Nascida dos escombros de um drama pessoal do vocalista Robert Plant, All My Love é uma das canções mais belas e importantes da discografia do Led Zeppelin e do rock setentista. Embalada numa melodia delicada e melancólica, é muitas vezes confundida com um tema romântico. Não é bem assim. Composto pelo próprio Plant e pelo baixista John Paul Jones, este clássico passa longe de uma crônica amorosa.
Incluída no oitavo álbum do Led Zeppelin, In Through the Out Door, de 1979, a canção foi gravada no Polar Studios, localizado em Estocolmo, Suécia. Dois anos antes, quando a banda excursionava pelos Estados Unidos, Plant recebeu uma ligação de sua esposa, Maureen Wilson, contando que o filho de ambos, Karac Pendragon Plant, que tinha seis anos, estava doente.
Duas horas depois, Maureen ligou de novo para dar a notícia trágica: Karac havia morrido de uma infecção viral desconhecida. Ele viajou de volta a Londres e a turnê foi suspensa. O enterro ocorreu em Birmingham, Inglaterra, e apenas o empresário Richard Cole e o baterista John Bonham representaram a banda na cerimônia.
A ausência de Jimmy Page e John Paul Jones magoou Plant, que passou a questionar o sentido da amizade entre eles. Afastado temporariamente da banda, ele foi convencido a retomar o trabalho por seu velho amigo John Bonham.
Para o biógrafo Mick Wall, a morte de Karac marcou uma ruptura no Led Zeppelin que iria até seus últimos dias. De um lado, Plant e Bonham, que se conheciam desde antes da formação do grupo. Do outro, Page e Jones, que tinham o controle criativo até o momento, mas passariam a ter que disputá-lo com Plant, já que o vocalista se via cada vez mais importante no funcionamento do grupo.
Como remédio para mitigar a dor, Plant dedicou-se a escrever uma música em homenagem a Karac. Extraída das entranhas da dor, nasceu “All My Love”, uma oração poética pungente de um pai pela perda do filho. Em versos líricos, Robert Plant expressa dor, angústia e incompreensão:
Should I fall out of love, my fire in the light? (Deveria eu me perder do amor, meu fogo na luz?) To chase a feather in the wind (Para perseguir uma pena ao vento) Within the glow that weaves a cloak of delight (Dentro do brilho que tece um manto de prazer) There moves a thread that has no end (Deixando um fio que não tem fim)
Depois de pronta, a música foi mostrada a Page e Bonham, que de início acharam a faixa excessivamente lenta para o padrão Led Zeppelin. “Eu estava um pouco preocupado com o refrão [de ‘All My Love’]”, admitiu Page em entrevista publicada no livro Light and Shade: Conversations with Jimmy Page, de Brad Tolinski.
Muitas conversas e palpites depois, a canção acabou aprovada para o álbum. “Eu pensei ‘Isso não somos nós. Isso não somos nós’”. Apesar disso, Page concordou porque sabia que a música era importante para Plant. “Considerando o seu contexto estava tudo OK, mas eu não queria seguir aquela direção dali em diante”, finalizou o guitarrista e líder do grupo.
Um ano depois, o Led Zeppelin encerrou atividades, após a morte de John Bonham. Os companheiros entenderam que não havia sentido em continuar. As dores não saradas de Plant iriam se juntar à tristeza de todos pela partida de Bonzo, alma rítmica da banda e um dos maiores bateristas de todos os tempos.
Plant e Maureen teriam mais um filho, Logan, fato que certamente ajudou a cicatrizar as feridas da perda. “Faz muito tempo que o perdemos. 40 anos atrás. E fomos abençoados com outro garoto que veio cerca de dois anos depois, e as duas imagens se entrelaçam. A diferença entre Karac e Logan é… é difícil diferenciar, mas ele era mais um pequeno garoto da natureza, sabe? Ele era um homem da montanha“, comentou Plant, em 2018, durante entrevista a Dan Rather.
(Com informações da Rolling Stone e do livro “Quando os Gigantes Caminhavam sobre a Terra”, de Mick Wall)
Temos publicado artigos sobre o acordo do submarino nuclear com a França, a partir de dois pontos de vista: de quem participou do lado privado e de quem participou do lado público.
Vamos a mais elementos de quem participou do lado privado.
Em fins de 2004, a Marinha decidiu desenvolver um submarino de porte avantajado, em torno de 6 metros de altura. Ainda não se cogitava no submarino movido a energia nuclear. A DGMM (Direção Geral de Material Militar da Marinha do Brasil) abriu consultas para a construção de um a dois submarinos, de propulsão convencional, a serem construídos no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro.
Naquela época, já havia dois setores opostos na Marinha, um favorável ao desenvolvimento de um submarino nuclear e outro contrário. Mas um grupo de oficiais da Marinha, já na reserva, se mobilizou para incluir na disputa o submarino nuclear, bandeira que que vinha da época de Almirante Álvaro Alberto.
Assim, mesmo que o certame fosse para submarinos convencionais, julgava-se que se deveria aproveitar a oportunidade para obter tecnologia de concepção de um casco maior para um futuro submarino nuclear.
Estavam à frente da idéia o Comandante (da reserva) Carlos Braga e o Almirante (também da reserva) Edgar Hargreaves.
Foi contatado, então, o Presidente da Odebrecht S.A., Pedro Novis, convidado a participar de um consórcio da empresa ARMARIS, que tinha como acionistas a DCN (então autarquia estatal francesa) e a THALES, novo nome então da Thomson CSF, com controle estatal francês. A DCNS ainda não existia, mas sua criação já vinha sendo cogitada pelo Governo francês.
A proposta foi encaminhada por Novis como Presidente da holding Odebrecht S.A. para a Construtora Norberto Odebrecht, então dirigida por Marcelo Odebrecht, e prontamente recusada, pois a Construtora achava que o DGMM já se decidira em princípio pela continuidade da experiência com a HDW alemã iniciada em 1983. No que estava certo.
Quando se soube em 2006 que o programa envolveria não um ou dois submarinos convencionais mas sim quatro unidades, voltou-se na França de cogitar uma cooperação com o Brasil para o desenvolvimento do casco de um submarino nuclear pelo lado brasileiro, sem participação francesa no que tange ao reator.
Essa ideia, defendida internamente na França pela Marinha Francesa, a DGA, e industriais francesas, tinha ampla oposição na equipe do Primeiro Ministro e na Secretaria Geral de Defesa Nacional por temor de proliferação nuclear e uma constante campanha contra a ideia por parte de interesses anglo-americanos.
As forças na França favoráveis à cooperação com o Brasil se viram reforçadas em 2007 pela nomeação do Almirante Edouard Guillaud como Chefe do Estado-Maior Particular da Presidência da República no Governo Sarkozi e pela presença de Alain Juillet como Chefe da Secretaria de Inteligência Económica da Presidência.
Quando se desencadou a ideia da cooperação, houve uma visita de delegação parlamentar brasileira a França (e o Almirante Guillaud, Chefe do Estado-maior Particular da Presidência da República Francesa sugeriu aos deputados que o Presidente Lula ligasse para o Presidente Sarkozi pedindo a cooperação.
A delegação brasileira era composta pelo senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS), deputada Ana Isabel Mesquita de Oliveira (PMDB-PA), deputado Marcos Gadelha (PSB-PB) e deputado Carlos Zaratini (PT-SP).
Pedro Novis foi novamente procurado, e encaminhou o tema para Benedito Barbosa Junior. Conforme depoimento de Benedito Barbosa na Operação Lava Jato, a Odebrecht foi escolhioda devido a quatro vetores: era uma empresa com experiência internacional, experiência em grandes projetos de infraestrutura, tinha experiência em consórcios para implementar grandes projetos de infraestrutura no mundo não só no Brasil e tinha uma área industrial que permitiria que essa associação também assessorasse a construção dos submarinos e não só a parte física das obras.
Mas como se percebeu, do lado francês, que o projeto também exigiria aportes deles, cogitou-se a ideia de envolver empresas francesas, para terem direito a um financiamento de importações de bens e serviços, um crédito ao comprador de bens franceses exportados.
Esse debate não ocorreu entre o lado brasileiro e francês da negociação. Ele ocorreu intra muros do lado do futuro parceiro francês, com a participação dos consultores brasileiros da Thales que insistiam numa empresa brasileira, e particularmente da Odebrecht, antes da decisão da DCNS de associar-se a ela.
A DCN era uma empresa pública de 350 anos. Mas foi convertiuda na DCNS, transformada em sociedade anônima e com a entrada da Thales, uma multinacional francesa que atua em diversos setores, com foco principal em tecnologias de defesa, segurança e transporte
A DCNS não tinha, inicialmente, ideia das dimensões da Odebrecht, e achava que uma empresa francesa seria mais “confiável”. e traria como benefício um aumento do credito comprador. Já a participação daOdebrecht era defendida pelos representantes da Thales.
Por outro lado, a Marinha do Brasil, ciente da competição acirrada que existia entre as grandes construtoras brasileiras, se preocupava com seu papel na escolha do responsável pela construção civil, que estaria intimamente ligado aos procedimentos de transferência tecnológica pois as características específicas do estaleiro faziam parte do conjunto tecnológico a ser transferido.
A decisão final, no lado DCNS, ficou com o Presidente da empresa, Jean-Marie Poimbeuff, que veio ao Brasil e teve uma longa entrevista, em Brasília, com as equipes da Odebrecht, e o time negociador da Marinha, e voltou convencido de que a DCNS deveria patrocinar a parceria com a Odebrecht, e ambos assinassem o acordo com a Marinha do Brasil. Mesmo assim, por problemas formais do lado francês, o acordo consorcial só foi assinado em setembro de 2008.
Assim, ambos os consultores jurídicos na negociação, o da Marinha o Dr Sergio Soares Sobral Filho, e da DCNS o Dr Álvaro Malheiros, concordaram que o texto final do contrato fosse explícito de que a Odebrecht seria a empresa da escolha da DCNS.
Essa escolha foi uma das varias peças do constante ataque anglo americano ao PROSUB, usando como instrumento sua influência na Lava Jato. Conforme GGN mostrou, em primeira mão, em 1º de agosto de 2015.
O Remo volta a campo na segunda-feira, no Mangueirão, contra a Aparecidense, tentando a todo custo se aproximar do G8 da Série C. Com 19 pontos, o time é o 10º colocado. Para sonhar com classificação precisa chegar a 29 pontos. O problema é que restam só duas vagas e quatro times, incluindo o Leão, estão diretamente na briga.
Com 19 pontos, o Remo terá pela frente a Aparecidense (casa), Confiança (fora), Londrina (casa) e São José (fora). Tem que vencer três jogos e empatar um. Uma possível vantagem é enfrentar o Londrina em Belém e o São José fora de casa, mas já rebaixado.
O Tombense tem 21 pontos e vai jogar contra o Volta Redonda (fora), CSA (casa), Botafogo-PB (casa) e Ferroviário (fora). A caminhada é menos íngreme que a dos azulinos, pois precisa de oito pontos para se garantir.
Já o Figueirense, com 22 pontos, terá a seguinte rota: Botafogo (fora), Londrina (casa), São José (casa) e Volta Redonda (fora). Se conquistar mais 7 pontos, o Figueira garante vaga na etapa de grupos.
Quem está em situação mais cômoda é o Londrina. Tem 24 pontos, precisa de mais cinco e tem os seguintes jogos para alcançar essa pontuação: Floresta (casa), Figueirense (fora), Remo (fora) e Náutico (casa).
Ao time paraense resta se empenhar em ganhar os jogos que tem pela frente, a começar pelo confronto com a Aparecidense. Os treinos da semana indicam que seis mudanças podem estar a caminho.
A zaga volta ao sistema de quatro zagueiros, contando com Ligger e Bruno Bispo (ou João Afonso) na faixa central. Sávio estreia na lateral-esquerda, assim como Bruno Silva no setor de meio-campo. Kelvin deve entrar na aproximação com o ataque, formado por Marco Antônio e Ribamar.
Todas as modificações foram testadas ao longo da semana, depois da derrota para o Figueirense na rodada anterior. As cobranças pelo visto surtiram efeito, a começar pelas saídas de Guilherme Cachoeira e Ytalo do time titular.
Crise interna põe em risco a campanha do Papão
Ainda sob a turbulência da crise que eclodiu entre o técnico Hélio dos Anjos e o executivo Ari Barros, o PSC parte para um jogo duríssimo diante do Vila Nova, em Goiânia, nesta segunda-feira. Com 23 pontos, o Papão está na 14ª colocação, sob risco de ser superado pelo Amazonas.
O jogo de vaidades agita o ambiente em meio aos desafios de uma competição naturalmente difícil, cujo 1º turno termina nesta rodada. Com o time em queda, com duas derrotas seguidas, os responsáveis pelo futebol do clube parecem empenhados em agravar ainda mais a situação.
O vazamento de uma lista de dispensas entregue pelo técnico à diretoria, na quinta-feira (1), marca o mais recente capítulo da guerra de egos na Curuzu, adicionando mais combustível ao incêndio que os gestores não conseguem debelar.
Os nomes de oito funcionários constam da lista divulgada na sexta-feira (2) com exclusividade pelo DOL. Além de Ari Barros, os “dispensáveis” são profissionais que trabalham no clube há alguns anos. Óbvio que o fato novo adiciona mais ruídos à relação entre comissão técnica e equipe auxiliar.
Quanto ao time, além da volta da dupla titular da zaga, Quintana e Lucas Maia, o atacante Ruan Ribeiro deve ser mantido, depois que se confirmou a ausência de Nicolas devido a uma contusão.
Bia e o ouro arrancado com suor, lágrimas e mérito
A judoca Bia Souza, 25 anos, é a dona do único ouro ganho pelo Brasil até agora nos Jogos Olímpicos de Paris. Com arrojo e qualidade, superou ao longo da caminhada adversárias mais cotadas do que ela.
As lágrimas escorreram generosamente após a conquista, emocionando a todos. A cena é recorrente entre os atletas, mas Bia tem motivos fortes para reagir de forma tão comovente. Ela enfrentou a perda da avó há cerca de um mês, além de sofrer lesões sérias nos braços.
Como Caio Bonfim e Rebeca Andrade, Bia é bolsista do programa Bolsa Atleta, instituído por Lula em 2004 para ajudar e incentivar os esportistas brasileiros, olímpicos ou não. A conquista deles prova que o país está no rumo certo para se tornar cada vez mais forte nas competições.
Bola na Torre
O programa vai ao ar às 22h deste domingo, na RBATV, sob o comando de Guilherme Guerreiro. Na bancada, Giuseppe Tommaso e este escriba baionense. Em pauta, as rodadas das séries B e C. A edição é de Lourdes Cezar.
Vaias ao racismo na apresentação argentina em Paris
O hino nacional da Argentina foi vaiado por boa parte da torcida presente no Stade de Bordeaux, onde ocorreu o jogo contra a França pelas quartas de final do torneio masculino de futebol dos Jogos Olímpicos Paris-2024. Os argentinos acabaram eliminados após derrota por 1 a 0.
Tudo em consequência da música racista e xenofóbica cantada pelos jogadores da seleção argentina nos festejos da conquista da Copa América. A letra da música faz menção racista aos jogadores negros da seleção francesa.
A repercussão do episódio foi extremamente negativa, embora Fifa e Conmebol não tenham tomado providências a respeito. O autor da live que mostrou ao mundo os jogadores insultando os franceses, o meia Enzo Fernández, retornou ao Chelsea após as férias e sentiu o clima ainda carregado.
Na sexta-feira, antes do jogo, o anúncio de uma emissora de TV da Argentina reacendeu o racismo ao mostrar torcedores cantando a tal música racista. Nada de novo se considerarmos a prática argentina de insultar adversários, inclusive brasileiros, frequentemente chamados de “macaquitos”.
(Coluna publicada na edição do Bola de sábado/domingo, 03/04)
Antes de ontem, uma enxurrada de palpites manchetados sobre a posição de Lula-Itamarati em relação à Venezuela. Todos críticos e todos com o mesmo bordão. Nem se deram conta que as eleições atuais decorreram de um acordo, mediado por Celso Amorim, para garantir eleições livres no país. Aí Biden entra em contato, México e Colômbia assinam um comunicado com o Brasil, a chancelaria argentina recorre à brasileira, depois que foi expulsa de Caracas, e envia uma nota de agradecimento.
Aí, todas as notícias sobre o tema somem da home de O Globo. Ontem, bons comentaristas da Globonews ressaltavam o sucesso da diplomacia brasileira e um diplomata aposentado me indagava: o que será que os colunistas de O Globo dirão amanhã? Mirian Leitão disse: “Efeito colateral do radicalismo de Nicolás Maduro é ter permitido um bom momento entre Lula e Milei”.
Ou seja, a medida nasceu do nada, como um bebê de Rosemary. Não se admite que foi fruto do trabalho diplomático do país, de se colocar como mediador, sem tomar lado. Qual o problema de elogiar o que Lula faz de certo, e criticar o que faz de errado?
“Algumas pessoas nascem para balançar a bandeira,/ Ooh, Elas são vermelhas, brancas e azuis,/ E quando a banda toca ‘Saúde o Chefe’/ Ooh, eles miram o canhão para você, Senhor./ Não sou eu, não sou eu, / Eu não sou filho do senador,/ Eu não sou o afortunado, não”.
“Fortunate Son” (Filho afortunado) é um dos grandes êxitos do Creedence Clearwater Revival. Com ironia, sem mencionar diretamente o repúdio à guerra do Vietnã, a canção questiona os privilégios dos filhos da elite norte-americana, que eram poupados do alistamento militar e não eram obrigados a defender a pátria nos campos de batalha.
Na biografia não-oficial “Bad Moon Rising” (mesmo título da canção), escrita por Hank Bordowitz, John Fogerty conta que se inspirou em David Eisenhower, neto do ex-presidente americano Dwight D. Eisenhower. David se casou com a filha de Richard Nixon, outro ex-presidente, em 1968. E, claro, não foi à guerra.
Existem bandas de rock e existe o Creedence. Liderado pelo cantor e guitarrista John Fogerty, o Creedence foi uma banda diferente de todas as demais que surgiram nos anos 60/70. Responsável por um punhado de clássicos, praticava um rock cru e básico, .
O sucesso alastrou-se pelo mundo, liderando paradas e encantando plateias. Não foi apenas “Fortunate Son” que alavancou o CCR aos píncaros da glória. A banda produziu, em tempo relativamente curto, canções de forte apelo popular que sobrevivem muito bem até hoje.
No começo, predominava o rock psicodélico, que se tornaria depois um country rock assumidamente estradeiro e despojado até evoluir para um hard rock de primeira linha, sempre coerente com as ideias musicais de John e seus companheiros.
Formada em 1959, em El Cerrito (California, EUA), o CCR era formado por John, Tom Fogerty (seu irmão), Stu Cook e Doug Clifford. Durou até 1972. A partir daí, devido a sérios desentendimentos internos e com empresários picaretas, a banda se esfacelou.
John ainda foi obrigado a aceitar a humilhante situação de ser processado por tocar em shows as canções que compôs. O problema só foi solucionado em 2023, após uma batalha judicial que durou 50 anos.
“Sim, algumas pessoas herdam olhos com brilho das estrelas,/ Oh, Eles te enviam para a guerra, Senhor,/ E quando você os questiona, o quanto devemos dar,/ Ooh, eles apenas respondem, mais, mais, mais, sim./ Não sou eu, não sou eu/ Eu não sou filho do militar”.
“Fortunate Son” (do álbum Willy and the Poor Boys) foi lançada como single no final de 1969, com “Down on the Corner” como lado B. Foi eleita em enquete da revista Rolling Stone a 99ª melhor música de todos os tempos e está no Top 10 de qualquer roqueiro decente.
“Foi difícil desde o dia que eu fui marchar na rua pela primeira vez e fui xingado, e falei para o meu pai que havia decidido ser marchador. E ali eu larguei para esse dia. São quatro Olimpíadas. Terminei carregado em uma cadeira de rodas em 2012. E agora sou medalhista olímpico. Esse momento é eterno. Tem que ter muita coragem para viver de marcha atlética. Mas valeu a pena pagar o preço. Hoje eu pude falar para os meus pais ‘nós somos medalhistas olímpicos’”.
Palavras fortes e honestas de um campeão valente, que venceu obstáculos até mais difíceis do que a prova olímpica de ontem. Caio Bonfim conquistou a medalha de prata histórica nas Olimpíadas correndo na marcha atlética de 20km. Ficou em 2º lugar e se tornou o primeiro atleta brasileiro a alcançar o pódio na modalidade.
Nascido em Sobradinho (DF), há 33 anos, Caio percorreu a prova em 1h19m09 – atrás do equatoriano Brian Daniel Pintado (1h18m55), que levou o ouro. O bronze ficou com o espanhol Álvaro Martín (1h19m11).
Ao final da prova, o brasileiro apontou um certo favorecimento dos árbitros ao aplicar punições para os atletas nascidos na América do Sul. Na marcha atlética, em caso de um atleta erguer os dois pés ao mesmo tempo, será advertido; em caso de três punições, precisa ficar parado por 2 minutos, o que pode custar um grande número de posições.
No afunilamento da corrida, o brasiliense tomou sua segunda punição. Receoso de perder mais posições, preferiu não apertar o passo para tentar alcançar o equatoriano Brian Pintado, o líder da prova.
“Eu brinco que o Brasil tem dois esportes. Um é o futebol e o outro é ‘o que está ganhando’. Se você quer aparecer, tem que estar nesse outro que está ganhando. Eu sempre sofri com o preconceito. Você vê que, na câmera de chamada, eles chamam cinco atletas, quatro são europeus. Querem uma prova europeia. E aí tem dois sul-americanos liderando a prova, algum deles tinha que tomar a punição”, comentou.
A conquista lhe renderá um prêmio de R$ 210 mil, concedido pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que pagará esta quantia aos atletas que conseguirem a prata nas provas individuais em Paris. Quem ganhar o ouro fica com R$ 350 mil. O bronze será premiado com R$ 140 mil.
Vitórias como a de Caio adquirem um sabor especial pelo grau de dificuldade natural que cerca a modalidade. Alvo de preconceitos pelo jeito peculiar da caminhada, a marcha atlética exige fibra, estoicismo e uma capacidade mental à prova de todo tipo de pancadas.
As Olimpíadas têm sido marcadas por momentos emocionantes, vitórias de superação e grande esforço pessoal. Há também espaço para o marketing excessivo de algumas modalidades.
Mas, em meio a tudo, o esporte triunfa e elege um campeão de verdade, como Caio Bonfim, um legítimo herói brasileiro. Sem oba-oba.
Dupla titular volta para arrumar a zaga do Papão
Nos dois últimos jogos, o PSC sofreu quatro gols e marcou um. Duas derrotas consecutivas. É o pior momento da equipe na competição. Antes dessa súbita queda, o time esteve a poucos pontos do G4. Parecia inevitável que alcançasse o pelotão de cima.
De repente, duas partidas fora da curva frustraram a expectativa de evolução. O jogo com o Brusque foi o primeiro sinal de que algo ia mal. O PSC teve pela frente um dos piores times do campeonato e, ainda assim, mostrou insegurança defensiva e pouca agressividade no ataque.
Tudo bem que a partida teve algumas particularidades, como o pênalti discutível logo aos 8 minutos, que provocou a expulsão do zagueiro Lucas Maia. O PSC ainda perdeu Nicolas, por lesão, e não teve capacidade de reação para buscar pelo menos o empate.
No jogo seguinte, em casa, contra o Grêmio Novorizontino, mostrou um cenário ainda mais preocupante. Reforçado pela presença de Nicolas e de João Vieira, o time foi pressionado o tempo todo, até saiu na frente, mas depois sucumbiu ao melhor futebol do visitante.
Os gols sofridos pela equipe evidenciaram falhas graves de combate e cobertura na última linha. Com Wanderson e Carlão, o setor permitiu espaços para que o Novorizontino pudesse manobrar à vontade. No primeiro gol, Wanderson perdeu um duelo direto e foi obrigado a cometer pênalti.
Nos dois gols do final da partida, os zagueiros foram recuando e esqueceram de bloquear o avanço dos atacantes. Resultado: dois chutes de fora da área, disparados com tranquilidade e sem marcação.
Contra o Vila Nova, na segunda-feira (5), a dupla titular Quintana-Lucas Maia voltará a atuar, fazendo crer que a defesa terá finalmente segurança e condições de resistir ao ataque do 4º colocado na Série B.
Nem a torcida mais feliz do país atura derrotas em série
O Palmeiras é nos últimos o time mais vitorioso do país. Disputou finais de Campeonato Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil, vencendo a maioria das decisões. Nem isso segurou a ira da torcida, que ontem resolveu bater na porta do clube para cobrar resultados e protestar contra o quase intocável técnico Abel Ferreira.
O estopim foi a sequência de tropeços. Foram três derrotas no Brasileiro – Vitória, Fluminense e Botafogo – e uma na Copa do Brasil, para o Flamengo. Mal acostumados, os palmeirenses se aborreceram com a situação. O protesto foi civilizado, mas mostrou que o amor acabou.
Não houve invasão ou agressão. Um grupo de integrantes da maior torcida organizada do clube ficou em frente ao portão da Academia de Futebol, por onde passam os carros dos jogadores e da comissão técnica.
A fim de evitar contato dos torcedores com os atletas ou com Abel Ferreira, o Palmeiras montou um esquema de segurança e ameaçou chamar a Polícia, mas pode ficar pior. Nas próximas semanas, o time terá a segunda partida contra o Flamengo pela Copa do Brasil e encara um novo mata-mata na Libertadores, contra o Botafogo.
(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 02)
Raimundo Nonato Soares Lima está com malária pela segunda vez no ano, sem acesso a médicos nem remédios. O agricultor de 42 anos toma um banho gelado no igarapé para baixar a febre, enquanto me conta como pode virar réu. A mineradora canadense Belo Sun o acusa na justiça de tomar ilegalmente terras na disputa por uma das maiores jazidas de ouro do país.
Nascido no Tocantins, Raimundo se mudou ainda criança para o Pará. Desde então, vive na região onde hoje fica o projeto de assentamento Ressaca, no município de Senador José Porfírio. É nesse local, a 70 km do centro de Altamira, que a mineradora Belo Sun, subsidiária da canadense Belo Sun Mining Corp., pretende fazer duas cavas a céu aberto, com até 220 metros de profundidade, para explorar ouro.
“Disseram que iam tirar a gente daqui usando a polícia”, ele me conta em seu barraco de lona, ofegante pela malária e pelo calor, se lembrando do primeiro encontro com os advogados da empresa. Depois daquilo, os nomes de vários dos presentes da reunião apareceram no processo movido pela mineradora.
Para chegar ao assentamento Ressaca, é preciso percorrer uma estrada precária, com abismos e pontes prestes a desabar. A economia da região depende do garimpo, realizado de maneira artesanal e em pequena escala, junto com a pesca, o plantio de açaí, cacau, milho e a agricultura familiar.
Mas comunidades agrícolas como essa estão no caminho da mineradora, que ainda não conseguiu licenciamento para implantar as cavas a céu aberto e explorar a região.
As terras pertencem à União – mais especificamente ao Instituto de Colonização e Reforma Agrária, o Incra –, com quem a Belo Sun firmou um contrato de concessão em novembro de 2021. Desde então, a empresa encabeça uma disputa judicial contra pequenos agricultores, ativistas ambientais e indígenas que vivem na região.
A Belo Sun moveu no ano passado uma queixa crime em que acusa 40 pessoas de esbulho possessório – ou posse ilegal de bem ou imóvel. Alguns dos nomes citados são agricultores e e integrantes de organizações socioambientais, como Amazon Watch, International Rivers e Movimento Xingu Vivo Para Sempre, entre outras.
De acordo com o processo, um grupo formado por cerca de 50 a 100 pessoas – que teria motivação de ‘justiçamento agrário’ –, teria invadido e ocupado ilegalmente terras destinadas à reforma agrária concedidas à empresa.
A mineradora pede a condenação de todos os envolvidos, com a fixação de valor a ser pago para reparação dos danos ambientais e identificação dos responsáveis pela Polícia Civil. Também exige a quebra do sigilo bancário de ONGs e movimentos sociais, para comprovar um suposto “financiamento de movimento criminoso” para justiçamento agrário.
Além disso, solicita eventual intervenção policial para condução, prisão em flagrante, busca e apreensão de bens utilizados na prática criminosa, bloqueio de contas dos citados e identificação de outras entidades que tenham auxiliado os assentados.
Ao Intercept Brasil, a Belo Sun afirmou que o grupo de pessoas passou a ocupar ilegalmente a área destinada ao empreendimento minerário, e entrou com um pedido de reintegração de posse que foi aceito pela justiça, com a condição de uma tentativa de negociação. A Belo Sun recorreu e aguarda julgamento. O Incra e a Belo Sun afirmam que a área cedida para o empreendimento, de 41 mil hectares, corresponde a 3,5% da área do assentamento. Leia aqui a resposta da empresa.
O Ministério Público do Estado do Pará se manifestou favoravelmente à continuidade da queixa-crime em 24 de julho. No dia seguinte, a justiça decidiu aumentar o valor da causa de R$ 50 mil para R$ 300 mil. Também pediu que fosse realizada uma reunião ou audiência pública antes da reintegração de posse, se não houver conciliação.
Raimundo Nonato
UMA “TENTATIVA DE SILENCIAR DEFENSORES DE DIREITOS HUMANOS”
Os agricultores com quem conversei se recordam de uma primeira reunião com a empresa em agosto de 2023. Naquele dia, Raimundo Nonato estava trabalhando em sua roça e quando parou para almoçar, soube que haveria um encontro com a Belo Sun na casa do líder de um dos acampamentos, Amilson Abreu Cardozo.
Como Amilson estava viajando, quem recepcionou os convidados foi a companheira dele, Maria Solange Carvalho Almeida, também assentada. O pretexto, segundo alguns dos agricultores presentes, foi começar uma conversa sobre indenizações. Estavam lá um oficial de justiça, o advogado da Belo Sun e seguranças da Invictus, empresa privada que faz a proteção da mineradora.
As ruas do PA Ressaca. Foto: João Paulo Guimarães.
“O oficial de justiça me levou um documento informando da reintegração de posse que o juiz havia determinado”, Solange me contou. “O advogado falou que era bom que a gente entrasse em acordo pra sair, pra que a gente não passasse vergonha e vexame quando a polícia fosse tirar a gente, né?”
Segundo Solange, o oficial de justiça coletou o nome de todos, assim como documentação, sob o pretexto de documentar os presentes na reunião. “É uma coisa que ele faz todas as vezes que ele vai levar uma intimação, né. Ele pegou o nome de quem estava presente para confirmar as pessoas que estavam lá”. Ela e o marido acabaram sendo citados no processo como invasores pelos advogados da Belo Sun.
Entre o garimpo artesanal e a mineradora. Foto: João Paulo Guimarães.
Na reunião não havia a presença de representantes legais dos acampados. Um vídeo obtido pelo Intercept mostra Lucas Moreira Santa Briígida, um dos advogados que assina a queixa-crime, argumentando que aquele seria um primeiro contato para tentar uma conciliação e, assim, evitar que se utilizasse força policial contra os moradores.
Outro sem-terra arrolado é Jonas da Silva Lima, conhecido por Maranhão, de 42 anos. Nascido em Bom Jardim do Maranhão, o agricultor veio morar no Pará em 2011. Ele conta que conta que estava em sua casa quando Solange apareceu avisando que haveria uma reunião com Belo Sun.
“O pessoal da Belo Sun estava lá na reunião. Eu perguntei pra quê eles queriam os documentos, aí eles perguntaram se eu queria as terras e aí disseram pra gente assinar que era pro nosso bem. Depois eu percebi que era mentira porque logo depois saiu aí esse processo”.
O advogado Diogo Cabral, que defende os sem-terra no processo, classifica a ação judicial como assédio jurídico, uma tentativa “descabida de silenciar defensoras e defensores dos direitos humanos”. Essa prática, ele diz, tem sido utilizada com frequência na Amazônia para intimidar quem se opõe a grandes projetos na região.
“É uma disputa complexa, que envolve a defesa dos direitos territoriais dessas comunidades, dos direitos da floresta de se manter em pé, viva, e do outro lado os interesses internacionais que visam exclusivamente explorar os nossos recursos naturais”, argumenta.
Grande parte dos acampados é analfabeta ou semianalfabeta e nem todos têm conhecimento de seus direitos. É o caso de Leila Kaiapó, 29 anos, indígena do povo kaiapó. Leila nem mesmo sabe quantos anos tem ou qual é a data de seu aniversário. Nem ela nem o marido, Junior Alegre, também de 29 anos, sabem ler e escrever. Ambos se recusaram a entregar os documentos que a mineradora solicitou na reunião com os assentados e acreditam que, por isso, não foram citados na ação.
Leila Kaiapó. Foto: João Paulo Guimrães
Enquanto fazia a colheita do cacau para a venda das sementes, Leila me contou que estava em seu barraco quando Solange a visitou para avisar que haveria uma reunião em sua casa.
“Ela [Solange] falou que [a reunião] era um cadastramento do Incra”, diz Leila. Ela conta que recebeu um papel e avisou que não iria assinar. “Eles ainda perguntaram por que que eu não ia assinar. Eu disse que porque eu não sei assinar, eu não sei ler, e eu não vou assinar uma coisa que eu não sei o que é”, narra. “Aí ele perguntou se nós queríamos ser retirados por bem ou por mal”.
A Belo Sun afirma que o advogado Lucas Santa Brigida acompanhou uma diligência do processo, em que o oficial de justiça realizou a leitura da decisão da reintegração de posse. “Logo, reconhecido o esbulho possessório pela vara única de Senador José Porfírio, a queixa-crime foi para denúncia da invasão e seus patrocinadores”, disse a empresa.
‘Nós vamos brigar com essas pessoas na justiça’
As investidas judiciais da Belo Sun contra seus opositores começaram em 2022 por causa de um vídeo no YouTube, publicado pelo ecologista Rodolfo Salm.
Salm é professor da Universidade Federal do Pará, no campus de Altamira, e foi ao acampamento a convite da organização Xingu Vivo, para levar cestas básicas. Chegando lá, conversou com os assentados e decidiu fazer um vídeo em que mostra a resistência das famílias contra a mineradora e os perigos da exploração de ouro na região.
Rodolfo Salm. Foto: João Paulo Guimarães
“Eu fui processado por fake news porque eu comento sobre a possibilidade da barragem um dia se romper, mas eles disseram que eu não teria como saber, eles até usaram assim, como se eu tivesse o dom de prever o futuro, mas é inegável isso”, diz. “A própria literatura científica sobre barragens diz isso. Nenhuma barragem é eterna”.
A Belo Sun pediu indenização por danos morais por causa do vídeo. Salm precisou firmar um acordo e publicar uma nota de esclarecimento. “Apesar do processo ter sido encerrado, de certa forma eles venceram, porque eu tenho medo até de falar o nome deles”, me disse o professor.
“Foi ali que Belo Sun começou a intimidar essas populações”, recorda Paula Vargas, diretora da ONG Amazon Watch no Brasil, também citada na nova ação penal dos 40 acusados pela mineradora. A entidade – que atua no Brasil desde 1996 e já tinha feito oposição à hidrelétrica de Belo Monte, também no Pará — começou a se articular com outras organizações contra o projeto da Belo Sun em fevereiro de 2021.
“Era impossível para a região dar conta de um mega empreendimento como a maior mina de ouro a céu aberto em um lugar absolutamente impactado por Belo Monte”, diz Vargas. Ela lembra que a própria Norte Energia, responsável pela hidrelétrica, lançou um comunicado preocupada com a instalação e o andamento do projeto de mineração , cujas explosõese poderiam, inclusive, impactar a barragem da usina.
Vargas explica que criminalizar pessoas e entidades é uma estratégia conhecida como SLAPP, termo em inglês que define a ação de empresas multimilionárias para assediar, silenciar e coibir juridicamente quem se opõe a seus negócios.
“Porque eles não vão na entidade e sim no indivíduo? Porque o indivíduo é mais frágil”, me disse Vargas.
Para Ana Carolina Alfinito Vieira, advogada e assessora jurídica da Amazon Watch, a queixa-crime contra assentados e ONGs é um “absurdo jurídico” que não cumpre vários requisitos formais. “Pessoas que sequer se conhecem e que nunca se viram”, de acordo com ela, foram incluídas como réus.
“A minha leitura é que, sem dúvida, a dissolução, o fim desse acampamento é uma das, se não a maior, prioridade da Belo Sun nesse momento. Esse acampamento é uma pedra enorme no sapato deles”, disse.
Antonia Melo. Foto: João Paulo Guimarães
Antônia Melo, ativista da Associação Xingu Vivo para Sempre, também foi citada na queixa-crime. Ela se recupera de uma série de cirurgias, mas fez questão de falar comigo. “É perseguição. O único objetivo é destruir e aumentar os seus lucros com a destruição dos rios, da floresta, principalmente também da vida das pessoas que moram nessas áreas”, diz.
Em dia 20 de maio, uma comitiva do governo federal visitou o assentamento Ressaca. Houve uma reunião, assim como uma escuta de moradores da Ilha da Fazenda, local onde está prevista a instalação dos rejeitos da mineradora Belo Sun.
Durante a visita, Maria Elena de Araújo Silva, também da Associação Xingu Vivo e citada na queixa crime, se manifestou sobre a presença inédita dos representantes do governo federal. “São terras agrícolas e nós vamos brigar com essas pessoas na justiça. A gente espera que venham outras visitas para eles verem com os próprios olhos o que está acontecendo aqui”, ela me disse.
Seguranças da Belo Sun intimidam agricultores – e repórteres
Em agosto de 2022, a Belo Sun acusou o Tribunal de Justiça do estado do Pará de não protegê-la contra a “invasão que cresce e se consolida a cada dia”. A empresa citou a inércia do órgão, que incentivaria o aumento e expansão desenfreada de colonos na região.
Também pediu a intervenção do estado argumentando “necessidade imediata a fim de reintegrar a autora”, com apoio da força policial, desmobilizando os “réus invasores” do local.
Mas quem vive no projeto de assentamento Ressaca está acostumado com a violência. Segundo os moradores, tiroteios direcionados para os acampamentos fazem parte da rotina.
Um dos acampamentos da região se chama Francisco Piauí em homenagem a um agricultor que teria sofrido assédio e agressões de quem apoia a Belo Sun. Segundo moradores, o idoso foi surrado nas ruas da Vila Ressaca e precisou sair da região. Ele morreu neste ano, em decorrência de um acidente vascular cerebral.
Outros moradores, que não quiseram se identificar por temerem represálias, me contaram que houve outro episódio recente de violência a tiros.
“Essa área aqui era ocupada pelo gado que os fazendeiros deixavam circulando porque a Belo Sun liberou”, me disse uma testemunha. Um grupo de fazendeiros, segundo o relato, colocou fogo em um barraco, e os sem-terra denunciaram o caso à polícia.
Na sequência, fazendeiros da região teriam se reunido e dispararado contra o acampamento com armas de fogo. “A gente encontrou as cápsulas das balas no dia seguinte e entregou pra polícia”, relatou um morador.
Os acampados denunciam também a empresa de segurança Invictus, com sede em Belém, que faz a segurança para a mineradora canadense. Segundo eles, são frequentes episódios de violência por parte dos agentes de segurança, que estariam sob a liderança de um homem conhecido por Melo.
Quando visitamos um território, uma caminhonete com adesivo da empresa seguiu o nosso veículo. Primeiro, o carro veio dirigindo em alta velocidade em nossa direção. Ao nos avistar, parou no acostamento. Viramos para a direita e a empresa seguiu em nosso encalço.
Em outra estrada mais estreita e com uma vegetação alta, pudemos perceber a caminhonete da empresa seguindo nosso veículo lentamente. Ninguém nos abordou.
Uma das passageiras em nosso carro passou mal e chorou.“Isso nunca havia acontecido dessa forma tão deliberada e descarada da parte deles. Eu acho melhor a gente sair daqui quando eles forem embora”, me disse ela, que é moradora da região, e não quer se identificar por medo.
A Belo Sun confirmou que a Invictus faz a segurança de suas áreas de mineração. Mas garantiu que a empresa “não possui poder de polícia e jamais esteve autorizada a assediar ou agir com truculência. Seu trabalho é monitorar e documentar os acontecimentos nas áreas relacionadas à Belo Sun”, disse a mineradora.
A realidade relatada por moradores do PA Ressaca é outra.
Seu Francisco Antônio Filho, 63 anos, vem tentando construir sua casa no território, mas sua rotina de trabalho é interrompida por abordagens constantes da Invictus que o visita regularmente.
“Os guardas aqui da Belo Sun, todo dia que eu comecei a trabalhar, tão lá me enchendo o saco”, conta. “Chegaram em três lá, e um me mandou sair, disse que eu não podia ficar lá, não tinha direito de fazer barraco lá e que eu tava perdendo meu tempo”.
Mineração traz risco ‘catastrófico’ de rompimento de barragem
No final do ano passado, a Justiça Federal decidiu que a responsabilidade pelo licenciamento do empreendimento não seria mais da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Pará, a Sema – mas, sim, do Ibama.
Enquanto isso, aBelo Sun também enfrenta a preocupação de outros órgãos estaduais e federais pelos possíveis impactos ambientais das cavas de mineração. Em uma Ação Civil Pública Ambiental, o Ministério Público do Pará chamou atenção para possíveis contaminações ambientais e o risco de rompimento da barragem que a empresa planeja construir.
A própria Belo Sun também identificou riscos nos estudos ambientais do projeto. De acordo com uma nota técnica de 2012, há riscos de alteração da qualidade das águas superficiais e subterrâneas e nas propriedades do solo. O perigo de rompimento da barragem de rejeitos foi definido como pouco provável, mas teria “consequências catastróficas” caso ocorra.
Ainda há materiais contaminantes que podem estar presentes: arsênio, antimônio, chumbo, cobre e enxofre nos materiais analisados na região, mas, segundo a empresa, em concentrações “suficientemente baixas”, segundo seu estudo de viabilidade. Esses elementos poderiam ampliar a necessidade do uso de cianeto, um produto extremamente tóxico para humanos, flora e fauna, no processamento do ouro.
Em 2022, as Defensorias Pública da União e do Estado do Pará entraram com uma ação civil pública contra o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Incra, pedindo a nulidade do contrato entre o órgão e a Belo Sun, e impedindo a concessão de qualquer licença até que a mineradora consiga provar posse das terras
Para as defensorias, o Incra abriu mão das terras públicas, que deveriam ser destinadas à reforma agrária, para beneficiar a mineração. A ação questiona o contrato de concessão de uso entre a autarquia e a Belo Sun e acusam o Incra de descumprir sua função constitucional, que é realizar projetos de assentamentos.
Segundo Diogo Cabral, advogado dos assentados, outras investigações e processos judiciais mostram que alguns dos lotes teriam sido adquiridos de má-fé, ilegalmente, o que por si só levaria à impossibilidade da empresa canadense ter acesso a terras públicas da União.
Ao Intercept, o Incra afirmou que não é sua atribuição conceder direitos minerários em nenhuma parte do território brasileiro. “A Belo Sun obteve concessão para explorar a área junto aos órgãos competentes”, disse o órgão, afirmando que a empresa não tem a posse da área e o contrato autoriza o uso de 3,5% da área pela empresa. “A Câmara de Conciliação Agrária do Incra realizou visita técnica ao local e tem dialogado com a comunidade e organizações da sociedade civil”, disse o órgão.
Plantação de mandioca no acampamento. Foto: João Paulo Guimarães.
Por enquanto, o cadastro no Incra é o que leva esperança a famílias como a de Leonardo Barbosa de Lima, produtor rural de 43 anos. Com sua companheira Keriane Rodrigues Pereira, 28 anos, e seus quatro filhos, eles vivem na iminência de serem expulsos pela Belo Sun.
“Para nós basta 220 metros quadrados que cabem 5 mil pés de cacau, em um modelo de trabalho que ajuda a reflorestar essa área degradada aqui”, ele me disse. “Eu não quero plantar só o cacau, também quero um plantio consorciado de açaí, castanha e cupuaçu. O que a gente tá esperando aqui é que o Incra venha logo pra adiantar essa situação”.
Leonardo e Keriane moram em um espaço sem paredes nem banheiro, com um fogão à lenha. Apesar da situação precária, o casal acredita que a liberação das terras é o caminho para a mudança de vida.
Leonardo Barbosa, Keriane Rpdrigues Pereira e seus filhos. Foto: João Paulo Guimarães
“A ideia é sobreviver com a própria produção da gente. Daqui a pouco chega a época de plantar o arroz. Você tem o porco que vai te trazer carne e uma banha saudável, aí não é preciso comprar o óleo no mercado. A galinha vai te dar os ovos dela pra comer ou fazer um bolo e a terra vai lhe dar o feijão e melancias pesando até 25 quilos, produzidas com adubo orgânico que ficam prontas em 60 a 80 dias apenas”.
Keriane lamenta a violência e admite o medo por ela e por seus filhos. “Ele tem medo de sair e me deixar aqui com os meninos porque esse pessoal que tá aí é perigoso mesmo. Eles não têm medo de fazer o mal aqui”.
CNI e Fiesp pediram a redução da Selic: “Se acabarem com a autonomia do Banco Central, o ‘mérito’ vai ser todo do Campos Neto”
Do Jornal GGN
Com vistas às pressões dos setores financeiros no segundo semestre do ano por aumento da taxa básica de juros, a Selic, e próximo da nomeação do presidente Lula ao novo comando do Banco Central, os presidentes da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e da Confederação Nacional da Indústria (CNI) marcaram posição e pediram, publicamente, a redução da Selic.
O gesto é um endosso das instituições que defendem a linha apelada pelo presidente Lula, de que é preciso o Banco Central reduzir a Selic para não ter impactos na inflação e economia brasileira. E é contrária ao atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, que insiste em manter os índices altos e lidera a pressão de outros investidores que também defendem a alta.
Nesta terça (30), o presidente da Fiesp, Josué Gomes, criticou diretamente Campos Neto, afirmando que o presidente do banco adotou “um posicionamento político” e que tal comportamento ameaça a autonomia da autoridade monetária.
“Ele optou pessoalmente por um posicionamento político. Se acabarem com a autonomia do Banco Central, o “mérito” vai ser todo do Campos Neto”, disse Gomes, durante um café com jornalistas, na Fiesp, nesta terça.Já em nota oficial, nesta quarta-feira (31) foi a vez do presidente da CNI, Ricardo Alban, criticar o Banco Central e os juros altos. Alban destacou que a alta da Selic impacta diretamente no custo de crédito alto, limitando o consumo e o investimento, além de comprometer a capacidade de o país investir, abrir novos postos de trabalho e ampliar a renda da população.
“A indústria é uma das maiores prejudicadas pelo nível das taxas de juros, que dificulta investimentos e a ampliação de capacidade produtiva. No fim, os brasileiros perdem em oportunidades de emprego e aumento de renda, comprometendo o bem-estar da população. Sem reduzir os juros, ficaremos presos nessa armadilha”, afirmou.
No comunicado, a instituição ainda apontou o spread bancário alto do Brasil que aumenta ainda mais o crédito e traz pouca oferta no mercado. De acordo com dados do Banco Mundial, o Brasil tem o terceiro maior spread bancário do mundo, de 27,4%, perdendo apenas para o Zimbábue e Madagascar.
“Esses fatores fazem com que volume de crédito na economia brasileira seja baixo”, divulgou a CNI. “Para a CNI, por ter cadeias produtivas mais longas, as empresas industriais são as mais prejudicadas por esse acúmulo do custo do crédito, encarecendo o bem final e causando perda de competitividade do setor”, completou.