Um artilheiro em banho-maria

POR GERSON NOGUEIRA

Desafia o senso comum a ausência de Esli García como atacante efetivo do PSC na Série B. Impressiona o fato de que ele, principal artilheiro e melhor jogador de ataque do elenco, segue fora dos planos. Joga de vez em quando, sempre por 15 ou 20 minutos, sem ter chances de dar ao time aquilo que mais sabe fazer: gols.

Baixinho e sem a musculatura considerada ideal pelos técnicos e preparadores físicos, Esli é preterido desde que chegou ao PSC. Hélio dos Anjos aceitou sua contratação, mas jamais lhe deu as condições mínimas para se consolidar como titular.

Sem a confiança e o apoio do treinador, Esli viu-se obrigado a aproveitar os parcos minutos que lhe ofereciam para mostrar serviço. E conseguiu uma façanha tremenda: marcou gols no Parazão e, principalmente, na Série B.

Brilhou no período de melhor desempenho do Papão no Brasileiro, marcando 6 gols, um desempenho impressionante para quem só foi titular em oito partidas das 31 rodadas da Série B. Marcou gols belíssimos, como contra o Botafogo-SP e frente ao Goiás.

Em várias partidas, mesmo fora de sua posição preferida – o lado esquerdo do ataque –, foi importante em assistências e contribuições para os demais companheiros. O físico é mirrado, a altura é de um menino, mas Esli joga futebol de gente grande, e deu seguidas provas disso.

A compleição atlética foi um dos pontos mencionados por Hélio para barrar Esli, que, segundo ele, é um atacante de “lances ocasionais”. Soltou essa frase absurda e não foi sequer admoestado por seus superiores no clube.  

Quando se imaginava que o inferno astral dele havia terminado com a saída de Hélio dos Anjos, eis que o novo comandante também decidiu mantê-lo na geladeira. Márcio Fernandes, logo em sua estreia, escalou Esli como titular na vitória contra o Guarani. O atacante foi bem no 1º tempo, mas acabou substituído na etapa final.

Diante do Sport, um episódio emblemático. No final da partida, Esli foi peitado dentro de campo pelo goleiro Matheus Nogueira, irritado porque o atacante não teria ajudado na marcação. Foi como se Esli fosse responsável pela derrota. Ora, durma-se com um barulho desses.

A cena, obviamente, teve origem e estímulo no posicionamento hostil de Hélio dos Anjos em relação a Esli. Pelo visto, Márcio não fez por onde mudar esse estado de coisas, embora em entrevistas recentes o goleiro tenha se desculpado pelo gesto intempestivo.  

O fato é que, coincidência ou não, as entradas de Esli se tornaram ainda mais esporádicas. A última aparição foi na derrota frente ao CRB. Ele entrou nos 10 minutos finais, tempo insuficiente para que o futebol do habilidoso venezuelano possa aparecer.

Num elenco que padece da falta de qualidade no ataque, Márcio Fernandes prestigia Ruan Ribeiro e até Joel, insistindo em deixar de lado o mais qualificado e certeiro dos atacantes disponíveis. Uma pena. (Foto: Jorge Luís Totti/Ascom PSC)

Tempos de Selefogo embalam os sonhos da torcida

As recentes atuações de Luiz Henrique e Igor Jesus pela Seleção Brasileira fizeram brotar de novo um sentimento de orgulho da torcida botafoguense em relação ao escrete canarinho. Quando os dois jogadores livraram o Brasil de uma derrota iminente contra o Chile, a alegria renasceu e fez lembrar tempos gloriosos, tanto do Botafogo quanto da Seleção.

Um recorte dessa história ocorreu no dia 7 de agosto de 1968, no Maracanã. A essência da Selefogo nascia ali. Perante 40 mil torcedores, oito jogadores do Botafogo vestiram a camisa da Seleção em amistoso contra a Argentina, a pedido da então CBD (CBF atual).

Campeão estadual de 1967, o Botafogo era o principal time carioca e um dos melhores elencos do país. Zagallo, técnico do clube, foi chamado para comandar o combinado de clubes cariocas, liderado pela base alvinegra.

No final, 4 a 1 para o Brasil, com direito a baile da Seleção. Todo o time titular do Botafogo foi convocado, e só não atuaram o goleiro Caio, o zagueiro Zé Carlos e o ponta-direita Rogério. O time entrou com Félix (Fluminense); Moreira (BFR), Brito (Vasco), Leônidas (BFR) e Valtencir (BFR); Carlos Roberto (BFR) e Gerson (BFR); Nado (Vasco), Roberto (BFR), Jairzinho (BFR) e Paulo César (BFR).

Os gols da vitória foram marcados pelos botafoguenses Valtencir, Roberto, Jairzinho e Paulo César. 

Denúncias do “rei do rebaixamento” seguem sem resposta

Completou ontem uma semana que o empresário William Rogatto, conhecido como “rei do rebaixamento”, admitiu a manipulação de jogos de futebol no Brasil e afirmou ter embolsado aproximadamente R$ 300 milhões, lucrando principalmente com o rebaixamento de times.

As denúncias foram feitas em depoimento à CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, no Congresso Nacional. Rogatto declarou-se réu confesso e disse ter rebaixado 42 times, agindo nas federações de futebol de todos os Estados, no Distrito Federal e em nove países.

Ele mora em Portugal, onde será interrogado presencialmente pelos integrantes da CPI. Investigado na Operação Fim de Jogo, do MP do DF, e na Operação Jogada Ensaiada, da PF, Rogatto afirmou que o esquema existe há mais de 40 anos e que a “hipocrisia maior do mundo está em ter um clube de futebol hoje e ser patrocinado por uma casa de apostas”.

Entre outras declarações graves, Rogatto disse que só o fato de uma casa de apostas patrocinar um clube “já abre um gatilho para que tudo aconteça”. “Quando uma bet patrocina o seu clube, automaticamente o jogador se transforma em aposta”, disse.

Ao ser questionado se o esquema de manipulação que chefiava também teve a participação de árbitros das confederações e da Fifa, Rogatto respondeu: “Tinha árbitros também. Um árbitro oficial ganha em torno de R$ 7 mil por jogo e eu pagava R$ 50 mil para ele”.

Até o momento, CBF e clubes mantêm silêncio sobre as denúncias de Rogatto. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 16)