Fernanda Torres agradeceu sua mãe, Fernanda Montenegro, após vitória no Globo de Ouro 2025. Imagem: Matt Winkelmeyer/WireImage
Fernanda Torres e Walter Salles insistem: se os crimes da ditadura não forem julgados e punidos, “os fantasmas” voltam.
As declarações foram dadas na estreia do filme Ainda Estou Aqui, em Nova York. Num teatro completamente lotado, a atriz respondeu a perguntas ao final da exibição, nesta segunda-feira. O filme entra em cartaz nos EUA a partir da próxima sexta-feira.
Na semana passada, Fernanda Torres foi a vencedora do Globo de Ouro e aguarda ainda para saber se será uma das indicadas para o Oscar.
Falando a um público estrangeiro, Fernanda Torres explicou que “o problema no Brasil é que a ditadura durou 21 anos, e quando eles – os militares – decidiram que era para terminar, eles estavam no comando”. Ela fez uma comparação com a Argentina, que terminou seu regime militar com o colapso dos militares diante da guerra das Malvinas.
“Na Argentina, a sociedade civil foi capaz de processar os autores dos crimes. Mas não no Brasil. Houve uma parte mais extremista dos militares que não queria que acontecesse. E as mesmas pessoas são as que tentaram fazer um golpe de estado agora”, alertou.
“No Brasil, houve um acordo. Nós perdoamos e vocês esquecem o que correu. Mas o fantasma ressurge de novo”, lamentou a atriz.
Para ela, é “muito impressionante” que o Supremo Tribunal Federal tenha citado o filme em uma decisão para reabrir o debate sobre a lei de anistia. A ideia é de que, se um corpo desaparece, ele não pode fazer parte da anistia. “Estamos começando a discutir isso”, disse a atriz.
O filme de Walter Salles e que relata a história de Eunice Paiva foi citado pelo ministro Flavio Dino como um dos argumentos para propor uma reavaliação da lei de Anistia, de 1979, diante de crimes como o do desaparecimento forçado de Rubens Paiva.
Walter Salles fez questão de ser enfático. “Estamos ao lado de Eunice. Os crimes da ditadura precisam ser julgados e punidos. Como ocorreu na Argentina e Chile”, disse.Continua após a publicidade
“E é por isso que golpes continuam. Se eles tivessem sido julgados, não haveria uma outra tentação de faze-los”, completou. Para Fernanda, é “incrível” que os envolvidos na tentativa de golpe durante o bolsonarismo sejam os mesmos que ainda existiam no regime militar.
FILME NÃO É SOBRE PASSADO
A atriz acredita que se o filme tivesse sido concluído há quatro anos, durante o governo de Jair Bolsonaro, ele poderia não ter saído. “Tivemos uma janela”, afirmou. “Há uma mágica nesse filme. Acho que teria sido impossível lançar esse filme há quatro anos”, disse Fernanda Torres. “Foi possível por existir essa janela e o sentimento de que a democracia poderia ser salva”, afirmou.
Para ela, o filme criou “empatia pelos seres humanos”. “Talvez esse filme ajude no futuro, para o próximo momento de nossa democracia”, afirmou.
Fernanda ainda relatou a cena na qual Eunice exige que seus filhos sorriam diante de uma foto que iria para uma revista. “Ela descobriu que, ao não fazer isso, a ditadura teria vencido. Ela usou sorriso como arma. E uma forma de dizer que não está quebrada”, disse.
“Hoje, todos odeiam todos. Eunice nos ensina que, para ser gentil com o sorriso, é muito mais que lutar com agressividade”, completou.
Segundo Walter, à medida que o país caminhava para a extrema direita, houve um entendimento de que havia um “sentimento de urgência” no filme. “Não era sobre nosso passado e isso nos deu muito foco”, disse. “Isso tudo nos deu uma compreensão de quem nós éramos, naquele momento da história, mas quem somos hoje”, explicou.
A onda de notícias falsas a respeito de uma suposta cobrança de impostos sobre operações de Pix vem dando fôlego a fraudes com o dinheiro de contribuintes desavisados. No último dia 8, a Receita Federal ampliou a tomada de informações sobre operações financeiras, que já eram fornecidas desde 2003 por bancos tradicionais públicos e privados. Além de elevar de R$ 2 mil para R$ 5 mil o valor mínimo a partir do qual as informações tinham de ser prestadas, o Fisco incluiu fintechs e operadoras de cartões (as “maquininhas”) entre as instituições que precisam prestar contas. Bastou para que fossem divulgadas nas redes fake news sobre um imposto que seria cobrado sobre transações por Pix acima desse valor. Desde o fim de semana, pessoas estão recebendo mensagens com boletos usando a marca da Receita para pagarem o “imposto” por excederem o “limite do Pix”. “Isso é falso, não é verdade”, diz o secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas. “Nada muda para o cidadão. Não há qualquer cobrança, não há imposto sobre Pix, nada disso. O cidadão não precisa fazer nada, declarar nada, apenas seguir sua vida normalmente”, garante o secretário. (g1)
A boataria mobilizou o governo. O presidente Lula se reuniu nesta segunda-feira com o ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) da presidência, Sidônio Palmeira, que toma posse hoje, para tratar do assunto. O teor do encontro não foi divulgado, mas Sidônio já vinha trabalhando desde a semana passada na tentativa de conter a onda de notícias falsas. Foi ideia dele o vídeo em que Lula faz um Pix para o Corinthians, seu time do coração, e mostra que não há cobrança na operação. (Globo)
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também entrou em campo. Mais cedo, o colunista do UOL Graciliano Rocha afirmou que a mudança implementada pela Receita tinha como alvos pequenas empresas e a classe média, em particular comerciantes e prestadores de serviços. Haddad negou a informação e disse que a elevação do piso a partir do qual as informações deveriam ser enviadas à Receita faz com que ela não tenha efeito sobre a maioria dos pequenos negócios. “Na verdade, o volume de informações que vai chegar à Receita Federal vai cair”, disse o ministro. Sobre a inclusão das fintechs, que atendem clientes que muitas vezes não conseguem contas e cartões nos bancos convencionais, Haddad disse que a Caixa sozinha tem um contingente de correntistas nesse perfil maior que todos os bancos virtuais e terá de repassar menos dados. (UOL)
Meio em vídeo. Fernando Haddad vai taxar o Pix? A resposta é não. Mas há uma conversa mais longa para termos a respeito de tudo isso. Vai ficar mais difícil sonegar, e isso é o que está causando a revolta, os boatos e os memes. E não são só os informais: personal trainers, médicos, dentistas… “Quer com nota ou sem?”. Confira a opinião de Pedro Doria no Ponto de Partida. (YouTube)
Mais Meio em vídeo. As pessoas realmente não conseguem identificar uma notícia falsa como o “imposto do Pix”? No Central Meio, a jornalista Cristina Tardáguila, fundadora da agência de verificação de fatos Lupa, afirma que 60% das pessoas conseguem e, mesmo assim, espalham mentiras sabendo que são fake news.
Ministro Alexandre de Moraes não aceitou o e-mail encaminhado pela defesa do ex-presidente como comprovação de que foi convidado para a cerimônia de posse do presidente eleito dos EUA
O ex-presidente Jair Bolsonaro. Créditos: Pedro Ladeira/Folhapress
Por Ivan Longo, na Revista Fórum
Jair Bolsonaro ainda não conseguiu comprovar junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) que recebeu um convite oficial para a cerimônia de posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, e já teria tomado uma decisão diante da iminente negativa do ministro Alexandre de Moraes ao seu pedido para que possa deixar o país.
Investigado no inquérito da tentativa de golpe de Estado e prestes a se tornar réu pelo crime, Bolsonaro teve seu passaporte retido pela Polícia Federal (PF) em 2024 e está proibido de viajar ao exterior sem autorização da Justiça. Na última semana, a defesa do ex-presidente solicitou a Moraes a liberação de seu documento de viagem para que possa comparecer à posse de Trump, marcada para 20 de janeiro em Washington.
Para justificar a presença de Bolsonaro, a defesa do ex-presidente anexou um e-mail que, supostamente, consistiria no convite feito por Trump para que o ex-mandatário vá a ao evento. Moraes, entretanto, considerou a “comprovação” insuficiente, visto que a defesa de Bolsonaro apresentou um e-mail de remetente genérico e sem programação oficial da cerimônia, gerando desconfiança de que não se trata de um convite feito pelo próprio presidente dos EUA.
Moraes, então, pediu que a defesa de Bolsonaro enviasse um documento oficial que comprovasse o convite, mas os advogados do ex-presidente responderam ao ministro com o mesmo e-mail, afirmando que o correio eletrônico é, sim, a comprovação de que o ex-mandatário foi convidado para a posse do republicano.
Já ciente de que o ministro do STF deve vetar sua ida aos EUA, tal como fez em outros pedidos de viagem ao exterior, Bolsonaro teria decidido enviar sua esposa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, para representá-lo na solenidade. Ela, diferentemente dele, não é investigada no inquérito da tentativa de golpe de Estado e não tem restrições para fazer viagens internacionais. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente e responsável por articular o suposto convite, também deve marcar presença.
Quem recebeu, de fato, um convite oficial para comparecer à posse de Trump foi a embaixadora brasileira em Washington, Maria Luiza Viotti. Ela representará o Brasil na cerimônia e, de acordo com integrantes da diplomacia brasileira, o convite foi feito pelo Departamento de Estado dos EUA e prontamente confirmado pela embaixadora.
BRASIL SERÁ REPRESENTADO
Cabe lembrar que a posse presidencial nos Estados Unidos tradicionalmente não conta com a presença de chefes de Estado estrangeiros, sendo representações diplomáticas, como embaixadores, as figuras habituais nos eventos oficiais.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), questionou sábado (11) a autenticidade do suposto convite apresentado pela defesa de Jair Bolsonaro para justificar sua presença na posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, marcada para 20 de janeiro, em Washington. Investigado no inquérito que apura a tentativa de golpe no Brasil e com o passaporte retido desde 2024, Bolsonaro está proibido de sair do país.
A principal justificativa para a exigência de Moraes é a fragilidade do documento apresentado: um e-mail supostamente enviado ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, de um endereço genérico e não institucional do comitê inaugural americano. Segundo Moraes, a mensagem “não veio devidamente instruída com os documentos necessários” e carece de detalhes essenciais, como o horário e a programação oficial do evento.
O que é necessário para comprovar o convite?
De acordo com a decisão do ministro, apenas um documento oficial que comprove a inclusão de Bolsonaro na lista de convidados da cerimônia, em uma posição de destaque e condizente com a alegação de que o ex-presidente participará do evento em caráter oficial, poderá justificar a liberação de seu passaporte. O e-mail apresentado pela defesa, de rementente “info@t47inaugural.com”, não diferenciaria Bolsonaro de qualquer pessoa que tenha preenchido um formulário no site oficial do comitê organizador da posse.
O site t47inaugural.com, associado ao comitê de posse de Trump, permite que qualquer interessado se inscreva para receber um convite genérico à cerimônia. Este tipo de convite, no entanto, não garante acesso a áreas restritas ou proximidade com os organizadores. Em testes feitos por jornalistas, o mesmo endereço de e-mail foi usado para enviar convites genéricos a qualquer cadastro preenchido no site, bastando inserir um nome fictício e esperar pelo retorno.
Ainda assim, a defesa de Bolsonaro insiste que o convite foi pessoalmente enviado por Trump, conforme afirmou Eduardo Bolsonaro em vídeo publicado nas redes sociais: “Foi o Trump que analisou, foi assessorado, fez uma reunião e decidiu: ‘Chamem, convidem o Jair Messias Bolsonaro’.” As declarações, no entanto, esbarram no fato de que o comitê não utiliza comunicações personalizadas, algo incompatível com o status que o ex-presidente busca atribuir ao convite.
Por que o e-mail não basta?
Para Moraes, o e-mail apresentado é insuficiente para comprovar a relevância institucional do convite. A necessidade de um documento oficial vai além da mera formalidade: envolve garantir que a saída do país por Bolsonaro, investigado e com restrições legais, não seja baseada em pretextos frágeis. Fabio Wajngarten, ex-assessor e advogado próximo ao ex-presidente, afirmou que a defesa cumprirá as exigências do STF e apresentará “toda a competente documentação”. Entretanto, caso não consigam provar o convite oficial, Bolsonaro pode enfrentar um impasse jurídico para viajar.
SÚPLICA PODE ESCONDER PLANO
A novela repetitiva e enjoativa do pedido desesperado de devolução do passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro ganhou um novo capítulo neste domingo (12). Antes de qualquer coisa, é necessário esclarecer que o antigo ocupante do Palácio do Planalto de extrema direita não é autoridade pública brasileira, não tem mandato algum atualmente, é indiciado pela Polícia Federal por crimes gravíssimos e tem histórico de enfrentamento às ordens da Justiça. Trocando em miúdos, não tem nada o que fazer nos EUA, sejam visitar o Mickey nos parques da Disney ou acompanhar posse de chefe de Estado estrangeiro.
Dito isso, seu filho Eduardo, que é deputado federal, conhecido por ser uma figura irascível que transborda ódio e violência verbal por todos os poros, um verdadeiro selvagem nas relações interpessoais e política, resolveu fazer um apelo em vídeo nas últimas horas, em tom comportado e educadíssimo, suplicando pela devolução do documento de viagem, chegando ao patético papel de dizer que espera que “Deus ilumine a mente das autoridades brasileiras”.
Eduardo adora mostrar seu “prestígio” com Trump e outros desajustados extremistas de todo o mundo. A família também tem a comunicação digital sua principal arma, fazendo de qualquer fato, cena ou vídeo um elemento devastador que costumeiramente catalisa apoios, gerando engajamento às pautas bizarras e desumanas que abraçam. Claro, o sinistro ex-presidente golpista ao lado de Trump, dentro da Casa Branca ou de qualquer outro local icônico de Washington, seria importante para o setor ultrarreacionário comandado por eles. Só que esse bom-mocismo todo pode esconder outra coisa.
Na súplica direcionada ao STF, embora sem mencionar o tribunal ou o ministro Alexandre de Moraes, que está com o caso, Eduardo diz que “Bolsonaro já foi aos EUA e voltou”, em referência à fuga covarde de fim de mandato, quando seus cupinchas tentaram o golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023, e cita também a viagem do pai para a posse de Javier Milei, na Argentina, em 10 de dezembro de 2023. Ele fecha o apelo dizendo que o comparecimento do chefe do clã à posse de Trump “não faz mal a ninguém”.
Pura bravata e as coisas neste momento são muito diferentes dos primeiros e últimos dias de 2023, quando ele foi à Flórida e a Buenos Aires. A apresentação da denúncia contra Jair Bolsonaro por parte da Procuradoria-Geral da República, que na prática o tornará réu pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa, deve acontecer ainda este mês, ou no máximo até o começo de fevereiro. Para a imensa maioria dos juristas brasileiros, além de outras figuras afeitas ao mundo do direito e dos julgamentos em tribunais, sua condenação à cadeia é praticamente certa. Nove em cada dez especialistas no assunto creem que até o fim do ano seu endereço será numa cadeia qualquer do país.
Com Trump efetivado no cargo e com o sucesso de outras figuras que foram se enfiar nos EUA fugindo da Justiça brasileira, e que conseguiram lá permanecer sem risco de extradição, as chances de Bolsonaro se estabelecer nos EUA e, de lá, tornar-se uma espécie de espírito zombeteiro infernizando a vida nacional com suas escatologias incendiárias, é imensa. Ele estaria total e absolutamente a salvo, pronto para conduzir a extrema direita brasileira de forma remota, até porque se permanecer no Brasil seguirá inelegível e provavelmente preso.