, entre outras revelações, que Ednaldo ampliou para R$ 215 mil os salários dos presidentes de federações estaduais que, recentemente, garantiram sua reeleição na CBF sem concorrentes. O presidente da confederação, ainda de acordo com a reportagem, pagou também despesas pessoais de alguns desses eleitores, enquanto o futebol brasileiro cambaleia em campo e enfrenta problemas de infraestrutura e falta de apoio fora dele.
“A reportagem [da piauí] não me surpreendeu. A surpresa é que finalmente um veículo atentou para o fato de que as instituições esportivas do Brasil precisam ser vistas com lupa”, afirma Paris.
Gaúcho, o jornalista começou a carreira no Sul do país e fez fama na Bahia. Havia sido chefe de reportagem, editor e repórter especial no Correio da Bahia, comentarista em diversas rádios, narrador no SBT, na Band (onde apresentou o Jogo Aberto Bahia) e nos canais próprios da Sky e da DirecTV.
Quando ousou investigar uma denúncia que envolvia Ednaldo, em 2008, era apresentador da versão baiana do Cartão Verde, popular programa criado pela TV Cultura em São Paulo e replicado em outros canais educativos, incluindo a TVE da Bahia, e cronista do A Tarde.
Paris diz que a decisão de Ednaldo e da FBF de ingressarem com processos contra ele afetaram diretamente sua carreira profissional. Na época, ele havia saído da TVE momentaneamente para participar de uma campanha política do PT, partido que governava o estado e, portanto, o canal. O acordo, segundo ele, era que retornasse ao posto depois da eleição.
“O combinado era eu ser recontratado após as eleições municipais. Enquanto isso, o Ednaldo entrou com os processos. Quando eu ia voltar, o diretor-geral do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia disse que não podia me recontratar”, relembra Paris. Após informar a Paris que o jornalista não voltaria, a TVE, que até então também era ré nos processos movidos por Ednaldo e a FBF, foi retirada das ações pelos denunciantes.
A TV pública, segundo Paris, ainda se recusou a defender o jornalista que estava sendo processado por material levado ao ar pela emissora. “Alegaram que, como eu havia saído da empresa, eles não precisavam mais me defender.” A emissora não respondeu aos questionamentos do Intercept.
Do jornal A Tarde, Paris conta foi mandado embora enquanto escrevia uma coluna, na mesma época em que seu retorno à TVE foi barrado. “Recebi um telefonema dizendo que meus serviços estavam dispensados, que haveria uma reformulação interna. E ficou nisso.”
Apesar do currículo de peso e das portas que havia deixado abertas nos vários veículos pelos quais passou em Salvador e em outras cidades baianas, Paris nunca mais foi contratado para nenhum trabalho no jornalismo. Quando pediu emprego, ouviu “não”.
“Me senti completamente abandonado, por jornais, entidades. Ninguém nem replicava a matéria, exceto duas rádios que eram favoráveis a Ednaldo, que falavam barbaridades de mim.” Agora, após a vitória no STJ, Paris recebeu moção de aplausos da Associação Baiana de Imprensa, corroborado pelo sindicato dos jornalistas da Bahia.
Sem emprego e dedicado a se defender na justiça de um homem e uma entidade influentes, Paris também viu sua vida pessoal desmoronar.
“Quando você vê sem salário, desempregado, com filho para criar, acontece tudo com sua cabeça. Tive depressão, fiquei abalado emocionalmente. Só não me entreguei porque olhava para o meu filho e via alguém que dependia de mim, tinha que criar, foi meu filho que me manteve em pé”, conta o jornalista.
Durante o período, ele ainda enfrentou dois cânceres, que encontraram um homem de meia-idade abalado emocional e fisicamente.
Resistiu, porém, à doença e às acusações. Com o jornalismo o rejeitando, conseguiu, anos depois, espaço como assessor de comunicação em órgãos públicos. Quando atendeu a reportagem do Intercept, por telefone, subia o Rio Paraguai, entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, em uma expedição da Fiocruz.
Apesar de tudo, Paris diz que continua adorando futebol. “Futebol é um patrimônio cultural imaterial do nosso povo. E eu faço parte disso, como torcedor e profissional.”
O CASO LIEDSON
Pelo chamado “mecanismo de solidariedade”, 5% do valor total da transferência de um jogador de futebol, a qualquer tempo, é repassado aos clubes pelos quais ele atuou dos 12 aos 23 anos, como forma de valorizar quem investe na base. Cabe a esses times, porém, identificar a negociação de um ex-atleta seu e solicitar sua porcentagem.
Quando o Sporting, de Portugal, pagou R$ 7 milhões para comprar Liedson junto ao Corinthians, em 2003, quase R$ 300 mil (R$ 1,3 milhões corrigidos pelo IPCA) ficaram à deriva porque o atacante não teve base, como se diz no futebol.
Natural de Cairu, no interior da Bahia, Liedson não foi federado nas categorias inferiores e só disputou sua primeira competição oficial aos 21 anos, quando defendeu a Liga Valenciana no campeonato estadual intermunicipal. Até então, jogava por uma equipe de várzea de Valença: o Bahia.
Dois anos após a ida de Liedson ao Sporting, contudo, a FBF de Ednaldo produziu um certificado, depois enviado à Fifa, dizendo que o atacante havia sido registrado pelo Esporte Clube Poções em 1993, aos 15 anos, permanecendo no clube até setembro de 2000, perto de completar 23 anos.
Liedson, de fato, jogou no Poções, clube de cidade homônima no sudoeste da Bahia, mas somente durante nove meses de 2000, quando tinha 22 anos, após se destacar no intermunicipal e assinar seu primeiro contrato profissional para ganhar menos de um salário mínimo.
Pelo mecanismo de solidariedade, o Poções tinha direito a 0,3% daqueles R$ 7 milhões (cerca de R$ 70 mil em valores corrigidos). Mas, quando requereu à Fifa sua parcela do bolo, apresentou o certificado com informações falsas assinado pela FBF que daria direito a 4% do valor da transferência – ou seja, mais de R$ 900 mil em valores corrigidos pelo IPCA.
Uma verba relativamente pequena para grandes clubes, mas que mudaria a história do Poções, que havia sido penúltimo no Campeonato Baiano daquele ano e acabou se licenciando do futebol profissional em 2012 por dívidas.
Documentos exibidos na reportagem de Oscar Paris mostram que o Sporting alertou a Fifa, que cobrou a CBF sobre as informações incorretas. Elas foram corrigidas pelo próprio Liedson, que escreveu uma carta afirmando que não jogou pelo Poções até os 21 anos.
Uma das pessoas a assinar o documento que permitiu ao Poções requerer os 4% foi Maria Balbina B. de Souza. Ela foi ouvida na reportagem feita por Paris em 2008 e denunciou a fraude em uma entrevista gravada.
“Esse documento foi alterado pelo presidente [da FBF, Ednaldo Rodrigues]. Quando eu fiz, eu encaminhei para a presidência. Ele rascunhou e mandou que eu fizesse daquela forma que ele tinha colocado no papel, autorizando eu a assinar”, afirmou Maria Balbina.
Segundo ela, a certidão expedida à Fifa não foi juntada à documentação de Liedson no sistema da federação. “Quando esse prontuário não desceu para o departamento de registro, eu fiquei meio preocupada se aquelas informações estavam corretas ou não. E esse nome é fácil de gravar, né, Liedson”, continuou.
Na matéria, que segue disponível no YouTube, Paris vai até a sede da FBF para ouvir Ednaldo, que justifica o ocorrido. “Quando ele foi para o Poções, que houve um pedido da CBF, informando a vida desse atleta desde seu início, a federação, de forma equivocada, entendeu que o Liedson era também atleta júnior do Poções”, explicou, rejeitando a hipótese de má-fé. Como a fraude foi revelada, o valor não foi repassado pela Fifa ao Poções.
Ednaldo também foi questionado sobre a declaração da ex-funcionária responsabilizando-o pelo documento com informações erradas: “Isso é subjetivo à pessoa. Agora falar de qualquer situação de uma ex-funcionária que não temos nada a falar, só queremos dizer que a certidão é feita por um funcionário e assinada pelo diretor que responde pelo departamento”, respondeu.
O diretor, Wilson Paim, afirmou que tudo não passou de um engano. A FBF só corrigiu o documento em julho de 2006, cerca de um mês depois da carta da Fifa à CBF cobrando explicações sobre as informações falsas.
A reportagem, de pouco mais de 10 minutos, trouxe ainda entrevista com um funcionário da FBF, não identificado por medo de represálias, afirmando que um jogador do Fluminense de Feira de Santana havia jogado uma partida de forma irregular, já que fora registrado um dia depois do permitido. Paris exibe, na matéria, o documento com a data supostamente rasurada. Ednaldo também foi ouvido a respeito e negou irregularidades.
De acordo com o jornalista, além de ouvir todas as pessoas citadas na reportagem, incluindo Ednaldo, ele também recebeu no Cartão Verde, programa que apresentava à época, na TVE, o advogado da FBF para que pudesse se manifestar sobre as acusações. Fez jornalismo. Pela última vez.
Na nota enviada ao Intercept, os advogados de Ednaldo afirmam que Oscar Paris “imputou falsamente ao Sr. Ednaldo Rodrigues a prática de conduta criminosa, mesmo tendo pleno conhecimento de que o episódio envolvia apenas um erro material em documentação da Federação Baiana de Futebol — prontamente corrigido, sem qualquer impacto desportivo ou prejuízo a terceiros”.
“O certificado em questão continha um erro material, o qual foi prontamente identificado e corrigido nos trâmites administrativos regulares da época. Não houve qualquer comando, ordem ou orientação do Sr. Ednaldo Rodrigues para alterar informações de forma indevida — muito menos para cometer qualquer irregularidade”, afirma a defesa do dirigente.
Para Ednaldo, “trata-se de um episódio administrativo sem qualquer gravidade jurídica ou desportiva”.
PROCESSOS EM SÉRIE CONTRA CRÍTICOS
A ofensiva contra Paris exemplifica o modus operandi de Ednaldo. Outros dois jornalistas baianos também foram alvos de ações do dirigente, que é acusado de acionar chefias de veículos para retaliar críticos — como na recente denúncia repercutida pela ESPN, que levou ao afastamento de seis jornalistas.
Um deles é o radialista Márcio Martins, que cobriu toda a gestão de Ednaldo na FBF, de 2001 a 2017, e sua ascensão à CBF nos anos seguintes. Desde 2023, ele foi citado em cinco queixas-crimes feitas por Ednaldo, segundo seus advogados.
“Eu vejo Ednaldo querendo se escudar através do Judiciário. De forma aleatória, porque pega a crítica e aciona o Márcio alegando que está tendo sua honra atingida, sendo que ele é uma pessoa pública e está sendo criticado por todos os lados”, diz o advogado Carlos Magnavita Júnior, em entrevista ao Intercept Brasil.
Márcio cobriu a Copa do Mundo do Qatar, ficou no mesmo hotel de convidados da CBF e foi o primeiro a denunciar na rádio uma comitiva de 49 pessoas levadas por Ednaldo, entre familiares, amigos, políticos e artistas, exposta pela piauí. Mas, sem repercussão na TV e na imprensa escrita baiana, o caso não chegou ao eixo Rio-SP-Brasília em 2022. “Na Bahia, nenhuma emissora de rádio critica. Juliana critica, e só. Não me lembro de outro em Salvador”, diz Márcio.
“ELE É DAQUELE TIPO QUE NÃO SUPORTA CRÍTICAS”
A Juliana mencionada por ele é Juliana Guimarães, da Band Bahia. Ela relatou em um podcast Bargunça que Ednaldo tentou derrubá-la após ser criticado. “Ele é daquele tipo que não suporta críticas. Você fala alguma coisa dele, ele move mundos para acabar com sua vida. Ele tentou fazer isso comigo, (…) começou a tentar me podar. Ligou na diretoria da Band, tentou mandando ofício para a Band”, contou.
Juliana também foi processada após criticar Ednaldo por um time ter chegado de ônibus de linha a uma partida. “Ele faz isso para tentar conseguir o que ele não conseguiu o tempo inteiro, que é me calar e eu não vou fazer o que ele quer.”
Mas Ednaldo nega que persiga jornalistas. Diz a banca que o representa nos processos: “O que existe — e existirá sempre — é o exercício legítimo do direito constitucional de acesso à Justiça, quando sua honra e dignidade são indevidamente atacadas por meio de ofensas pessoais, calúnias ou imputações falsas.”
Na nota, o advogados de Ednaldo ainda criticam o que chamam de “vitimização” dos jornalistas. “Quando um cidadão processa um jornalista, começa um rosário de vitimizações, com esse discurso de intimidação, de franciscana pobreza interpretativa”.
Leia aqui a resposta completa do presidente da CBF.
Contra o Criciúma, hoje, em Santa Catarina, o Remo defende a invencibilidade e luta para subir na classificação (é o 5º colocado) contra um adversário que causou sua eliminação na Copa do Brasil, mas não faz boa campanha na Série B (é o 14º). A derrota em Belém levou a mudanças imediatas no clube, com a demissão do técnico Rodrigo Santana.
Sob o comando de Daniel Paulista, tornou-se uma equipe diferente daquela que fracassou na Copa do Brasil. Passou a jogar de forma mais pragmática, com economia de passes e maior eficácia nas finalizações.
Por força dessa mudança, começou bem o Brasileiro da Série B, conquistando oito pontos em quatro rodadas – duas vitórias e dois empates. Passa a ser um dos destaques da fase inicial da competição e vai a campo com a obrigação de defender a excelente posição.
Para manter o rendimento, Daniel Paulista pode contar com o reforço de Caio Vinícius, que ficou ausente de dois jogos (Botafogo-SP e Coritiba). Volante titular, Caio foi um dos últimos contratados, mas ganhou espaço pela força de marcação e a capacidade de organizar a saída de jogo.
É provável que seja escalado ao lado de Pedro Castro (ou Pavani) e Jaderson, como vinha acontecendo até sair do time por contusão.
A ocupação do meio-campo é sempre decisiva no futebol moderno, principalmente na dinâmica de times que exploram transições rápidas e passes longos. O Remo joga assim. Por isso, precisa ser eficiente na recuperação de bolas e bem estruturado nos avanços até a área adversária.
Com a proteção dos homens de meio, a defesa ganha mais solidez, permitindo performances seguras de William Klaus e Reinaldo.
Além do retorno de Caio Vinícius, o Remo baseia sua força para o duelo com o Criciúma no desempenho do setor ofensivo e, em particular, de Pedro Rocha. Com a evolução física após a intertemporada, o atacante ganhou capacidade de arranque e força para as disputas de área.
A afiada conexão entre Rocha e Janderson nos contra-ataques responde pelo poderio ofensivo do Leão (6 gols) e mantêm o camisa 32 no topo da artilharia, com quatro gols. (Foto: Samara Miranda/Ascom Remo)
Herói do penta alivia a barra da “legião estrangeira”
Matías Cavalleri foi o grande herói da noite de anteontem, em Goiânia, ao evitar a derrota nos 90 minutos diante do Goiás e por provocar a disputa na série de penalidades. Foi dele, portanto, a ação decisiva que garantiu ao Papão a conquista do quinto título da Copa Verde.
Reserva com poucos minutos de participação em jogos do PSC, Cavalleri entrou aos 39 minutos do 2º tempo, substituindo o lateral PK na ala esquerda. Era o esforço final e desesperado de Luizinho Lopes em busca do empate salvador. Funcionou perfeitamente.
Dez minutos depois, sob forte chuva, foi de Cavalleri o toque abençoado para o fundo das redes, desviando o cruzamento de Rossi. Entrou como um raio para aproveitar a indecisão do zagueiro Messias e do goleiro Tadeu.
Todas as decisões têm um predestinado. O chileno Cavalleri, que era um dos mais apagados entre os oito contratados sul-americanos do clube, foi o grande e improvável nome da épica conquista da Copa Verde.
Além do gol histórico, Cavalleri deu contribuição importante para que a “legião estrangeira” do Papão seja vista com outros olhos. Até o jogo de quarta-feira, as críticas eram constantes ao desempenho dos importados.
Humilde e quase monossilábico, o atacante evitou declarações bombásticas e driblou a soberba, assinalando mais um gol de placa no terreno do bom senso. A vitória muitas vezes vira uma armadilha para os imodestos.
Frango de John expõe defeitos do Fogão campeão
O Botafogo imponente e vencedor das competições mais importantes da temporada passada, Copa Libertadores e Campeonato Brasileiro, não existe mais. Ficou desfigurado com a perda de seus principais expoentes – Luiz Henrique e Almada – e de reservas fundamentais, como Júnior Santos, Tiquinho, Eduardo e Adryelson.
Na partida contra o Estudiantes de La Plata, anteontem, em Buenos Aires, todos os pecados ficaram expostos, culminando com o frango sofrido por John, um dos melhores goleiros do continente na temporada passada.
O chute desferido de fora da área veio na direção de John. Ele se posicionou corretamente para a defesa, mas um instante de vacilação permitiu que a bola escapasse em direção às redes. Frangos acontecem, mas no caso do Botafogo o lance é revelador das inseguranças do time.
Renato Paiva, o treinador contestado a cada jogo, não é o único responsável pelos maus passos do novo Botafogo. Jogadores que brilharam no ano passado parecem ter perdido a fagulha vitoriosa. É o caso do próprio John e de seus companheiros Gregore, Barboza, Alex Telles e Marlon Freitas.
Eram peças que faziam a engrenagem funcionar para que o brilho técnico de Luiz Henrique e Almada pudesse se manifestar em toda plenitude. A brutal perda de tempo, entre janeiro e março, por decisão do investidor (John Textor), está cobrando um preço alto demais.
Sem técnico efetivo durante a Supercopa Rei e a Recopa, o Botafogo foi presa fácil dos adversários, deixando como principal prejuízo a perda do encanto glorioso que todo grande campeão deve ter. Um campeão é responsável pela valorização dos títulos que conquista.
(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 25)