Alepa aprova projeto que altera Lei sobre o Regime Jurídico Único de Servidores Públicos

Os deputados da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) aprovaram, na manhã desta terça-feira (10), o Projeto de Lei nº 497/2024, de autoria do Poder Executivo. A proposta altera a Lei Estadual nº 5.810, de 24 de janeiro de 1994, que dispõe sobre o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da Administração Direta, das Autarquias e das Fundações Públicas do Pará.

Em mensagem enviada à Alepa, o governador do Pará, Helder Barbalho, disse que “o projeto de lei permitirá que os servidores públicos ocupantes de função pública de caráter permanente possam ser cedidos para órgãos e entidades de quaisquer Poderes e esferas federativas, dispensando-lhes, neste aspecto, o mesmo tratamento conferido aos ocupantes de cargo de provimento efetivo”.

A mensagem também aponta que “a medida é de suma importância, tanto para regularizar a situação funcional dos ocupantes de função pública de caráter permanente que já se encontram cedidos, quanto para que as novas cessões encontrem amparo legal, ressaltando que esses servidores, muito embora não sejam efetivos e, portanto, não detenham estabilidade funcional, estão sujeitos ao Regime Jurídico Único”.

Patrimônio Cultural 

Foi aprovado o Projeto de Lei nº 234/2023, do deputado Lu Ogawa (PP), que declara como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial para o Pará o Mirante de São Benedito, símbolo do turismo e da marujada do município de Bragança. O ponto turístico, inaugurado em 2009, é uma homenagem religiosa e cultural do povo bragantino ao seu padroeiro e protetor. O Mirante fica na margem esquerda do rio Caeté e possui 116 degraus. 

De autoria do deputado Rogério Barra (PL), foi aprovado o Projeto de Lei nº 482/2023. A proposição proíbe, no Pará, que postos de combustíveis exponham ao consumidor valores promocionais vinculados a programas de fidelidade em maior escala ou tamanho do que os valores reais ofertados, e dá outras providências. Já o PL nº 223/2024 declara o Festival do Caranguejo, realizado no município de Quatipuru, como Patrimônio Histórico-Cultural de Natureza Imaterial do Pará. O autor é o deputado Bob Fllay (PRD).

Mundo do cinema lamenta a morte de James Earl Jones, voz de Darth Vader

O ator James Earl Jones, conhecido por ser a voz icônica de Darth Vader em “Star Wars”, morreu nesta segunda-feira (9) aos 93 anos. A informação foi confirmada por seu agente Barry McPherson. Jones também ficou conhecido por dublar o personagem Mufasa na animação “O Rei Leão”.

Em um comunicado publicado no Instagram e assinado por Bob Iger, diretor-executivo da empresa, a Disney lamentou sua morte: “Um ator de palco celebrado com quase 200 participações em filmes no cinema e televisão, com uma presença única e verdadeira, Jones trouxe à vida histórias com verdadeira riqueza de espírito e deixou uma marca indelével em gerações.”

O ator Mark Hamill, conhecido por interpretar Luke em “Star Wars” se despediu do colega de elenco com uma foto publicada em seu Instagram. “Um dos melhores atores do mundo cujas contribuições para ‘Star Wars’ foram imensuráveis. Ele vai fazer muita falta,” escreveu.

James Earl Jones é conhecido por ser a voz de Darth Vader na franquia “Star Wars”. Ele recebeu o convite para gravar a imponente voz do personagem em 1977. Naquela época, George Lucas, o criador da série, já havia escalado o ator David Prowse para interpretar o vilão, mas continuava à procura de mais um artista — alguém capaz de falar de forma mais impactante.
“[David Prowse] tinha um leve sotaque escocês, e sua voz não era como o som de um baixo, mas sim como a de um tenor. É uma voz muito eficaz. Mas George percebeu que queria, desculpe a expressão, uma voz ‘mais sombria’. Então, ele contratou um homem que gagueja, nascido no Mississippi e criado em Michigan. Essa é a voz. Esse sou eu. Eu tive sorte”, disse James em uma entrevista ao American Film Institute em 2009.

“Acho que primeiro George pensou [em contratar o ator] Orson Welles. Depois, pensou que [a voz dele] seria muito fácil de reconhecer”, contou James, em entrevista Conan O’Brien, em 1995. Segundo o americano, foram necessárias cerca de duas horas e meia para ele gravar as falas de Darth Vader em “Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança” (na época ainda “Guerra nas Estrelas”, no Brasil).

A princípio, James não queria ser creditado pelo trabalho. Só foi aparecer nos créditos da série a partir de 1983, com o terceiro filme. Depois de repetir a atuação nos três filmes da trilogia principal, ele voltou à capa e ao capacete para “Rogue One: Uma História Star Wars” (2016).

A voz característica seria uma marca na carreira bem-sucedida de James. O ator também conquistou o público infantil ao dublar Mufasa, o pai do protagonista de “O Rei Leão” (1994). Sua interpretação (e timbre) foram tão marcantes que ele foi um dos poucos do elenco original a voltar para a nova versão computadorizada de 2019.

Amado e respeitado por diferentes gerações de colegas e de fãs, o americano é um dos poucos atores ganhadores dos maiores prêmios da TV (Emmy), música (Grammy), teatro (Tony) e cinema (Oscar) — uma classe conhecida popularmente como EGOT.

Depois de servir no exército americano durante a Guerra da Coréia, nos anos 1950, Earl Jones começou uma carreira nos palcos. Sua estreia na Broadway, região de Nova York onde as peças mais prestigiadas são apresentadas, aconteceu em 1957.

Em 1968, ganhou seu primeiro Tony como o protagonista da peça “The great white hope”. O papel lhe rendeu ainda uma indicação ao Oscar em 1970, pela adaptação da obra para o cinema, “A grande esperança branca”.

Seu primeiro trabalho no cinema aconteceu alguns anos antes, em 1964, no clássico “Dr. Fantástico”, de Stanley Kubrick. Mas o personagem mais marcante de sua carreira, ou o que o deixaria mais conhecido pelo mundo, levaria mais 13 anos.

Seu último trabalho no cinema aconteceu em 2021, ao retornar a outro personagem da realiza como o rei Jaffe Joffer de “Um príncipe em Nova York 2”, com Eddie Murphy. Apesar de não receber uma estatueta por nenhum trabalho específico, o ator ganhou o Oscar honorário em 2012.

O estranho mundo de John Cassaday

Celebrando um artista que nos fez acreditar em heróis e vilões – e além

Por André Forastieri

“Planetary” é uma aventura pela cultura pop-pulp do século 20, em que nos guiam arqueólogos do impossível. Criação do escritor Warren Ellis e do desenhista John Cassaday.

Tem muito quadrinho velho por aí com meu nome no expediente, das editoras Conrad, Pixel, Tambor, lançados principalmente entre 1999 e 2012. Poucos me dão orgulho igual. O pôster abaixo não passa a ideia completa, mas é por aí.

John era um bom desenhista de comics. Aliava a isso paciência para pesquisar e disposição para o design gráfico. Era uma exceção preciosa: simultaneamente dos melhores pra conceber e executar uma capa, para desenhar uma página dinâmica, e para nos seduzir do começo ao fim em uma história completa.

E ele fazia você acreditar em heróis. E em vilões. E em mundos além de heróis e vilões, como o de “Planetary” – muito importante.

Ilustrador requisitado, acabou produzindo menos HQs do que os fãs gostariam. Aqui tem muitos exemplos pra você conferir, junto com depoimentos dos colegas. Os elogios e lembranças não param de chegar. Parece que era muito boa gente, além de boa-pinta, como vês acima.

John me deu outra alegria inesquecível como editor. É dele o único gibi que publiquei com o meu herói favorito da infância. Fizemos questão de lançar em formato gigante na Pixel. Hei Odair Braz Jr., hei Cassius Medaudar, hei André Martins – lembram dessa?

Tem por aí nos sebos da vida.

O camarada Heitor Pitombo entrevistou o artista quando ele visitou o Brasil. Saiu na revista “Mundo dos Super-Heróis”. John também desenhou muitos heróis famosos, do Capitão América e X-Men a Star Wars a Zorro. Heitor gentilmente cedeu a entrevista para eu republicar aqui – segue abaixo. 

John nos deixou com injustos 52 anos, levado pelo câncer. “Planetary” tinha um slogan que sempre me volta à memória e frequentemente repito: “It´s a strange world. Let´s keep it that way”.

Nada mais estranho que a morte. Ainda mais a morte de alguém que admiramos e teria um futuro de brilhantes contribuições a compartilhar com a gente. Bem, também é estranha a arte, e pouco neste mundo sobrevive como ela. Para velhos fãs de gibi, para sujeitos como eu, John Cassaday é imortal. E vamos manter assim.

John Cassaday e Heitor Pitombo

Escalada para o sucesso

John Cassaday conta como passou a ser considerado um dos quadrinhistas mais elogiados das últimas duas décadas

POR HEITOR PITOMBO

Planetary, X-Men, Star Wars Capitão América são algumas das séries que puderam contar com a inspirada arte de John Cassaday. Esse autodidata nascido em 1971 sempre sonhou em trabalhar com quadrinhos e precisou enfrentar uma longa trajetória até conseguir entrar no mercado.

Antes de atingir seu intento, trabalhou na construção civil, vendeu discos, dirigiu um telejornal e até foi balconista do McDonald’s. Só em 1995 o jovem aspirante começou a fincar seus pés nos quadrinhos por intermédio de pequenas editoras, nas quais desenhou séries obscuras como Flowers on the Razorwire No Profit For The Wise.

Ainda era muito pouco para Cassaday, que viu sua sorte mudar na San Diego Comic-Con 1996, quando seu portfólio chamou a atenção de artistas tarimbados. Logo, engatou trabalhos na Dark Horse e, em pouco tempo, chegou às poderosas Marvel e DC.

Entre os maiores sucessos de Cassaday estão a série Planetary (desenvolvida entre 1999 e 2009 com seu grande amigo Warren Ellis), uma fase curta e memorável do Capitão América (em 2002, em parceria com John Ney Nieber) e a revista Astonishing X-Men (na qual ele e Joss Whedon viraram de cabeça para baixo o universo dos mutantes entre 2004 e 2008).

O artista também ganhou alguns prêmios Eisner (o Oscar das HQs) e colecionou outras indicações. Nesta entrevista exclusiva, John Cassaday fala sobre esses trabalhos e outros assuntos relacionados à sua carreira.

PARA COMEÇAR, UMA CURIOSIDADE. VOCÊ CHEGOU A TRABALHAR EM UM TELEJORNAL. COMO FOI ISSO?

Quando eu estava na faculdade, fui diretor técnico do jornal televisivo local. Era um noticiário modesto transmitido por uma pequena emissora no Texas, mas foi um bom trabalho para mim nesse período. Já havia tido experiências menores numa loja de discos e no McDonald’s, de modo que trabalhar com jornalismo na TV foi muito divertido. Eu me limitava a apertar botões, dar deixas para o âncora começar a falar, ou apertar o “play” para a entrada de um tape. Lidava com um pouco de edição de imagens também.

ESSA VIVÊNCIA TEVE ALGUM IMPACTO NA SUA CARREIRA DE QUADRINHISTA?

Foi o primeiro trabalho na minha vida em que eu tive um pouco de autoridade e, por conta disso, precisava dialogar com várias pessoas para chegarmos a um produto final. Foi a primeira vez em que me senti como parte de uma equipe. Da mesma forma que veio a acontecer quando passei a trabalhar com quadrinhos, em que tinha que trocar ideias com roteiristas, coloristas, editores… Em suma, aprendi a falar com outras pessoas e obter o que eu queria e vice-versa.

SEU PRIMEIRO TRABALHO DE VULTO NOS QUADRINHOS FOI COM A PERSONAGEM GHOST, PARA A DARK HORSE. COMO VOCÊ FOI PARAR LÁ?

Sempre amei quadrinhos e estava sempre desenhando. Contar histórias era algo que eu sonhava fazer. Cresci no meio do nada, no Texas, e tinha que inventar brincadeiras. Por isso, comecei a produzir meus próprios gibis. Antes disso já escrevia, desenhava e também lia bastante coisa. Tive que começar a me virar quando fiz 16 anos, pois saí de uma cidade pequena e fui para uma menor ainda, onde não  conseguia mais comprar minhas revistas favoritas. Passei cinco anos um pouco desligado dos quadrinhos. Isso durou até meados dos anos 1990, quando comecei a acompanhar algumas séries com mais frequência. Sin City do Frank Miller e Hellboy do Mignola, entre outras coisas interessantes, me trouxeram de volta.

MAS E QUANTO À CARREIRA PROFISSIONAL?

Alguns anos depois, em 1996, fui à minha primeira San Diego Comic-Con com um portfólio… Eram umas quatro páginas com cenas de ação. Fui mostrando esse material para algumas pessoas até que conheci um artista que trabalhava para a Dark Horse, que praticamente me pegou pela mão: Chris Warner. Ele também fazia parte do staff da editora, e era um sujeito incrível que foi muito bacana comigo. O cara colocou meu portfólio nas mãos dos bam-bam-bans da Dark Horse, que me contrataram na mesma hora. Foi assim que consegui fazer minhas primeiras capas para Ghost.

E DEMOROU MUITO TEMPO PARA QUE VOCÊ TIVESSE CACIFE PARA TRABALHAR NA MARVEL E NA DC, AS DUAS LÍDERES DO MERCADO?

Não. Um mês depois a coisa já estava andando. As amostras que eu levei para San Diego também foram parar nas mãos de Mark Waid, que as mostrou para o pessoal da Wildstorm e da Marvel. Rapidamente elas caíram nas mãos dos graúdos da DC. Em coisa de três ou quatro meses, comecei a receber ligações das três editoras.

FALE UM POUCO SOBRE A CRIAÇÃO DE PLANETARY, COM WARREN ELLIS. COMO VOCÊS CHEGARAM A ESSE CONCEITO DE SUPER-HERÓIS “MAIS HUMANOS”?

Essa seria uma pergunta mais indicada ao Warren. Posso dizer que começamos a trabalhar juntos para uma minissérie que sairia pela [editora] Caliber. Logo ficamos amigos e passamos a conversar muito pelo telefone, falando do quanto gostávamos um do trabalho do outro. Só que bastou eu desenhar a primeira edição inteira da minissérie, que comecei a ver que não ia dar pé. Marvel e DC estavam nos enchendo de trabalho e decidimos dar um tempo no trabalho da Caliber, que foi abandonado de vez. A amizade, contudo, não acabou. Um dia, Warren escreveu um roteiro… não sei se foi para mim, mas quando caiu na minha mão… aquilo me deixou maluco! Era Planetary. Era como se ele tivesse lido a minha mente, tirado coisas de dentro e colocado nesse roteiro. Fiquei louco para começar a trabalhar.

NA SUA OPINIÃO, O QUE PLANETARY ACRESCENTOU AO GÊNERO?

Tudo se deve ao talento de Warren de pegar a realidade do que seria a vida de um super-herói, de como esse tipo de personagem deveria ser, e injetar nele um componente humano. Nem todo mundo possui a mesma firmeza de um Superman ou de um Capitão América. O que uma pessoa faria se tivesse superpoderes de fato? Falei com Warren sobre isso, até porque gostava da maneira como ele escrevia histórias de super-heróis em outras revistas. O engraçado é que ele não era fã dos supers quando era mais novo, por isso acho que Warren sempre teve uma visão de fora da coisa. Planetary meio que ajudou a lançar uma luz nova sobre esses ícones, os personagens arquetípicos com os quais muitos de nós  crescemos. Quando vemos um e outro personagem com esse ou aquele problema, percebemos as diferentes matizes das quais Warren se valeu e que deram a esses heróis uma sensibilidade renovada.

SUA PASSAGEM PELO TÍTULO ASTONISHING X-MEN RENOVOU NÃO SÓ OS MUTANTES COMO O UNIVERSO DOS SUPERHERÓIS, ALÉM DE TER  REPRESENTADO UM AFASTAMENTO DEFINITIVO DA MALFADADA ESTÉTICA DA EDITORA IMAGE, QUE IMPERAVA NOS QUADRINHOS AMERICANOS DESDE OS ANOS 1990. COMO VOCÊ VÊ HOJE ESSA SUA CONTRIBUIÇÃO?

Boa parte do crédito deve ir para Joss Whedon, um roteirista espetacular. Ele não escreve histórias de super-heróis se baseando na prosódia que se espera deles, mas imaginando como os X-Men realmente se expressariam. Ou seja, eles falam como se fossem seres humanos poderosos que vêm de lugares diferentes. Quando nos convocaram para fazer os X-Men, queríamos que a revista fosse mais acessível. Na época, eu não lia gibis de mutantes há um tempão, pois não sabia por onde começar. Havia uns cinco ou seis títulos diferentes e todos se completavam. Você lia só um e não entendia o que estava acontecendo, pois não acompanhava os outros. Quando fizemos Astonishing, não miramos no fã inveterado de mutantes, pois sabíamos que ele estaria conosco. O que queríamos era fazer com que nosso trabalho chegasse aos novos leitores que nunca haviam lido uma história dos X-Men. E também àqueles que os haviam abandonado há tempos. Claro que havia um ou outro easter egg para os mais  fiéis, mas nosso intuito era fazer com que qualquer leitor pegasse o número um e entendesse tudo que estava acontecendo.

NAQUELA ÉPOCA VOCÊS CHEGARAM ATÉ A CRIAR ALGUNS MUTANTES NOVOS, NÃO É?

Não foram tantos assim. Joss inventou alguns personagens secundários porque queria criar uma ou outra situação específica para os mutantes tradicionais. Esse tipo de coisa dá uma certa dinâmica para a história, até porque os personagens mais conhecidos trazem consigo algumas limitações – nem sempre é fácil matar um herói já estabelecido, por exemplo. Por isso, é legal introduzir um e outro sujeito com o qual possa acontecer qualquer tipo de coisa, mesmo que seja em uma virada de página.

O QUE O LEVOU A TRABALHAR COM O CAPITÃO AMÉRICA?

Sempre fui muito fã dele. Enquanto eu crescia, foi bom saber que havia um herói que sempre fazia o que era certo, independente do que custasse e de como ele seria visto. Fora que ele tinha o traje mais bem desenhado dos quadrinhos – esqueça esse negócio de bandeira americana. A maneira como ele foi criado por Joe Simon e Jack Kirby nos anos 1940 poderia intuir que o seu visual ficaria datado com o tempo, mas trata-se de um traje que, ainda hoje, se destaca.

FALE UM POUCO SOBRE A SÉRIE JE SUIS LEGION (2004-2007). QUAL FOI A SUA MOTIVAÇÃO PARA TOCAR ESSE PROJETO?

A editora Les Humanoïdes Associés me ofereceu esse trabalho e depois tivemos uma reunião em que me foi dito que a trama girava em torno de uma jovem romena superpoderosa que podia decidir o destino da Segunda Guerra a favor dos nazistas. Era algo que, com certeza, nunca cheguei a ver antes numa HQ.  Na época, eu estava muito envolvido com super-heróis, desenhando Planetary e começando a trabalhar com os X-Men. Era algo que me deixou com uma certa comichão para pegar… e não sabia se tinha condição de encarar a empreitada. Mas como era algo inédito para mim, pensei: “Vamos fazer isso acontecer.”

QUAIS AS MAIORES VIRTUDES DOS ROTEIRISTAS COM QUEM VOCÊ TRABALHOU?

Tive muita sorte de ter sido parceiro de caras como Warren Ellis e Joss Whedon, sem contar Jason Aaron na nova série em quadrinhos de Star Wars. Mas sempre procuro trabalhar com roteiristas que têm uma certa pegada. Saber quem está ao seu lado é importante, realça o sentido de colaboração.

JÁ QUE VOCÊ CITOU STAR WARS, QUAL É A SUA LIGAÇÃO COM ESSE UNIVERSO?

Eu tinha uns seis anos quando vi Star Wars pela primeira vez no cinema. Isso está no meu DNA. Fazer parte do time que produz as revistas dessa nova linha é demais. Cresci lendo a revista que a Marvel publicava nos anos 1980 e acompanhei as adaptações em quadrinhos de O Império Contra-Ataca e de O Retorno de Jedi. Nessa época, você sabe, o tempo passa muito devagar. De modo que eu adorava a série. Quando soube que a Marvel havia recuperado o direito de produzir os quadrinhos [isso ocorreu em 2015] e que haveria uma nova revista com histórias passadas no universo criado pela Lucasfilm, não tive como recusar o convite para trabalhar nessa empreitada. Sabia que teria que mexer com os personagens clássicos que eu amava, como Luke, Han, Leia… Era como poder brincar com todos os brinquedos da minha caixinha (risos).

.VOCÊ FOI UM DOS ARTISTAS CONCEITUAIS DO FILME WATCHMEN, DE 2009. COMO FOI ESSE TRABALHO?

Ajudei a desenvolver os trajes de uma meia dúzia de personagens. Foi divertido e não foi algo que me sacrificou muito. As conversas com Zack Snyder ao telefone foram divertidas, e elas não se restringiam a Watchmen, até porque contemplavam o universo dos super-heróis no geral. Mas ele queria ver como eu iria desenhar os personagens do longa. Fiz alguns esboços, discutíamos, ele falava do que gostava e do que não gostava… Daí eu dava uma guaribada no que Zack achava que podia melhorar. Criei algo em torno de cinco artes finalizadas mostrando como eu via certos personagens. Mesmo assim, eu achava que tudo tinha de partir do que Alan Moore e Dave Gibbons criaram nos quadrinhos. Tudo já estava lá. Se eu tentasse desenhar os personagens pegando pela memória, seria daquele jeito que eles ficariam. Fiz poucas modificações, como dar ao Comediante um cinto levemente diferente. Não havia muito o que fazer, na verdade. Eu e outros artistas demos algumas ideias, e delas Zack pinçou uma ou outra coisa.

VOCÊ PODE SER VISTO COMO UM ARTISTA DA VELHA ESCOLA, QUE PREFERE TRABALHAR COM LÁPIS E NANQUIM EM VEZ DE RECORRER AO  COMPUTADOR. QUE VANTAGENS HÁ NISSO?

Eu trabalho de vez em quando no Photoshop, mas não gosto de finalizar meus desenhos digitalmente.  Claro que eu faço alguma coisa no computador eventualmente, mas 90% do que produzo é no papel. Eu me divirto muito rabiscando.

DÁ UM EXEMPLO DE ONDE PODEMOS VER ESSES 10%.

Não vou contar não (risos).

Leão cede empate, mas avança

POR GERSON NOGUEIRA

O resultado podia ter sido melhor. Três minutos antes de sofrer o gol de empate, o Remo teve a chance de matar o jogo. Jaderson entrou na área e tinha Rodrigo Alves livre na marca penal para receber o passe, mas errou no toque final e a bola saiu pelo lado. O castigo viria a galope. Cauã acertou um chute forte e venceu o goleiro Marcelo Rangel.

Mesmo tendo a lamentar ter desperdiçado a chance de emplacar a segunda vitória, o Remo fez uma boa partida e saiu de São Bernardo ainda mais forte na briga pelo acesso. Com 4 pontos, segue na zona de classificação, com duas partidas a realizar no Mangueirão.

O jogo começou sob a marca do equilíbrio, mas o Remo tentava se movimentar com desembaraço e avançavam as linhas sempre que se aventuravam no campo adversário. A primeira boa oportunidade pertenceu ao São Bernardo. Kayke bateu para o gol, mas Marcelo Rangel fez uma grande defesa.

A resposta azulina veio aos 31’. Ytalo herdou uma bola que a zaga deixou passar, mas disparou em cima do goleiro Alex Alves. Dez minutos depois, o gol saiu: a bola foi cruzada da esquerda por Jaderson e Ytalo chegou à frente dos zagueiros, finalizando para o fundo das redes.   

No minuto final da primeira etapa, nova arremetida do São Bernardo. Hugo Sanches cruzou da direita e Kayke cabeceou com extremo perigo. Marcelo Rangel saltou e evitou o gol.

Nenhum dos times mexeu na escalação para o 2º tempo e a partida reiniciou favoravelmente ao Leão. Aos 4 minutos, o ala esquerdo Raimar recebeu de Jader em profundidade, livrou-se da marcação e entrou na área para fuzilar no canto direito de Alex Alves, ampliando para 2 a 0.

O jogo era disputado com intensidade e, apesar da boa vantagem, o Remo não tinha sossego. Aos 11’, um arremesso lateral do São Bernardo quase terminou em gol contra de Rafael Castro, evitado por Marcelo Rangel.

Logo em seguida, porém, um escanteio da esquerda alcançou Kayke no segundo pau. Ele desviou para o centro da pequena área, onde o zagueiro Helder cumprimentou para o gol, diminuindo para 2 a 1.

Animado, o São Bernardo avançou suas linhas, trocou Lucas Tocantins por Luiz Felipe e aumentou a pressão com bolas aéreas. No Remo, Ligger se lesionou e foi substituído por Bruno Bispo e Paulinho Curuá substituiu Bruno Silva. 

Encolhido, o Remo se limitava aos contragolpes, perdendo a fluidez inicial. Aos 36’, Jaderson escapou em velocidade pela direita, invadiu a área e, na dúvida entre chutar e lançar Rodrigo Alves, tocou a bola sem direção, desperdiçando o que seria o terceiro gol remista.

No desespero, o São Bernardo fez uma jogada diferente dos cruzamentos repetitivos. Kauã Jesus recebeu na intermediária, avançou e chutou forte no canto direito da trave de Marcelo Rangel, que não alcançou a bola.

Nas circunstâncias, o empate frustrou o sonho de vitória, mas manteve o Leão na zona de classificação do Grupo B. Fica a lição quanto ao excesso de cautela quando o placar parece sob controle. A bola costuma punir recuos em terreno inimigo.

Papão aposta em Márcio para salvar a campanha

A decisão da diretoria do PSC foi surpreendente. Pelo suspense criado desde sexta-feira, quando Hélio dos Anjos foi demitido, ficou no ar a expectativa em torno de um nome mais forte. Era o que o torcedor esperava, mas o critério de manter o time em mãos experientes favoreceu a escolha de Márcio Fernandes, que passou pelo clube em 2022/2023.

O primeiro impacto foi negativo, pois trouxe a lembrança da goleada humilhante que o Vila Nova de Márcio sofreu diante do PSC na final da Copa Verde. Levou um 6 a 0 constrangedor dentro da Curuzu e foi demitido nos vestiários. O segundo jogo terminou 4 a 0, já sem Márcio, fechando a decisão em 10 a 0 no placar agregado.

A experiência é o único item que permite comparar Márcio com Hélio. Em termos de liderança, o novo técnico do Papão não tem a mesma contundência do antecessor. Conhecimento técnico para mudar uma situação desfavorável é um ponto mais destacado em Hélio, que comandou a reação do PSC na Série C do ano passado.

Para levantar o astral do time na Série B, é fundamental voltar a vencer. Márcio tem essa oportunidade diante do Guarani, no próximo sábado, na Curuzu. Terá a semana toda para treinar o time, buscando dar novas orientações e operando mudanças no campo emocional.

A torcida, que está dividida quanto ao novo comandante, vai marchar junto em caso de uma vitória para iniciar a esta etapa do trabalho. A volta de alguns titulares deve dar a Márcio as condições ideais para conquistar os três pontos e afastar a urucubaca.

Mais surpreendente que o anúncio de Márcio Fernandes foi a contratação do executivo Felipe Albuquerque, que saiu daqui a dois anos em meio a polêmicas e até alguns desaforos em relação à cidade. Em alguns lugares, jamais seria aceito de volta, mas isto aqui é Pará.

Brasil desafia Paraguai sob a descrença da torcida

A Seleção Brasileira volta a campo hoje à noite, em Assunção, diante da baixa expectativa da torcida. O adversário é um tradicional freguês, mas a realidade não inspira apostas muito otimistas. Contra o Uruguai, o Paraguai jogou bem e conseguiu arrancar um empate.

Dentro de seus domínios, o time paraguaio vai tentar sufocar um Brasil que perdeu três de seus jogos como visitante nestas Eliminatórias e não é visto mais com o temor de antes. Qualquer oponente se sente à vontade para encarar o opaco time de Dorival Júnior.

Não é para menos. Quem tem como principal articulador um jogador do nível de Paquetá, escoltado por Bruno Guimarães, não pode impor medo a ninguém. Diante do Equador, a distribuição de jogo e a parte criativa foram os pontos negativos, justamente porque o meio-campo não funcionou.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta terça-feira, 10)

Papão contrata Márcio Fernandes para a reta final da Série B

Márcio Fernandes está de volta ao PSC para as 13 rodadas finais da Série B. Ele foi contratado para substituir Hélio dos Anjos, demitido na semana passada após 9 partidas sem vencer. O último clube de Márcio foi o Vila Nova/GO, com o qual foi goleado pelo Papão por 10 a 0 (placar agregado) na decisão da Copa Verde 2024. Ele foi dispensado pelo clube goiano justamente em função da desastrosa participação na final da CV.

O primeiro nome na mira dos bicolores não era Márcio Fernandes. O clube chegou a sonhar com Márcio Zanardi, ex-Goiás, mas as negociações não evoluíram. Outros nomes especulados antes de Márcio foram os de Daniel Paulista, Marcelo Chamusca e Mazola Junior.

Santista de nascimento, Márcio Fernandes tem 62 anos e é técnico há mais de 30 anos. Antes, atuou como jogador de futebol, chegando a defender o PSC nos anos 80. Recentemente, Márcio treinou o Vila Nova-GO. Caiu após a goleada de 6 a 0 para o Paysandu na primeira partida da final da Copa Verde.

Na primeira passagem pelo Paysandu, entre as temporadas 2022 e 2023, Márcio dirigiu o time em 66 partidas, com 34 vitórias, 16 empates e 16 derrotas. Conquistou o título da Copa Verde.

O presidente do clube, Maurício Ettinger, explicou os critérios para a contratação. “O Márcio já conhece a realidade do clube, trabalhou com alguns atletas do nosso elenco e tem como característica a ofensividade no modelo de atuação, com bom toque de bola, volume de jogo e boa quantidade de gols, que é algo que é uma marca no Paysandu. Ele tem a nossa confiança para terminar a Série B de forma positiva”.

A estreia do treinador deve ocorrer no próximo sábado (14), às 17h, no estádio da Curuzu, contra o Guarani de Campinas, pela 26ª rodada da Série B.

EXECUTIVO

A diretoria do PSC informou também que o executivo Felipe Albuquerque é outro que está voltando para o clube. Ele teve sua contratação confirmada pelo presidente Maurício Ettinger.

Pontuar é o 1º mandamento

POR GERSON NOGUEIRA

Como visitante, hoje à noite, o Remo tem que ser resoluto e determinado em busca da vitória diante do São Bernardo. A receita básica de competições nacionais ensina que um time não pode se limitar à defesa. O perfil do quadrangular final da Série C exige atitude, coragem e destemor. Quem se acautela muito, dificilmente conquista o acesso.

Com a vitória em casa na estreia contra o Botafogo paraibano, o Remo se credenciou dentro do grupo, ganhando respeito e temor. A classificação em 8º lugar, menosprezada por alguns, não tem qualquer importância. O quadrangular zerou tudo e o que vale é a campanha a partir de agora.

O São Bernardo, que chegou a liderar a Série C, caiu de produção nos últimos jogos, coincidindo com o início da segunda fase. O mau momento coincide com a derrota frente ao Volta Redonda (fora de casa) na primeira rodada. Em casa, o time de Ricardo Catalá passa a depender de uma vitória para manter chances de acesso.

Uma derrota diante do Leão pode confirmar a queda de rendimento e certamente iria dificultar as chances de classificação. Daí a importância do confronto para o time mandante. Não é diferente para o Remo, mas um empate também serviria.

O fato é que os azulinos atravessam um viés de alta dentro do Brasileiro, esbanjando motivação e entusiasmo. Esse estado anímico transparece até nas entrevistas. Os jogadores, que durante boa parte da Série C, mostravam-se monossilábicos diante dos repórteres, agora estão mais falantes e visivelmente otimistas em relação aos resultados.

Futebol é qualidade técnica, mas é também força emocional. Isso se reflete em confiança, fator fundamental para o sucesso. Sob o comando de Rodrigo Santana, o Remo sofreu muitos tropeços e custou a ganhar confiabilidade. As cinco últimas apresentações, porém, trouxeram vitórias categóricas, que tornaram o time mais ajustado e sólido.

É com essa mentalidade vitoriosa que o Remo chega ao jogo de hoje. Nada, porém, reduz os riscos representados pelo São Bernardo dentro de seus domínios. É um time bem estruturado, com jogadores experientes e sempre apontado entre os candidatos ao acesso.

Com a volta da formação titular, incluindo Ligger e Bruno Silva, o Leão deve buscar repetir a performance dos jogos contra o Londrina e o Botafogo, suas melhores partidas na temporada.

O último jogo fora de casa foi o empate contra o São José, em Porto Alegre, com uma atuação que apresentou erros de marcação à frente da zaga, problema que deve ser evitado a todo custo hoje.  

Ytalo terá Pedro Vítor e Jaderson como companheiros de ataque, ficando Rodrigo Alves no banco. A meia-cancha terá Pavani e Bruno Silva. Como nos jogos anteriores, o balanço ofensivo dependerá tremendamente da movimentação dos alas Diogo e Raimar. (Foto: Samara Miranda/Ascom Remo)

Papão procura técnico com o perfil de Hélio

Coisas da vida. O PSC está no mercado tentando contratar um novo treinador que tenha perfil parecido com o de Hélio dos Anjos, o ex-técnico da equipe. Parece uma coisa surpreendente, mas faz todo o sentido. A diretoria quer um profissional que dê continuidade ao trabalho e não modifique radicalmente a maneira de jogar.

Foi mais ou menos isso o que disseram, com outras palavras, o presidente Maurício Ettinger e o vice-presidente, Roger Aguilera, na entrevista em que explicaram as mudanças no comando técnico do time.  

Óbvio que a expectativa maior é por um técnico que consiga tirar a equipe do prolongado período sem vitórias. É preciso voltar a pontuar para brigar por posições na tabela, ampliando a distância das equipes que estão na parte inferior da classificação.

Trocando em miúdos, o cenário ideal é que o técnico utilize a base deixada por Hélio para evoluir, principalmente quanto ao aproveitamento ofensivo, principal calo da gestão do ex-comandante.

Quase desnecessário dizer que o novo técnico deve ter perfil parecido, mas não terá o estilo espaçoso do antecessor, cujos frequentes pitacos na parte administrativa criaram algumas fricções. Crise, aliás, é o que menos o clube deseja neste momento. Quanto menos treta, melhor.

Seleção segue devendo sob a batuta de Dorival

A Seleção Brasileira volta a campo amanhã à noite para enfrentar o Paraguai, em Assunção, na busca pela segunda vitória consecutiva. Na sexta-feira, o time de Dorival Junior finalmente quebrou o jejum nas Eliminatórias, marcando 1 a 0 sobre o Equador.

Venceu, mas decepcionou quem esperava um desempenho técnico convincente. A Seleção voltou a ter dificuldades para criar jogadas, o que deixou o ataque subutilizado na maior parte do tempo. Um gol solitário de Rodrygo garantiu o triunfo, mas a impressão deixada foi negativa.

Paquetá e Bruno Guimarães, titulares do meio-campo, erraram muitos passes e contribuíram para deixar o time lento em excesso. Na frente, Luiz Henrique (estreante), Rodrygo de falso 9 e Vinícius Jr. produziram pouco, o que ensejou algumas vaias da torcida curitibana.

Para amanhã, o desafio é maior num confronto direto na briga pela classificação. Na rodada passada, o Paraguai empatou com o Uruguai em Montevidéu e agora tenta encostar no Brasil, que agora ocupa a 4ª posição.   

O fato é que, além do desacerto coletivo, a Seleção sofre com o baixo desempenho individual de seus titulares. Vini Jr. simboliza bem essa situação. Astro do Real Madrid, segue sem jogar no escrete o que mostra no clube. Rodrygo tem desempenho melhor, mas igualmente sem brilho.

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 09)

Para Wired, Elon Musk está “encurralado” no Brasil

Revista de tecnologia revela que, após impasse criado sobre operações da X e da Starlink no país, bilionário começou a balançar

Por Tatiane Correia, no Jornal GGN

O bilionário Elon Musk parece estar encurralado: menos de dois anos após assumir o Twitter, hoje nomeado X, ele conseguiu fazer com a empresa perdesse acesso ao seu terceiro maior mercado global e, por consequência, a mais de 40 milhões de usuários.

O embate entre Musk e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), é tema de reportagem da entrevista norte-americana Wired, que destaca o bloqueio como “ápice de um conflito em andamento”.

Como destaca a publicação, Moraes emitiu ordens de remoção de conteúdo apontado como “uma ameaça à integridade das eleições”, no que Musk e X se recusaram a obedecer, e o fato de o bilionário ter mantido a publicação de contas acusadas de disseminar discurso de ódio e fake news na plataforma levou ao banimento no Brasil.

Nem mesmo a empresa de internet de Musk passou incólume: o STF congelou os ativos da empresa dizendo que ela integrava o mesmo “grupo econômico” que a X para um possível uso para pagamento das multas devidas pela X – e, depois da resistência inicial, a Starlink obedeceu a decisão do STF e manteve a proibição ao acesso à rede social.

Enquanto isso, Musk usava sua rede social para antagonizar Moraes com postagens insinuando a prisão do ministro, desbloqueou as contas de diversos influenciadores de extrema-direita e chegou a comparar o magistrado a um “ditador”, embora tenha cumprido ordens de bloqueio semelhantes em lugares como Turquia e Índia, onde suas redes foram usadas para censurar jornalistas e oposição.

A última cartada de Musk foi feita em agosto, com o fechamento do escritório do X no Brasil depois que o representante da empresa foi ameaçado de prisão por não cumprir as ordens do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pela empresa – levando a rede social a também violar as leis de localização do Brasil.

“Neste ponto, Musk esgotou a maioria das vias de escalada com o judiciário. E embora tenha retirado os funcionários da SpaceX do Brasil, ele já mostrou sinais de vacilação, pelo menos no que diz respeito à Starlink”, destaca a publicação.

Rock na madrugada – Billy Idol, “White Wedding”

POR GERSON NOGUEIRA

A isto aqui chamamos respeitosamente de rock’n’roll. O melhor registro da canção “White Wedding” (Casamento branco), um dos grandes hits de Billy Idol, lançado em 1982. É o tipo de música que parece ficar melhor a cada nova audição. Com a participação inspirada do subestimado Steve Stevens, dono de uma das levadas de guitarra mais empolgantes da cena roqueira, o vídeo acima é de uma apresentação no Festival Rock Am Ring, de 2005.

O cantor surgido na cena pós-punk teve a felicidade de juntar forças com grandes músicos ao longo da carreira. Stevens é, seguramente, o mais talentoso deles, embora na formação do show de 2005 seja obrigatório nominar o ensandecido Brian Tichy nas baquetas e o talentoso Derek Sherinian no baixo.

Todos estão girando em rotação máxima, dando a Idol a moldura sonora necessária para que entre com a voz sempre impecável, imune à passagem dos anos. O resultado final é um som encorpado, sem brechas, que transmite a verdadeira essência do rock clássico, com instrumentos extremamente bem manejados.

Billy (William Albert Michael Broad) Idol, nascido no Reino Unido há 68 anos, descolou-se da geração que veio na cola do punk inglês de Sex Pistols e The Clash, conseguindo sobressair com um rock de nuances mais melódicas, embora sem abrir mão do peso. Nos últimos anos, diminuiu o ritmo de produção, mas continua a fazer shows de sucesso no mundo todo.

Como frear bilionários como Elon Musk

A reação do Brasil e da França mostra um caminho

Por João Filho – Intercept_Brasil

No mês passado, a Inglaterra viveu dias de terror com uma onda de ataques promovidos por grupos fascistas em diversas cidades. Depois que três crianças foram esfaqueadas e mortas, espalhou-se nas redes sociais uma informação falsa: o autor do crime seria um imigrante islâmico.

Foi o suficiente para que militantes da extrema direita saíssem às ruas para atacar violentamente imigrantes, incendiar carros, destruir mesquitas e confrontar policiais. Os ataques foram combinados principalmente pelo Telegram de Pavel Durov e pelo X de Elon Musk — dois espaços em que os fascistas podem desfrutar da tal liberdade expressão absoluta.

Musk deixou claro o que pensa. Em vídeo publicado no Twitter em que extremistas aparecem apontando rojões contra policiais, ele postou um comentário decretando que “a guerra civil é inevitável” no Reino Unido.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, respondeu que “não há justificativa” para a observação do bilionário e que há mais coisas que as empresas de mídia social “podem e devem fazer”. Segundo o governo britânico, Twitter e Telegram não agiram com rapidez suficiente para remover o “material criminoso” mesmo após dias de protestos e precisam “assumir essa responsabilidade”.

Musk passou então a atacar diretamente o primeiro-ministro, alimentando uma conspiração de que a polícia estava, por ordem dele, tratando com mais severidade os “manifestantes” brancos de extrema direita do que as minorias do país.

Durante a onda de violência, a esposa de um vereador do partido conservador britânico escreveu no Twitter que os hotéis que abrigam refugiados deveriam ser incendiados e arrematou: “se isso me torna racista, que assim seja”.

Ela foi condenada por incitar violência e racismo depois de confessar o crime em um julgamento. Mesmo assim, o Twitter não considerou que ela violou suas regras. Um outro extremista foi condenado a 38 meses de prisão após confessar ter compartilhado as mesmas mensagens. Musk foi ao Twitter para criticar a decisão judicial, chamando-a de “confusa”.

No final do ano passado, a União Europeia abriu uma investigação contra o Twitter por falta de transparência e disseminação de desinformação. A conclusão foi a de que a plataforma está violando as leis locais.

Musk então fez acusações de chantagem contra o bloco europeu: “A Comissão Europeia ofereceu ao Twitter um acordo secreto ilegal: se censurássemos discretamente a fala sem contar a ninguém, eles não nos multariam”.

Esse é o padrão do afrontamento que o bilionário impõe contra vários países do mundo. Musk tem saído por aí atacando governos e desrespeitando frontalmente a legislação dos países em que suas empresas atuam.

Claro que há exceções. A depender dos seus interesses políticos e/ou financeiros, ele pode ser dócil a um ditador ou parceiro de um governante alinhado à extrema direita. O Twitter foi transformado em uma ferramenta desse projeto político de Musk.

Mas é bom que Musk coloque as barbas de molho. Estados de diferentes países estão se levantando contra o vale tudo dos bilionários donos de rede social. Pavel Durov, dono do Telegram, foi preso pela justiça francesa por ser cúmplice de crimes cometidos por meio da sua plataforma como tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e pornografia infantil.

Tudo isso porque, em nome da liberdade de expressão absoluta, Durov se recusa a implantar qualquer tipo de moderação no aplicativo e a compartilhar documentos exigidos pelas autoridades.

O Brasil pode se orgulhar em ser um dos países em que o estado está agindo para frear o ímpeto fascistoide do homem mais poderoso do mundo. Musk tentou fazer suas próprias leis e conspirar contra o estado brasileiro, mas está sendo devidamente enquadrado pelo judiciário.

O Twitter foi suspenso do Brasil porque se recusa a bloquear perfis de investigados que conspiravam contra instituições democráticas e por descumprir sistematicamente decisões judiciais. Musk se recusa a pagar as multas — que hoje somam mais de R$ 18 milhões — e a apresentar um representante legal da empresa no país.

Carole Cadwalladr, colunista do The Guardian, exaltou a reação do Brasil: “É a primeira vez que um país ocidental impõe tal proibição (…). E, apesar dos esforços de Musk para retratar isso como o trabalho de um ‘pseudojuiz não eleito’ que quer destruir a liberdade de expressão para ‘fins políticos’, na verdade, isso se deve a outro conceito antiquado com o qual Musk não está familiarizado: o estado de direito”.

Mesmo com a suspensão do Twitter no Brasil, Musk segue atacando de maneira agressiva o ministro Alexandre de Moraes e até o presidente Lula, que nada tem a ver com as decisões da justiça.

Depois de passar meses atacando Moraes de todas as maneiras possíveis, o empresário agora se sente à vontade para fazer ameaças contra o governo brasileiro em sua rede social.

Nesta semana, ele insinuou que irá agir de alguma maneira para aprender ativos do governo brasileiro: “A não ser que o governo brasileiro devolva propriedades ilegais apreendidas do X e do SpaceX, nós vamos buscar reciprocidade na apreensão de ativos do governo também. Espero que Lula goste de voos comerciais”.

Trata-se de um gângster internacional que tem o apoio maciço do bolsonarismo e é tratado por parte da imprensa brasileira como um ativista da liberdade de expressão.

O homem mais rico do planeta é hoje o principal líder da extrema direita mundial, tendo roubado o posto que era de Steve Bannon — esquecido depois que foi preso e rompeu com Donald Trump.

Musk é um king kong chapado de ketamina com um metralhadora nas mão, disposto a destruir democracias em nome da sua ideologia disruptiva. Ele comprou uma das redes sociais mais influentes do mundo e deu passe livre para o esgoto nazifascista poder atacar negros, judeus, gays e todas às minorias que, segundo eles, ameaçam a civilização ocidental.

A prisão de Durov na França e o levante da justiça brasileira contra Musk sinalizam que os bilionários poderão começar a encontrar resistência em outros lugares do mundo. Talvez estejamos diante do início do fim de uma era de impunidade das empresas de mídia social.

NFL no Brasil: 7 comportamentos mostram jeito diferente de torcer

O primeiro jogo da história da NFL na América do Sul aconteceu nesta sexta-feira (6), na Neo Química Arena, com a vitória do Philadelphia Eagles sobre o Green Bay Packers por 34 a 29. O Torcedores.com acompanhou in loco a partida válida pela rodada inaugural da temporada regular da liga profissional de futebol americano. O esporte mais popular deles, no campo do nosso mais popular. A fusão das culturas de Brasil e Estados Unidos desde o início da noite, quando os dois nacionais foram executados, mostra diferenças notórias do modo de torcer em relação ao futebol com a bola redonda. A seguir, veja sete comportamentos típicos dos fãs da bola oval que foram vistos em São Paulo.

Interação com o telão

O telão é parte importante do jogo. Nele são comunicadas várias decisões de campo que não ficam claras em um primeiro momento. Os replays também são sempre assistidos e por vezes há até uma segunda comemoração de um lance bonito ou touchdown. Algumas brincadeiras como a ‘Kiss cam’, ou câmera do beijo, em que pessoas que são focalizadas pela câmera se beijam, geram bastante engajamento.

Diferentes níveis de vibração

No futebol, o gol é o momento máximo de emoção e vibração. Talvez só a defesa de pênalti do goleiro se equipare. No futebol americano, são vários os momentos de comemoração e em diferentes níveis de vibração. Quando o time avança muitas jardas, há uma efusividade, mas um tanto quanto contida. Por curiosidade, o tackle, quando um time consegue interceptar o ataque adversário, gera uma forte vibração. Isso acontece em poucos times de futebol, e por curiosidade um deles é o dono da casa que recebeu a partida. Os pontos extras, apesar de mexeram no placar, não proporcionam grande comoção. O ponto alto é o touchdown, a pontuação máxima (6) que é equivalente ao gol. 

Comilança durante o jogo

As filas para comprar comida e bebida estavam enormes, principalmente antes do início do jogo e no intervalo. Era fácil visualizar pessoas nas arquibancadas comendo seus x-burguers e pedaços de pizza enquanto assistiam ao jogo. Quem não estava comendo, bebia alguma coisa, que variava entre refrigerante, cerveja e até milkshake. Um olho no jogo, outro na comida.

Torcida misturada 

Os torcedores de Eagles e Packers ficaram misturados no estádio – e tudo numa boa. Nenhum princípio sequer de briga foi registrado, e cada um vibra na hora que seu time tem sucesso. O outro espera sua vez para fazer o mesmo. Quando um jogador do Packers saiu contundido, o estádio inteiro aplaudiu. Dá para imaginar um jogador do Palmeiras ser aplaudido pela torcida do Corinthians ao sair machucado e vice-versa? Difícil. O único local em que os torcedores dos times ficaram separados foi nos camarotes, onde os fãs adquiriram pacotes que incluíam trajeto de avião dos Estados Unidos até aqui, ingresso, hospedagem e alimentação.

Fãs mundiais que viajam de diferentes países

A reportagem do Torcedores.com se deparou com fãs que viajaram de diferentes países para acompanhar a partida. Além dos muitos norte-americanos que vieram seguir seus times, com maioria para os torcedores do Packers, fãs da Colômbia, Venezuela e México estiveram presentes.

Músicas durante a partida – e torcedores cantando junto 

Músicas de artistas famosos são tocadas invariavelmente durante a partida – algumas delas brasileiras para agradar ao público daqui. Todas proporcionaram grande envolvimento do público, que cantava em alto e bom som. Como o jogo para bastante, o DJ tem muitas oportunidades de expor o seu repertório.

Shows e apresentações 

Além do show do intervalo, que na partida inaugural da NFL no Brasil foi de Anitta, as cheerleaders também promovem espetáculo algumas vezes durante a partida.

Foto: Torcedores.com

Obsessão pela Série B

POR GERSON NOGUEIRA

Uma situação curiosa une neste momento os dois grandes rivais do futebol paraense: PSC e Remo têm a Série B como objeto de desejo, reféns da mesma obsessão. Um quer a todo custo permanecer e o outro sonha com o acesso à Segunda Divisão nacional.

São pretensões legítimas. O PSC subiu no ano passado e obviamente não quer desperdiçar o espaço tão arduamente conquistado. Como tem no momento 27 pontos, vai precisar conquistar pelo menos mais 18 pontos para alcançar os 45 considerados seguros para evitar o rebaixamento.

Não é uma missão simples. Restam 13 partidas (39 pontos) e o time está há nove rodadas sem vencer. A necessidade de quebrar essa sequência é tão premente quanto fundamental para recolocar o PSC na briga para alcançar a pontuação pretendida.

Será necessário vencer seis jogos, tarefa desafiadora para quem só conseguiu cinco vitórias em 25 rodadas. As próximas partidas serão contra Guarani (casa), América-MG (fora) e Sport (casa). Para recobrar a confiança, é fundamental ganhar os seis pontos como mandante.  

Já o Remo trava uma batalha pelo acesso à Série B, dependendo exclusivamente de suas forças para atingir o objetivo. Para um time que patinou na fase de classificação e entrou na bacia das almas, o começo da campanha no quadrangular foi auspicioso.

Com a vitória sobre o Botafogo-PB, líder geral da 1ª fase com 41 pontos, o Leão se credenciou para avançar em busca da vaga dentro do grupo B, que tem ainda a participação de São Bernardo e Volta Redonda.

Os trunfos azulinos se concentram na evolução demonstrada nas últimas apresentações, consolidando um sistema de jogo (3-4-3) que oscilou nas primeiras rodadas sob o comando de Rodrigo Santana.

Depois de insistir muito com a configuração de três zagueiros e utilizar jogadores diferentes na escalação, o técnico finalmente parece ter encontrado a formação ideal tanto na defesa quanto no meio-de-campo, desde a chegada do volante Bruno Silva.

Caso Leão e Papão tenham êxito em seus projetos, o Pará realizará o sonho de ter seus principais representantes na Série B depois de anos de espera. (Foto: Samara Miranda/Ascom Remo)

Defesa é arma azulina contra o São Bernardo

Após a excelente estreia no quadrangular, derrotando o Botafogo paraibano, o Remo se prepara para o segundo desafio. O adversário é o São Bernardo, nesta segunda-feira à noite, no interior paulista. Na briga pela liderança do Grupo B, o Leão tem que pontuar.

Ao longo da competição, foram duas vitórias fora de Belém, contra o Sampaio Corrêa e o Caxias. Nos dois jogos, o mérito esteve na capacidade de saber sofrer. Muito pressionado, o time sentia ainda os efeitos da pouca efetividade do sistema implementado por Rodrigo Santana.

Aos poucos, com vitórias em casa e tropeços fora, a campanha foi avançando. Desta vez, não perder faz toda a diferença. Deixaria o time invicto, avançando na pontuação e segurando o São Bernardo.

Os treinos da semana indicaram que Ligger e Bruno Silva voltam ao time e Ytalo deve ser mantido no comando do ataque. A defesa, ponto alto – apenas 2 gols sofridos nos últimos cinco jogos – do time, começando pela segurança de Marcelo Rangel no gol, terá papel crucial.  

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro apresenta o programa, a partir das 22h, com participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Em debate, a caminhada de PSC e Remo nas Séries B e C. A edição é de Lourdes Cezar e Lino Machado.

Decisão tardia para um desfecho esperado

Quando Hélio dos Anjos foi demitido, na madrugada de sexta-feira, 15 minutos após a entrevista coletiva que concedeu sobre o jogo com o Amazonas, fechou-se um ciclo de um ano de trabalho à frente do PSC. O período foi farto em vitórias importantes – acesso à Série B, Copa Verde e Parazão 50 – e em tretas desnecessárias.

Hélio, técnico à moda antiga que se orgulha dessa condição, não é propriamente um primor de sociabilidade. Problemas de relacionamento pipocaram ainda no período anterior ao Brasileiro. O mais notório foi a cisma com Esli García, que havia caído nas graças da torcida.

Aparentemente incomodado com a popularidade de Esli, o técnico barrou o atacante inúmeras vezes e atribuiu a ele problemas de condicionamento. Na Série B, para surpresa geral, Esli virou o artilheiro do Papão, fato que não melhorou a relação com Hélio, muito pelo contrário.

As últimas carraspanas ganharam visibilidade após o golaço de Esli contra o Goiás. O olhar dirigido ao treinador ganhou as redes sociais, confirmando que algo ia mal nas internas. 

Antes, houve o barraco com o executivo Ari Barros. As coisas azedaram e Hélio deu um ultimato à diretoria, pedindo a cabeça do desafeto. Ganhou a briga e Ari foi dispensado. Talvez ali fosse o momento certo para encerrar o ciclo. 

Os 9 jogos sem vitória acentuam e refletem a crise interna. A derrota para o Amazonas foi apenas a gota d’água para o epílogo, mas palavras mal formuladas por Hélio na entrevista final também ajudaram na queda.

O novo comandante será anunciado neste fim de semana. Como o fim do casamento parecia próximo, é improvável que o PSC não tenha encaminhado um plano B nas últimas semanas. Logo descobriremos quem é o escolhido para a missão de reabilitar o time no campeonato. 

(Coluna publicada na edição do Bola de sábado/domingo, 07/08)

A vida, morte e outra vida da SPIN

Por André Forastieri

A SPIN voltará a ser impressa. Edições trimestrais. A pauta da primeira é pra coroa, como era de se esperar: Jane´s Addiction, Rakim, Guided By Voices. As novidades são de dez anos atrás pra mais, Dwarves, Suki Waterhouse. Capa country genérico, porque diabos, Lainey Wilson.

A revista é a sombra da sombra que foi, trocou de donos várias vezes, o site é gelado etc. Mas o novo editor é o fundador da revista, Bob Guccione Jr., que nesta edição entrevista Bill Maher. E isso me deu vontade de ler.

Tem muito leitor pra revista, eu, por exemplo. O que não tem é publicidade pra revista, tirando segmentada ou de luxo, quando o anunciante precisa de algo mais que um clique para vender seu peixe.

No Brasil, a implosão da Abril, que dominava uns 80% das vendas e publicidade e 100% da distribuição, levou quase todo o mercado junto. Naturalmente, mesmo em países onde ainda existe um mercado saudável de revistas, elas não têm o papel fundamental que já tiveram.

Boa oportunidade para eu republicar este texto abaixo, homenageando o estrago que a Spin fez na minha vida, e que incluí no meu livro “O Dia Em Que o Rock Morreu”.

Celebro o passado e aceito que a Spin não esteja “de volta”. O tempo não volta. Nem mesmo os bons tempos. Mas vivemos em melhores.

SPIN: QUANDO AS REVISTAS ERAM TUDO

O Google digitalizou todas as edições da Spin, a segunda revista mais importante da minha vida. Ela apareceu e tornou a Rolling Stone obsoleta instantaneamente. Era mais punk, mais black, mais moleca, menos baba-ovo dos dinossauros do rock. Uma herdeira digna da revista mais importante da minha vida, a Heavy Metal.

A Spin está lá digitalizada, do início – julho de 1985 a outubro de 2009. Acompanhei de perto vários anos. Hoje compro anualmente. Por acaso, comprei a mais recente, com Courtney Love na capa, e “onde estão eles” – não resisto a essas pautas.

A primeira que comprei foi a de maio de 1986, Charlie Sexton na capa, bonito para caramba.

Você não pode ter noção do que era, com 20 anos de idade, pegar uma revista que tinha quadrinhos (Frank Miller), comediantes radicais (Sam Kinison), stand-ups politizados (Eric Bogosian), Glenn O’Brien explicando os Stones, uma folk singer surfista e lésbica (Phranc), as piores letras de canções punk de todos os tempos, o diretor Julian Temple falando de “Absolute Beginners”, Zarkons, Elvis Costello, Prince, Big Black, Diamanda Galas, uma baita reportagem sobre violência urbana… e uma entrevista com o Dr. Hunter S. Thompson.

Ler esta edição da Spin foi uma daquelas experiências que mudam a sua vida. Li muitas depois. Aprendi muito. Carreguei algo, muito da Spin para meus primeiros empregos – na Folha, na Bizz – e para a General, revista de que fui um dos fundadores e, vá lá, pivô inicial.

Eu podia ficar escrevendo aqui um ano sobre a Spin e caras que descobri lá e caras que escreviam lá. Ou sobre Bob Guccione Jr., fundador da Spin, filho do fundador da Penthouse.

Brigavam como, hmm, pai e filho. Ele começou a Spin com um empréstimo do pai. Perdia rios de dinheiro. Bob pai foi lá e fechou a revista. Bob filho arrumou uma grana e reabriu no mês seguinte.

Bob era o cara, e a Spin teve sua cara – e suas idiossincrasias – até 1997, quando vendeu o título. Depois lançou a Gear, comprou a Discover, perdeu, e sei lá o que faz hoje.

Bob era um personagem – como Jann Wenner na Rolling Stone, Hugh Hefner na Playboy. Arrumava brigas a torto e a direito. Axl Rose o chamou para a briga em “Get In The Ring”. Tinha fama de gay e de pegar a mulherada. Duas namoradas famosas: a hiperdireitista Ann Coulter e Candace “Sex & The City” Bushnell, a Carrie original.

Nestes dias de internet – que são muito melhores que os daquela época, acredite – toda informação do mundo está ao nosso alcance. Um resultado: bombas mentais de efeito concentrado deram lugar a traques.

A audição repetida, valorizada, focada de um álbum que custou caro e que você levou meses para conseguir comprar é uma experiência completamente diferente de ver um videozinho no YouTube ou baixar mil canções em cinco minutos.

Vale para revistas. Ninguém no século 21 atribuirá a importância que a gente atribuía a uma mísera edição de uma revista, a um livro que você releu cinco vezes, a um gibi amarelado. Perdemos muito. Ganhamos mais. A vida é assim.

Hunter naquela Spin: “a garotada olha para mim como se eu fosse de outro planeta.”