Registro ao vivo deste lado-B maravilhoso do R.E.M. no Festival de Glastonbury, em 1999. No auge da forma e da maturidade, a banda apresenta “Crush with Eyeliner” (Paixão com delineador), rock que leva a assinatura melódica da banda, com destaque para a interpretação de Michael Stipe e a guitarra de Peter Buck, autor de um solo inspirado e cheio de dissonâncias.
Nascida em Athens (Georgia, EUA), o R.E.M. sustentou por mais de 20 anos uma carreira marcada por êxitos comerciais e aplausos da crítica. Discos certeiros, canções marcantes. Uma receita infalível de letras poéticas e som atemporal. Canção de Monster, nono álbum da carreira, lançado em 1994, “Crush with Eyeliner” é um exemplo de permanência e modernidade.
Grupo até hoje cultuado justificadamente, o R.E.M. possui uma discografia que permite uma viagem sonora sempre prazerosa. Não há disco podre, todos merecem aclamação, coisa rara no universo pop. A separação pacífica em 2011 não extinguiu a admiração unânime pela obra de Stipe, Mike Mills e Peter Buck, muito pelo contrário.
A turnê de lançamento de Monster é lembrada até hoje pela coincidência com as mortes repentinas de Kurt Cobain e do ator River Phoenix, grandes amigos de Stipe. Ambos seriam homenageados por ele com duas canções, justamente “Crush With Eyeliner” (para Phoenix) e “Let Me In” (para Cobain). Vale dizer que o disco veio logo após o êxito estrondoso de Out of Time e Automatic for the People, e a expectativa foi gloriosamente alcançada.
Quase dez anos depois, o ministro Luiz Fux, do STF, voltou a ser esperança da extrema direita.
Por Paulo Motoryn, no Intercept_Brasil
Era uma noite de 2016 quando Sergio Moro, o então super-herói da República de Curitiba, digitou uma mensagem que entraria para o acompanhamento da operação Lava Jato. “ Em Fux nós confiamos” , respondeu ao então procurador Deltan Dallagnol, que acaboua de relatar uma conversa promissória com Luiz Fux, ministro do STF, sobre os rumores da força-tarefa.
As mensagens trocadas entre os então juiz e coordenador da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal, que o mundo ficou sabendo por causa da Vaza Jato, uma série histórica de reportagens publicadas aqui no Intercept Brasil , revelaram o que já era evidente: no Supremo Tribunal Federal, o ministro era um aliado de primeira hora.
Quando necessário, Fux apareceu como um escudo protetor contra qualquer risco que pudesse frear a operação – e foi assim até a derrota final de Sergio Moro. Na votação do STF que confirmou a suspeita do ex-juiz , Fux foi um dos votos vencidos: se colocou contra a decisão da maioria de seus colegas e, é claro, preferiu atacar a Vaza Jato.
“A suspeita, na verdade, pelo ministro Edson Fachin, foi afastada. Municiou [o julgamento na Segunda Turma] uma prova absolutamente ilícita, roubada, que foi depois lavada”. Agora, em 2025, “No Fux a gente confia” ressurge como mantra da extrema direita.
A esperança depositada no ministro não é mais sobre prisões preventivas ou delações premiadas – o que importa, quase dez anos depois, é que ele seja a tábua de salvação para um ex-presidente que, ironicamente, só chegou ao poder graças à Lava Jato.
A cena mais recente desse enredo aconteceu na quarta-feira, 26, na sessão da Primeira Turma do Supremo, onde Fux mostrou que será peça-chave no julgamento que pode condenar Jair Bolsonaro e outros aliados pela tentativa de golpe de estado.
No seu voto, o ministro expôs suas discordâncias com outros ministros, questionando a delação de Mauro Cid , defendendo o julgamento de Bolsonaro pelo plenário do STF e, mais que isso, relativizando o fato de que a própria tentativa de um golpe de estado já deva ser criminalizada .
“Há aqueles que entendem que uma tentativa de golpe já é um atentado contra a democracia. Isso é uma solução que se dá. (…) Agora, a partir do momento que o legislador criou o crime tentado como consumado (…), no meu modo de ver há um arranhão na Constituição Federal, e também não se cogitou nem de atos preparatórios nem de tentativa de crime tentado, que é em caso consumado”, afirmou Fux.
Ato contínuo, os advogados dos envolvidos na trama golpista começaram a explorar a brecha . Logo que saiu ao STF, o ex-senador Demóstenes Torres, advogado do ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, disse : “O voto [de Fux] foi espetacular. Ele admite uma série de coisas que nós alegamos na defesa. O ministro foi bastante sensato e os outros vão ter que considerar”.
Em um vídeo publicado nas redes sociais , o advogado Jeffrey Chiquini, que atua em processos relacionados ao 8 de Janeiro, declarou o que move a esperança bolsonarista com a dissidência aberta por Fux: adiar ao máximo o resultado, criar embaraços para o STF e manter a esperança da extrema direita acesa .
“Esse processo não vai terminar em 2025 como Alexandre de Moraes quer. Fux jogou um balde de água fria nesse processo. O que vai acontecer? O Fux vai discordar de alguns pontos e, tendo um voto contrário, vai nascer a possibilidade de recurso ao plenário. Só não iria, se fosse unânime. Não vai ser unânime”, declarou.
A esperança em Fux não vem só das pistas dadas nos últimos dias. O nome do ministro nunca esteve dissociado das expectativas da extrema direita. Como já escrevemos no Intercept , Fux é o mesmo que alimentou, como poucos, o espírito do Partido da Lava Jato, aquele projeto silencioso e nocivo de um MPF transformado em bancada política.
Se Fux já foi o fiador do lavajatismo, por que não poderia ser o fiador de um bolsonarismo acuado? A ressurreição do “In Fux We Trust” expõe essa esperança quase desesperada.
E não se trata mais de confiar na sua caneta para turbinar a Lava Jato, mas para impedir que a Justiça alcance quem um dia foi alçado ao poder pelas mãos da operação.
Meta para 2025, reforçada no Dia Mundial da Saúde, é imunizar 90% dos grupos prioritários. Governo Federal adquiriu 73,6 milhões de doses
No Dia Mundial da Saúde e em um gesto de incentivo à imunização e ao início da campanha nacional de vacinação contra a influenza, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi imunizado nesta segunda-feira, 7 de abril, durante participação em um evento em Montes Claros (MG). “Hoje é Dia Mundial da Saúde e a data marca o início da campanha nacional de vacinação contra a gripe! E é claro que eu não ia ficar fora dessa. Já estou com meu cartão atualizado. E tem mais! Agora, a vacina da gripe estará disponível o ano inteiro!”, afirmou o presidente Lula em postagem em seu perfil nas redes sociais.
A solenidade marcou o anúncio de expansão da empresa Novo Nordisk, fornecedora de insulina e medicamentos para o tratamento de hemofilia para o Sistema Único de Saúde (SUS). Durante a agenda, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, também foram vacinados.
Para 2025, o Governo Federal adquiriu 73,6 milhões de doses. A meta é vacinar 90% dos grupos prioritários, que incluem crianças, gestantes e idosos, com estimativa de público-alvo em cerca de 50 milhões de pessoas.
“Entre as coisas mais importantes para salvar a vida de uma pessoa está o cuidado adequado com a saúde e a vacinação. Estar nesse Dia Mundial da Saúde ao lado do presidente e de trabalhadores e trabalhadoras da saúde é significativo. O Brasil tem essa característica: a produção de insumos em saúde está diretamente combinada ao acesso da população à assistência de qualidade”, afirmou Alexandre Padilha.
35 MILHÕES DE DOSES – Em março, o Ministério da Saúde começou a distribuir 35 milhões de doses da vacina. No primeiro semestre, serão distribuídas 67,6 milhões para as quatro regiões. No segundo, mais 5,9 milhões de doses para a região Norte, alinhando a estratégia de imunização com o período de maior circulação do vírus em cada região. O valor total do investimento é de R$ 1,3 bilhão. O público-alvo total é de 81,6 milhões de pessoas. A campanha fica dividida em dois momentos:
Primeiro semestre: vacinação nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste;
Segundo semestre: vacinação na região Norte, durante o chamado “Inverno Amazônico”, quando há maior circulação do vírus.
PROTEÇÃO – A vacina contra a gripe é capaz de evitar entre 60% e 70% dos casos graves e óbitos. A vacina trivalente, usada em 2025, protege contra os vírus H1N1, H3N2 e tipo B. Ela é segura, eficaz e pode ser administrada junto a outras vacinas do Calendário Nacional de vacinação. É contraindicada apenas para crianças menores de 6 meses e pessoas com histórico de anafilaxia grave após doses anteriores.
PÚBLICO-ALVO – Para além dos grupos prioritários que já fazem parte do Calendário Nacional de Vacinação, como crianças de 6 meses a menores de 6 anos, gestantes e idosos a partir de 60 anos, o público-alvo da estratégia também é formado por:
Trabalhadores da Saúde
Puérperas
Professores dos ensinos básico e superior
Povos indígenas
Pessoas em situação de rua
Profissionais das forças de segurança e de salvamento
Profissionais das Forças Armadas
Pessoas com doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais (independentemente da idade)
Pessoas com deficiência permanente
Caminhoneiros
Trabalhadores do transporte rodoviário coletivo (urbano e de longo curso)
Trabalhadores portuários
Funcionários do sistema de privação de liberdade
População privada de liberdade, além de adolescentes e jovens sob medidas socioeducativas (entre 12 e 21 anos).
A vacinação é reconhecida como uma das mais eficazes estratégias para preservar a saúde da população e fortalecer uma sociedade saudável e resistente. Além de prevenir doenças graves, a imunização contribui para reduzir a disseminação desses agentes infecciosos na comunidade, protegendo aqueles que não podem ser vacinados por motivos de saúde.
PROGRAMA DE IMUNIZAÇÕES – A política de vacinação é responsabilidade do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde. O PNI desempenha um papel fundamental na promoção da saúde da população brasileira. Por meio do programa, o Governo Federal disponibiliza gratuitamente no Sistema Único de Saúde – SUS 47 imunobiológicos: 30 vacinas, 13 soros e 4 imunoglobulinas.
Essas vacinas incluem tanto aquelas presentes no calendário nacional de vacinação quanto as indicadas para grupos em condições clínicas especiais, como pessoas com HIV ou indivíduos em tratamento de algumas doenças (câncer, insuficiência renal, entre outras), aplicadas nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). O processo inclui ainda as vacinas COVID-19 e outras administradas em situações específicas.
Desde o início de 2023, o Governo Federal implantou uma série de medidas e ações voltadas para a recuperação de programas na área da saúde, como o Mais Médicos, o Farmácia Popular e ações ligadas à infraestrutura.
MAIS MÉDICOS DOBRA — Para ampliar o acesso ao atendimento em saúde, o Mais Médicos dobrou. São mais de 26 mil profissionais atuando, após o programa ter sido reduzido a 13 mil. Hoje, eles chegam a 4,5 mil municípios e cobrem uma região com 64 milhões de brasileiros. Mais 2,2 mil médicos estão em fase de contratação pelo programa.
A entrega de ambulâncias do SAMU aumentou cinco vezes. Entre 2019 e 2022, 366 foram distribuídas. Nos últimos dois anos, o número subiu para 2.067. Vem aí: A previsão é alcançar 100% das cidades com o serviço até 2026, com mais 2.339 ambulâncias.
FARMÁCIA POPULAR – O Farmácia Popular voltou mais forte, com 100% os 41 itens do programa oferecidos de forma gratuita, incluindo fraldas geriátricas.
Houve recorde de cirurgias eletivas no SUS, com mais de 14 milhões de procedimentos em 2024, alta de 37% em relação a 2022.
Investimentos em saúde: imunização voltou a ser valorizada
SAÚDE DA FAMÍLIA E SAÚDE BUCAL – Mais de 4.700 novas equipes de Saúde da Família foram criadas, junto com 3.448 equipes multiprofissionais, reforçando a atenção primária em 2.500 municípios. O país também avançou com mais de 4.300 novas equipes do Programa Brasil Sorridente e novos centros odontológicos, triplicando o investimento em saúde bucal.
MAIS HOSPITAIS, POLICLÍNICAS E CENTROS – Com um investimento de R$ 31,5 bilhões, o Novo PAC na Saúde está impulsionando a expansão da assistência pelo Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo a universalização de serviços essenciais na rede pública. Além disso, o programa retoma investimentos em políticas públicas, com foco em obras de infraestrutura econômica, social e urbana.
Após superar período de negacionismo, o Brasil saiu da lista de países com mais crianças não vacinadas no mundo, segundo o Unicef. A cobertura vacinal aumentou consideravelmente para 15 das 16 vacinas infantis.
Ex-presidente foi peça crucial para diplomacia e mídia dos norte-americanos sobre ditadura militar
Por Daniel Azevedo Muñoz – Agência Pública
O governo dos Estados Unidos acompanhou de perto Juscelino Kubitschek antes e durante a ditadura militar brasileira – a morte do ex-presidente, em 1976, é novamente alvo de investigações pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Inicialmente reconhecido como uma figura subversiva na década de 1960, por recusar-se a retirar a legitimidade do governo João Goulart e de seus planos de reformas de base, nos anos seguintes JK passou a ser percebido como uma ferramenta para o Partido Democrata contrapor a política externa dos republicanos para a América Latina na década de 1970.
Em 20 de janeiro de 1964, um aerograma foi enviado ao Departamento de Estado dos Estados Unidos pela embaixada norte-americana no Rio de Janeiro. Assinado pelo conselheiro de assuntos políticos John Keppel, o informe analisava a entrevista que JK havia dado à revista carioca Manchete que havia chegado às bancas no dia 15 de janeiro de 1964. O grande tema que o diplomata estadunidense destaca partia da seguinte declaração de JK: “O Presidente João Goulart tem encontrado opositores que tudo lhe negam, mas a verdade é que vem conduzindo o país dentro de uma incontestável linha democrática. Presidente de um grande partido, cujas tônicas são as reivindicações populares, tem o dever de se bater por êsses compromissos”.
No comunicado, o conselheiro estadunidense mencionou as “notáveis referências” à questão agrária brasileira, além dos comentários de JK sobre o “comunismo” e sobre o programa de governo que pretendia defender para o pleito de 1965, informando também que o ex-presidente havia declarado que “o PSD [Partido Social Democrático] e o PTB [Partido Trabalhista Brasileiro] tiveram uma origem comum: o pensamento e a ação do Presidente Vargas […]”.
Keppel, a partir do corpo diplomático estadunidense no Rio de Janeiro, o principal dos EUA no Brasil, destacou da entrevista de JK o que era a principal dúvida do governo de Lyndon B. Johnson sobre o ex-presidente brasileiro: o favorito para ganhar as eleições presidenciais no Brasil rompe ou não com o projeto político de Jango?
POR QUE ISSO IMPORTA
O governo dos EUA foi peça central no apoio para o golpe militar de 1964.
A forma como o governo e a mídia do país acompanharam e usaram a figura de Juscelino Kubitschek reflete como os EUA trataram a ditadura brasileira.
Desde os últimos meses de 1963, a maioria dos informes norte-americanos sobre a situação política brasileira tentava descobrir se, em caso de uma derrubada de Goulart, figuras importantes da política nacional e lideranças militares e da sociedade civil apoiariam a ruptura. Questionava-se também se Jango teria apoio dessas figuras se decidisse fazer um “movimento inconstitucional”.
Hoje, graças às bibliotecas presidenciais dos Estados Unidos e às transcrições das conversas dos presidentes John F. Kennedy e Lyndon B. Johnson com assessores e secretários, sabemos que o governo americano estava determinado a promover uma ruptura constitucional no Brasil, porque acreditava que os planos nacionais do governo Jango eram incompatíveis com a sua política externa para o Brasil. É possível também, graças a esses mesmos documentos, determinar que Kennedy, antes de morrer, já havia aceitado que essa ruptura no país poderia ocorrer por vias militares, embora preferisse uma saída civil.
O MEDO DOS EUA E DOS MILITARES DE UM BRASIL COMUNISTA
A paranoia sobre o Brasil, plantada na Casa Branca, partia do embaixador Lincoln Gordon, próximo de figuras como o então governador do estado da Guanabara Carlos Lacerda, que repetia quase ipsis litteris as críticas extremistas que ele fazia sobre o governo brasileiro.
A política externa vigente nos Estados Unidos nesse período para a América Latina era a Aliança para o Progresso, idealizada por Kennedy antes de sua morte, mas mantida e ampliada pelo presidente seguinte, Johnson.
No Brasil, nas teatralidades do golpe que tentavam passar um verniz de legalidade àquele processo, JK participou da sessão do Congresso que elegeria o novo presidente do país, por ser à época senador pelo estado de Goiás. O ex-presidente, naquela solenidade, votou pela chapa do então conhecido como moderado e legalista Humberto de Alencar Castelo Branco, junto de seu candidato a vice civil, o ex-ministro da Fazenda do próprio JK, José Maria Alkmin.
Apesar de os golpistas militares terem celebrado o voto de JK naquela ocasião, posteriormente o ex-presidente teve seu mandato cassado e seus direitos políticos, suspensos nas primeiras depurações da ditadura, após o Ato Institucional nº 1. Após essa derrota, ele partiu para um exílio voluntário, visitando cidades dos Estados Unidos, do Canadá e da Europa. Naquele momento, a ditadura permitiu que ele saísse do país.
A REDENÇÃO DE JK NA MÍDIA DOS EUA
Com a vitória de Nixon para a presidência dos Estados Unidos em 1968, o Partido Democrata entrou em um período de extrema impopularidade e uma espécie de orfandade de projetos, incluindo a política externa para a América Latina.
Nixon, ainda em campanha, havia questionado o que apontava como erros da Aliança para o Progresso, inclusive relatando isso em uma viagem que fez ao Brasil ainda como candidato. Sua declaração, à época captada pela Associated Press do Rio de Janeiro em 16 de maio de 1967, foi: “uma democracia no estilo dos Estados Unidos não funcionará aqui […]. Eu gostaria que pudesse funcionar. Se coubesse a mim escolher um sistema, seria uma democracia no estilo de [Charles] de Gaulle [governante da França], com uma forte liderança no topo e democracia abaixo”. Em outras palavras, Nixon buscava apoio ficando “em cima do muro”: de um lado, evitava defender uma ditadura radical, mas, de outro, amenizava o que acontecia no Brasil valendo-se do medo que os norte-americanos tinham do comunismo.
Como presidente, Nixon alterou sua abordagem para a América Latina, inicialmente dizendo que os Estados Unidos precisavam afastar-se de sua presença intensa no subcontinente. Entre os planos para fazer isso estava o fim do programa de ajudas financeiras conduzidos pela Usaid– a mesma agência que atualmente está sendo desmontada por Donald Trump e Elon Musk –, que integrava a Aliança para o Progresso, substituindo esse auxílio por uma política de facilitar empréstimos aos países latino-americanos, oferecidos por bancos estadunidenses e europeus, garantidos pelo Tesouro estadunidense.
Nessa época, os jornais estadunidenses destacavam pela primeira vez que o governo se convertia em uma autêntica ditadura – antes, os abusos do início do regime eram apontados pelo trabalho de alguns correspondentes, mas ainda muito relativizados pelos editoriais dos jornais. A cobertura do Ato Institucional nº 5 feita pelo TheNew York Times, por exemplo, foi determinante para mudar esse cenário, incluindo a reprodução de uma ligação telefônica da sua sucursal carioca, que foi interrompida pelo regime, além de confirmações sobre as detenções de figuras como Chico Buarque, Darcy Ribeiro e, claro, JK.
Encontro de John F. Kennedy com o ex-presidente Juscelino Kubitschek (à direita) e o intérprete do Departamento de Estado José de Seabra (ao centro) na West Wing Colonnade, Casa Branca.
Com o aparente sucesso dessa nova abordagem de política externa de Nixon, inclusive perante a opinião pública estadunidense, os democratas começavam a buscar alternativas para se contrapor ao presidente republicano. Nesses esforços, a mídia de característica liberal (no conceito norte-americano do termo) passou a servir como uma espécie de foro para os democratas debaterem e construírem seus novos talking points sobre como o país deveria lidar com aliados como o Brasil.
Já com o início da década de 1970, o principal desses foros era a conhecida coluna “Foreign Affairs”, do New York Times. O responsável por essa seção especial sobre geopolítica era Cyrus Leo Sulzberger II, membro da família dona do periódico, que rapidamente se consolidava como um protagonista na criação das repostas democratas aos republicanos e ao então descrito expansionismo ideológico e econômico da ditadura brasileira. A família Sulzberger assumiu o jornal em 1896 e foi a partir daí que o New York Times se tornou internacionalista em temas estrangeiros e “progressista-conservador” em assuntos domésticos, segundo descreve Edwin Emery, falecido pensador do jornalismo estadunidense.
Os congressistas democratas buscavam encontrar nos problemas da América Latina uma via para criticar Nixon, e o New York Times também procurava novas justificativas para o fato de os Estados Unidos serem aliados das ditaduras ao sul. Sulzberger começou então a dar atenção para o lugar onde a Casa Branca dizia estar a sua menor prioridade, a América Latina.
Em 14 de abril de 1971, Sulzberger iniciou a coluna lembrando como o Brasil chegou na situação em que estava. O golpe de 1964 era uma “necessidade” posta por um governo “corrupto” e “ineficiente”, que estava destruindo o país. Havia sido um ato patriótico e honrado derrubar João Goulart. Por que, então, aqueles “libertadores” haviam se tornado ditadores? Para Sulzberger, era a natureza dos homens ao chegarem ao poder. A base para essa resposta era Castelo Branco, que teria dito a De Gaulle que todo ditador latino-americano era um homem “que achava o poder muito prazeroso e a perda de poder muito desgostosa”.
É aí que a figura de Kubitschek passa a ser idealizada como alternativa entre um Jango comunista e os militares da ditadura. O Brasil daquela época não era mais o de Castelo Branco, mas o de Emílio Garrastazu Médici e seu “milagre econômico”. Sulzberger, no entanto, atribuiu a JK a real responsabilidade pelo “milagre”. Ao alçá-lo a esse posto, o articulista não lembrou que o ex-presidente tinha saído do poder com baixa popularidade, nem que tinha apoiado, mesmo que com ressalvas, as reformas de base de Jango, e que fora considerado “subversivo” pelos generais.
Sulzberger queria apontar que políticos como JK eram o que faltava no Brasil. Ele seria então uma espécie de terceira via. Sulzberger não escrevia isso para os brasileiros, porque estes não liam o New York Times, mas para a Casa Branca. JK havia virado um sinônimo de democracia liberal. Era o que faltava à esquerda, onde cresciam os movimentos guerrilheiros, e também aos militares, que abusavam das autocracias, radicalizando outros atores políticos. Para defender essa argumentação, Sulzberger trazia declarações do próprio ex-presidente brasileiro, em entrevista que realizou no Brasil com JK.
Por exemplo, sobre o Chile ter elegido o marxista Salvador Allende, JK teria afirmado: “Haverá um perigo se o Chile se tornar comunista, será uma situação ameaçadora em todos os cantos da América Latina. […] nenhum outro país vai afrouxar seus regimes de direita para voltar à democracia e os regimes de esquerda vão ser empurrados mais ainda à esquerda. Isso, claro, será o nosso fim. Perderemos toda a esperança na liberdade, e até a esperança no retorno da liberdade é algo que deve ser mantido”. Essa declaração do ex-presidente brasileiro funcionou como uma resposta dos democratas à política externa de Nixon para a América Latina – e os republicanos não podiam responder a ela acusando os democratas de serem coniventes com marxistas.
O RÉQUIEM DE JUSCELINO
Em 1975, Gerald Ford era o presidente dos Estados Unidos. Nem mesmo o escândalo do Watergate acabou com o poder dos republicanos, ainda que tenha conseguido derrubar Nixon. Os talking points que os democratas criaram para contestar a política externa da Casa Branca conservadora para a América Latina tampouco tiveram muito êxito. Ainda assim, a estrutura de utilizar-se da “Foreign Affairs” como um foro de ideias para o partido, através da pena de Sulzberger, seguia. Nessa toada, o articulista faria sua última tentativa de interferir na política externa dos Estados Unidos para o Brasil, agora com uma abordagem distinta.
Após algumas rusgas que haviam surgido entre a ditadura brasileira e a Casa Branca, especialmente por conflitos econômicos que surgiam desde o governo Médici, se estendendo à administração de Ernesto Geisel, Sulzberger voltaria a visitar o Brasil. Em seu hábito já documentado – até por seus colegas – de fazer jornalismo apenas visitando palácios, Sulzberger voltou a tentar encontrar uma figura de centro faltante entre os polos perigosos da América Latina, o comunismo e o militarismo. Dessa vez, em vez de JK, o articulista encontrou esse personagem na figura do próprio Geisel e de seu – descrito como “liberal” – assessor, o general Golbery do Couto e Silva. Já se falava de reabertura no Brasil, e o articulista defendia que o processo fosse mesmo lento.
Cyrus Leo Sulzberger, jornalista responsável pela seção sobre geopolítica do NYT
Segundo Sulzberger, se Geisel conseguisse frear os descontroles da direita militar, como dizia querer, o Brasil chegaria ao ponto de centro político que defendeu no passado. Em sua coluna, citou que, para isso, era preciso que Geisel mantivesse um poder autoritário, ao menos por um tempo.
Ao final de sua última passagem pelo Brasil durante a ditadura, em 6 de dezembro de 1975, Sulzberger publica o artigo “Um elefante na cama”, sobre Brasília. Fazendo coro às críticas da ditadura sobre as características marxistas da capital federal, Sulzberger diz que a cidade se tornou um símbolo dos erros do passado – dos erros de JK. Nem mesmo o ex-presidente que a desenhou morava na cidade, ressaltou, esquecendo de mencionar que a ditadura obrigava JK a permanecer no Rio de Janeiro.
Sulzberger não voltaria a entrevistar JK e tampouco se interessou em recordar o papel que havia dado ao ex-presidente anos antes. Kubitschek, uma vez mais, era visto como incômodo aos democratas, dessa vez por julgarem ser conveniente buscar seus contrapontos moderados à linha dura militarista na América Latina – que já tinha Augusto Pinochet governando o Chile – nas próprias filas fardadas. O ex-presidente morreria alguns meses depois, em um acidente de carro na Rodovia Presidente Dutra. No mesmo ano dessa coluna de Sulzberger, JK deu uma de suas últimas entrevistas, à TV Manchete, respondendo às críticas sobre a construção de Brasília e sobre as heranças de seu governo.
Já os diplomatas estadunidenses parecem não ter dedicado tanta atenção a JK nos documentos disponibilizados atualmente sobre o período da gestão Nixon. Contudo, não é possível concluir que comentários e ilações sobre o ex-presidente brasileiro não foram traçados pelo corpo diplomático naquele período, sendo possível que esses documentos somente não tenham sido ainda desclassificados pelo governo dos Estados Unidos. Ainda assim, o seguimento dos movimentos de JK – relatos sobre suas viagens, palestras e outras aparições – continuava sendo enviado à Casa Branca durante esse período.
AS RETOMADAS DAS INVESTIGAÇÕES
Em 13 de fevereiro de 2025, o governo federal reabriu as investigações sobre o acidente que matou JK, para tentar entender se houve sabotagem no veículo ou outro tipo de interferência, que poderia indicar que o ex-presidente e seu motorista foram assassinados. Em 2013, o Ministério Público já havia tentado investigar o acidente, sem resposta conclusiva. A circunstância da sua morte levanta suspeitas porque se sabe o quanto a ditadura que dominou o Brasil naquele período odiava Kubitschek.
À época, a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo publicou um relatório que apoiava a conclusão de que a morte poderia ter sido premeditada, contudo a CNV nacional rechaçou essa hipótese. Parte dessa divergência vinha de que o motorista que conduzia o ônibus que colidiu com o carro do ex-presidente, causando sua morte, contou à comissão paulista que havia recebido dinheiro para endossar essa versão dos fatos.
Velório do presidente Juscelino Kubitschek
Menos de quatro meses após a morte de JK, Goulart morreu devido a um ataque cardíaco, em sua fazenda em Mercedes, na Argentina. Também surgiram suspeitas sobre a sua morte, já que a ditadura tinha interesse no seu desaparecimento, assim como no de JK. Em janeiro de 2008, a Folha de S.Paulo publicou uma reportagem na qual o ex-agente de inteligência uruguaio Mario Neira Barreiro aponta que o ex-presidente brasileiro fora envenenado por ordens do delegado Sérgio Fleury, do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), com autorização do general presidente Geisel.
Reportagem da Agência Pública mostrou como o veneno produzido no Instituto Butantan entrou nas suspeitas de envenenamento de Goulart. A apuração mostrou como o instituto foi aparelhado e usado pelos militares brasileiros para produzir e enviar toxinas que foram usadas pela ditadura chilena para matar opositores.
A CNV, instaurada pelo governo de Dilma Rousseff, investigou a possibilidade de Jango não ter morrido de causas naturais, mas não chegou a uma conclusão.
Em 1977 a revista Rolling Stone publicou uma reportagem do jornalista Carl Bernstein, já conhecido pelo caso Watergate, na qual revelou existir uma relação muito próxima entre nomes importantes do jornalismo estadunidense com a Central Intelligence Agency (CIA), e Sulzberger é citado entre eles. Fontes da agência afirmaram, no texto, que o articulista colaborou com informações privilegiadas de fontes de países que ele visitava em suas coberturas, além de permitir que a CIA usasse credenciais jornalísticas e alguns correspondentes do New York Times para conseguir acessos no exterior. Ele negou.
Em sua reportagem, Bernstein aponta que sua fonte na CIA teria afirmado: “O jovem Cy Sulzberger tinha algumas utilidades… Ele assinou um acordo de sigilo porque lhe fornecemos informações confidenciais… Havia trocas, acordos de dar e receber. Nós dizíamos: ‘Gostaríamos de saber isso; se lhe dissermos isso, isso o ajudará a ter acesso a fulano de tal?’ Devido ao seu contato na Europa, ele tinha um Abre-te Sésamo. Pedíamos a ele que apenas relatasse: ‘O que fulano disse, como ele era, está saudável?’ Ele estava muito entusiasmado, adorava cooperar”. A mesma fonte teria revelado que Sulzberger uma vez recebeu um briefing da agência de inteligência e o publicou quase que sem edição em sua coluna no New York Times.
Fracassou a manifestação convocada por Jair Bolsonaro e seus apoiadores para reivindicar anistia aos golpistas do 8 de janeiro de 2023. O público que participou do ato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) neste domingo (6) na avenida Paulista, em São Paulo, para apoiar os envolvidos nos ataques golpistas foi estimado em 45 mil pessoas. A manifestação ocupou cerca de três quarteirões da avenida, entre a alameda Ministro Rocha Azevedo e a rua Pamplona.
Segundo o Datafolha, o público ficou em torno de 55 mil pessoas. Desta vez, tanto a coordenação do ato quanto Bolsonaro não apresentaram, em números, o quanto esperavam atrair na Paulista. A estimativa dos organizadores era que o ato reunisse 500 mil pessoas.
SEGUNDO FIASCO
Em levantamento do Monitor do Debate Político do Cebrap e da ONG More in Common, o cálculo sobre o público do ato deste domingo na Paulista foi de 44,9 mil pessoas. A medição foi feita às 15h44, por meio de fotos tiradas por drones e sistemas de inteligência artificial. A mesma contagem citou a presença de 18,3 mil pessoas em Copacabana no ato de 16 de março.
Neste domingo, os apoiadores se reuniam desde a manhã em um trecho próximo ao Masp. Bolsonaro chegou à avenida por volta das 13h45, e o ato começou às 14h. Estiveram presentes a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro e os filhos do ex-presidente Carlos Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Jair Renan.
Eduardo Bolsonaro, que se licenciou do mandato de deputado federal e se mudou para os Estados Unidos, foi lembrado pelo pai em seu discurso. “Hoje faltou um filho meu aqui. O 03. Fala inglês, espanhol e árabe. Tem contato com pessoas importantes lá nos Estados Unidos.”
O ato reuniu ainda outras autoridades e sete governadores: Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, Ronaldo Caiado (União), de Goiás, Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, Mauro Mendes (União Brasil ), de Mato Grosso, e Wilson Lima (União), do Amazonas.
Os quatro primeiros são cotados como presidenciáveis em 2026 diante do vácuo aberto pela inelegibilidade de Bolsonaro. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), também subiu no trio elétrico e discursou.
O batom foi um dos símbolos da manifestação, em uma referência à cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, condenada a 14 anos de prisão por pichar de batom a estátua “A Justiça” em frente ao STF (Supremo Tribunal Federal), episódio explorado pelos bolsonaristas críticos às penas aplicadas aos envolvidos no 8 de janeiro. Diversas pessoas compareceram ao ato empunhando a maquiagem.
(Com informações de O Globo, Metrópoles, g1, Folhapress e Portal Terra)
O empate não foi ruim, mas o gol cedido no minuto final tirou o sabor da alegria. O resultado, bom do ponto de vista da equilibrada Série B, trouxe um gosto amargo ao torcedor azulino, que já comemorava a vitória sobre a Ferroviária. A vantagem foi sustentada até a cobrança de falta que resultou no gol do time da casa.
A partida mostrou um Remo maduro e aplicado ao longo de todo o primeiro tempo, controlando as investidas da Ferroviária nos minutos iniciais e depois se lançando ao ataque com jogadas rápidas pelos lados.
Na primeira chance, Caio Vinícius escorou de cabeça, à esquerda da trave de Dênis Júnior. Depois, um cruzamento perfeito de Alan Rodríguez deixou Felipe Vizeu em condições de marcar, mas o cabeceio saiu à direita, raspando a trave.
O Remo era melhor por ser mais objetivo. Aos 37 minutos, uma bola roubada na intermediária da Ferroviária caiu nos pés de Jaderson, que lançou Pedro Rocha na esquerda. O atacante entrou na área e tocou para Vizeu chutar para as redes.
A vantagem no marcador deixou o Remo mais à vontade para sair jogando, criando perigo para a zaga paulista. No 2º tempo, mesmo com mudanças na Ferroviária, o controle da partida continuou com os azulinos. Marcelinho, lançado na área, quase ampliou para 2 a 0.
Depois, já com Adailton na vaga de Pedro Rocha, o Remo fustigou com mais insistência e esteve próximo de marcar. Adailton avançou e foi parado com falta dura quando ia entrar na área.
Quase ao final, Jaderson sofreu uma queda fora do campo ao interceptar uma bola e teve que sair. Sua ausência desfigurou a meia-cancha, que permaneceu apenas com Caio Vinícius enfrentando as tentativas da Ferroviária.
Aos 49′, o lance fatal. Adailton fez falta junto à linha lateral e Netinho cobrou para o cabeceio certeiro de Carlão, empatando a partida. Um castigo para os azulinos na estreia na Série B.
Um longo caminho até a consciência democrática
Para surpresa de quase ninguém, apenas nove clubes – 6 da Série A, 1 da B, 1 da C e 1 da D – se posicionaram no 1º de abril, data do golpe militar que implantou a ditadura no Brasil em 1964. Do Pará, somente o Remo se manifestou em nota nas redes sociais. Entre os clubes da Série A, Internacional, Corinthians, Botafogo, Vasco, Sport e Bahia fizeram postagens
Vale dizer que o quantitativo deste ano já é bem superior ao do ano passado, quando somente seis clubes se posicionaram. Permanece a diferença abissal no terreno da consciência política de clubes e desportistas brasileiros em relação a argentinos e uruguaios, sempre atentos e unidos em defesa da democracia.
Fogão volta a vencer com estratégia de 2024
Uma jogada executada primorosamente em 20 segundos sacramentou a primeira vitória do Botafogo na Série A, sábado à noite, no estádio Nilton Santos. Tudo começou com a saída de bola pelo lado direito. De pé em pé, sem erros, a bola chegou a Alex Telles na ala esquerda. Ele cruzou na medida para Mateo Ponte finalizar para as redes.
Uma pintura de gol, pela construção simples e perfeita do lance. Lances que eram comuns no Botafogo campeão do ano passado, sob o comando de Artur Jorge. Foi um dos trunfos da equipe, tanto no Brasileiro quanto na Libertadores.
Depois da elogiada estreia contra o Palmeiras, apesar do empate em 0 a 0, o time tropeçou fora de casa na Libertadores e deixou algumas desconfianças no ar. A vitória de 2 a 0 sobre o Juventude reabre as expectativas sobre o Botafogo de Renato Paiva. A conferir.
Conselho antigo para o drama atual da Seleção
Nos idos de 1970, Nelson Rodrigues saudou a escolha de João Saldanha para treinar o escrete canarinho com um artigo caprichado, no melhor estilo rodriguiano, carregado de ideias antiquadas e conselhos certeiros, remetendo ainda à tragédia nacional da Copa de 1950.
Amigos pessoais, colegas de rádio e jornal, Nelson e João eram como cão e gato na esfera política – o primeiro defendia a ditadura militar, Saldanha era um comunista indômito –, mas se entendiam por música quando o assunto era futebol.
“Sou totalmente partidário de João Saldanha. Colocaram o homem certo no lugar certo. Eu sempre disse que o Brasil precisava de 11 guerreiros. E o Saldanha sabe disso. O brasileiro é cheio de escrúpulos, enquanto que o inglês faz qualquer negócio pra ganhar a Copa, pois tem o cinismo de grande povo. O Saldanha entende de futebol e pode transmitir um mínimo de cafajestismo que a Copa exige. A Copa é uma competição de gângsteres. E o sujeito que quer bancar a menina em primeira comunhão entra por um cano deslumbrante. Em 1950, o Brasil perdeu porque o outro lado tinha um Obdúlio Varela. O papel do Saldanha é impedir que do outro lado exista um Obdúlio e fazer com que o Obdúlio seja brasileiro”, cravou Nelson.
Meses depois, após campanha sensacional nas Eliminatórias, Saldanha foi demitido da Seleção por ordem do governo militar. Zagallo entrou em seu lugar, mas o tricampeonato de 70 também é dele.
(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 07)