O ator James Earl Jones, conhecido por ser a voz icônica de Darth Vader em “Star Wars”, morreu nesta segunda-feira (9) aos 93 anos. A informação foi confirmada por seu agente Barry McPherson. Jones também ficou conhecido por dublar o personagem Mufasa na animação “O Rei Leão”.
Em um comunicado publicado no Instagram e assinado por Bob Iger, diretor-executivo da empresa, a Disney lamentou sua morte: “Um ator de palco celebrado com quase 200 participações em filmes no cinema e televisão, com uma presença única e verdadeira, Jones trouxe à vida histórias com verdadeira riqueza de espírito e deixou uma marca indelével em gerações.”
O ator Mark Hamill, conhecido por interpretar Luke em “Star Wars” se despediu do colega de elenco com uma foto publicada em seu Instagram. “Um dos melhores atores do mundo cujas contribuições para ‘Star Wars’ foram imensuráveis. Ele vai fazer muita falta,” escreveu.
James Earl Jones é conhecido por ser a voz de Darth Vader na franquia “Star Wars”. Ele recebeu o convite para gravar a imponente voz do personagem em 1977. Naquela época, George Lucas, o criador da série, já havia escalado o ator David Prowse para interpretar o vilão, mas continuava à procura de mais um artista — alguém capaz de falar de forma mais impactante. “[David Prowse] tinha um leve sotaque escocês, e sua voz não era como o som de um baixo, mas sim como a de um tenor. É uma voz muito eficaz. Mas George percebeu que queria, desculpe a expressão, uma voz ‘mais sombria’. Então, ele contratou um homem que gagueja, nascido no Mississippi e criado em Michigan. Essa é a voz. Esse sou eu. Eu tive sorte”, disse James em uma entrevista ao American Film Institute em 2009.
“Acho que primeiro George pensou [em contratar o ator] Orson Welles. Depois, pensou que [a voz dele] seria muito fácil de reconhecer”, contou James, em entrevista Conan O’Brien, em 1995. Segundo o americano, foram necessárias cerca de duas horas e meia para ele gravar as falas de Darth Vader em “Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança” (na época ainda “Guerra nas Estrelas”, no Brasil).
A princípio, James não queria ser creditado pelo trabalho. Só foi aparecer nos créditos da série a partir de 1983, com o terceiro filme. Depois de repetir a atuação nos três filmes da trilogia principal, ele voltou à capa e ao capacete para “Rogue One: Uma História Star Wars” (2016).
A voz característica seria uma marca na carreira bem-sucedida de James. O ator também conquistou o público infantil ao dublar Mufasa, o pai do protagonista de “O Rei Leão” (1994). Sua interpretação (e timbre) foram tão marcantes que ele foi um dos poucos do elenco original a voltar para a nova versão computadorizada de 2019.
Amado e respeitado por diferentes gerações de colegas e de fãs, o americano é um dos poucos atores ganhadores dos maiores prêmios da TV (Emmy), música (Grammy), teatro (Tony) e cinema (Oscar) — uma classe conhecida popularmente como EGOT.
Depois de servir no exército americano durante a Guerra da Coréia, nos anos 1950, Earl Jones começou uma carreira nos palcos. Sua estreia na Broadway, região de Nova York onde as peças mais prestigiadas são apresentadas, aconteceu em 1957.
Em 1968, ganhou seu primeiro Tony como o protagonista da peça “The great white hope”. O papel lhe rendeu ainda uma indicação ao Oscar em 1970, pela adaptação da obra para o cinema, “A grande esperança branca”.
Seu primeiro trabalho no cinema aconteceu alguns anos antes, em 1964, no clássico “Dr. Fantástico”, de Stanley Kubrick. Mas o personagem mais marcante de sua carreira, ou o que o deixaria mais conhecido pelo mundo, levaria mais 13 anos.
Seu último trabalho no cinema aconteceu em 2021, ao retornar a outro personagem da realiza como o rei Jaffe Joffer de “Um príncipe em Nova York 2”, com Eddie Murphy. Apesar de não receber uma estatueta por nenhum trabalho específico, o ator ganhou o Oscar honorário em 2012.
Celebrando um artista que nos fez acreditar em heróis e vilões – e além
Por André Forastieri
“Planetary” é uma aventura pela cultura pop-pulp do século 20, em que nos guiam arqueólogos do impossível. Criação do escritor Warren Ellis e do desenhista John Cassaday.
Tem muito quadrinho velho por aí com meu nome no expediente, das editoras Conrad, Pixel, Tambor, lançados principalmente entre 1999 e 2012. Poucos me dão orgulho igual. O pôster abaixo não passa a ideia completa, mas é por aí.
John era um bom desenhista de comics. Aliava a isso paciência para pesquisar e disposição para o design gráfico. Era uma exceção preciosa: simultaneamente dos melhores pra conceber e executar uma capa, para desenhar uma página dinâmica, e para nos seduzir do começo ao fim em uma história completa.
E ele fazia você acreditar em heróis. E em vilões. E em mundos além de heróis e vilões, como o de “Planetary” – muito importante.
Ilustrador requisitado, acabou produzindo menos HQs do que os fãs gostariam. Aqui tem muitos exemplos pra você conferir, junto com depoimentos dos colegas. Os elogios e lembranças não param de chegar. Parece que era muito boa gente, além de boa-pinta, como vês acima.
John me deu outra alegria inesquecível como editor. É dele o único gibi que publiquei com o meu herói favorito da infância. Fizemos questão de lançar em formato gigante na Pixel. Hei Odair Braz Jr., hei Cassius Medaudar, hei André Martins – lembram dessa?
Tem por aí nos sebos da vida.
O camarada Heitor Pitombo entrevistou o artista quando ele visitou o Brasil. Saiu na revista “Mundo dos Super-Heróis”. John também desenhou muitos heróis famosos, do Capitão América e X-Men a Star Wars a Zorro. Heitor gentilmente cedeu a entrevista para eu republicar aqui – segue abaixo.
John nos deixou com injustos 52 anos, levado pelo câncer. “Planetary” tinha um slogan que sempre me volta à memória e frequentemente repito: “It´s a strange world. Let´s keep it that way”.
Nada mais estranho que a morte. Ainda mais a morte de alguém que admiramos e teria um futuro de brilhantes contribuições a compartilhar com a gente. Bem, também é estranha a arte, e pouco neste mundo sobrevive como ela. Para velhos fãs de gibi, para sujeitos como eu, John Cassaday é imortal. E vamos manter assim.
John Cassaday e Heitor Pitombo
Escalada para o sucesso
John Cassaday conta como passou a ser considerado um dos quadrinhistas mais elogiados das últimas duas décadas
POR HEITOR PITOMBO
Planetary, X-Men, Star Wars e Capitão América são algumas das séries que puderam contar com a inspirada arte de John Cassaday. Esse autodidata nascido em 1971 sempre sonhou em trabalhar com quadrinhos e precisou enfrentar uma longa trajetória até conseguir entrar no mercado.
Antes de atingir seu intento, trabalhou na construção civil, vendeu discos, dirigiu um telejornal e até foi balconista do McDonald’s. Só em 1995 o jovem aspirante começou a fincar seus pés nos quadrinhos por intermédio de pequenas editoras, nas quais desenhou séries obscuras como Flowers on the Razorwire e No Profit For The Wise.
Ainda era muito pouco para Cassaday, que viu sua sorte mudar na San Diego Comic-Con 1996, quando seu portfólio chamou a atenção de artistas tarimbados. Logo, engatou trabalhos na Dark Horse e, em pouco tempo, chegou às poderosas Marvel e DC.
Entre os maiores sucessos de Cassaday estão a série Planetary (desenvolvida entre 1999 e 2009 com seu grande amigo Warren Ellis), uma fase curta e memorável do Capitão América (em 2002, em parceria com John Ney Nieber) e a revista Astonishing X-Men (na qual ele e Joss Whedon viraram de cabeça para baixo o universo dos mutantes entre 2004 e 2008).
O artista também ganhou alguns prêmios Eisner (o Oscar das HQs) e colecionou outras indicações. Nesta entrevista exclusiva, John Cassaday fala sobre esses trabalhos e outros assuntos relacionados à sua carreira.
PARA COMEÇAR, UMA CURIOSIDADE. VOCÊ CHEGOU A TRABALHAR EM UM TELEJORNAL. COMO FOI ISSO?
Quando eu estava na faculdade, fui diretor técnico do jornal televisivo local. Era um noticiário modesto transmitido por uma pequena emissora no Texas, mas foi um bom trabalho para mim nesse período.Já havia tido experiências menores numa loja de discos e no McDonald’s, de modo que trabalhar com jornalismo na TV foi muito divertido. Eu me limitava a apertar botões, dar deixas para o âncora começar a falar, ou apertar o “play” para a entrada de um tape. Lidava com um pouco de edição de imagens também.
ESSA VIVÊNCIA TEVE ALGUM IMPACTO NA SUA CARREIRA DE QUADRINHISTA?
Foi o primeiro trabalho na minha vida em que eu tive um pouco de autoridade e, por conta disso, precisava dialogar com várias pessoas para chegarmos a um produto final. Foi a primeira vez em que me senti como parte de uma equipe. Da mesma forma que veio a acontecer quando passei a trabalhar com quadrinhos, em que tinha que trocar ideias com roteiristas, coloristas, editores… Em suma, aprendi a falar com outras pessoas e obter o que eu queria e vice-versa.
SEU PRIMEIRO TRABALHO DE VULTO NOS QUADRINHOS FOI COM A PERSONAGEM GHOST, PARA A DARK HORSE. COMO VOCÊ FOI PARAR LÁ?
Sempre amei quadrinhos e estava sempre desenhando. Contar histórias era algo que eu sonhava fazer. Cresci no meio do nada, no Texas, e tinha que inventar brincadeiras. Por isso, comecei a produzir meus próprios gibis. Antes disso já escrevia, desenhava e também lia bastante coisa.Tive que começar a me virar quando fiz 16 anos, pois saí de uma cidade pequena e fui para uma menor ainda, onde não conseguia mais comprar minhas revistas favoritas. Passei cinco anos um pouco desligado dos quadrinhos. Isso durou até meados dos anos 1990, quando comecei a acompanhar algumas séries commais frequência. Sin City do Frank Miller e Hellboy do Mignola, entre outras coisas interessantes, me trouxeram de volta.
MAS E QUANTO À CARREIRA PROFISSIONAL?
Alguns anos depois, em 1996, fui à minha primeira San Diego Comic-Con com um portfólio… Eram umas quatro páginas com cenas de ação. Fui mostrando esse material para algumas pessoas até que conheci um artista que trabalhava para a Dark Horse, que praticamente me pegou pela mão: Chris Warner.Ele também fazia parte do staff da editora, e era um sujeito incrível que foi muito bacana comigo. O cara colocou meu portfólio nas mãos dos bam-bam-bans da Dark Horse, que me contrataram na mesma hora. Foi assim que consegui fazer minhas primeiras capas para Ghost.
E DEMOROU MUITO TEMPO PARA QUE VOCÊ TIVESSE CACIFE PARA TRABALHAR NA MARVEL E NA DC, AS DUAS LÍDERES DO MERCADO?
Não. Um mês depois a coisa já estava andando. As amostras que eu levei para San Diego também foram parar nas mãos de Mark Waid, que as mostrou para o pessoal da Wildstorm e da Marvel. Rapidamente elas caíram nas mãos dos graúdos da DC. Em coisa de três ou quatro meses, comecei a receber ligações das três editoras.
FALE UM POUCO SOBRE A CRIAÇÃO DE PLANETARY, COM WARREN ELLIS. COMO VOCÊS CHEGARAM A ESSE CONCEITO DE SUPER-HERÓIS “MAIS HUMANOS”?
Essa seria uma pergunta mais indicada ao Warren. Posso dizer que começamos a trabalhar juntos para uma minissérie que sairia pela [editora] Caliber. Logo ficamos amigos e passamos a conversar muito pelo telefone, falando do quanto gostávamos um do trabalho do outro. Só que bastou eu desenhar a primeira edição inteira da minissérie, que comecei a ver que não ia dar pé.Marvel e DC estavam nos enchendo de trabalho e decidimos dar um tempo no trabalho da Caliber, que foi abandonado de vez. A amizade, contudo, não acabou. Um dia, Warren escreveu um roteiro… não sei se foi para mim, mas quando caiu na minha mão… aquilo me deixou maluco! Era Planetary. Era como se ele tivesse lido a minha mente, tirado coisas de dentro e colocado nesse roteiro. Fiquei louco para começar a trabalhar.
NA SUA OPINIÃO, O QUE PLANETARY ACRESCENTOU AO GÊNERO?
Tudo se deve ao talento de Warren de pegar a realidade do que seria a vida de um super-herói, de como esse tipo de personagem deveria ser, e injetar nele um componente humano. Nem todo mundo possui a mesma firmeza de um Superman ou de um Capitão América. O que uma pessoa faria se tivesse superpoderes de fato? Falei com Warren sobre isso, até porque gostava da maneira como ele escrevia histórias de super-heróis em outras revistas.O engraçado é que ele não era fã dos supers quando era mais novo, por isso acho que Warren sempre teve uma visão de fora da coisa. Planetary meio que ajudou a lançar uma luz nova sobre esses ícones, os personagens arquetípicos com os quais muitos de nós crescemos. Quando vemos um e outro personagem com esse ou aquele problema, percebemos as diferentes matizes das quais Warren se valeu e que deram a esses heróis uma sensibilidade renovada.
SUA PASSAGEM PELO TÍTULO ASTONISHING X-MEN RENOVOU NÃO SÓ OS MUTANTES COMO O UNIVERSO DOS SUPERHERÓIS, ALÉM DE TER REPRESENTADO UM AFASTAMENTO DEFINITIVO DA MALFADADA ESTÉTICA DA EDITORA IMAGE, QUE IMPERAVA NOS QUADRINHOS AMERICANOS DESDE OS ANOS 1990. COMO VOCÊ VÊ HOJE ESSA SUA CONTRIBUIÇÃO?
Boa parte do crédito deve ir para Joss Whedon, um roteirista espetacular. Ele não escreve histórias de super-heróis se baseando na prosódia que se espera deles, mas imaginando como os X-Men realmente se expressariam. Ou seja, eles falam como se fossem seres humanos poderosos que vêm de lugares diferentes.Quando nos convocaram para fazer os X-Men, queríamos que a revista fosse mais acessível. Na época, eu não lia gibis de mutantes há um tempão, pois não sabia por onde começar. Havia uns cinco ou seis títulos diferentes e todos se completavam. Você lia só um e não entendia o que estava acontecendo, pois não acompanhava os outros.Quando fizemos Astonishing, não miramos no fã inveterado de mutantes, pois sabíamos que ele estaria conosco. O que queríamos era fazer com que nosso trabalho chegasse aos novos leitores que nunca haviam lido uma história dos X-Men. E também àqueles que os haviam abandonado há tempos.Claro que havia um ou outro easter egg para os mais fiéis, mas nosso intuito era fazer com que qualquer leitor pegasse o número um e entendesse tudo que estava acontecendo.
NAQUELA ÉPOCA VOCÊS CHEGARAM ATÉ A CRIAR ALGUNS MUTANTES NOVOS, NÃO É?
Não foram tantos assim. Joss inventou alguns personagens secundários porque queria criar uma ou outra situação específica para os mutantes tradicionais. Esse tipo de coisa dá uma certa dinâmica para a história, até porque os personagens mais conhecidos trazem consigo algumas limitações – nem sempre é fácil matar um herói já estabelecido, por exemplo. Por isso, é legal introduzir um e outro sujeito com o qual possa acontecer qualquer tipo de coisa, mesmo que seja em uma virada de página.
O QUE O LEVOU A TRABALHAR COM O CAPITÃO AMÉRICA?
Sempre fui muito fã dele. Enquanto eu crescia, foi bom saber que havia um herói que sempre fazia o que era certo, independente do que custasse e de como ele seria visto. Fora que ele tinha o traje mais bem desenhado dos quadrinhos – esqueça esse negócio de bandeira americana. A maneira como ele foi criado por Joe Simon e Jack Kirby nos anos 1940 poderia intuir que o seu visual ficaria datado com o tempo, mas trata-se de um traje que, ainda hoje, se destaca.
FALE UM POUCO SOBRE A SÉRIE JE SUIS LEGION (2004-2007). QUAL FOI A SUA MOTIVAÇÃO PARA TOCAR ESSE PROJETO?
A editora Les Humanoïdes Associés me ofereceu esse trabalho e depois tivemos uma reunião em que me foi dito que a trama girava em torno de uma jovem romena superpoderosa que podia decidir o destino da Segunda Guerra a favor dos nazistas.Era algo que, com certeza, nunca cheguei a ver antes numa HQ. Na época, eu estava muito envolvido com super-heróis, desenhando Planetary e começando a trabalhar com os X-Men. Era algo que me deixou com uma certa comichão para pegar… e não sabia se tinha condição de encarar a empreitada. Mas como era algo inédito para mim, pensei: “Vamos fazer isso acontecer.”
QUAIS AS MAIORES VIRTUDES DOS ROTEIRISTAS COM QUEM VOCÊ TRABALHOU?
Tive muita sorte de ter sido parceiro de caras como Warren Ellis e Joss Whedon, sem contar Jason Aaron na nova série em quadrinhos de Star Wars. Mas sempre procuro trabalhar com roteiristas que têm uma certa pegada. Saber quem está ao seu lado é importante, realça o sentido de colaboração.
JÁ QUE VOCÊ CITOU STAR WARS, QUAL É A SUA LIGAÇÃO COM ESSE UNIVERSO?
Eu tinha uns seis anos quando vi Star Wars pela primeira vez no cinema. Isso está no meu DNA. Fazer parte do time que produz as revistas dessa nova linha é demais.Cresci lendo a revista que a Marvel publicava nos anos 1980 e acompanhei as adaptações em quadrinhos de O Império Contra-Ataca e de O Retorno de Jedi. Nessa época, você sabe, o tempo passa muito devagar. De modo que eu adorava a série.Quando soube que a Marvel havia recuperado o direito de produzir os quadrinhos [isso ocorreu em 2015] e que haveria uma nova revista com histórias passadas no universo criado pela Lucasfilm, não tive como recusar o convite para trabalhar nessa empreitada.Sabia que teria que mexer com os personagens clássicos que eu amava, como Luke, Han, Leia… Era como poder brincar com todos os brinquedos da minha caixinha (risos).
.VOCÊ FOI UM DOS ARTISTAS CONCEITUAIS DO FILME WATCHMEN, DE 2009. COMO FOI ESSE TRABALHO?
Ajudei a desenvolver os trajes de uma meia dúzia de personagens. Foi divertido e não foi algo que me sacrificou muito.As conversas com Zack Snyder ao telefone foram divertidas, e elas não se restringiam a Watchmen, até porque contemplavam o universo dos super-heróis no geral. Mas ele queria ver como eu iria desenhar os personagens do longa. Fiz alguns esboços, discutíamos, ele falava do que gostava e do que não gostava… Daí eu dava uma guaribada no que Zack achava que podia melhorar.Criei algo em torno de cinco artes finalizadas mostrando como eu via certos personagens. Mesmo assim, eu achava que tudo tinha de partir do que Alan Moore e Dave Gibbons criaram nos quadrinhos. Tudo já estava lá.Se eu tentasse desenhar os personagens pegando pela memória, seria daquele jeito que eles ficariam. Fiz poucas modificações, como dar ao Comediante um cinto levemente diferente. Não havia muito o que fazer, na verdade. Eu e outros artistas demos algumas ideias, e delas Zack pinçou uma ou outra coisa.
VOCÊ PODE SER VISTO COMO UM ARTISTA DA VELHA ESCOLA, QUE PREFERE TRABALHAR COM LÁPIS E NANQUIM EM VEZ DE RECORRER AO COMPUTADOR. QUE VANTAGENS HÁ NISSO?
Eu trabalho de vez em quando no Photoshop, mas não gosto de finalizar meus desenhos digitalmente. Claro que eu faço alguma coisa no computador eventualmente, mas 90% do que produzo é no papel. Eu me divirto muito rabiscando.
O resultado podia ter sido melhor. Três minutos antes de sofrer o gol de empate, o Remo teve a chance de matar o jogo. Jaderson entrou na área e tinha Rodrigo Alves livre na marca penal para receber o passe, mas errou no toque final e a bola saiu pelo lado. O castigo viria a galope. Cauã acertou um chute forte e venceu o goleiro Marcelo Rangel.
Mesmo tendo a lamentar ter desperdiçado a chance de emplacar a segunda vitória, o Remo fez uma boa partida e saiu de São Bernardo ainda mais forte na briga pelo acesso. Com 4 pontos, segue na zona de classificação, com duas partidas a realizar no Mangueirão.
O jogo começou sob a marca do equilíbrio, mas o Remo tentava se movimentar com desembaraço e avançavam as linhas sempre que se aventuravam no campo adversário. A primeira boa oportunidade pertenceu ao São Bernardo. Kayke bateu para o gol, mas Marcelo Rangel fez uma grande defesa.
A resposta azulina veio aos 31’. Ytalo herdou uma bola que a zaga deixou passar, mas disparou em cima do goleiro Alex Alves. Dez minutos depois, o gol saiu: a bola foi cruzada da esquerda por Jaderson e Ytalo chegou à frente dos zagueiros, finalizando para o fundo das redes.
No minuto final da primeira etapa, nova arremetida do São Bernardo. Hugo Sanches cruzou da direita e Kayke cabeceou com extremo perigo. Marcelo Rangel saltou e evitou o gol.
Nenhum dos times mexeu na escalação para o 2º tempo e a partida reiniciou favoravelmente ao Leão. Aos 4 minutos, o ala esquerdo Raimar recebeu de Jader em profundidade, livrou-se da marcação e entrou na área para fuzilar no canto direito de Alex Alves, ampliando para 2 a 0.
O jogo era disputado com intensidade e, apesar da boa vantagem, o Remo não tinha sossego. Aos 11’, um arremesso lateral do São Bernardo quase terminou em gol contra de Rafael Castro, evitado por Marcelo Rangel.
Logo em seguida, porém, um escanteio da esquerda alcançou Kayke no segundo pau. Ele desviou para o centro da pequena área, onde o zagueiro Helder cumprimentou para o gol, diminuindo para 2 a 1.
Animado, o São Bernardo avançou suas linhas, trocou Lucas Tocantins por Luiz Felipe e aumentou a pressão com bolas aéreas. No Remo, Ligger se lesionou e foi substituído por Bruno Bispo e Paulinho Curuá substituiu Bruno Silva.
Encolhido, o Remo se limitava aos contragolpes, perdendo a fluidez inicial. Aos 36’, Jaderson escapou em velocidade pela direita, invadiu a área e, na dúvida entre chutar e lançar Rodrigo Alves, tocou a bola sem direção, desperdiçando o que seria o terceiro gol remista.
No desespero, o São Bernardo fez uma jogada diferente dos cruzamentos repetitivos. Kauã Jesus recebeu na intermediária, avançou e chutou forte no canto direito da trave de Marcelo Rangel, que não alcançou a bola.
Nas circunstâncias, o empate frustrou o sonho de vitória, mas manteve o Leão na zona de classificação do Grupo B. Fica a lição quanto ao excesso de cautela quando o placar parece sob controle. A bola costuma punir recuos em terreno inimigo.
Papão aposta em Márcio para salvar a campanha
A decisão da diretoria do PSC foi surpreendente. Pelo suspense criado desde sexta-feira, quando Hélio dos Anjos foi demitido, ficou no ar a expectativa em torno de um nome mais forte. Era o que o torcedor esperava, mas o critério de manter o time em mãos experientes favoreceu a escolha de Márcio Fernandes, que passou pelo clube em 2022/2023.
O primeiro impacto foi negativo, pois trouxe a lembrança da goleada humilhante que o Vila Nova de Márcio sofreu diante do PSC na final da Copa Verde. Levou um 6 a 0 constrangedor dentro da Curuzu e foi demitido nos vestiários. O segundo jogo terminou 4 a 0, já sem Márcio, fechando a decisão em 10 a 0 no placar agregado.
A experiência é o único item que permite comparar Márcio com Hélio. Em termos de liderança, o novo técnico do Papão não tem a mesma contundência do antecessor. Conhecimento técnico para mudar uma situação desfavorável é um ponto mais destacado em Hélio, que comandou a reação do PSC na Série C do ano passado.
Para levantar o astral do time na Série B, é fundamental voltar a vencer. Márcio tem essa oportunidade diante do Guarani, no próximo sábado, na Curuzu. Terá a semana toda para treinar o time, buscando dar novas orientações e operando mudanças no campo emocional.
A torcida, que está dividida quanto ao novo comandante, vai marchar junto em caso de uma vitória para iniciar a esta etapa do trabalho. A volta de alguns titulares deve dar a Márcio as condições ideais para conquistar os três pontos e afastar a urucubaca.
Mais surpreendente que o anúncio de Márcio Fernandes foi a contratação do executivo Felipe Albuquerque, que saiu daqui a dois anos em meio a polêmicas e até alguns desaforos em relação à cidade. Em alguns lugares, jamais seria aceito de volta, mas isto aqui é Pará.
Brasil desafia Paraguai sob a descrença da torcida
A Seleção Brasileira volta a campo hoje à noite, em Assunção, diante da baixa expectativa da torcida. O adversário é um tradicional freguês, mas a realidade não inspira apostas muito otimistas. Contra o Uruguai, o Paraguai jogou bem e conseguiu arrancar um empate.
Dentro de seus domínios, o time paraguaio vai tentar sufocar um Brasil que perdeu três de seus jogos como visitante nestas Eliminatórias e não é visto mais com o temor de antes. Qualquer oponente se sente à vontade para encarar o opaco time de Dorival Júnior.
Não é para menos. Quem tem como principal articulador um jogador do nível de Paquetá, escoltado por Bruno Guimarães, não pode impor medo a ninguém. Diante do Equador, a distribuição de jogo e a parte criativa foram os pontos negativos, justamente porque o meio-campo não funcionou.
(Coluna publicada na edição do Bola desta terça-feira, 10)