O passado é uma parada

Imagens do Canal 100 para o clássico Atlético x Cruzeiro disputam no estádio Mineirão a segunda partida da melhor de 3 jogos da decisão do Campeonato Estadual de 1967. Em ação pelo Cruzeiro, alguns astros de primeira grandeza, como Tostão, Natal, Dirceu Lopes e Raul. O título acabou conquistado pela Raposa na terceira partida (abaixo), com o placar de 3 a 0.

De coach a político: a fortuna de Pablo Marçal e as (muitas) perguntas sem respostas

Por Cláudio Castello de Campos Pereira *
Especial para o Congresso em Foco

A carreira política de Pablo Marçal como candidato à Prefeitura de São Paulo tomou o Brasil de surpresa. Ele desponta como um inegável fenômeno nas redes sociais, mas o crescimento veloz de sua fortuna e suas atividades empresariais, somadas às ligações questionáveis de figuras do seu partido com o crime organizado, demandam explicações. Restam, inclusive, dúvidas sobre o porquê de sua primeira entrada na cena eleitoral ter coincidido com um prejuízo de R$ 2 milhões em sua maior empresa.

Um dos principais ativos declarados por Marçal à Justiça eleitoral é a “Aviation Participações Ltda.”, com capital social registrado no montante de R$ 100 milhões. Embora o nome da empresa faça alusão ao setor de aviação, suas atividades registradas estão concentradas na administração, compra, venda e aluguel de imóveis próprios. A empresa foi constituída em outubro de 2021 e tem como sócios Pablo Marçal e Marcos Paulo de Oliveira.

Prejuízo

Na retórica triunfal de Marçal, tudo é sobre conquistas e vitórias, mas o balanço patrimonial mais recente, registrado na Junta Comercial de São Paulo, conta uma história um pouco diferente. O exercício de 2022, longe de refletir o brilho de um sucesso empresarial incontestável, apresentou um resultado econômico negativo de R$ 2.227.654,07, e tanto os ativos quanto os passivos somam modestos R$ 9.654.136,87. Parece que, em vez de decolar, a “Aviation” está mais próxima de um pouso forçado.

O prejuízo, por sinal, foi reconhecido pelo próprio candidato: a ata da assembleia deliberativa do último balanço registra que os sócios foram unânimes em identificar o resultado negativo no ano em que, coincidentemente, Pablo Marçal embarcou pela primeira vez na política, disputando inicialmente para presidente da república e, mais tarde, para deputado federal.

A reunião aconteceu em agosto de 2023, um ano antes de sua entrada na disputa pela prefeitura da capital. O Congresso em Foco questionou a assessoria de comunicação sobre quais fatores o candidato atribui ao prejuízo, e se, em sua avaliação, houve relação com a disputa eleitoral de 2022. Ainda não houve resposta.

Ata da assembleia deliberativa do último balanço registra prejuízo, mostra documento da Junta Comercial de São Paulo

Pablo Marçal tem um patrimônio declarado de R$ 193,5 milhões ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Muitas de suas empresas atuam em setores conhecidos por serem usados para lavagem de dinheiro, levantando suspeitas sobre a origem de sua riqueza e suas verdadeiras alianças.

Explosão sem respostas

Marçal apoiou Bolsonaro em 2022, mas sua ascensão este ano dividiu o campo bolsonarista.

Ex-coach e influenciador digital, ele construiu uma base sólida de seguidores, utilizando sua plataforma para expandir seu alcance em números exponenciais e lançando mão de técnicas inovadoras de marketing digital. A ascensão de Pablo Marçal não se limita à política paulistana. Ele tem conseguido, aos poucos, dividir o eleitorado conservador, colocando em risco a hegemonia de Jair Bolsonaro entre os eleitores de direita. Em eventos como o 7 de setembro, Marçal apareceu para dividir as atenções com Bolsonaro, e sua popularidade nas redes sociais só cresce.

Essa fragmentação da direita é preocupante para os bolsonaristas, que veem em Marçal um rival inesperado à hegemonia do ex-presidente, capaz de mobilizar um público jovem e insatisfeito com “as mesmas figuras políticas de sempre”. Ao contrário do ex-Capitão que adveio da estrutura de poder após quase três décadas como deputado, Marçal é, sim, um legítimo “outsider”.

Desconforto na direita

Sua ascensão, embora meteórica, não ocorre sem gerar desconforto. Jair Bolsonaro e outros líderes de direita (como Silas Malafaia) estão cada vez mais inquietos com o espaço que Marçal vem conquistando. Para um candidato que não depende de grandes partidos nem de tempo de TV, sua capacidade de mobilização nas redes e sua entrada no campo conservador mostram que ele não pode mais ser subestimado.

Contudo, a ascensão de Marçal vem acompanhada de um questionamento central que ele ainda não respondeu: como ele conseguiu acumular tamanha fortuna, declarada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em R$ 193,5 milhões, em um período de dez anos nas condições que são apresentadas agora, para o público? Tal fortuna, claro, não é compatível com a esmagadora maioria do empresariado, ainda que “coach” de palestras motivacionais e vídeos no YouTube.

Furto qualificado

Essa é uma das questões que mais intrigam observadores e críticos. Marçal tem um passado criminal relevante não ligado à política que merece destaque. Ele foi condenado por sua participação em meados dos anos 2000 por integrar um esquema de fraudes bancárias na internet, como parte da “Operação Pegasus” (Tribunal Regional Federal da Primeira Região; Processo nº 182459420054013500 / 2005.35.00.018391-1/GO), realizada pela Polícia Federal. Marçal foi condenado a quatro anos e cinco meses de reclusão por furto qualificado, após ser identificado como o responsável por capturar listas de e-mails que, posteriormente, eram infectadas com programas maliciosos.

O objetivo do esquema era roubar dados bancários para transferências fraudulentas. Marçal, no entanto, não cumpriu a pena: ela foi extinta pela prescrição, já que ele era menor 21 anos na época do cometimento dos crimes. Isso significa que ele não foi inocentado, mas sim que sua punibilidade foi extinta pelo tempo decorrido entre a condenação e o julgamento final.

De onde vem a fortuna?

Esse episódio, minimizado por Marçal e seus apoiadores quando questionados, revela um lado obscuro de sua história, que, combinado com seu rápido crescimento financeiro, levanta ainda mais preocupações com a verificação sobre a lisura de suas atividades empresariais. A pergunta que surge é como ele conseguiu, em apenas uma década, passar de um “coach” a um multimilionário, com um patrimônio declarado que impressiona até o mais otimista dos empresários.

A questão sobre sua evolução patrimonial é um ponto de grande dúvida. Quando empresários sérios olham para os números de Marçal, fica difícil acreditar que ele conseguiu acumular R$ 193,5 milhões em dez anos. A conta simplesmente não fecha. Amealhar uma fortuna de R$ 20 milhões, R$ 30 milhões nesse período seria algo crível. Porém, não há como acumular R$ 193 sem chamar atenção do meio empresarial.

Relembrando que a discrepância entre o valor declarado e o valor de mercado das empresas usualmente é maior, é de se presumir que, na realidade, seu patrimônio empresarial possa valer muito mais, já que capital social, frequentemente utilizado em registros formais, não reflete o valor real de uma empresa no mercado. Com maior razão pelas histórias de sucesso que Marçal gosta de alardear.

Cortes e suspeitas

Esse rápido acúmulo de riqueza, sem que haja clareza nos detalhes e aliado a outros fatos que margeiam a biografia do candidato, levanta suspeitas. A conta da evolução do patrimônio de Marçal é típica de fenômenos digitais que preferem apresentar versões de fatos, “cortes”, em vez de uma análise profunda. Marçal é um mestre no uso de “cortes”, que são cuidadosamente editados para entregar uma mensagem atraente, porém superficial. Seu público compra essas versões sem questionar se elas têm profundidade ou coerência com a realidade.

Na prática, o mundo real impõe restrições e complexidades que o discurso das redes muitas vezes ignora. Não é normal para alguém, em tão pouco tempo, acumular uma fortuna de R$ 193,5 milhões comprando e vendendo terrenos e operando em setores que exigem alto investimento inicial. Usualmente, a construção de uma fortuna genuína, que se sustenta ao longo do tempo, está intrinsicamente ligada ao trabalho árduo, à dedicação e ao esforço constante. Ganhar dinheiro dá muito trabalho. Mantê-lo, idem. Não perder esse capital, também. Quem tem essas cifras costuma não ter tempo a se dedicar a redes sociais.

20 setores

Momento em que Datena atira cadeira contra Marçal durante o debate da TV Cultura. Foto: Reprodução

E isso é um ponto importante. Para acumular uma fortuna tão grande em um período tão curto, seria necessário ter lucros consistentes e bem acima da média de mercado, com dedicação e foco. No entanto, Marçal ainda não explicou consistentemente de onde vem a maior parte de seus recursos. Ele afirma atuar em mais de 20 setores diferentes, o que levanta ainda mais dúvidas. É possível que, em apenas dez anos, uma pessoa domine tantos setores e consiga um crescimento financeiro dessa magnitude, dedicando-se tanto às atividades em redes sociais?

A grande pergunta que precisa ser respondida para quem pretende assumir a maior capital brasileira e, tal como um certo “gestor” que já prefeitou antes em São Paulo, precisa ser respondida é: de onde vem a fortuna de Pablo Marçal? Como alguém que começou com um trabalho de coach e influenciador digital pode, em uma década, acumular tanto capital de modo nada usual, especialmente considerando o tempo e esforço necessários para manter e expandir uma fortuna dessa magnitude? Essas questões não podem ser ignoradas pelo eleitor (como estão!) e a falta de explicações claras sobre seu crescimento patrimonial levanta suspeitas sobre a origem de sua riqueza.

PCC

A candidata Tabata Amaral (PSB), entre outros adversários políticos, já levantou publicamente essas questões. Em seus vídeos, Tabata tem questionado diretamente a origem dos recursos de Marçal e as possíveis ligações obscuras em torno de sua fortuna. E, ao que parece, ela não está sozinha. Empresários sérios também observam com ceticismo a trajetória do candidato, questionando como ele conseguiu multiplicar seu patrimônio de forma tão rápida e “heterodoxa”, e em setores onde o lucro não é tão garantido quanto ele afirma.

Tabata Amaral questiona ligações de Pablo com acusados de integrar o PCC. Foto: Reprodução/Twitter

O que poderia ser uma narrativa de “sucesso empreendedor” esconde aspectos complexos que envolvem empresas em setores sensíveis, como aviação e imóveis, que coincidem com atividades associadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

Outro destaque de seu patrimônio é a “Marçal Loteamento Participações Ltda.”, outra empresa envolvida no setor imobiliário, com um capital social declarado de R$ 100 mil. Sem conhecer o negócio, não é possível opinar se um capital social desse montante transmite segurança à atividade de loteamentos, ainda que essa atividade envolva patrimônios vultosos. Mas é fato que, sem que possamos afirmar se há alguma relação com facções criminosas ou se há algum crime, essas atividades de loteamento são frequentemente utilizadas para disfarçar grandes somas de dinheiro ilícito.

A polícia já demonstrou que o PCC tem controle direto sobre negócios imobiliários em várias regiões do Brasil, sendo um mecanismo eficiente para lavar dinheiro proveniente do tráfico de drogas e outras atividades ilícitas.

Conexões sombrias

Um dos nuances mais intrigantes da trajetória de Marçal é a conexão com Florindo Miranda Ciorlin, um piloto e empresário acusado de atuar na aquisição e ocultação de aeronaves para traficantes. Florindo é acusado de ser uma peça-chave no transporte de grandes quantidades de cocaína da Bolívia para o Brasil, operação ligada diretamente ao PCC.

Em 2021, Marçal concedeu a Florindo uma procuração para representá-lo junto a órgãos federais, o que coloca Marçal em uma posição desconfortável. A relação entre eles, especialmente quando se considera a associação de Florindo com atividades ilícitas, pode levantar suspeitas sobre as operações da “Aviation Participações” e o uso de empresas de fachada para disfarçar negócios ilícitos, já que o nome sugere envolvimento com a atividade de aviação.

Essa conexão entre Marçal e Florindo é particularmente preocupante, pois se encaixa no padrão já conhecido de uso de empresas no setor de aviação e imóveis como canais para a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. O PCC, como uma organização fortemente estruturada, utiliza esses mesmos métodos para manter suas operações longe do radar das autoridades, e a presença de figuras como Florindo no círculo empresarial de Marçal reforça a necessidade de o eleitor conhecer mais as “histórias de sucesso” vertiginoso do ex-coach.

Partido enrolado

Investigações recentes revelaram que figuras importantes do partido, como o seu presidente, Leonardo Avalanche, estão ligadas diretamente a operações de tráfico de drogas. Foto: Instagram

Além das atividades empresariais de Marçal, seu partido, o PRTB, está imerso em controvérsias que envolvem o PCC. Investigações recentes revelaram que figuras importantes do partido estão ligadas diretamente a operações de tráfico de drogas. Um exemplo é Tarcísio Escobar de Almeida, ex-presidente estadual do PRTB, acusado de trocar carros de luxo por cocaína para a facção. Ele e Júlio César Pereira (Gordão) foram implicados em esquemas que financiaram o tráfico de drogas com bens de alto valor, utilizando esse mecanismo como uma forma de lavar dinheiro para o PCC.

Ambas as figuras são ligadas a Leonardo Avalanche, presidente nacional do PRTB e aliado próximo de Marçal (que já deu declarações isentando seu líder partidário de ligações com a facção criminosa).

“Banco do crime”

Essas conexões são alarmantes, uma vez que o próprio partido de Marçal está implicado em esquemas que beneficiam o crime organizado. As investigações sugerem que o PCC criou uma espécie de “banco do crime”, envolvendo dezenas de empresas de fachada para lavar dinheiro e financiar candidaturas políticas, movimentando mais de R$ 8 bilhões.

O fato de Marçal se associar a essas figuras e se suas empresas não serem conhecidas para um empresário que declara quase R$ 200 milhões amealhados em uma década (enquanto expande suas operações empresariais nos mesmos setores onde o PCC atua), é uma coincidência que não pode ser ignorada.

Outro aspecto crucial é o financiamento da campanha de Marçal. Candidato pelo PRTB, um partido de pouca expressão, sem acesso significativo ao fundo partidário e com tempo mínimo de propaganda eleitoral na TV, Marçal, ainda assim, conseguiu manter uma campanha de alta visibilidade. Seu domínio sobre o cenário digital e sua forte presença nas redes sociais levantam questões sobre a verdadeira origem dos recursos que sustentam sua impressionante estrutura de campanha, para além de seus milhões de seguidores.

Mais perguntas que respostas

A ascensão de Pablo Marçal no cenário político brasileiro levanta mais perguntas do que respostas. Seu patrimônio declarado, as atividades empresariais e as conexões com figuras ligadas ao crime organizado criam um cenário de suspeitas que precisam ser investigadas com seriedade. O que parece ser uma história de sucesso nas redes sociais pode esconder uma teia de interesses obscuros que envolvem facções criminosas e o uso de empresas de fachada para lavagem de dinheiro.

Com a gravidade das suspeitas que pairam sobre a candidatura Marçal, o eleitor e as autoridades precisam exigir respostas claras e uma investigação rigorosa sobre a origem de sua fortuna e suas conexões. Essa explicação não virá do candidato. Talvez porque explicar o impossível seja realmente uma tarefa difícil, mesmo para um coach de sucesso. O Brasil não pode permitir que facções criminosas utilizem a política como fachada para expandir seu poder e influência.

Colaborou Lucas Neiva

* Ex-ouvidor da Câmara Municipal de São Paulo. Advogado formado em Direito pela Faculdade de Direito da USP e especialista em controle social de políticas públicas pela Escola do Tribunal de Contas do Município de São Paulo.

Fogo para lobbies

Por Heraldo Campos (*)

Nessa secura do clima, aumentada pela fumaceira provocada pelos incêndios criminosos nas matas dos vários biomas do território brasileiro, parei outro dia numa mercearia para tomar uma “água que o passarinho não bebe”, porque ninguém é de ferro.
Por acaso, o aparelho de som do estabelecimento comercial estava tocando a enigmática composição “Alcohol” de Jorge Ben Jor, do ano de 1994, e que não ouvia há algum tempo. Um pequeno trecho dessa canção diz que “A caça ao fantasma continua porque / O fogo é mais antigo que o fogão”, o que me fez lembrar de artigo que escrevi nessa época sobre os lobbies das águas [1].
Assim, nesse cenário dos dias de hoje, como o país está em chamas, a pergunta que me vem à cabeça é “a quem interessa a terra arrasada pelos incêndios”? O cidadão comum, trabalhador, parece que não tem sossego no seu dia a dia. Está sujeito aos mais variados tipos de pressões e de constrangimentos que interferem, drasticamente, no seu bem estar, da sua família e dos seus amigos.
Por isso, será que o fogo para lobbies está a serviço da boiada nas águas [2], dos grileiros de condomínios [3], dos garimpeiros ilegais [4], entre outros conhecidos grupos de especuladores e de predadores do meio ambiente? A investigação sobre os responsáveis por riscar o fósforo, propositadamente, na vegetação seca, deve se estender e baixar a lupa para chegar aos possíveis mandantes desses crimes ambientais. Espera-se que a caça aos supostos “fantasmas incendiários” continue, a justiça seja feita, os danos ambientais sejam contabilizados e a conta enviada para ser paga aos maldosos interessados no caos social.
Os números do estrago são alarmantes. Segundo dados recentes “Nos últimos dois dias, o Brasil concentrou 71,9% de todas as queimadas registradas na América do Sul. De acordo com dados do sistema BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram 7.322 focos de incêndio nas últimas 48 horas até a sexta-feira (13).”, informa o site Brasil de Fato [5].

“Minha esperança é necessária, mas não é suficiente. Ela, só, não ganha a luta, mas sem ela a
luta fraqueja e titubeia.”
(Paulo Freire)

Fontes
[1] “Alcohol: para desinfetar os lobbies da água” artigo de 03/04/1994.
Publicado no “Caderno Folha Vale” do jornal “Folha de São Paulo”.
[2] “A boiada nas águas” artigo de 11/06/2020.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2020/06/a-boiada-nas-aguas-cronica-de-heraldo.html
[3] “Grileiros de condomínio” artigo de 17/11/2020.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2020/11/grileiros-de-condominio.html
[4] “Conhecer a Amazônia antes que acabe” artigo de 03/12/2023.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2023/12/conhecer-amazonia-antes-que-acabe.html
[5] “Brasil concentra 71,9% das queimadas na América do Sul nas últimas 48h”.
https://www.brasildefato.com.br/2024/09/14/brasil-concentra-71-9-das-queimadas-na-america-do-sul-nas-ultimas-48h

(*) Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976),
mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da
USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e
Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).

Muita luta e pouca inspiração

POR GERSON NOGUEIRA

O empate não foi o fim do mundo, mas frustrou os mais de 45 mil torcedores que lotaram o Mangueirão, ontem, mas o resultado tem uma explicação simples. Contra o mais forte adversário que enfrentou na Série C, faltou ao Remo o que sobrou na estreia contra o Botafogo: inspiração para buscar os caminhos que levam ao gol.

Um outro problema: na partida inaugural do quadrangular, o Remo foi agressivo desde o começo, sufocando e intimidando o adversário com ações pelos lados. Em função disso, transformou o 1º tempo num confronto de ataque contra defesa, criando diversas situações perigosas na área inimiga e estabelecendo vantagem no placar.

Contra o Volta Redonda, que se postou melhor no tempo inicial, o Remo teve a posse de bola, buscou atacar com os lados como normalmente faz, mas faltou contundência e intensidade. Por isso, mesmo chegando com perigo em vários momentos, só teve duas chances claras, ambas com Ytalo, uma delas de frente para o goleiro.

Há um outro aspecto que precisa ser considerado. Pavani e Jaderson, estratégicos para o funcionamento tático do Remo, tornaram-se figuras carimbadas e mapeadas pelos outros times. A movimentação de ambos na articulação inicial das jogadas foi bem marcada pelos volantes Bruno Barra, Robinho e Henrique Silva, do Voltaço.

Nos raros momentos em que conseguiu escapar, Raimar não conseguiu dar andamento às jogadas. Foi a pior atuação do ala neste quadrangular. Coincidentemente, foi o primeiro jogo sem a participação de Sávio, zagueiro interior esquerdo, que faz dupla com ele.

Pela direita, Diogo Batista quase não foi à linha de fundo na dobra com Pedro Vítor, outro que esteve em nível abaixo ontem. Diogo só marcou presença na cobrança de falta, que passou rente ao travessão.

Depois do intervalo, o Remo ocupou o campo de defesa do Volta Redonda. Apesar da insistência com bolas altas e infiltrações pelos lados, a bola não chegava para Ytalo, policiado pelos zagueiros Lucas Souza e Fabrício. Quando chegou, após escanteio, o gol saiu, mas foi anulado.

Rodrigo Alves, que substituiu Bruno Bispo e entrou muito bem, mandou uma bola no travessão do goleiro Jean Drosny em cobrança de falta. Foram os lances agudos do Remo, insatisfatórios para o tamanho do domínio de espaço e o controle da posse de bola.

Ao Leão faltaram ideias para romper o forte bloqueio defensivo do Volta Redonda nos 20 minutos finais. O visitante se fechava com nove jogadores atrás da linha de bola, mantendo apenas Bruno Santos adiantado.

Se não foi trágico para o Leão, mudou um pouco a perspectiva de acesso: com 5 pontos, terá que pontuar no Rio de Janeiro e voltar para decidir o acesso no Mangueirão contra o São Bernardo.

Papão quebra jejum e Fiel volta a acreditar

Com a virada de 2 a 1 sobre o Guarani, sábado à tarde, no estádio da Curuzu, o PSC quebrou o jejum de nove jogos sem vencer na Série B e deixou claro que o torcedor pode voltar a confiar no time. Pode-se considerar que a estreia de Márcio Fernandes foi plenamente exitosa.

O triunfo chegou a ficar ameaçado pelo desempenho confuso nos primeiros 45 minutos. Depois de um bom começo, com pressão sobre o Guarani e duas boas finalizações (Esli García e Kevyn) contra o gol de Wladimir, o Papão afrouxou as linhas e aceitou a evolução do adversário.

Com investidas de Caio Dantas e Marlon, o Bugre botou pressão sobre a zaga bicolor. Depois, achou o caminho do gol após cruzamento de Pacheco desviado pelo zagueiro Douglas Bacelar, que testou para as redes.

Ficou a impressão de falta sobre Nicolas no lance, mas o VAR considerou o lance normal. A partir daí, o Guarani ainda levou perigo e quase ampliou. O PSC insistia em cruzamentos inúteis, irritando a torcida, que focou principalmente em Edilson, Cazares e Nicolas.

Para reagir e exorcizar a má fase, Márcio Fernandes trocou Yony Gonzalez e Juan Cazares por Jean Dias e Borasi. Deu certo. Logo aos 2 minutos, em cruzamento rasante de Edilson, Jean tocou a bola para o fundo das redes após defesa parcial de Wladimir. Festa na Curuzu.

O time ganhou confiança e partiu para a virada, que veio aos 9’, em nova jogada de Edilson, que se redimiu do mau começo. Desta vez, o cruzamento foi pelo alto e acabou desviado por Kevyn.

A vitória estava encaminhada, mas a torcida ainda sofreu alguns sustos. Aos 16’, o bom Caio Dantas mandou uma bola na trave. Logo depois, o zagueiro Lucas Maia quase botou a bola para dentro em cortes esquisitos.

Quando soou o apito final, deu para escutar um imenso “ufa!” da plateia de 10 mil pessoas na Curuzu. No final, uma vitória sofrida, mas merecida.  

Quarentinha, a estrela eterna do Alvinegro

Ontem, Quarentinha, o maior artilheiro da história do Botafogo, faria 91 anos. Era um camisa 9 clássico, perfeito no jogo aéreo e implacável no aproveitamento de bolas pelo chão. Longilíneo, rápido como a flecha e dono de um canhão nos pés.

Marcou 313 gols com o manto sagrado do Glorioso. Foi um ídolo curiosamente conhecido pelo silêncio, até nas comemorações de gols. Ganhou a fama de artilheiro que não vibrava, o que não é verdade. Quarentinha era apenas discreto, elegante, diferente.

Uma glória do Botafogo e do futebol brasileiro. Honrou a Seleção Brasileira, com 17 gols em 17 gols, a segunda melhor média de um goleador no escrete canarinho. Chegou a vestir a camisa 10 do Brasil, em 1959, com Pelé usando a 9.

Waldir Cardoso Lebrêgo era paraense, começou a carreira no Paysandu e depois seguiu para o Botafogo, onde se consagrou nacionalmente. Partiu em 1996, com apenas 66 anos.

Viva Quarentinha!   

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 16)

Papão supera Guarani de virada e se afasta do Z4

Na estreia do técnico Márcio Fernandes, com dois gols marcados no início do segundo tempo, o PSC derrotou o Guarani por 2 a 1, neste sábado, na Curuzu, quebrando o jejum de nove partidas sem vitórias. O resultado fez a equipe subir da 16ª para a 14ª colocação.

O primeiro tempo foi disputado em ritmo forte e movimentado. Esli García e Kevyn quase abriram o placar, antes dos 10 minutos, mas aos poucos o Guarani passou a explorar o contra-ataque e a levar perigo à meta de Diogo Silva.

Aos 21 minutos, em cruzamento de Luan Dias, o zagueiro Douglas Bacelar subiu mais que a zaga bicolor e desviou de cabeça para o fundo das redes. O gol desnorteou os bicolores por alguns minutos, provocando vaias da torcida. Até o final da primeira etapa o time paraense forçou jogadas na área do Guarani, mas não conseguiu chegar ao empate.

No intervalo, o técnico Márcio Fernandes substituiu Yony Gonzalez e Juan Cazares por Jean Dias e Borasi, injetando mais velocidade ao ataque do Papão. A mudança deu certo. Logo aos 2 minutos, Edilson bateu rasteiro em direção ao gol, a bola passou pelo goleiro Wladimir e foi desviada por Jean Dias antes de escapar pela linha de fundo.

O empate animou o Papão, que seguiu buscando a virada. Aos 9 minutos, em nova investida de Edilson pela direita, a bola foi cruzada na pequena área, onde Kevyn apareceu para empurrar para as redes. Instantes depois, Caio Dantas chutou uma bola na trave de Diogo Silva, assustando a torcida.

Aos poucos, porém, o PSC foi se organizando na defesa e conseguiu resistir às tentativas de pressão por parte do Guarani. O triunfo foi muito festejado pelos jogadores e a comissão técnica, sob aplausos da torcida presente à Curuzu – cerca de 10 mil pessoas.

Em sintonia com a massa

POR GERSON NOGUEIRA

O Remo enfrenta o Volta Redonda, neste domingo, no Mangueirão, com a ideia fixa de conquistar a vitória para assumir a liderança do Grupo B e se credenciar ao acesso. Nos grandes jogos do time na competição, a presença maciça da torcida representou papel crucial para alcançar a vitória.

Aquela lenga-lenga de que torcida não ganha jogo é argumento de times que não têm força nas arquibancadas. Qualquer equipe gostaria de contar com o incentivo e o barulho das multidões. Estima-se que o público desta vez chegue a 50 mil torcedores no Mangueirão.

Além do reforço que representa para o time da casa, um público desse porte é um poderoso fator de intimidação para o visitante. Foi assim contra o Londrina e o Botafogo-PB, times que visivelmente sentiram o impacto de jogar contra o Fenômeno Azul.

Para potencializar essa força é necessário impor um ritmo forte em campo, com ataques constantes desde os primeiros minutos. A tarefa deve ser facilitada porque o Remo não tem baixas. O time será o mesmo dos últimos jogos, com a manutenção do sistema 3-4-3.

A presença de Jaderson ao lado de Ytalo e Pedro Vítor qualifica as ações ofensivas, pois significa passes em velocidade e explorando espaços na defesa adversária. Caso Rodrigo Alves entre, como ocorre normalmente no 2º tempo, a equipe troca a imposição física por velocidade pelos lados.

Desde que o Remo passou a jogar com três zagueiros, a participação dos alas Diogo Batista e Raimar tornou-se decisiva. Todas as ações passam necessariamente pelos corredores laterais. As jogadas dobradas, envolvendo os atacantes, sempre resultam em boas situações na área inimiga.

Diante de um Volta Redonda que tem uma zaga alta, mas com dificuldades de recuperação, Diogo e Raimar podem fazer a diferença, de novo. Sufocar desde o início depende do espaço que ambos terão para avançar.

Pelo caráter decisivo, o jogo tende a ser tenso, exigindo de time e torcida a necessária tranquilidade para buscar o resultado desejado. (Foto: Rodrigo Bentes/Bancada Azulina)

Papão determinado a quebrar o jejum

É questão de honra. O PSC vai para cima do Guarani, neste sábado à tarde, disposto a conquistar a vitória e provar que é capaz de alcançar um posicionamento mais digno na Série B. A entrada em cena de um novo técnico é o fator que pode dar ao time a motivação necessária para mudar de postura na competição.

As nove partidas sem vitória deixaram o time inseguro, principalmente nas partidas realizadas na Curuzu. O revés diante do Amazonas é lembrado por todos como um exemplo da instabilidade emocional da equipe, que mesmo sendo superior em campo acabou derrotada.

A lição deixada pelo jogo contra os amazonenses está bem viva entre os jogadores. A troca de comando chegou no momento certo, fazendo com que os problemas pudessem ser enfrentados de maneira mais serena e sem traumas.

O astral interno também mudou, permitindo ao técnico Márcio Fernandes a oportunidade de contar com todos os titulares, algo raro nas últimas rodadas sob a direção de Hélio dos Anjos.

A partir dos poucos treinos realizados, o novo comandante optou por um time modificado. A começar pelo meio-de-campo, onde três volantes (João Vieira, Leandro Vilela e Val Soares) terão a missão de marcar e construir. Cazares e Juninho, homens de criação, ficam de sobreaviso.

Para o ataque, Esli García finalmente volta à condição de titular, ao lado de Yony González e Nicolas, que parece ter recuperado a melhor forma.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro apresenta o programa neste domingo, às 22h, na RBATV, com a participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Em pauta, os resultados de PSC e Remo nas Séries B e C, respectivamente. A edição é de Lino Machado.

Precisamos falar desse novo Vasco

De saco de pancadas da Série A até quase o final do primeiro turno, o Vasco sofreu uma transformação ao longo do returno. Saiu da zona de rebaixamento e passou a frequentar a primeira página da classificação, superando as oscilações defensivas que geraram vexames como a goleada de 4 a 1 para o Criciúma, em São Januário.

Nos últimos jogos, o Vasco tem se mostrado um time cada vez mais confiante em suas próprias possibilidades, a partir do encaixe do setor de marcação e da excelente fase do centroavante Pablo Vegetti.

A participação do técnico Rafael Paiva é fator preponderante na mudança de cenário. Desde que assumiu o cargo, o Vasco se redescobriu. A zaga, que era uma das piores do Brasileiro, ganhou segurança a cada jogo.

Além disso, o Vasco virou um forte concorrente também na Copa do Brasil, como ficou evidente na decisão contra o Athletico-PR, em Curitiba. Mesmo com um jogador a menos, controlou a pressão e levou a disputa para os pênaltis, onde triunfou e obteve a classificação à semifinal.

O confronto foi emocionante e teve em Léo Jardim e Vegetti os grandes heróis da noite, algo extremamente precioso para uma torcida que há tempos vive a carência de ídolos e de emoções tão positivas.

Neste domingo, pela Série A, o Vasco reencontra o Flamengo no Maracanã, depois de ter sofrido uma goleada impiedosa no turno. A questão é que aquele era um outro Vasco, distante de suas melhores tradições. 

(Coluna publicada na edição do Bola deste sábado/domingo, 14/15)

Lula inaugura o maior centro de processamento de gás da Petrobras

Em visita ao município de Itaboraí, no Rio de Janeiro, o presidente Lula inaugurou, nesta sexta-feira (13), o Complexo de Energias Boaventura, o maior centro de processamento de gás natural da Petrobras. Na chegada à cerimônia, ao lado de correligionários e paramentado com o colete refletivo laranja, Lula foi ovacionado pelos funcionários da estatal. O nome polo industrial energético é uma homenagem ao Convento São Boaventura de Macacu, cujas ruínas do século XVII foram preservadas pela Petrobras.

O Complexo de Energias Boaventura é capaz de processar, por dia, 21 milhões de m³ de gás natural, vindos diretamente do pré-sal da Bacia de Santos, por meio do gasoduto Rota 3. Nos próximos anos, a Petrobras prevê ainda a instalação de unidades de produção de lubrificantes, diesel e combustível de aviação, além de duas termelétricas. Com essa iniciativa, o governo federal pretende ampliar a oferta de gás no mercado nacional e reduzir a dependência das importações, melhorando as condições de vida do conjunto da população.

Em discurso forte, Lula defendeu a soberania nacional, criticou a venda de ativos da Petrobras por seus antecessores e rechaçou o Brasil enquanto um “mero importador de tudo”. “Porque, na verdade, nas compras governamentais, é a possibilidade que o Estado tem de favorecer pequenas e médias empresas brasileiras a produzirem aqui no Brasil, com tecnologia brasileira, com mão de obra brasileira, com salário brasileiro, com aço brasileiro, para que a gente possa, então, fazer com que esse país cresça, se desenvolva”, afirmou.

“Nós somos um país grande, muito grande. E esse país precisa gostar de ser grande, gostar de ser respeitado”, enfatizou o presidente, sob os aplausos dos funcionários da Petrobras.

Soberania nacional

O presidente criticou, com veemência, a propaganda massiva por parte da imprensa comercial, sempre enaltecendo o setor privado e mirando fogo no público, tachando este último de corrupto e ineficiente. Lula fez menção à Operação Lava Jato, que, para ele, foi um instrumento da burguesia brasileira para estigmatizar a Petrobras junto à opinião pública e entregá-la à iniciativa privada. O petista argumentou que a privatização de companhias importantes não melhorou em nada a vida da população.

“A Vale, ela está melhor agora que foi privatizada ou ela era melhor quando ela era uma empresa do Estado brasileiro? A Eletrobras está melhor agora ou estava melhor quando estava na mão do Estado? Se não fosse a Eletrobras, a gente não fazia Santo Antônio, não fazia Jirau, não fazia Belo Monte”, pontuou, antes de reclamar dos salários astronômicos dos CEOs dessas empresas atualmente, sem, no entanto, nenhum retorno para o país por parte delas.

“A Petrobras não está à venda”

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), ressaltou a estratégica mudança nos rumos do país proporcionada pelo retorno de Lula à Presidência da República e foi muito aplaudido por isso. “A Petrobras, sob a liderança do presidente Lula, não está mais à venda”, bradou Silveira.

“O governo do presidente Lula reverbera o grito atravessado na garganta de petroleiras e petroleiros, das petroquímicas e petroquímicos. E esse grito diz, de forma clara e altiva: ‘defender a Petrobras é defender o Brasil’”, completou o ministro.

Já a presidenta da Petrobras, Magda Chambriard, referiu-se ao Complexo de Energias Boaventura como “grandioso”. “Isso aqui é muito mais do que uma unidade de processamento de gás natural, muito mais do que 21 milhões de m³, por dia, de gás para a costa. Isso aqui é um investimento total de R$ 20 bilhões”, contabilizou Chambriard.

Patrimônio cultural

Dentro do Complexo de Energias Boaventura, o sítio arqueológico da Fazenda Macacu é o lar do Convento São Boaventura e da Torre da Igreja Matriz de Santo Antônio de Sá, patrimônio histórico nacional tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 28 de abril de 1980. As ruínas históricas, resquícios de construção iniciada em 1660 e concluída 10 anos depois, foram conservadas pela Petrobras.

“É um patrimônio histórico de grande relevância para o país, para o estado e para o município de Itaboraí”, explica o engenheiro civil da estatal petrolífera Antônio Carlos, que tem mais de 20 anos de experiência na preservação de patrimônios históricos.

O Convento de São Boaventura foi erguido para abrigar padres franciscanos na extinta Vila de Santo Antônio de Sá. Com o surto de malária e cólera que assolou Macacu, no século XIX, o convento foi abandonado. As ruínas passaram a ser propriedade privada 100 anos depois.

Uma ameaça crescente

Por Paulo Baldin (*)

A história até parece roteiro de ficção científica. Há quase 40 anos, Basit Farooq Alvi e Amjad Farooq Alvi, dois irmãos paquistaneses criaram o Brain, considerado o primeiro vírus de computador do mundo.

O objetivo do vírus era proteger o software médico que haviam criado contra cópias não autorizadas, mas, no entanto, ele acabou se espalhando amplamente via disquetes, invadindo computadores que utilizavam o sistema MS-DOS e modificando o boot dos computadores (o processo de inicialização da máquina).

Naquele momento, ninguém imaginava que a ação “bem-intencionada” dos irmãos traria um novo elemento para o mundo da tecnologia, impactando diretamente o dia a dia de pessoas, empresas, instituições, dentre outras: as ameaças cibernéticas.

Aqui, não estamos falando dos vírus de computador, como o famoso I Love You, que se espalhava por e-mails e causou muita dor de cabeça nos anos 2000, quando infectou máquinas e corrompeu arquivos. Mas das grandes ameaças cibernéticas que começaram a crescer e tomar proporções inimagináveis a partir dos anos 2010.

Ao longo desses quase 15 anos, vimos o surgimento de ameaças cibernéticas extremamente destrutivas, como os ataques DDoS, também conhecidos como ataques de negação de serviço, onde botnets bombardeiam sites e servidores com solicitações, até que eles fiquem lentos, instáveis ou caiam; os ataques ransomware, também conhecidos como sequestros de dados; e o phishing, que tem como objetivo roubar dados e informações de pessoas e empresas.

Essas ameaças geraram alguns momentos emblemáticos na história da cibersegurança, como os ransomware WannaCry, que explorou uma vulnerabilidade do Windows, infectando mais de 230.000 computadores em 150 países, e o NotPetya, um ataque de ransomware, disfarçado como um ataque financeiro, que na verdade era destinado a destruir dados e teve grande impacto em empresas globais, ambos em 2017.

Contudo, assim como os vírus de computador deram lugar aos ataques DDoS, ransomware e phishing, a tendência é que essas ameaças também deem lugar a ameaças ainda maiores.

O mais emblemático, é que já estamos vendo no horizonte o surgimento de algumas delas, principalmente a partir de 2022, com o início da Guerra da Ucrânia. São ataques hackers ainda mais amplos, complexos e avançados, que, dessa vez, miram infraestruturas críticas, como saúde e logística, muitas vezes realizadas por países.

É verdade que não existem provas concretas, mas existem diversas ocorrências recorrentes envolvendo grupos hackers patrocinado por importantes nações. Trata-se de uma verdadeira guerra mundial cibernética, que ocorre de forma silenciosa e discreta.

A grande questão é que, ao termos Estados patrocinando ou apoiando grupos hackers, damos condições das ameaças se tornarem ainda mais destrutivas.

Já estamos vendo algumas tecnologias ganhando força, como a própria Inteligência Artificial e a Computação Quântica, que, provavelmente, serão fontes de ameaça no futuro.

Cabe, portanto, aos países, empresas e pessoas se anteciparem a essas ameaças, de forma a se prepararem e se capacitarem para lidar com elas.

Infelizmente, o Brasil ainda precisa percorrer uma longa estrada. Empresas e instituições ainda não se prepararam para isso, seja por falta de capital ou, até mesmo, de maturidade tecnológica para entender que a ameaça cibernética é real e que, cedo ou tarde, baterá à porta.

Individualmente, precisamos criar uma educação cibernética desde cedo, ensinando crianças e jovens sobre ameaças e proteções.

Caso contrário, aqueles cenários de ficção cientificam devastadores que vemos em filmes podem se tornar realidade, infelizmente.

(*) Paulo Baldin é CISO & CTO da Flipside, responsável pelo Mind The Sec

Como parar o Ecocídio – e fazer eles pagarem

O apocalipse ambiental ganhou uma nova definição jurídica. É hora de botar no banco dos réus os presidentes das empresas poluidoras – e dos países também

Por André Forastieri

Ecocídio. Palavra precisa, provocante, poderosa. Como é possível que tivesse escorregado da minha memória? Pois tinha até reencontrar essa semana numa matéria do Guardian.

A primeira vez que esbarrei no conceito foi através do advogado, professor e autor Philippe Sands. Ele advoga em cortes internacionais como Haia. É referência na defesa dos direitos humanos. Argumentou pela Palestina este ano na Corte Internacional de Justiça.

Em seu livro “East West Street”, Sands explica como se originaram e diferenciam os conceitos jurídicos de “genocídio” e “crimes contra a humanidade” – e retrata os dois homens que os criaram.

O livro é fenomenal. Funciona sinultaneamente como estudo psicológico, análise histórica, aula-mestra de Direito, livro de memórias e thriller.

Sands vem tentando emplacar juridicamente o conceito de “Ecocídio” há alguns anos. A partir desta semana, a palavra tem um significado maior. Não é mais um conceito jurídico. É uma demanda.

Traduzo o comecinho da reportagem:

“Vanuatu, Fiji e Samoa querem que o tribunal penal internacional classifique a destruição ambiental como crime equivalente ao genocídio.

Os três países em desenvolvimento deram os primeiros passos no sentido de transformar a resposta mundial ao colapso climático e à destruição ambiental, tornando o Ecocídio um crime punível.

Numa petição submetida ao Tribunal Penal Internacional na segunda-feira, propõem uma mudança nas regras para reconhecer o “Ecocídio” como um crime equivalente ao genocídio e aos crimes de guerra.

Se for bem sucedida, a mudança poderá permitir a acusação de indivíduos que provocaram a destruição ambiental, tais como os chefes de grandes empresas poluidoras ou chefes de Estado.”

Chefes de que empresas? Podemos começar com as diretorias das 57 empresas que originaram 80% dos gases-estufa emitidos desde 2016, ano em que foi assinado o Acordo de Paris. Mais detalhes nessa reportagem do Jonathan Watts. 

Empresas como a Petrobras. Uau, nosso orgulho nacional é responsável por gerar quase tanto gás estufa quanto Shell, Saudi Aramco e Chevron!

E chefes de estado como Lula. O Brasil é o sexto maior emissor de gases-estufa. País que dá subsídio pro Ecocídio tem culpa no cartório. No nosso caso, o país é acionista e dá as cartas na Petrobras, diretamente.

A conversinha de “liderança ambiental” e “transição” e “matriz energética limpa” é propaganda pura. Tão verdadeira quanto essas iniciativas dos nossos banqueiros para proteger o Pantanal, enquanto continuam financiando combustível fóssil.

Você sabe que todo ano eventos climáticos extremos causam mais e mais estragos e desgraças. Prejuízos gigantescos a cidades e florestas, empresonas e empresinhas, fazendas e sitiozinhos. Mas o dano vai muito além do financeiro.

“Ecocídio” também quer dizer isso: o assassinato massivo de humanos, mas também de animais de outras espécies – chegando à extinção de espécies inteiras. Esta apresentação da Reuters é bem explicadinha, com gráficos e ilustrações para cortar seu coração.

Você também sabe que alguém precisará financiar todos os investimentos que precisamos fazer pra ontem. Porque é urgente investir em adaptação e mitigação, para a destruição que já está contratada.

Então urge impostos massivos, punitivos, globais sob a cadeia que gera gases-estufa. E é preciso subsídios e estímulos gigantescos, transformadores, estruturantes para energia renovável. Pra começar.

Não existe a mais remota evidência de que alguma solução para a Crise Climática venha “do mercado”. O investimento em combustíveis renováveis se arrasta passo de tartaruga, o do investimento em combustíveis fósseis acelera na velocidade da luz.

Porque dá o dobro do retorno, graças a subsídios diversos e vantagens de “lock-in”. Tudo tem explicação e geralmente é dinheiro. Mas ainda que, como o Bill Gates, você confie que o mercado dará conta e a tecnologia será uma panacéia, a questão da responsabilidade pelos crimes se mantém.

Mas é pouco pagar só em grana. É preciso que eles paguem na cadeia. Porque sabem que estão cometendo Ecocídio. E gastam uma bala pra esconder isso.

Quem tem que ser responsabilizado? Quem lucrou e lucra cometendo o crime. É perfeitamente racional e justo que seus líderes e seus facilitadores e financiadores e políticos de estimação respondam judicialmente pelos danos que causam. E não só as pessoas jurídicas.

É isso que os países do Pacífico propõem. No caso deles é ainda mais urgente e dramático que no nosso, porque são ilhas e estão afundando. Daqui a pouco não tem mais Fiji, Vanuatu e Samoa.

O número de processos nesta linha está aumentando. Elio Gaspari escreveu na Folha que tem uma montanha de ações nos tribunais gaúchos, pedindo indenizações deste e daquele pelas inundações. E está aqui no indispensável Observatório do Clima: o número de processos contra petroleiras triplicou desde o Acordo de Paris. Mantenha-se informada, siga já o OC. Aqui está o site e aqui está o Instagram.

O duro é botar um preço na indenização. Por exemplo, quanto valem os rios do Brasil, que secam ano após ano ao ponto de desaparecerem? Daqui a pouco faltará luz também. Porque a água que temos disponível para gerar eletricidade caiu 30% nas últimos duas décadas.

Para não falar de um número estarrecedor: os 8.34 MILHÕES de seres humanos que morrem anualmente de doenças originadas pela poluição causada por combustíveis fósseis. É genocídio ou não é?

Conheço gente boa e progressista que argumenta o seguinte: para diminuir a miséria e a desigualdade, não podemos abrir mão do petróleo. É o exato contrário. Tentar diminuir miséria e desigualdade enquanto o Ecocídio acelera é enxugar gelo, porque ele acelera loucamente ambas. Veja o que aconteceu no Rio Grande esse ano, o que está acontecendo na Amazônia e Pantanal, visite qualquer hospital de uma metrópole brasileira hoje.

Quando eu insisto no tema “clima” (ih, lá vem o chato) já sei que rapidinho vou ouvir uma de duas respostas. “Não tem o que fazer”, e entendo perfeitamente o desânimo. Vira e mexe eu também toco o fôda-se e ignoro por uns dias o assunto. Mas não vou largar o osso. Continuará sendo tema recorrente por aqui.

Por que? Porque vejo tanta desinformação e cortina de fumaça sendo espalhada pelas empresas poluidoras, e tristemente pela maioria da nossa imprensa, que me sinto na obrigação de ir na direção contrária.

E porque posso.

A outra coisa que tem grande chance de eu ouvir num papo sobre clima, e você talvez esteja se perguntando, é: “O que fazer?” A resposta é “muito”. Precisamos fazer muito.

Precisamos fazer muitas pessoas saberem que é crime, que é Ecocídio, e estimula-las a meter a mão nesta massa de alguma maneira. Bater, bater, bater nesta tecla, hoje, amanhã e depois. Encher o saco até encher o saco.

Que mais? Precisamos identificar os criminosos, judicializar e criminalizar. O melhor lugar para bater é sempre no bolso. Meter uns CEOs e presidentes na cadeia será educativo também. Difícil, difícil. Quase tudo que é importante é difícil.

Você e eu podemos fazer muito. Não é “fazer a sua parte”, abandonar canudinho de plástico. É fazer seu pedacinho de um grande esforço coletivo.

Podemos prestar atenção. Podemos doar dinheiro. Podemos militar. Podemos usar nossas vozes, talentos, comunidades em toda oportunidade. Eu não sei fazer grandes coisas, então faço o que sei: te escrevo. E espalho por aí essas más notícias, urgência, e quem sabe também esperança.

O Brasil também precisa fazer muito. Inimaginável, mas nossa melancólica, claudicante, corrupta democracia precisa se colocar à altura do apocalipse ambiental. Porque é disso que estamos falando.

Quem garante é nosso mais prestigiado climatologista, Carlos Nobre. Tem o resuminho do que o Nobre disse aqui. Em diversas entrevistas ele repete o mesmo: o Brasil perderá 100% do Pantanal e 50% da Amazônia até o fim do século.

Como você chama isso? Da mesma maneira que deve chamar o ar pútrido que respiramos essa semana toda pelo país afora.

Ecocídio.

Será o Brasil capaz de encarar uma treta dessa? Três ilhotinhas no meio do Pacífico são. Admitir que com esse tamanho e riqueza e sendo o sexto maior emissor o Brasil não pode fazer nada é passar recibo que somos uns bostas.

Finalmente, é comum o argumento de que “não adianta o Brasil não explorar petróleo se a China e os EUA não pararem também”.

Minha resposta é que algum país teve que ser o primeiro a ter coragem de abolir a escravidão (a Dinamarca, em 1792). O Brasil foi o último. Explorou até a última gota de sangue possível os escravizados indígenas e africanos.

No genocídio do século 21, o Brasil tem oportunidade de realizar um necessário acerto de contas com a História. É um imperativo ético.

Saiba mais e faça mais, todo dia mais, e siga STOP ECOCIDE.

Papão busca o renascimento

POR GERSON NOGUEIRA

Em situação normal, a perspectiva de enfrentar o lanterna da competição é sempre motivo de esperança. No caso do PSC, sem vencer há nove partidas, o confronto contra o Guarani não é suficiente para entusiasmar time e torcida. Há sempre o receio de um novo revés, depois de tantos resultados ruins dentro de casa.

Desta vez, há um fato novo a embalar as expectativas da torcida: a estreia de Márcio Fernandes no comando técnico. Contratado para substituir Hélio dos Anjos, ele conhece bem o ambiente da Curuzu e chega respaldado pelo bom trabalho inicial no Vila Nova-GO nesta Série B.

Para a partida deste sábado, o Papão deve ter mudanças pontuais, a começar pelo retorno de alguns titulares, que estavam ausentes nas últimas rodadas e que repentinamente se recuperaram. Márcio deve contar com Kevyn, na lateral-esquerda, e o ídolo Nicolas no comando do ataque.

Yony Gonzalez, Esli García e Paulinho Boia estão cotados para o setor esquerdo, assim como Edinho e Borasi são opções para a direita. No meio-de-campo, Val Soares pode ganhar a preferência do comandante para atuar ao lado de João Vieira e Leandro Vilela.

Pelos treinos da semana, Juan Cazares e Juninho correm por fora para compor o setor de criação. Robinho está lesionado.

Márcio tem dedicado os primeiros dias de trabalho a testar alternativas e a avaliar o potencial de atletas que não conhecia, como Joel, Jean Dias, Ruan Ribeiro e Biel. Na prática, jogadores que estavam alijados podem finalmente brigar por um lugar no time titular.

É um período de mudanças, quando todo o elenco passa a ser observado em igualdade de condições, até mesmo aqueles atletas que pareciam praticamente descartados. Biel, Val Soares e Edinho estão entre aqueles que não apareciam nem mesmo na lista de suplentes.

Com o novo treinador, todos passam a ter nova motivação, principalmente os homens de ataque, pois a prioridade é fazer o time voltar a vencer. A condição de recordistas em chances desperdiçadas (21) foi um fardo incômodo do PSC na era Hélio dos Anjos.

O time até criava situações de gol, mas falhava nas definições. Márcio Fernandes assume com a responsabilidade de romper esse ciclo. Ao mesmo tempo, o Papão tem que melhorar a artilharia – é o 2º pior ataque do returno, com apenas dois gols marcados.

Ganhar é a principal missão, mas o time também precisa cuidar da defesa, cujo retrospecto também é negativo: o PSC levou gols em oito das nove partidas recentes – só não sofreu gol no empate com o Mirassol.

A parte anímica também é outra preocupação. A crise técnica abalou o lado emocional do time, que recebeu 8 cartões vermelhos e 72 amarelos, ostentando a quinta colocação entre os times mais punidos. (Foto: Jorge Luís Totti/Ascom PSC)

Leão mantém sistema, apesar de baixa na zaga

A ausência de Sávio no lado esquerdo da linha de zagueiros é o único problema do técnico Rodrigo Santana para o confronto de domingo à tarde com o Volta Redonda, no Mangueirão. Bruno Bispo, reserva imediato, é o mais cotado para entrar na equipe.

Para uma equipe que sofreu muitas modificações ao longo da fase de classificação, o Remo do quadrangular final tem se destacado pela repetição da equipe titular, fator que explica em parte a boa fase técnica.

O Remo de Rodrigo Santana chegou ao estágio de estabilidade que dá ao torcedor a tranquilidade para ter o time na ponta da língua. Raras são as mudanças e todas são motivadas por ausências forçadas, como contusões e suspensões.

A preparação para o jogo contra o Volta Redonda consiste mais em treinar alternativas para envolver a marcação, que se presume reforçada depois que o Remo atropelou o Londrina e sufocou o Botafogo no Mangueirão.

Em jogos recentes, o Volta Redonda foi um visitante de altos e baixos. Obteve vitórias convincentes e sofreu derrotas acachapantes. Perdeu de 5 a 1 para a Ferroviária e de 4 a 1 para o Confiança.

Diante do Botafogo, em João Pessoa, em jogo válido pelo quadrangular, o time se mostrou fechado ao extremo, mas muito forte nos contragolpes. Quase venceu utilizando essa estratégia.  

É contra esse Voltaço de perfil oscilante que o Remo precisará ter objetividade e capacidade de definir as chances criadas. Como a meta é alcançar 12 pontos para garantir o acesso, será preciso vencer os compromissos em casa e garantir 2 pontos como visitante.

STJD manda repetir jogos semifinais da B2

Como um filme que parece se repetir sempre, as divisões de acesso ao Campeonato Paraense continuam a gerar batalhas de tapetão e contratempos para o calendário. O STJD julgou ontem o pedido dos clubes Gavião Kyikateje, Fonte Nova e Tiradentes, redefinindo a tabela das semifinais e final da Série B2.

Os reclamantes pediam a suspensão da homologação dos resultados das partidas disputadas, alegando que Pedreira e Tesla teriam atuado com atletas em situação irregular na competição.

Com a decisão do STJD, o Pedreira teve cassado o título de campeão, sendo punido com a perda de seis pontos – mesma pena aplicada ao Tesla. Ambos perderam as vagas nas semifinais da B2, sem possibilidade de recurso.

O julgamento terminou por beneficiar Tiradentes e Gavião Kyikateje, que ganharam o direito de jogar a semifinal da Série B2, brigando por uma vaga na final e na Série B1 do Parazão, a Segundinha, que está em plena disputa e terá partidas redefinidas pela FPF.

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 13)

O PIB subiu, mas a imprensa conseguiu transformar isso em uma notícia ruim

Com desemprego em baixa, PIB do 2º semestre apresenta inesperada alta de 1,4%. Diante da boa notícia, imprensa reage com terrorismo político: seu emprego causa inflação.

Por Juliane Furno – Intercept_Brasil

O produto interno bruto, o PIB, brasileiro cresceu 1,4% no segundo trimestre de 2024. Das muitas surpresas apresentadas com a divulgação dos indicadores, a que mais me chocou  foi como a mídia hegemônica – preposto dos interesses do capital e, especialmente, do capital financeiro – fez a boa notícia parecer um sinal alarmante de problemas no futuro.

Não deveria me surpreender. Afinal, essa foi a mesma mídia, ou conjunto de mídias, que deram palco para opiniões como “Desemprego teria de subir para inflação convergir para 4,5%” em 2015, e a célebre argumentação de que “recessão e desemprego derrubam a inflação e devolvem poder de compra aos brasileiros” em 2017.

Antes de comentar sobre o “grave risco” do crescimento trimestral acima do esperado pelo mercado e desejado por boa parte dos economistas, vamos entender o que os dados do PIB indicam.

Em primeiro lugar, o crescimento econômico de uma nação periférica e subdesenvolvida, como a brasileira, pode ser motivada por  uma maior demanda pelos produtos que nós ofertamos ao mercado internacional, por exemplo. Isso impactaria a dinâmica interna pelo efeito do aumento da renda de exportação.

O crescimento também pode ser motivado por elementos da demanda interna, ou seja, por um aquecimento no mercado interno, que gera um conjunto de efeitos benéficos sobre a atividade econômica. 

Portanto, um primeiro elemento de análise é que o que puxou o crescimento de 1,4% do PIB, comparado com o trimestre anterior, foi a demanda interna.

Estamos vivenciando um ciclo em que o aumento da renda das pessoas – seja pela redução do desemprego; pelo crescimento das negociações salariais acima da inflação; pela retomada da política de valorização do salário ou pelo Bolsa Família “turbinado” – é o que dá o “start” e inaugura um ciclo virtuoso.

Se as pessoas estão com mais renda, elas demandam mais bens e serviços. Com isso, os empresários precisam contratar mais pessoas, refazer seus estoques e, muitas vezes, ampliar a sua produção. Apenas para citar alguns números: a taxa de desemprego está em 6,8%, menor taxa desde 2014, e a massa salarial, já descontada a inflação, está crescendo a um ritmo de 8% ao ano. 

Se olhamos o resultado do PIB pela ótica da demanda, entendemos melhor esse raciocínio: o consumo das famílias cresceu 1,3% e o consumo do governo também cresceu 1,3%, tudo comparado com o trimestre anterior, que já foi de crescimento.

Agora, se nosso olhar for de comparação do segundo trimestre de 2024 com o segundo trimestre de 2023, os dados de crescimento dessas duas variáveis são ainda mais expressivos: o consumo das famílias cresceu 4,9% e o do governo 3,1%. 

Esse aumento no consumo impacta diretamente os serviços, o comércio e a indústria nacional, que são fortemente dependentes da dinâmica de funcionamento do mercado interno. Por isso os serviços cresceram 1% e a indústria cresceu 1,8%, na comparação com o primeiro trimestre de 2023, enquanto a agropecuária apresentou resultado negativo de 2,3%. 

A melhora no ambiente econômico, a maior demanda interna e o aumento na disponibilidade de crédito ajudam a explicar o crescimento de 5,7% frente ao mesmo trimestre do ano anterior, da Formação Bruta de Capital Fixo, que é uma aproximação do crescimento do investimento, embora também estejam presentes aí as importações. 

A IMPRENSA E SEU TERRORISMO ECONÔMICO

Poderíamos sintetizar essa descrição em manchetes como: Brasil é a segunda economia do G20 que tem o maior crescimento trimestral; Crescimento do PIB trimestral é acompanhada da menor taxa de desemprego desde 2014; Crescimento é puxado pela indústria, com destaque para a indústria de transformação; Crescimento da renda real dos trabalhadores por ganhos salariais, queda do desemprego e inflação baixa explicam crescimento do PIB acima do projetado pelo mercado.

Mas não. Para os analistas dos principais jornais brasileiros, a alta do PIB vem acompanhada da ideia de “perigo”. Aí é que opera uma lógica de “terrorismo econômico”. Escutando uma das mídias de áudio da grande imprensa, ao anunciar os resultados dos PIB a entrevistadora muda o tom de voz e sugere, em tom de vinheta de filme de terror, que se prosseguir essa tendência poderemos vivenciar outra vez o “fantasma da inflação”.

O “terrorismo econômico” pode ser compreendido por um conjunto de discursos que sugerem que o governo e a política econômica não devam se distanciar do que elas denominaram “boas práticas macroeconômicas” sob o risco de a vida das pessoas ficar muito pior do que estava.

Não importa o conteúdo das mudanças, o medo de que a vida piore é o reinante. Por isso, os trabalhadores devem se contentar com uma política fiscal de apertos salariais, afinal, caso os salários cresçam muito esse mesmo trabalhador sofrerá ainda mais no futuro, já que salários mais elevados significam inflação, e inflação é combatida com aumento de juros, o que inibe a atividade econômica e causa desemprego.

Conclusão: contente-se com seu salário baixo, afinal, se ele crescer talvez você não tenha mais emprego.

É por isso que na sequência da notícia “PIB cresce 1,4%” vem o alerta: o que pode causar inflação; descontrole de preços; juros mais elevados entre outras frases que sugerem que, no fim das contas, o que importa – mesmo – é só uma coisa, estabilidade de preços.

Inclusive, é só para inflação que há metas, para crescimento, emprego e renda não. Não faltam analistas com resultados de bons modelos matemáticos sinalizando que estamos crescendo acima do “PIB potencial”, ou mesmo aqueles que sugerem que – pelos seus cálculos – a taxa natural de desemprego é de 8,9%, ou seja, 8 milhões de brasileiros devem idealmente permanecer desempregados.

O que fazer com 8 milhões de desempregados? Aí o modelo matemático falha, afinal, estamos tratando de decisões de política econômica.

Fica difícil achar que a inflação mais elevada é nosso destino certeiro quando, ao mesmo tempo em que cresce a renda e a demanda, também cresce a atividade industrial. Ou seja, fica difícil acreditar que estamos a dois passos do “fantasma da inflação”, com uma taxa anual de 4,5%, em boa medida determinada pelo comportamento do dólar e das demais instabilidades internacionais, portanto, respondendo mais ao câmbio do que as variáveis de consumo.

Seleção de dramas e horrores

POR GERSON NOGUEIRA

Um jogador personifica em especial a pobreza técnica da Seleção Brasileira. Danilo, lateral-direito titular, é um retrato das carências de um time que na maioria das vezes se comporta como bando. Foi assim, por exemplo, no jogo de anteontem contra o Paraguai, em Assunção.

Em várias ocasiões, o Brasil se portava como um time menor, acuado e trêmulo. Nem se pode dizer que foi uma surpresa, pois é situação que já se repete há algum tempo, em edições de Copa América e das Eliminatórias. Desta vez, porém, a coisa adquire contornos muito mais sérios.

O Brasil de Danilo briga com a bola. Cada lance põe por terra miseravelmente aquela lenda que sempre cultivamos de que este é o país do futebol. Se um sujeito distraído entrar no estádio para ver a Seleção jogar, jamais vai acreditar que é detentora de cinco Copas do Mundo.

Todos os movimentos apontam para uma equipe limitada, de baixos recursos e quase nenhuma iniciativa ofensiva. O Brasil tem Danilo como capitão Danilo, um lateral que não apoia o ataque e raramente cruza bola na área adversária. 

Somente em times muito depauperados tecnicamente seria possível ver um lateral como Danilo em posição tão destacada – e inútil. Nos torneios disputados no Brasil é possível achar pelo menos uma meia dúzia de alas bem mais capazes de explorar os lados do campo.

Nesse ponto entramos naquele que é o debate principal deste momento soturno do futebol brasileiro: a teimosia da opção obrigatória por jogadores que atuam na Europa, como se fossem todos superiores aos nativos. Não são – e faz tempo já. Os técnicos, a direção da CBF e os empresários preferem pensar diferente. É mais cômodo e lucrativo.

Como os treinadores se recusam a pensar fora do esquadro vigente, a Seleção segue como vitrine para brasileiros que jogam nas principais ligas. Alguns merecidamente lembrados – Vinícius Jr., Rodrygo. A imensa maioria, porém, não merece essa primazia nas escolhas.

Jogadores como Lucas Paquetá, Bruno Guimarães, Gabriel Magalhães e André atuam em times de nível modesto, que praticam um futebol quase sempre encolhido e defensivo. O único titular da Seleção que defende um time inglês de ponta é o goleiro Alisson, do Liverpool.

A insistência com jogadores desse perfil faz crescer o coro por mais oportunidades para atletas que jogam no Brasil. O argumento é forte: aqui pelo menos há competitividade e um grau de dificuldade maior. Em campo, os “estrangeiros” atuam mal e reforçam as críticas.

É pouco provável que esse critério seja alterado até a Copa do Mundo, mas a discussão está posta e ganha cada vez mais terreno. Não é, porém, o único grande problema a ser resolvido na Seleção Brasileira.

A figura do técnico incomoda e divide. Dorival é visivelmente um técnico-tampão, daqueles que chegam quando não há melhor alternativa. Está no mesmo nível de Emerson Leão, Sebastião Lazaroni, Carlos Alberto Silva e Fernando Diniz, um exemplo mais recente.

Os 11 jogos sob o comando de Dorival expõem erros terríveis na escolha de jogadores e falhas inaceitáveis na montagem do sistema tático.

Não há risco de o Brasil ficar fora da Copa, mesmo com o futebol medíocre de hoje, mas é improvável que vá além das quartas de final do torneio – limite auto imposto à Seleção nas últimas duas edições. A conferir.

Joel: aposta real ou apenas cartucho desperdiçado?

O atacante camaronês Joel, de 30 anos, foi apresentado pelo clube dois dias antes da demissão do técnico Hélio dos Anjos. Mesmo sem as condições ideais para jogar, acabou entrando nos minutos finais da partida com o Amazonas, na Curuzu, participando de duas jogadas apenas.

Foi claramente uma opção desesperada em jogo que podia complicar ainda mais as coisas, como de fato complicou. Entrou no lugar de Nicolas, que fazia uma atuação discreta. Essa substituição pode se tornar frequente quando Joel estiver fisicamente pronto.

Joel é centroavante de ofício. Foi assim que despontou no futebol brasileiro com as camisas de Coritiba, Botafogo e Avaí, principalmente. Seu último clube foi o Hà Nôi, do Vietnã, onde atuou até julho e marcou 11 gols em 28 jogos nas últimas temporadas.

A contratação de Joel deixou a impressão de uma ação desesperada por um atacante de área, depois que o PSC ficou repentinamente sem um camisa 9 para chamar de seu. O grande ponto de interrogação é se o camaronês é ainda um jogador decisivo e à altura das exigências da Série B.

Sob o comando de Márcio Fernandes, Joel terá certamente a oportunidade de provar utilidade e de brigar por um lugar no ataque.

Dívidas astronômicas não inibem contratação milionária

Em tempos de aquecidas resenhas em torno do fair play financeiro no futebol brasileiro, provocadas pelos vertiginosos investimentos da SAF Botafogo, desperta espanto geral a ousada contratação do astro Memphis Depay pelo Corinthians, anunciada e concretizada em tempo recorde.

Com direito a um ritual de apresentação digno dos grandes astros, com desembarque em grande estilo, o Corinthians montou uma cerimônia de gala de entronização do atacante holandês para os milhares de torcedores presentes ao jogo com o Juventude pela Copa do Brasil, ontem à noite.      

Pouco se discutiu se Depay será um reforço de fato para o time, que patina nas últimas posições da Série A. Entre a surpresa pela audácia e as muitas dúvidas quanto à sustentação financeira para bancar a transação, boa parte da mídia esportiva preferiu não se indispor com a massa corintiana.

A essa altura, pouco vai importar se o endividado Corinthians vai conseguir pagar os salários astronômicos de Depay – custo mensal calculado em R$ 3 milhões. Por enquanto, a badalação é toda em cima do candidato a ídolo.

A ausência de críticas contundentes só confirma que a tal preocupação com fair play financeiro é pura potoca, mero esperneio diante da ascensão do Botafogo.    

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 12)