Em uma final histórica e dramática, o Botafogo se tornou o grande campeão da Copa Libertadores da América 2024, neste sábado (30), ao vencer o Atlético-MG por 3 a 1, no estádio Mâs Monumental, em Buenos Aires. O time carioca, alvo de desconfiança por uma suposta instabilidade emocional desde o começo do ano, provou sua força ao vencer, mesmo atuando com um jogador a menos desde o primeiro minuto de jogo, após expulsão de Gregore.
Luiz Henrique, Alex Telles, de pênalti, e Júnior Santos marcaram os gols do primeiro título de Libertadores da história do Botafogo, ambos na etapa inicial. É o maior troféu da história do time que revelou lendas como Garrincha e Nilton Santos.
O chileno Vargas descontou no começo do segundo tempo, mas o Galo, campeão pela primeira e única vez em 2013, não conseguiu buscar o empate na Argentina.
Aconteceu muita coisa em cerca de 50 minutos de etapa inicial no Mâs Monumental. A começar pela expulsão relâmpago de Gregore, do Botafogo, por uma falta em Fausto Vera, aos 30 segundos de bola rolando. Foi o cartão vermelho mais rápido da história das finais de Libertadores, em mais de seis décadas. Mas não o suficiente para frear o ímpeto do Botafogo, que buscava seu primeiro título no torneio.
O técnico português Artur Jorge optou por manter as peças e adaptá-las à condição do jogo, sem repor o volante expulso. E foi premiado pela ousadia.
A virada emocional botafoguense começou aos 35 minutos. Em uma jogada pela esquerda, Marlon Freitas tentou um chute mascado da entrada da área, a bola desviou na defesa atleticana e sobrou para Luiz Henrique, jogador de Seleção, encher o pé esquerdo e abrir o placar.
O Atlético-MG sentiu muito o gol sofrido mesmo com a vantagem numérica. E o Botafogo pareceu se multiplicar no campo em Buenos Aires. Foi assim que uma pane geral do Galo levou ao segundo gol.
Aos 44 minutos, Battaglia recuou de cabeça na direção de Arana, que preferiu proteger para a saída de Everson. Luiz Henrique foi mais rápido e o goleiro derrubou o camisa 7 do Botafogo. O VAR recomendou a revisão e o árbitro argentino Facundo Tello assinalou o pênalti. Na cobrança, Alex Telles caprichou com o pé esquerdo e abriu 2 a 0 para o Botafogo na grande final.
EMOÇÃO ATÉ O FIM
O técnico argentino Gabriel Milito voltou com um Atlético-MG mudado para o segundo tempo. Mariano, Bernard e Vargas entraram nos lugares de Lyanco, Vera e Scarpa. E um deles mudou o panorama do jogo. Em seu primeiro toque na bola, aos dois minutos, Vargas, de 1,74m, cabeceou sem pular após escanteio cobrado por Hulk e acertou o ângulo do goleiro John: 2 a 1, com toda a etapa final pela frente.
Com um a menos desde o primeiro minuto de jogo, o Botafogo, claro, cansou. Jogadores importantes como Luiz Henrique, Savarino e Almada tiveram que correr muito para marcar, e foram substituídos ao longo da etapa final.
O time, então, perdeu sua identidade ofensiva e não conseguiu armar contra-ataques. Passou a depender da solidez defensiva e de um pouco de sorte. E deu certo.
Ainda teve o momento da glória final, com o gol de Júnior Santos aos 51 minutos do segundo tempo, no último lance do jogo, em contra-ataque puxado na base da raça.
O título em cima do Atlético-MG rendeu ao Glorioso um prêmio de US$ 23 milhões (R$ 137,4 milhões na cotação atual). Na cerimônia de premiação, coube a John Textor receber o cheque simbólico das mãos do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez. Somado aos valores que já haviam sido conquistados nas fases anteriores, o Glorioso – que participou desde a fase preliminar – fechou a competição com R$ 194 milhões de premiação da Conmebol.
(Com informações de Lance!, CNN, O Globo e O Tempo)
Em meio à angústia que antecede uma decisão de Copa Libertadores, os torcedores de Atlético-MG e Botafogo se agarram às virtudes de seus times. Não há dúvida quanto à qualidade dos finalistas. Atravessar uma competição duríssima, superando adversários de tradição, é prova de competência e estratégia.
Pelo que se viu ao longo da temporada, o Botafogo de Artur Jorge é mais ofensivo e impetuoso. Aposta na imposição física para superar marcação e investe na velocidade pelos lados para furar bloqueios defensivos. Contra retrancas mais radicais, porém, sofreu muito no Campeonato Brasileiro.
Contra o próprio Atlético, há duas semanas, o Glorioso sofreu muito e não conseguiu quebrar a resistência dos mineiros. Como não havia obtido sucesso diante de Grêmio, Cuiabá, Criciúma e Vitória, retrancados e agarrados à missão única de não sofrer gol.
É improvável que o Atlético de Gabriel Milito busque repetir a estratégia do jogo recente. É de conhecimento geral que a busca pelo título das Américas exige um mínimo de ofensividade. Ao mesmo tempo, o Galo vem de 10 jogos sem vitória, com flagrantes dificuldades no ataque. Para superar o Botafogo precisará ser cirúrgico e letal.
Artur Jorge e seus comandados têm como arma natural a pressão adiantada, embaralhando a armação do oponente e roubando bolas na chamada zona perigosa, às proximidades da grande área. Igor Jesus, Savarino e Luiz Henrique, que esbanjam técnica e força física, estarão a postos para executar a missão de conduzir a bola até a área atleticana.
Para Milito, a alternativa será reter um pouco mais suas linhas de marcação e obstruir a passagem pelos lados, a fim de não abrir espaço para Luiz Henrique (ou Junior Santos) e Almada, principalmente. Obviamente, esse primeiro passo é de pura cautela. O time precisará, como alternativa seguinte, avançar para tentar o gol. A não ser que, num cenário atípico, o Galo entre em campo apostando em levar a decisão para as penalidades.
O fato é que, por tudo que a história recente do clube expressa, o Botafogo tem mais urgência. A rigor, tem urgências. Deseja o título para compensar a sofrência de 2023, para mitigar sofrimentos acumulados em décadas de imprevistos e decepções. Precisa, acima de tudo, entregar a taça maior das Américas a uma torcida tão resiliente quanto apaixonada.
É um jogo com pinta de definição dentro dos 90 minutos. Arrisco dizer que os times só precisam dos dois tempos regulamentares para fazer o que a grande decisão exige. No contexto natural das rivalidades em cena, o equilíbrio pode ser de repente rompido pela técnica mais apurada de um ou a força de conjunto do outro.
Está vivíssima a velha máxima de que finais não são jogadas, mas vencidas. Para tanto, é necessário mostrar performance quase perfeita, erro zero e desempenho encaixado. Espero que, ali pelas 19h do sábado, o meu Alvinegro faça seu povo tão sofrido sorrir como nunca antes.
Histórias e lembranças que embalam a glória eterna
Acompanhei partidas decisivas e eliminatórias em Copas – 2006, 2010, 2014 e 2022 – e passei maus pedaços principalmente no Mundial disputado aqui no Brasil. O massacre alemão até hoje me apavora. Nunca me senti tão impotente como testemunha de um jogo como naquela tarde no Mineirão.
Nada, porém, chega nem perto do que o confronto histórico deste sábado certamente vai proporcionar a todos nós, botafoguenses – permitam-me falar como torcedor. Tudo é muito maior e assustador do que torcer pela Seleção Brasileira. O Botafogo não ganha um título importante há 29 anos.
O último foi em 1995, um Brasileiro que foi ganho através do esforço da geração de Túlio Maravilha e Donizete. Antes disso, eu havia experimentado a imensa alegria de comemorar a conquista do Carioca de 1989, que já não era nosso há 21 anos.
É verdade, não custa admitir, temos glórias gigantescas e conquistas escassas. O Botafogo é o time que mais cedeu jogadores à Seleção em Copas do Mundo. É o único clube brasileiro que “ganhou” uma Copa, a de 1962, quando cedeu cinco titulares ao escrete – Nilton Santos, Amarildo, Didi, Zagallo e Mané Garrincha.
Ao mesmo tempo, temos uma galeria de incidentes desagradáveis, derrotas improváveis e pipocadas terríveis, como a do ano passado, quando um título que era nosso por mérito acabou escapando miseravelmente nas 10 rodadas finais do Brasileiro.
O que eu via lá em Baião, nos meus 10 anos de idade, eram exemplares da Revista do Esporte com craques da Estrela Solitária na capa. Isso me levou a desviar a rota de torcer pelo time de coração de meu pai José, o Vasco. Tudo indicava que eu seria vascaíno, pelo respeito às convicções de meu velho, mas o brilho da Estrela imortal falou mais alto.
Lembrava disso nos últimos dias ao olhar com pretensioso distanciamento emocional para a grande final de hoje. Uma tentativa inútil de ser frio e técnico. Mas, ao mesmo tempo em que buscava forças na disciplina profissional, era assaltado pelas lembranças pungentes da presença do Botafogo em minha vida.
E, como questão absolutamente definitiva, tive que considerar o fato óbvio da importância de ser botafoguense para amar tanto futebol. Todo o meu fascínio pelo jogo tem a ver com o amor pelo Botafogo. São coisas indissociáveis, graças a Deus.
Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 22h deste domingo, na RBATV, com participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba baionense. Em debate, os movimentos de PSC e Remo de olho na próxima temporada. A edição é de Lourdes Cezar e Lino Machado.
(Coluna publicada na edição do Bola deste sábado/domingo, 30/01)
Não entrarei pra História. Melhor assim. “Tempo e Dinheiro”, final
Por André Forastieri
Você ouviu falar do campeão de Wimbledon que recebeu o Oscar de diretor? E daquela prima bailarina do Bolshoi que levou o Nobel de Química? Nem eu. É impossível atingir este nível de excelência em dois campos completamente diferentes. Já é dificílimo você ser razoavelmente bom em dois campos razoavelmente correlatos.
Aliás, já é uma obra a gente conseguir ser mediano. Tanto que exatamente metade de nós está abaixo da média, né?Um dos filmes mais bizarros dos anos 80, quando filme bizarro era o que mais pululava nas locadoras, já era exótico a partir do nome. É “As Aventuras de Buckaroo Banzai Através da Oitava Dimensão”, de 1984.
É uma homenagem desconjuntada aos romances pulp dos anos 30, que precederam a explosão dos gibis. Com heróis como o fortão supercrânio Doc Savage, enfrentando vilões mefistofélicos e monstros gosmentos em cenários exóticos.
O ator que faz Buckaroo é Peter Weller, anos depois famoso como Robocop. Seu personagem é simultaneamente um neurocirurgião estiloso, piloto de provas, físico de partículas, cantor e guitarrista em uma banda de rock e líder de um grupo de aventureiros que enfrenta invasores alienígenas.
O filme me inspirou a criar a “Síndrome de Buckaroo Banzai”, que diagnostico com frequência crescente.
O principal sintoma é uma crença completamente descabida na própria capacidade de dedicar-se a muitas atividades diferentes e mandar bem em todas. É uma fantasia prepotente e perigosa. É martelada repetidamente na gente, “you can have it all”. Mas tudo é muita coisa.
Buckaroo: só assistindo para acreditar
O professor popstar Scott Galloway popularizou a teoria das “Dez Mil Horas”. Para você mudar seu status de zero à esquerda para realmente bom em algo, diz Scott, você precisa deste tempo de dedicação. Quer lutar jeet kune do como Bruce Lee? Treine dez mil horas. Quer pilotar como Lewis Hamilton? Dez mil horas.
Queres ser ótimo em ganhar dinheiro? Limpa a mesa, tira o resto da frente, faça o que tiver que fazer pra ganhar dinheiro e fôda-se o resto. Dez mil horas e estás pronto pra Faria Lima.
Você entendeu. Não é “dez mil”. Pode ser oito mil ou oitenta mil, depende de quão rarefeita é sua meta e aguerrida a concorrência. Dedicação prolongada e caprichada não é garantia. Mas suando a camisa, se não chegares lá, certamente chegarás mais perto. Onde quer que seja “lá”.
Quando você aloca essas dez mil horas na sua agenda diária, entende a demência da proposta. Digamos que você reserve duas horas por dia para o forno e fogão, porque sua meta é cozinhar tão bem quanto a Helena Rizzo.
Vai precisar de cinco mil dias. Quase 17 anos.
Esta é a razão porque centenas de garotinhas russas começam a ralar com cinco anos. Ensaiam manhã, tarde e noite, enfrentando peneira após peneira, pela oportunidade de estar no palco do Bolshoi.
Galloway simplifica mas não mente. Ser um dos melhores em qualquer coisa exige esforço paca (além de ter nascido premiado na loteria da vida e um belo empurrãozinho do acaso. Se você é baixinho, jamais será astro da NBA; se altão, não vencerás corridas no Jockey Clube).
Para se tornar ótimo, o ser humano precisa otimizar seu tempo. Planejar minuciosamente e executar nos trinques o planejado. Ter um único objetivo e persegui-lo incessantemente, acima de todos os outros.
Scott passa por cima de um detalhe crucial. Se você, minha jovem, investir dez mil horas em uma única atividade na busca da excelência, duas coisas tristes vão acontecer.
Você chegará à idade adulta sem ter curtido sua infância, adolescência, juventude. Fases que se foram, experiências e convivências que não podem ser repostas.
E você provavelmente será excelente em uma área e medíocre em todas as outras. Simplesmente porque não dedicou horas a elas. O tempo não tem dó da gente. Como usas determina o que és. Ser é fazer. Não há escapatória, tic-toc, tic-toc.
Galloway posa gatão nos lençóis
É uma fantasia: o CEO de sucesso que também é triatleta, leitor voraz, pai dedicado, talentoso músico de fim-de-semana, criativo na cama, socialmente consciente, pele vinte anos mais jovem etc. Sempre com um comentário pertinente pra fazer sobre literalmente tudo.
Aliás, quem sabe muito de um tema frequentemente se convence que é expert em todos os assuntos sobre o céu. Todos conhecemos aquela pessoa que é uma sumidade da sua área e fala um monte de groselha sobre assuntos que não manja picas.
A gente encontra estes super homens e mulheres toda hora na mídia. E mesmo sendo ideais inatingíveis, muita gente se esfalfa tentando alcança-los. Se a executiva gata lá conseguiu, porque não eu?
Talvez a síndrome de Buckaroo Banzai esteja crescendo porque a gente carrega esses celulares com apps super eficientes em suas funções específicas, e estamos confundindo nossos devices com nossos cérebros primatas.
O mais provável é que drive insano seja exclusividade de um perfil muito específico de personalidade. O sujeito que sempre quer se superar, que jamais se satisfará com sua vitória mais recente.
Pode ser um perigo para seus relacionamentos, familiares, subalternos. Pode ser mortal. O caso mais espalhafatoso de perfeccionista que implodiu: Michael Jackson. São essas estrelas, campeões e medalhistas que são imortalizados na História. Mas não são só elas e eles que fazem a humanidade evoluir.
Simpatizo com as palavras que o escritor Robert A. Heinlein colocou na boca de sua mais conhecida criação, o sábio Lazarus Long: “o progresso não vem dos que acordam cedo, mas dos homens e mulheres preguiçosos, procurando uma maneira mais fácil de fazer as coisas.”
Adivinhe: não acordo cedo, sou preguiçoso e sempre procuro uma maneira mais fácil de fazer as coisas.
Quem cravar como será o mundo daqui dez anos ou está confuso ou mal informado. Sabemos que será de ficção-científica. Algumas tendências são inexoráveis e surpresas inimagináveis nos aguardam, boas e ruins. Experts em RH e coaches variados profetizam isso e aquilo.
Não faço ideia se em 2035, 2045, 2055 se darão melhor os hiper-dedicados & especializados ou os diletantes & flexíveis. Tecnologia e política podem acelerar a desigualdade ou proporcionar uma sociedade mais igualitária.
A seleção natural costuma premiar com a sobrevivência as espécies onívoras, adaptáveis. Mas o que há de natural no sistema em que vivemos? Fora o fato que é criação nossa, pouco.
Heinlein em seu ambiente natural: com foguetes retrô
Ser ótimo em algo deve ser um prazer inenarrável. Nunca saberei.
Nunca tive determinação suficiente para ser excelente em nada. Não ficarei para a História.
Você talvez também não.
Aceito que sou mezzo capaz em algumas coisas. E mesmo ser meia-boca em meia-dúzia já requer investimento à beça.
Li aos vinte anos e carrego no coração outra lição de Lazarus Long:
“Um ser humano deveria ser capaz de trocar uma fralda, planejar uma invasão, estripar um porco, projetar um prédio, escrever um soneto, manter sua conta bancária equilibrada, construir um muro, tratar um osso fraturado, confortar os moribundos, obedecer ordens, dar ordens, cooperar, atuar sozinho, solucionar equações, analisar um novo problema, espalhar estrume, programar um computador, preparar uma refeição saborosa, lutar com eficiência e morrer galantemente. Especialização é para insetos.”
Não se trata de advogar a mediocridade. Só a variedade, tempero da vida. E a consciência dos nossos limites – inclusive, sim, de tempo e dinheiro.
Dá pra viver assim, aprendendo sem brilhar, sempre aluno, nunca mestre. Entre o hiperfoco e o desencano. Distraindo fácil, brincando nas onze. Estações que se vão, novas paixões chegando arrasadoras.
Sempre de olho em oportunidades fresquinhas, que pintam exigindo conhecimentos que não adquirimos e habilidades que não dominamos.
É hora do show, venham amigos! São só três acordes, sambarylove. Não me tornei rico ou célebre, jamais ganharei medalha de ouro nem Nobel. Imortalidade, me escapaste, mas reconheço: nunca te busquei.
O guitarrista Duane Allman, fundador e líder da Allman Brothers Band, morreu tragicamente em acidente de moto no dia 29 de outubro de 1971. Tinha apenas 24 anos e a banda estava na estrada há menos de três anos, flertando com o sucesso comercial após lançar seu terceiro álbum, o duplo ao vivo At Fillmore East. Ao contrário de Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison, o legado musical de Duane não foi explorado após sua morte, mas seguiu a prosperar e se adaptar nas décadas seguintes, sem perder jamais a força original.
“A presença de Duane sempre fez parte da jornada momento a momento da banda”, comentou Warren Haynes, guitarrista dos Allman Brothers e líder de fato da banda durante a maior parte dos últimos 25 anos. “A resposta para qualquer pergunta musical frequentemente está relacionada a ‘qual seria a abordagem de Duane?’”.
Ao lado do irmão Gregg (1947-2017), tecladista e cantor, Duane moldou a sonoridade da banda nas asas do southern rock. Originário de Jacksonville (Flórida), o grupo foi considerado pelo Hall da Fama do Rock and Roll como o principal arquiteto do rock sulista americano.
Clássico da banda, “Whipping Post”(Pelourinho) é uma canção do álbum TheAllman Brothers Band, de 1969, na voz de Gregg Allman. Abaixo, o trecho inicial da letra, estradeira, bem ao estilo do grupo:
Eu fui passado para trás, fui enganado Não sei por que deixei essa mulher me fazer de bobo Ela levou todo meu dinheiro, bateu meu carro novo Agora ela está com um dos meus melhores parceiros Estão bebendo em algum bar de beira de estrada
Às vezes eu sinto, às vezes eu sinto Como se estivesse amarrado ao pelourinho Amarrado ao pelourinho
Nos últimos dias, o PSC definiu algumas providências, como a confirmação do desligamento de João Vieira, meio-campista que defendeu o clube por três temporadas, e encaminhou a saída do goleiro Diogo Silva, que começou como titular na Série B, mas perdeu espaço e acabou como reserva de Matheus Nogueira. Restam outras questões para resolver, como a permanência ou não de Nicolas, que é cobiçado por outros clubes, e a situação de incerteza em relação ao ídolo Esli García.
A provável transferência de Diogo Silva era pedra cantada, pois a anunciada renovação do contrato de Matheus Nogueira mudou os planos do experiente goleiro. Matheus vai permanecer por mais quatro anos (até 2028) no PSC.
Diogo Silva, de 38 anos, tem vínculo contratual com o Paysandu até 2025, mas já está negociando com a Ponte Preta para disputar a Série C no próximo ano. Pode parecer um recuo, mas o goleiro certamente considerou o fato de que na Macaca terá todas as chances de ser titular, algo que não seria garantido no Papão.
Com João Vieira, um dos mais regulares atletas a vestir a camisa do Papão nos últimos anos, a situação foi ligeiramente diferente. Ele optou por aceitar uma proposta do Vila Nova financeiramente superior à do PSC. Questões internas teriam influído na decisão do volante, mas é desde já uma das perdas mais sentidas para a próxima temporada.
A outra situação que inquieta a diretoria e preocupa a torcida envolve o artilheiro e ídolo Esli García, cuja decisão em relação a 2025 ainda não é conhecida. Depois do jogo com o Vila Nova, domingo, ele respondeu positivamente aos aplausos da torcida e fez gestos de que quer permanecer.
Ocorre que, na mesa de negociações, pesam outros fatores. A valorização de Esli, autor de 10 gols na Série B mesmo sem ser titular – um caso estranhíssimo e só possível pelas esquisitices que o futebol paraense costuma praticar –, deve proporcionar outras propostas ao jogador.
Especula-se que Goiás, Coritiba, Vila Nova e até o Vasco estariam sondando os representantes do venezuelano para fechar negócio. É possível, porém, que os acenos recentes do futuro presidente do PSC, Roger Aguilera, tenham o condão de convencê-lo a ficar.
Por outro lado, as agruras sofridas nas mãos dos técnicos com os quais trabalhou na Série B, Hélio dos Anjos e Márcio Fernandes, conspiram negativamente em relação a um novo acordo. Esli confidenciou aos poucos amigos de elenco sua decepção com a condição de suplente num time que não contava com nenhum atacante do nível dele.
Já a situação de Nicolas lembra a de Diogo Silva. Com contrato até 2025, o atacante pode aceitar se transferir para o Vila Nova, clube que manifestou interesse por ele, após ter conseguido ficar com João Vieira.
Nas últimas semanas, o antigo ídolo da Fiel mostrou-se agastado com as vaias sofridas na Série B em função da baixa produção de gols (apenas três) e um desempenho aquém do esperado. Pode ter sido a senha indicativa de que não seguirá na Curuzu em 2025. (Fotos: Jorge Luís Totti/Ascom PSC)
Lojistas frustram a galera feminina botafoguense
O Botafogo está diante da partida mais importante de sua história. Tem boas chances de levantar a taça das Américas amanhã, 30, no Monumental de Nuñez, em Buenos Aires. Nos últimos dias, a torcida botafoguense invadiu as ruas da capital argentina, extravasando todo esse longo tempo de espera pela glória eterna.
Em Belém, as torcedoras do Botafogo sofrem com a insensibilidade esportiva dos lojistas, que não se preparam com estoques de camisas destinadas às mulheres. Em consequência, veio a frustração das mais fanáticas, que desejavam acompanhar a final da Libertadores devidamente trajadas com os modelitos oficiais do Fogão.
Existem coleções oficiais, inclusive na cor rosa, mas não estão disponíveis na capital paraense. Restou como saída se virar com os modelos comuns usados pelos homens ou então apostar na fé e encomendar o manto sagrado via internet – e rezar para que chegue a tempo do grande jogo.
The Best: um paraense na lista dos nominados
Além da já esperada candidatura de Vinícius Jr. ao prêmio de melhor da temporada, a votação para a 9ª edição do The Best Fifa Football Awards foi aberta ontem no site Fifa.com, trazendo duas boas notícias para o Brasil: a presença de Artur Elias entre os melhores treinadores de futebol feminino do ano e – para surpresa geral – a inclusão do paraense Paulo Henrique Ganso entre os melhores meio-campistas candidatos a integrar o melhor time do ano para o The Best.
Apesar do aspecto inusitado (e das poucas chances), Ganso foi destacado pelo que fez no Fluminense na temporada 2023/2024, com destaque para a conquista da Copa Libertadores. A ironia é que ele jogou muito mais no passado, sem ter sido citado na premiação da Fifa.
Pela primeira vez, os torcedores podem votar nos prêmios Melhor Time Masculino e Time Feminino da Fifa. Outra novidade é a criação do Prêmio Marta para reverenciar o gol mais bonito do futebol feminino. Uma bela homenagem à grande jogadora brasileira.
Os votos dos torcedores terão o mesmo peso dos capitães e treinadores das seleções masculina e feminina, bem como dos representantes da mídia. O prazo para votação no Fifa.com termina às 23h59 da próxima terça-feira, 10 de dezembro.
Assim, os torcedores poderão escolher seus preferidos de uma lista de 77 indicados (22 zagueiros, 22 meio-campistas e 22 atacantes, além de onze goleiros) e colocá-los em uma das formações táticas pré-definidas, para formar o time ideal – justamente a votação para a qual Ganso foi indicado.
O Prêmio FIFA Puskás foi reformulado e será concedido ao artilheiro do melhor gol do futebol masculino, independente de campeonato ou nacionalidade. O prazo para votação no Fifa.com termina às 23h59 da próxima terça-feira, 10.
(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 29)
“Ainda Estou Aqui” segue colhendo frutos de seu enorme sucesso nos cinemas brasileiros. No último final de semana, o longa de Walter Salles liderou as bilheterias nacionais, desbancando grandes produções internacionais como “Venom 3”, “Gladiador 2” e “Wicked”. O filme também já atingiu a marca de mais de R$ 30 milhões em bilheteria, levando mais de 1,5 milhão de pessoas às salas de cinema do Brasil, de acordo com dados do site Filme B.
Um levantamento realizado pela Revista Fórum, através da Lei de Acesso à Informação (LAI), com base no Sistema de Controle de Bilheteria (SBC) da Agência Nacional de Cinema (Ancine), mostra que nas duas primeiras semanas de lançamento a produção de Walter Salles arrecadou mais que o dobro de faturamento em relação às primeiras semanas de 2023.
“Ainda Estou Aqui” é uma adaptação da obra literária homônima de Marcelo Rubens Paiva. A história se passa na década de 1970, no período mais intenso da ditadura militar no Brasil, e acompanha a trajetória da família Paiva, composta por Rubens (Selton Mello), Eunice (Fernanda Torres) e seus filhos. A vida da família se transforma completamente quando, em um dia fatídico, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e some sem deixar rastros.
O filme é o representante brasileiro na busca por uma indicação ao Oscar 2025, estando oficialmente elegível para isso. Além da categoria de filme internacional, o longa foi considerado em outras categorias, como Melhor Atriz, Diretor e Filme.
Por Tatiana Dias e Paulo Montoryn, no Intercept Brasil
Para “libertar famílias do progressismo”, programa de membros da Brasil Paralelo faz ‘mecenas’ bancarem assinaturas para escolas e ONGs.
O objetivo é combater o suposto domínio da esquerda nas instituições educacionais. Além de ampliar seu domínio em instituições de ensino, a empresa também aumenta sua base de assinantes com um discurso caritativo.
Já são 23 mil pessoas impactadas pelo projeto em 284 instituições, segundo a produtora. 6 mil membros Mecenas financiam o projeto, com valores que superam R$ 1.000 por ano.
A Brasil Paralelo afirma que é apartidária, mas seus conteúdos têm um viés conservador, que questionam o feminismo e desafiam consensos, como o aquecimento global. Pais de alunos das escolas parceiras reclamam de doutrinação.
Quando escolheu o Centro Educacional Conselheiro, o CEC, uma escola privada tradicional do município de Nova Friburgo, na zona serrana do Rio de Janeiro, Joana finalmente relaxou. Depois de alguns meses em dúvida, ela confiou que o CEC seria o lugar ideal para que sua filha pudesse concluir o ensino fundamental. Mas a ilusão durou pouco. E a culpa, segundo a mãe, é da invasão da produtora de extrema direita Brasil Paralelo na unidade escolar.
“Minha filha estudou lá por dois anos, de 2021 a 2023. Ela gostava bastante da escola. Era um ambiente acolhedor, com professores dedicados e uma estrutura que sempre nos passou segurança”, relata Joana. Tudo começou a mudar quando ela passou a receber e-mails da direção da escola anunciando uma parceria com a Brasil Paralelo.
A CEC é uma das mais de 285 instituições que a Brasil Paralelo anuncia como parceiras do Projeto Mecenas, o “maior e mais importante” da produtora.
Funciona assim: pagando um valor superior a mil reais (em valores de 2022), os chamados Membros Mecenas bancam “bolsas” para “melhorar a educação e a cultura” no Brasil. Na prática, esse dinheiro custeia assinaturas da Brasil Paralelo para escolas e instituições filantrópicas exibirem seus documentários e cursos para os alunos.
O objetivo da produtora é combater o suposto domínio da esquerda nas instituições educacionais, segundo reuniões entre a empresa e os membros de 2023 e 2024 e mensagens obtidas pelo Intercept Brasil. É um ganha-ganha: além de ampliar seu domínio em instituições de ensino, a empresa também aumenta sua base de assinantes com um discurso caritativo.
Em 2022, apenas uma “bolsa” custava R$ 1.668. O preço caía conforme mais “bolsas” fossem compradas: 75 bolsas saíam por R$ 23.880, o equivalente a R$ 318,40 cada. Assim, o programa incentiva grandes doadores.
As informações sobre o projeto são restritas a seus membros, mas o Intercept teve acesso a vídeos de 17 reuniões, assim como aos relatórios enviados aos membros.
Em uma das reuniões, a Brasil Paralelo afirmou ter 400 mil assinantes e uma comunidade de 6 mil membros Mecenas. Nas reuniões virtuais, identificamos a presença de pequenos empresários, médicos e profissionais liberais, sobretudo do sul do país, entre os Mecenas.
Os números divulgados internamente pela produtora impressionam: em junho de 2024, 23.100 pessoas, entre estudantes e famílias, foram impactadas pelos conteúdos bancados pelos membros Mecenas. Em fevereiro, eram 4.757 assinaturas que já haviam sido distribuídas por meio do programa.
A Brasil Paralelo procura instituições alinhadas ideologicamente para o projeto, mas também incentiva que os mecenas façam indicações de entidades e escolas para receberem as bolsas.
“Sabemos que o progressismo investe há décadas em falsos projetos sociais com o objetivo de emburrecer o povo, destruir valores familiares, normalizar o crime, incentivar o aborto. Não tendo condições de se defender, essas famílias acabam sendo reféns desse ‘cativeiro cultural’, tornando-se massa de manobra eleitoral”, explica uma uma mensagem enviada por um dos representantes da empresa a um interessado em entrar para o programa, deixando claro o objetivo do projeto.
ECONOMIA PARALELA: O CLUBE DOS MECENAS
Os membros Mecenas são tratados como uma espécie de clube, com benefícios e incentivos. “Você não será igual aos outros membros, você será o membro mais próximo da Brasil Paralelo” foi a frase que a produtora disse para convencer um assinante a se tornar um Mecenas, em relato publicado no Reclame Aqui. Outro relatou ter ganhado uma caneca.
Em junho de 2024, a Brasil Paralelo lançou um clube de benefícios, com descontos em serviços como academias e restaurantes, principalmente para divulgar empresas de outros mecenas – um “conceito de economia paralela”, explicou um representante da produtora na reunião de junho.
Há também encontros presenciais para incentivar a adesão ao programa. Os pagantes mais generosos, que financiam mais de 100 bolsas – ou seja, gastaram R$ 34.680 por ano, em valores obtidos pelo Intercept –, têm direito a encontros anuais com os outros mecenas.
As reuniões explicam alguns desses eventos presenciais. No início de abril de 2024, por exemplo, a produtora anunciou um “encontro exclusivo” com Michael Schellenberger, o jornalista por trás do Twitter Files, o vazamento de informações do X que Elon Musk soltou para atacar o STF brasileiro.
m São Paulo, em junho, outro desses encontros reuniu o deputado Marcel van Hattem, do Novo, e o economista Hélio Beltrão com os membros. No mesmo mês, a Brasil Paralelo disponibilizou camarotes para o evento com Jordan Peterson – aquele divulgado por Cristina Junqueira, a CEO do Nubank, que causou uma crise de reputação no banco.
Nas reuniões virtuais, a Brasil Paralelo apresenta os resultados do programa, descreve os documentários em produção, apresenta os números com entusiasmo e fala sobre aspectos estratégicos na sua produção de conteúdo. Por exemplo, formar professores com valores alinhados aos da produtora.
Em fevereiro, um dos temas discutidos com os membros foi a Conferência Nacional de Educação, a Conae. Nós mostramos, em janeiro, que o evento quase foi aparelhado por bolsonaristas.
Na reunião com os membros daquele mês, o roteirista da produtora Helton Medeiros citou a Conae para falar sobre a importância de estar na “linha de frente” da educação para atingir as pessoas que “vão moldar e construir as próximas legislações voltadas à educação”, mencionando a conferência.
Os conteúdos pagos da Brasil Paralelo incluem cursos como “o que é capitalismo” e “harmonia conjugal”, segundo o material de divulgação. A produtora divulga conteúdos conservadores, que questionam o feminismo e desafiam consensos, como o aquecimento global.
Um outro questiona a versão de Maria da Penha sobre a violência doméstica que sofreu, e transforma Marco Antônio Heredi, o agressor condenado, em possível inocente. A peça foi alvo de repúdio de pesquisadores e entidades ligadas aos direitos humanos. Um ano depois da divulgação massiva do material, Maria da Penha foi incluída no Programa de Proteção de Testemunhas do Ministério dos Direitos Humanos por ter sido alvo de ameaças. Um dos roteiristas do episódio disse, em uma reunião com os membros Mecenas, que o “caso Maria da Penha não era bem assim como diziam”.
Muitos conteúdos, como o documentário que diz que o golpe de 1964 aconteceu por conta de uma ameaça comunista no Brasil, são considerados revisionismo histórico e refutados por historiadores. E os críticos foram ameaçados de processo pela produtora, preocupada em descolar sua imagem do bolsonarismo radical e se posicionar como um ‘Netflix de direita’.
Um dos conteúdos carro-chefe do Mecenas é a série infantil Pindorama, que reforça a narrativa colonialista do “descobrimento” do Brasil por Pedro Álvares Cabral. O desenho, que pinta o colonizador português como herói, foi exibido para 180 crianças na Casa da Criança Santa Ângela Osse, na favela de Heliópolis, em São Paulo.
“A gente começa nos 6, 7 anos, que é o público para começar a entender a mensagem”, disse a coordenadora do projeto, Thaís Diniz, na reunião aos membros. Segundo ela, o desenho foi exibido para pelo menos 400 crianças só naquela instituição.
Para a pesquisadora Renata Nagamine, que analisou a Brasil Paralelo em seu pós-doutorado do núcleo de Religiões no Mundo Contemporâneo do Cebrap, a produtora atualiza uma narrativa sobre história que era corrente no Brasil há décadas, e difere do modelo pluralista consagrado na Constituição de 1988. “São narrativas diferentes que concorrem em um espaço específico, que é a escola, um espaço privilegiado de sujeitos que irão recontar essa história”, explica.
“A escola é percebida como esse espaço de modelagem do futuro. E por isso tem estado no centro do que na análise a gente chama de disputa no Brasil, sobretudo na última década”, explica. “O ensino da história aparece como crucial porque naquele espaço o sujeito em formação se constitui com essa imaginação do passado. A reimaginação do passado importa porque ela participa da modelagem do futuro”.
Faltavam 10 dias para o segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Em uma sala pequena, no bairro de Pajuçara, na periferia de Natal, crianças e adultos sentados em cadeiras de plástico se aglomeravam em uma tela de computador.
O espaço tinha uma parede estampada com os dizeres “ciências e geografia”, além da figura de um átomo, mas o conteúdo ali era outro: uma reunião com representantes da Brasil Paralelo.
Os adultos e crianças estavam em um encontro no Instituto Recebs, uma organização que defende a educação domiciliar e forma tutores para ensinar crianças em casa. Acrônimo de “Resgate da Educação Clássica no Ensino Básico e Superior”, o instituto defende que os pais têm “direito de escolha” sobre colocar ou não os filhos em uma escola, e conta com uma plataforma própria de ensino.
Era nessa plataforma, criada pelo vice-presidente do instituto, o jornalista Claiton Appel, que a Brasil Paralelo despejaria seu conteúdo. Leonardo Barbosa e Thaís Diniz representavam a produtora na reunião, em um encontro registrado no Instagram do instituto.
Appel afirma ter conhecido a Brasil Paralelo em 2018, quando procurava “filmes de qualidade na internet para passar para as crianças”. Topou com a produtora e gostou do que viu. “Eu quis assinar logo de cara, mas não tinha condição”, ele contou, em uma entrevista à produtora.
Sua mulher, Carmem Helane, fundadora do instituto, afirma que o documentário “Pátria Educadora”, que entrevistou figuras como Luiz Phillipe de Orleans e Bragança , foi o que fez a sua cabeça. “Eu chorei quando assisti. Na hora eu pensei em levar tudo isso para os pais das crianças. Poderia fazer muito bem para a educação delas e para ajudar na vida das famílias, já que, infelizmente, muitas famílias daqui são desestruturadas”, ela narrou, também para a Brasil Paralelo.
O casal, então, recorreu à produtora para conseguir uma bolsa e usar o conteúdo com as crianças do instituto. Deu certo. “Nós choramos muito”, disse Appel. “Conseguimos passar bons valores para as crianças. Até mesmo jovens que não conseguem ler, assistem, os pais colocam conteúdos da BP para eles assistirem e aprenderem”.
O casal se orgulha de manter o instituto com “90% de recursos próprios”. Neste ano, no entanto, a organização recebeu pelo menos R$ 30 mil de uma emenda parlamentar do deputado estadual Coronel Azevedo, do PL. Segundo Appel, são 1.300 pessoas na rede do Recebs.
Appel, ex-diretor da Ordem dos Jornalistas do Brasil, tinha uma coluna no Jornal da Cidade Online, conhecido por conteúdos de extrema direita, e também na própria Brasil Paralelo.
O instituto ostenta com orgulho a parceria com a produtora, e a divulgação é mútua: a Brasil Paralelo fez um vídeo sobre o Recebs e publicou textos elogiosos sobre seus fundadores. Esse é considerado um dos cases de sucesso do projeto Mecenas.
Foi Appel quem recebeu no aeroporto Thaís Diniz, o diretor de marketing Danilo Feitosa em maio de 2023. O vice-presidente da Recebs segurava uma faixa de boas vindas aos representantes da produtora no saguão de desembarque, feito devidamente registrado nas redes sociais da Brasil Paralelo.
“A gente ajuda eles com apoio através dos nossos membros com acesso à plataforma da Brasil Paralelo”, disse Diniz, apresentada como “coordenadora Mecenas”, em entrevista à Rádio Local 94FM. Na plataforma, ela explicou, “as pessoas têm a oportunidade de estudar através da auto educação com os conteúdos da Brasil Paralelo. Esse é o projeto Mecenas, um mecenato”.
Além de atender crianças e famílias vulneráveis, a Recebs também ganha dinheiro oferecendo cursos sobre homeschooling, modalidade de ensino domiciliar que é ilegal no Brasil. A organização fornece materiais e formação para interessados na modalidade, a um custo de R$ 300 por criança no nível fundamental.
O instituto, em seu site, toma cuidado para dizer que “não incentiva o ensino domiciliar”, apenas auxilia os pais que já tomaram essa decisão e fornece materiais didáticos em sua plataforma de ensino. Nela, há os conteúdos da Brasil Paralelo.
Segundo o site, um colégio “parceiro”, chamado Luz do Ensino, fornece documentos necessários para comprovar a presença dos alunos nos estudos, ou para transferir o estudante para o ensino regular, declaração de IR, histórico escolar e outros documentos para fins burocráticos.
O único rastro do colégio Luz do Ensino, no entanto, é seu site na internet. O CNPJ foi criado há pouco mais de um ano. Seus donos são os mesmos Claiton Appel e Carmem Souza. E ele fica no mesmo endereço do Instituto Recebs. Na fachada, um muro pintado informa que ali são oferecidos cursos de ensino fundamental e médio e aulas de reforço – um banner com o logotipo de Brasil Paralelo faz propaganda da parceria.
Segundo o Ministério da Educação, não há na legislação educacional brasileira nenhuma previsão ou possibilidade de atendimento exclusivamente domiciliar nessa faixa etária. “As famílias que não matriculam crianças e adolescentes na escola podem ser responsabilizadas por abandono intelectual”, disse o ministério, por meio de sua assessoria de imprensa.
Entre as organizações que receberam os conteúdos da Brasil Paralelo financiado por terceiros também estão o G10 Favelas, em uma parceria celebrada por um colunista da Folha, a Amigos do Bem, premiada ONG que atua com projetos sociais no sertão nordestino, e o Instituto de Formação de Líderes, organização que atua formando lideranças ultraliberais.
Só na CEC, em Nova Friburgo, são 550 alunos que têm acesso aos conteúdos da Brasil Paralelo por meio de 650 assinaturas. No início do ano, o longa “História do Comunismo”, da produtora, foi exibido aos alunos do ensino médio da escola.
O Intercept teve acesso às mensagens da escola aos pais sobre o tema. Nos primeiros contatos, a CEC informava que os conteúdos da plataforma seriam disponibilizados gratuitamente para os alunos e suas famílias. A princípio, Joana não viu grandes problemas na parceria.
“Achei que poderia ser algo inofensivo, talvez até uma oportunidade de ampliar o repertório cultural da minha filha. Mas com o tempo, comecei a perceber que o envio de e-mails se tornou mais frequente e insistente. Não era apenas um ou outro conteúdo, mas uma avalanche de material sendo promovido diretamente pela escola”, comenta, preocupada.
Além dos e-mails, as redes sociais da escola também passaram a refletir essa nova parceria. “Eles começaram a postar muito sobre a Brasil Paralelo, fazendo resenhas dos vídeos, muitas vezes com um tom de validação do conteúdo”, diz Joana. Um dos diretores tornou-se particularmente ativo, compartilhando vídeos na página da escola, em que analisava os materiais da produtora, segundo ela.
Na última postagem feita sobre a Brasil Paralelo, a escola indica o filme “Unitopia”, sobre uma suposta doutrinação de esquerda e viés marxista nas universidades públicas brasileiras.
Renata Nagamine, do Cebrap, chama atenção para o fato de que a própria Brasil Paralelo, assim como o público que consome suas produções, não se considera de extrema direita – mas, sim, se apresentam como direita, conservadores ou apenas só liberais. “A Brasil Paralelo anuncia a ambição de falar para todos”, diz Nagamine. Como exemplo, ela cita o fato de diferentes políticos, de várias matizes diferentes, passarem pelos programas da produtora.
Em entrevista ao Intercept, ela já explicou que isso pode significar uma radicalização da direita. “No processo em que a Brasil Paralelo se constitui como um ator político relevante, o centro se deslocou para a direita”.
Na escola em Nova Friburgo, o efeito foi percebido. Com o aumento das publicações e a frequência com que o nome da produtora aparecia associado ao da escola, Joana começou a sentir que algo estava errado.
“Não era só uma parceria educacional; parecia uma tentativa de doutrinação. E isso me deixou muito desconfortável, porque eu não queria que minha filha fosse exposta a esse tipo de ideologia sem um contexto mais amplo e crítico” desabafa.
Além das sugestões para que os pais e alunos assistissem aos conteúdos em casa, a CEC também promove exibições de filmes da Brasil Paralelo dentro da escola. Um e-mail que o Intercept teve acesso informa que uma das atividades da educação infantil em um dia letivo foi assistir o um filme “através da plataforma Brasil Paralelo”.
“Eles forçavam a barra para a gente assistir os conteúdos”, diz Joana. Foi por isso que ela finalmente decidiu tirar a filha da escola no fim de 2023. “É uma experiência traumatizante trocar uma criança de escola. Não era algo que a gente queria fazer. Mas era uma pressão tão grande para ver esses filmes que nos incomodou a ponto de preferir sair da escola”, explica.
A CEC segue parceira da Brasil Paralelo. A escola não respondeu aos questionamentos enviados pelo Intercept. Instituto Recebs e Brasil Paralelo também ignoraram nossos e-mails.
O discurso dos técnicos não muda a respeito do aproveitamento de jogadores oriundos da base. No início da temporada, na apresentação dos elencos, surgem sempre declarações em defesa dos garotos. Acenam com a promessa de oportunidades para todos. Seria muito bom se tudo não passasse, em geral, de conversa fiada.
A única chance que os jovens terão mesmo é a de completar os times nos treinos da fase de preparação inicial. Tudo isso, porém, vem emoldurado pela defesa da meritocracia, conceito furado por natureza. Segundo essa lógica, os garotos mais talentosos teriam vez no time principal.
Em entrevista recente, o técnico do Remo, Rodrigo Santana, afirmou que “vamos dar muita oportunidade para o pessoal da base, vamos olhar o dia a dia, vamos ter treinos aqui, dias de dois períodos de treino e eles vão estar com sobre nossos olhos, só depende deles”.
E é justamente aí que mora o perigo. A história de que só depende dos novatos é lenda. Não funciona assim. Até o leãozinho de pedra do Evandro Almeida sabe que as chances de aproveitamento dos garotos são praticamente nulas, levando em consideração as últimas temporadas.
O último a dar um razoável espaço para a turma da base foi Marcelo Cabo, há dois anos. Ele chegou a montar um Remo B para disputar o Parazão, aproveitando Kanu, Joilson, Henrique, Felipinho e Ronald. Não foi além disso. Nas competições mais importantes, os meninos foram esquecidos.
No ano passado, Ricardo Catalá repetiu a prática das palavras de estímulo à base que não se sustentam no mundo real. Desta vez, Rodrigo Santana repete o ritual, mas na Série C deste ano raramente lançou jogadores vindos da base. Ronald jogou duas ou três vezes e, mesmo quando brilhou, como contra o Caxias, foi limado da ordem de prioridades.
Agora, há a notícia sobre um acordo de liberação por empréstimo para o futebol paranaense. Pelo menos, não ficarão por aqui dependendo de uma ou outra chance de entrar nos minutos finais dos jogos. O ideal, contudo, seria o aproveitamento progressivo para permitir evolução técnica e valorização para futuros negócios.
A base não sairá nunca do estágio atual enquanto o tratamento dispensado a ela for de condescendência ou falsa preocupação com o futuro. Seriedade e profissionalismo devem ser os pilares de qualquer projeto nessa área. (Foto: Samara Miranda/Ascom Remo)
Números revelam erros do Papão nas contratações
Em plena fase de especulações quanto à formação do elenco do PSC para 2025, o leitor Márcio Augusto realizou uma pesquisa sobre o aproveitamento de jogadores na presente temporada. O problema está no excesso de peças e na carência de qualidade, com o erro de prestigiar jogadores que participaram da campanha do acesso em 2023.
“O Paysandu teve no elenco de 2024 pelo menos 47 jogadores diferentes, sendo que 11 deles estavam no elenco de 2023 (23%) e 36 foram contratados (77%) para temporada de 2024”, aponta o levantamento.
Dos remanescentes de 2023, apenas sete jogadores ficaram até o final da temporada, sendo que três foram dispensados durante a temporada (entre os quais o zagueiro Paulão). Dos que foram contratados para 2024, sete (19%) foram dispensados antes do término da temporada, oito (22%) não jogaram ou atuaram em poucas partidas (22%).
“O Paysandu termina o ano com 36 jogadores no elenco (oito atletas de 2023 e 28 contratados em 2024), sendo que 72% dos atletas tiveram participação nos jogos, e 28% não jogaram ou tiveram pouca participação. Havia apenas um jogador da base no elenco, que é o goleiro Claudio Vitor, que não atuou em nenhum jogo”, conclui Márcio.
Os dados do levantamento podem servir de referência para os critérios a serem adotados a partir de agora, com ênfase na necessidade de pesquisar melhor para evitar contratações caras e improdutivas.
Savarino, enfim um camisa 10 no país do futebol
É cada vez mais raro ver um legítimo camisa 10 jogando no Brasil. Os bons são quase todos importados de países sul-americanos. A própria Seleção padece da falta de um jogador capacitado para comandar as ações criativas. Em meio a isso, o Campeonato Brasileiro tem o venezuelano Jefferson Savarino, meia do Botafogo, como principal solista.
Sereno, ele desfila em campo. Passes inspirados, lançamentos precisos e finalizações caprichadas. Tudo isso sem revelar grande esforço; é como se jogar em alto nível fosse a coisa mais simples do mundo. Diante do Palmeiras, o repertório criativo de Savarino brilhou intensamente.
Naquela que foi pintada como a “final antecipada”, o dono da bola foi ele. Ajudou o time de Artur Jorge a atropelar a engrenagem palmeirense, no Allianz Parque. Com imensa dose de talento, aliado à velocidade e à imposição física, Savarino foi maestro e algoz. Marcou o 2º gol e cobrou o escanteio que resultou no terceiro gol (Adryelson). Foi um recital.
Quando só o técnico vê o que se passa em campo
Depois do jogo com o Vila Nova, domingo, Márcio Fernandes fez uma avaliação espantosa sobre Esli García, novamente destaque na equipe, marcando o gol de empate. Como a justificar a escalação do atacante, insistentemente sabotado ao longo da campanha, o técnico disse que Esli cumpriu suas ordens, inclusive voltando para marcar.
Deve ter visto uma outra partida. Diante do Vila, o venezuelano mostrou a postura habitual, posicionando-se na esquerda e buscando sempre entrar na área. Nenhum recuo ou envolvimento com marcação, até porque não tem esse perfil e sua função é fazer gols. Felizmente, para o PSC, a fuga de ideia povoou apenas a imaginação do treinador.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 28)
Torcedores foram questionados sobre sua torcida na grande final e sobre diversos temas relacionados às recentes mudanças da Libertadores
No próximo sábado (30), a Copa Conmebol Libertadores terá um novo campeão. Em uma final inédita com duas equipes brasileiras, Botafogo e Atlético Mineiro se encaram no estádio Monumental de Núñez, em Buenos Aires, pelo título da competição continental. Uma pesquisa com mais de 1.100 torcedores brasileiros encomendada pela Betfair, uma das maiores casas de apostas esportivas do mundo, indicou quem terá a maior torcida nessa final da Libertadores. Os torcedores também responderam sobre o que acham do atual formato da competição, entre outros temas.
Botafogo se destaca com apoio inusitado
Quando perguntados sobre quem preferem que vença a Libertadores, 38,52% dos entrevistados escolheram o Botafogo, enquanto 28,89% apontaram que irão torcer para o Atlético Mineiro e 32,58% afirmaram que não têm preferência, já que seu time não estará em campo. Curiosamente, a pesquisa constatou que os adversários diretos do time carioca estarão na torcida pela equipe. 39,93% dos flamenguistas, 54,24% dos torcedores do Fluminense e 61,64% dos vascaínos entrevistados afirmaram que irão torcer para o rival carioca na decisão.
Já o Atlético Mineiro não deve contar com muita torcida no estado de Minas Gerais, já que apenas 6,17% dos torcedores do Cabuloso afirmaram que irão torcer para seu grande rival. Entre as outras torcidas, as duas que mais apoiam o Atlético Mineiro são Grêmio (75%) e Athletico-PR (66,67%). No caso do Botafogo, quem aparece como maiores “apoiadores” para a final são os torcedores do Atlético-GO, com 66,67%.
No mercado de apostas da Betfair, a equipe do Rio de Janeiro aparece como favorita para vencer a grande final, com 44% (odd de 2.15) de chances, enquanto o Atlético Mineiro aparece com 25% (odd de 3.75). A chance da partida terminar empatada e ir para os pênaltis é de 31% (odd de 3) segundo a casa de apostas.
Jogo único ou ida e volta?
Desde 2019, a Conmebol implementou a final em jogo único em campo “neutro”, formato igual ao usado pela Uefa Champions League. A pesquisa da Betfair perguntou para os torcedores brasileiros como eles enxergam esse novo modelo adotado. 47,16% afirmaram que preferem o modelo atual, enquanto 46,44% desejam o retorno das decisões em formato de jogo de ida e volta e 6,39% não souberam opinar sobre qual modelo preferem.
Os entrevistados também responderam se a presença da torcida nas finais de campeonato impacta a pressão sobre os jogadores e pode influenciar o resultado da competição. 39,6% concordam totalmente com isso, 44,28% concordam, 6,66% são neutros, 6,39% discordam e 3,06% discordam totalmente dessa afirmação.
Conmebol deveria intervir em alguns casos?
A pesquisa encomendada pela Betfair também abordou questões estruturais que influenciam a competitividade da Libertadores. Quando perguntados se a entidade deveria adotar um modelo de Fair Play financeiro (ou teto de gastos igual para os clubes), 74,26% dos torcedores brasileiros afirmaram que essa medida deveria ser adotada, visando equilibrar as condições de todos os clubes participantes.
Os torcedores também foram perguntados se os times brasileiros têm mais chances de vencer a Libertadores por conta da vantagem financeira que possuem sobre os outros clubes. 24,21% concordam totalmente com essa afirmação, enquanto 34,65% concordam, 20,97% discordam, 7,74% discordam totalmente e 12,42% não concordam ou discordam.
Outra questão recente envolvendo a Conmebol foi a redução de número de vagas para times brasileiros, que no histórico recente tem tido muito sucesso na competição com seis títulos seguidos para times do Brasil (incluindo 2024) e quatro das últimas seis finais foram disputadas entre clubes brasileiros. 67,33% dos entrevistados, são contrários à ideia de reduzir o número de vagas destinadas ao Brasil no torneio, enquanto 32,67% são favoráveis a redução.
Como fica a rivalidade?
A final da Libertadores promete ter uma audiência que vai muito além dos torcedores de Botafogo e Atlético Mineiro. Segundo dados da pesquisa encomendada pela Betfair, 62,47% dos entrevistados afirmaram que assistiriam o jogo mesmo que não houvesse equipes brasileiras na disputa. O estudo também questionou se os torcedores assistem sempre as finais, independentemente se seu time está jogando ou não e 70,39% afirmaram que sim, seja qual for o cenário de equipes envolvidas.
Os dados mostram que a final da Libertadores é mais do que uma disputa esportiva; é um reflexo da paixão e rivalidade que movem o futebol no Brasil. Com odds atrativos e um confronto histórico, os torcedores e apostadores aguardam ansiosamente pelo desfecho deste capítulo do futebol sul-americano.
*A pesquisa foi realizada pela Broadminded para Betfair com 1111 brasileiros acima de 25 anos de idade, residentes da região sudeste do país (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo), por meio de um painel online em novembro de 2024. 54% dos respondentes foram masculino, e 46% feminino.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), enviou nesta terça-feira (26) para a Procuradoria-Geral da República (PGR) a investigação sobre a suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil para evitar a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A medida é de praxe. No Supremo, cabe à PGR avaliar as investigações criminais. Na decisão, o ministro também determina a retirada do sigilo da investigação. A Polícia Federal (PF) indiciou no caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 36 pessoas.
Ao final da análise, caberá ao procurador-geral Paulo Gonet decidir se denuncia o ex-presidente e os demais investigados pelos crimes apontados pela PF. Ele também pode pedir o arquivamento das investigações ou solicitar mais diligências aos investigadores. Interlocutores de Gonet, dão como certo que Bolsonaro será formalmente acusado dos crimes relacionados à trama golpista.
Segundo a investigação, Bolsonaro, integrantes do seu governo, auxiliares e militares planejaram um golpe para manter o ex-presidente no poder. O suposto golpe passaria, inclusive, pelos assassinatos de Lula, do seu vice, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes, em dezembro de 2022. O relatório conclusivo da PF tem 884 páginas.
No despacho assinado nesta terça, Moraes repisa que a investigação da PF foi encerrada e que “os autos deverão ser remetidos ao Procurador Geral da República, uma vez que, o princípio do monopólio constitucional da titularidade da ação penal pública no sistema jurídico brasileiro somente permite a deflagração do processo criminal por denúncia do Ministério Público”, (…) “a quem compete, exclusivamente, decidir pelo oferecimento de denúncia ou solicitação de arquivamento do inquérito ou peças de informação.”
Moraes salientou também que “não há mais necessidade da manutenção do sigilo desses autos, nem das investigações conexas que foram citadas pela autoridade policial e que serão devidamente compartilhadas aos autos.”
O PLANO DE FUGA
De acordo com a PF, o inquérito descobriu um plano de evasão e fuga do ex-presidente do país “caso seu ataque ao poder Judiciário e ao regime democrático sofresse algum revés que colocasse sua liberdade em risco”. O plano seria adaptado pela “doutrina militar” — a Polícia identificou uma apresentação em Powerponit no notebook apreendido do ex-ajudante de ordens e Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, chamada “RAFE/LA”, que seria uma sigla para “Rede de Auxílio à Fuga e Evasão” (Rafe) e “Linha de auxílio à fuga e evasão” (Lafe).
Expressões do meio militar foram utilizadas para descrever o plano. O documento, segundo o relatório, é composto por cinco slides criados em 22 de março de 2021, com logotipos do Comando de Operações Especiais do Exército (COpEsp) e do Destacamento de Reconhecimento e Caçadores (DRC).
O COpEsp abrange os chamados kids pretos, militares que compõem a elite do Exército. A apresentação teria três cenários hipotéticos em caso de decisões “contrárias aos interesses do então presidente da República Jair Bolsonaro”:
“STF interfere no Executivo”;
“STF cassa a chapa para 22”; e
“STF (TSE) barra a PEC aprovada pelo Congresso do voto impresso”
O plano de fuga conta com um cenário sem o apoio formal do Exército, em que o então presidente seria protegido nos palácios do Planalto e da Alvorada sem o apoio do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), com militares cooptados. O plano previu a possibilidade de armamento e munição, que estariam guardados em um cofre.
A ocupação de estruturas estratégicas por militares também estava prevista, possivelmente, para “inibir qualquer ação do Estado decretada pelo Poder Judiciário”. A última etapa da fuga seria garantir a segurança de Bolsonaro e criar uma rede de auxílio que conduzisse o ex-presidente para fora do Brasil.
“Os elementos de prova colhidos demonstram que os investigados planejaram o cenário de enfrentamento de JAIR BOLSONARO com o Poder Judiciário, que levaria a uma ruptura institucional”, concluiu a Polícia. A PF também concluiu que o plano foi adaptado e utilizado no final de 2022, em que o ex-presidente teria saído do país para evitar uma possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do 8 de janeiro.
O Botafogo é, novamente, o líder isolado do Campeonato Brasileiro. Nesta terça-feira (26), o Fogão calou o Allianz Parque e venceu o Palmeiras por 3 a 1, em duelo válido pela 36ª rodada da Série A. Gregore, completando bela jogada ensaiada, abriu o placar no 1º tempo. Savarino e Adryelson ampliaram o diferença na etapa complementar – que teve até gritos de “olé” da torcida alvinegra nos acréscimos.
O “gol de honra” palmeirense foi de Richard Ríos, acertando um belo chute de fora da área praticamente no último ataque alviverde do jogo.
Com o resultado, a equipe comandada por Artur Jorge vai a 73 pontos e tira a liderança justamente do Verdão, que estaciona nos 70 pontos e cai para 2º. Agora, as duas equipes têm ainda mais duas partidas a fazer no Brasileirão, mas, no aspecto moral, o Glorioso dá um enorme passo para ser campeão nacional pela 1ª vez desde 1995.
Cabe salientar que, nos critérios de desempate, a equipe carioca agora empatou em 21 vitórias com os palestrinos e passou à frente no saldo de gols: +28 contra +27. Nos minutos finais da partida, inclusive, sobrou até para o técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, que ouviu gritos de “burro” vindos da principal torcida organizada palmeirense.
PRIMEIRO TEMPO
Contando com o apoio da torcida, o Palmeiras teve a primeira grande chance do jogo aos 6 minutos: em cobrança de escanteio, Gustavo Gómez ganhou pelo alto e mandou raspando a trave.
O Verdão seguiu em cima e teve mais uma ótima chance aos 9: Marcos Rocha cruzou da direita e Rony surgiu nas costas de Bastos para marcar, mas acabou errando a finalização e mandando para fora. No lance, o zagueiro angolano acabou sentindo dores na coxa e imediatamente caiu pedindo substituição, com Adryelson entrando em seu lugar.
Em sua primeira chegada ao ataque, o Fogão marcou em linda jogada ensaiada: aos 18, após cobrança de escanteio, Almada fingiu que ia cruzar e rolou rasteiro para o meio da área, achando Gregore. O volante acertou lindo chute colocado na gaveta de Weverton, que nada pode fazer.
O Alviverde partiu para cima e teve uma oportunidade incrível de empatar aos 23: depois de batida de lateral direta para a área, Rony conseguiu se livrar da marcação e finalizou cruzado. A bola explodiu na trave de John, para desespero da torcida da casa.
O Glorioso, por sau vez, ia nos contra-ataques: aos 38, Igor Jesus recebeu ótima enfiada de bola e tentou “cavar” por cima de Weverton, mas acabou mandando nas mãos do arqueiro palestrino. O goleiro teve que trabalhar de novo aos 44, depois que Savarino bateu de fora da área e viu a bola quicar, dificultando a defesa do camisa 21.
Na última grande chance da etapa inicial, Estêvão fez ótima jogada pela esquerda e cruzou para Marcos Rocha, que apareceu de surpresa na área e cabeceou bonito. Com uma defesa espetacular no contrapé, John salvou o Botafogo. Assim, o frenético 1º tempo acabou com 17finalizações (11 do Palmeiras, 6 do Botafogo) e muita emoção nas arquibancadas.
SEGUNDO TEMPO
Na volta dos vestiários, Abel Ferreira mexeu no Verdão: sacou Felipe Anderson, bastante criticado pela torcida, e colocou Flaco López. Com isso, Rony foi para a ponta esquerda, e foi do camisa 10 a primeira boa chance: aos 8, ele cruzou, a bola passou por todo mundo e quase entrou no 2º pau.
Pouco depois, o atacante apareceu bem novamente na área: Estêvão cruzou e viu o companheiro cabecear com perigo por cima da meta. Aos 16, Abel foi para o “tudo ou nada”: sacou Aníbal Moreno e Rony e colocou Maurício e Dudu, deixando a equipe alviverde extremamente ofensiva. Do lado botafoguense, Artur Jorge respondeu tirando Alex Telles e Luiz Henrique e apostando em Marçal e Matheus Martins.
A situação ficou ainda mais complicada para o Verdão aos 25, quando o árbitro Wilton Pereira Sampaio foi ao VAR e considerou que Marcos Rocha agrediu Igor Jesus ao encostar a mão no rosto do atacante. Com isso, o lateral levou vermelho direto.
O lance desestabilizou de vez o Palmeiras, e o Fogão matou a partida em uma rápida transição da defesa para o ataque: John soltou lançamento longo, Igor Jesus ganhou na “casquinha” e Savarino bateu na saída de Weverton para ampliar aos 29 minutos.
Depois disso, o Verdão partiu para o desespero, cruzando bolas na área sem parar. A defesa botafoguense se segurou firme e foi garantindo o resultado na casa palestrina. Mas ainda cabia mais um para o Fogão: em ótima cobrança de escanteio da direita, Adryelson subiu no 3º andar e ampliou ainda mais a diferença no Allianz Parque.
No último ataque da partida, Richard Ríos acertou uma paulada de fora da área e fez um golaço para o Palmeiras, mas já era tarde para reação. Placar final: Verdão 1 x 3 Glorioso.
O grande resultado no Allianz Parque também dá ainda mais energia para o Botafogo na grande final da CONMEBOL Libertadores, neste final de semana. No sábado, o líder do Brasileiro encara o Atlético-MG, às 17h (de Brasília), no estádio Monumental de Núñez, em Buenos Aires, valendo o título continental.