
O papa Francisco, 88, morreu hoje. Os ritos posteriores à morte de um pontífice são regulamentados pela Igreja Católica e cuidadosamente seguidos pelo Vaticano. Uma série de ritos e procedimentos são seguidos. Eles foram estabelecidos na Constituição Apostólica “Universi Dominici Gregis”, estipulada pelo papa João Paulo 2º em 1996. Essas diretrizes regulamentam desde a constatação oficial da morte até a preparação para a eleição do novo pontífice.
Os 12 principais pontos a serem seguidos:
Constatação oficial da morte do papa. O cardeal camerlengo deve atestar o falecimento na presença do mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, dos prelados clérigos da Câmara Apostólica, e do secretário e chanceler da mesma instituição. O chanceler emite então o documento autêntico de óbito, formalizando o registro da morte do pontífice.
Lacração dos aposentos papais. O camerlengo deve selar tanto o escritório quanto o quarto do papa, garantindo que nenhum documento ou objeto pessoal seja retirado antes da devida revisão e catalogação.
Notificação do falecimento. O camerlengo comunica oficialmente o falecimento ao Cardeal Vigário para a Diocese de Roma, que, por sua vez, transmite a notícia ao povo romano. Além disso, o Cardeal Arcipreste da Basílica Vaticana também é informado.
Tomada de posse dos Palácios Apostólicos. O camerlengo assume a custódia e o governo do Palácio Apostólico do Vaticano, bem como dos Palácios de Latrão e de Castel Gandolfo, garantindo sua segurança e administração provisória.
Administração dos bens da Santa Sé. Durante o período de Sé Vacante, o cardeal camerlengo, auxiliado pelos três cardeais-assistentes, é responsável por administrar os bens e os direitos temporais da Santa Sé, sempre submetendo as decisões ao voto do Colégio dos Cardeais.
Organização do funeral e sepultamento. Após consultar os cardeais primeiros das três ordens (bispos, presbíteros e diáconos), o cardeal camerlengo define todos os detalhes do sepultamento do pontífice, exceto se o próprio papa tiver deixado instruções específicas antes de sua morte.
Comunicação oficial global. O decano do Colégio dos Cardeais tem a incumbência de comunicar a morte do papa a todos os cardeais, convocando-os para as Congregações Gerais do Colégio. Além disso, a notícia é enviada ao Corpo Diplomático credenciado junto à Santa Sé e aos líderes das nações.
Celebração do funeral. Durante nove dias consecutivos, os cardeais celebram missas em sufrágio da alma do pontífice, seguindo o “Ordo Exsequiarum Romani Pontificis”, rito litúrgico específico para as cerimônias fúnebres do papa.
Destruição dos símbolos do pontificado. O anel do pescador, usado pelo papa, e o selo de chumbo, utilizado na expedição das cartas apostólicas, devem ser destruídos, simbolizando o encerramento do pontificado.
Restrições de imagem. É estritamente proibido fotografar ou captar imagens do papa doente ou falecido, salvo autorização expressa do cardeal camerlengo.
Preparação para o conclave. Os cardeais devem garantir que a Domus Sanctae Marthae (Casa de Santa Marta) esteja devidamente preparada para hospedar os cardeais eleitores. Paralelamente, a Capela Sistina deve ser organizada para a realização da eleição do novo papa.
Reflexão sobre os desafios da Igreja. Antes do início do conclave, dois eclesiásticos são designados para apresentar meditações sobre os desafios enfrentados pela Igreja e sobre os critérios para a escolha do novo pontífice, auxiliando na reflexão espiritual dos cardeais eleitores.
IGREJA MAIS UNIVERSAL PÓS-CHICO
O papa Francisco promoveu o que muitos vaticanistas e membros da Santa Sé consideram como uma das maiores revoluções na Igreja em décadas. Mas isso não impedirá que a disputa pelo poder, agora, seja intensa.
Seu esforço foi por universalizar a instituição, nomeando bispos e cardeais de regiões distantes de Roma, dando poderes para religiosos de fora da Europa, nomeando santos de países pobres e percorrendo o que ele mesmo chamou de “margens” do mundo.

UM LEGADO DE MISERICÓRDIA
O padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua, lamentou nesta segunda-feira (21) a morte do papa Francisco, aos 88 anos. Em entrevista à GloboNews, ele exaltou o legado de misericórdia e da compaixão deixado pelo pontífice.
“Se nós tivéssemos que dar um título ao Francisco seria: Francisco, o misericordioso. Isso é o que marca o papa Francisco. O amor aos pobres, aos imigrantes, aos refugiados, aos grupos rejeitados, à comunidade LGBT, a pessoas em situação de rua. O papa Francisco é o grande sinal de amor de Deus e do amor misericordioso de Deus. Isso vai ficar para sempre”, declarou.
Lancellotti relembrou ainda o modo simples de viver do papa antes de assumir o pontificado. Jorge Mario Bergoglio, como era conhecido antes de se tornar Francisco, morava em Buenos Aires, na Argentina, e optava por uma vida “junto do povo mais sofrido”.
“Era alguém muito despojado, nunca viveu de honra e de glória, de poder. Sempre viveu de serviço, de proximidade, de despojamento. Francisco é o despojado, o misericordioso, o amigo dos pobres. Nós temos o Francisco de Assis, agora temos o Francisco de Roma”, disse.
Questionado sobre o futuro líder da Igreja Católica, Lancellotti afirmou que “precisamos continuar esse caminho em direção aos pobres, as pessoas, aos doentes, aos moradores de rua, aos despojados”.
“O mundo todo olha para Roma na expectativa de que o espírito do Francisco, iluminado pelo Espírito Santo de Deus e pelo caminho que Jesus nos propôs, seja o caminho do amor”.
UM TELEFONEMA: “CONTINUE ASSIM”
Em um sábado de outubro de 2020, em meio a pandemia de Covid-19, quando o padre Júlio Lancellotti recebeu uma surpresa: um telefonema do papa Francisco. No início da conversa, ele não sabia que falava com o pontífice.
“Eu não sabia que era ele. Na conversa fui percebendo, quando ele disse ‘sou o papa Francisco’, eu disse ‘santidade!’. E ele disse: ‘eu sei tudo o que acontece com você, eu acompanho de perto, por isso liguei e continue assim junto dos pobres’. Por isso hoje, apesar de todo esse impacto da notícia, nós estamos fazendo o que fazemos todos os dias [o trabalho da Pastoral do Povo], é uma homenagem ao papa”, disse.
O papa telefonou para o padre Júlio às 14h15 para saber por quais dificuldades a pastoral passava. Na época, o coordenador da Pastoral do Povo de Rua ainda compartilhou que o pontífice lhe perguntou sobre os moradores de rua do Brasil e pediu que continuasse seu trabalho junto aos pobres.
“[O papa Francisco] Disse que não desanimem, tenham coragem e façam como Jesus fazia. Nós temos que realmente viver esse momento com solidariedade, com atenção aos mais fracos, e isso tem que ser uma tônica pra mudança da estrutura da vida que a gente tem”, afirmou.
Em 2020, o padre Júlio também havia sido ameaçado ao menos duas vezes. Em janeiro, policiais teriam dito a três jovens moradores de rua que “a hora do Padre Julio Lancelotti vai chegar”. Ele também registrou um boletim de ocorrência por ameaça após ter sido xingado por um motoqueiro enquanto fazia trabalho de atendimento a moradores de rua no Centro da cidade.
(Com informações de Folha SP, g1, O Globo, CNN)

