Como autor de ‘Lavoura Arcaica’ ajudou Lula a fundar uma universidade em região antes dominada por nazistas

Presidente celebrou os dez anos do campus Lagoa do Sino da UFSCar ao lado do consagrado escritor Raduan Nassar

Desde seu primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou 14 novas universidades federais no Brasil. Todas elas têm sua importância, mas a expansão de uma instituição em específico carrega uma história especial: a criação do campus Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em Buri, no interior de São Paulo. 

Nesta terça-feira (23), Lula participou da cerimônia de comemoração dos dez anos do campus Lagoa do Sino da UFSCar ao lado do consagrado escritor Raduan Nassar, autor de obras célebres como “Lavoura Arcaica” “Um Copo de Cólera”. Durante o evento, o presidente anunciou um investimento de R$ 79,3 milhões para a UFSCar, sendo que R$ 13 milhões serão destinados a melhorias no campus Lagoa do Sino. 

Hoje com 88 anos, Raduan Nassar doou sua fazenda de 643 hectares em 2011 para que o campus fosse construído. Em 2014, então, durante o governo de Dilma Rousseff, a expansão da universidade foi inaugurada com cursos para atender às demandas da população local, focados em agricultura familiar, segurança alimentar e desenvolvimento territorial.

“Numa tarde, tive o prazer de receber uma ligação do Raduan Nassar, que queria fazer a doação do terreno que, anos depois, se tornaria o Campus Lagoa do Sino da UFSCar. Uma fazenda de 640 hectares que receberia cursos da área agrícola. E estou aqui em homenagem a este importante homem do nosso país”, afirmou Lula durante a cerimônia. 

“Quando aparece um homem que, aos 75 anos de idade, naquela época, assume a vontade e a responsabilidade de se desfazer de um patrimônio dele, como esse aqui, para que a gente pudesse formar milhares e milhares de meninas e meninos nesse país, para ajudar o país a se transformar num país grande, num país importante, num país competitivo, a gente só tem que dizer graças a Deus, Raduan, Deus te pôs no mundo e você está colocando essa dádiva que Deus te deu para o futuro desse país”, prosseguiu o presidente. 

Raduan Nassar nasceu em Pindorama, no interior paulista, e estreou na literatura em 1975 com seu famoso livro “Lavoura Arcaica”. Depois, emplacou outra obra-prima, “Um Copo de Cólera”, em 1978. Ambos foram adaptados para a TV e o cinema e, apesar de ter publicado apenas três romances, o escritor possui reconhecimento internacional e, em 2016, recebeu o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa.

Mais de 600 estudantes se formaram ao longo dos dez anos do campus Lagoa do Sino da UFSCar. Os três primeiros cursos de graduação no local foram engenharias agronômica, ambiental e de alimentos. Em 2016, foram inaugurados os cursos de administração e de ciências biológicas, sendo que hoje o campus oferece também programas de pós-graduação em conservação da fauna e conservação e sustentabilidade.

“O sonho concretizado pode ser visto nas transformações que já identificamos a partir de cada estudante que passa por aqui, se forma, tem a sua vida transformada, muda o curso da história da sua família, e segue assim mudando o mundo”, disse a reitora da UFSCar Ana Beatriz de Oliveira. 

EDUCAÇÃO ONDE ANTES HAVIA NAZISMO E TRABALHO ESCRAVO

Outro aspecto que traz ainda mais significado para o campus Lagoa do Sino da UFSCar é o fato de que as fazendas da região, no passado, já pertenceram a empresários ligados ao nazismo e ao integralismo. Além disso, em uma dessas áreas rurais, entre 1932 e 1941, 50 meninos negros, órfãos do Rio de Janeiro, foram submetidos a trabalho escravo. 

Esse passado foi rememorado pelo estudante de engenharia agrônoma da UFSCar Murilo Piccoli durante a cerimônia desta terça-feira (23) em Buri. 

“É com orgulho que eu digo que um lugar que já foi senzala, hoje é uma universidade pública. As políticas de ações afirmativas pintaram a universidade de povo, permitindo que hoje possamos dialogar e aprender com estudantes negros, indígenas, LGBTQIA+, PCDs, quilombolas, estrangeiros e advindos do ensino básico público”, declarou. 

O historiador Sidney Aguilar Filho, autor de uma pesquisa sobre a história dos nazistas e dos meninos escravizados na região e que deu origem ao livro “Entre Integralistas e Nazistas: Racismo, Educação e Autoritarismo no Sertão de São Paulo”, também esteve presente na cerimônia e presenteou Lula com um exemplar da obra. 

(Com informações da Revista Fórum)

Sobre os enjeitados de sempre

POR GERSON NOGUEIRA

O futebol paraense tem se especializado em situações de submissão dos gestores aos caprichos dos técnicos sobre a escolha de jogadores. É um tema de suma importância, com consequências no rendimento dos times em campo, mas muitas vezes o problema escapa à percepção dos torcedores ou vem disfarçado por suposta decisão de natureza técnica.

Dois jogadores nativos, vindos das divisões de base, têm simbolizado a sem-cerimônia com que os técnicos agem, preferindo atletas mais experientes e caros – refiro-me a salários –, mesmo que não estejam no melhor momento. Por ironia, jogadores desse perfil ganham a titularidade para justificar o investimento do clube.

Em tese, quem deveria ser escalado sempre é o atleta melhor preparado, fisicamente apto e em condições de contribuir para o sucesso da equipe. No mundo ideal, as decisões seguiriam esse critério. No futebol do Pará, não funciona assim.

Vejamos os casos de Juninho, meia do PSC, e Ronald, atacante do Remo. Jovens, ambos vivem um momento especial na carreira. Juninho era o titular indiscutível do Papão, a partir de atuações seguras e convincentes. Isso até a chegada do equatoriano Juan Cazares, contratado para dar mais consistência ao setor de meio-de-campo.

Com a vinda de Cazares, credenciado pela carreira vitoriosa e experiência em grandes clubes, Juninho passou à condição de reserva, fato absolutamente normal levando em conta o tempo de estrada do meia paraense. Ocorre que, para espanto geral, de um momento para outro, Juninho foi rebaixado à condição de terceiro reserva.  

Na segunda-feira, o PSC jogou contra o Brusque em Florianópolis e o banco de suplentes não contava com Juninho. No 2º tempo, quando o Papão lutava para conseguir o empate, o jovem meia-atacante seria a opção ideal para entrar em lugar de Cazares, que não atuava bem.

A comissão técnica optou por levar o veterano Robinho, que passa hoje mais tempo no DM do que jogando. Obviamente, Robinho não iria entrar no jogo, como não entrou. Ao contrário de Juninho, ele não era uma alternativa para a estratégia de pressão que o PSC precisava fazer.

Juninho ficou em Belém, quando poderia ter contribuído para mudar a configuração do PSC em campo. É óbvio que a presença dele não seria garantia de vitória, mas representaria um recurso a mais para um time desprovido de ideias em campo.

Situação até mais antiga envolve Ronald no Remo. A temporada começou com boa participação dele, recuperado de uma lesão séria. Nos quatro clássicos Re-Pa antes do Campeonato Brasileiro, Ronald foi o mais produtivo atacante do Remo, marcando gol na final do Parazão.

Apesar disso, Gustavo Morínigo barrou Ronald do time que estreou (e perdeu) na Série C contra o Volta Redonda, no Baenão. O técnico preferiu escalar Guilherme Cachoeira, trazido do Fortaleza pelo executivo Sérgio Papellin. Ronald continuou fora da equipe nos jogos seguintes.

O paraguaio caiu e o Remo contratou Rodrigo Santana. Ronald seguiu esquecido. Só entrava, quando entrava, nos 10 minutos finais das partidas. Isso se repetiu contra o Caxias, mas Ronald aproveitou bem o pouco tempo em campo: deu o passe para o terceiro gol, de Jaderson, e fez o quarto gol.

Foi sua sentença fatal. Nas partidas posteriores, voltou a ser ignorado e viu do banco o Cachoeira entrar contra o CSA. Como titular, condição que Ronald nunca teve, o ponta indicado por Papellin fez o de sempre, correu muito e não produziu nada. 

Ronald, além de atacante agudo pela esquerda, sabe driblar e cruzar. Disciplinado taticamente, quando deslocado para ajudar na marcação contribui para a equipe. Mesmo com essas qualidades, ficou de fora novamente da relação de atletas para o jogo com o Figueirense, amanhã.

É claro que não é responsabilidade exclusiva das comissões técnicas ou de seus intermediários nos clubes. A omissão aqui é da gestão, que aparentemente teme confrontar os técnicos, por comodismo, ou não tem o conhecimento necessário para cobrar, o que é mais triste ainda. Enquanto isso, o interesse dos clubes é deixado de lado. Até quando?     

VAR na berlinda, como sempre

“Não foi pênalti, o Grêmio vai reclamar com razão. Primeira análise é se o segurar gera impacto, pois nem todo segurar é falta. Segundo ponto, o jogador do Corinthians cai para frente em um puxão. A bola sobra para o companheiro de equipe do atacante que cabeceia livre. O VAR no Brasil segue sendo uma vergonha, é o tipo de lance que só por aqui há interferência e a arbitragem marca.”

Renata Ruel, comentarista de arbitragem da ESPN, sobre o pênalti marcado para o Corinthians no jogo contra o Grêmio

Um primor de lambança no futebol da Olimpíada

O resultado só saiu 2 horas depois do chamado tempo normal. A Argentina perdeu para Marrocos por 2 a 1, mas a demora para definir o placar deveu-se à lentidão do VAR no torneio de futebol da Olimpíada, em St. Etienne, na quarta-feira (24).

A seleção marroquina vencia por 2 a 1 até o fim do segundo tempo, mas o árbitro sueco Glenn Nyberg decidiu brincar com a emoção e deu impressionantes 15 minutos de acréscimos.

Tempo suficiente para o empate da Argentina, que revoltou a vibrante torcida de Marrocos. Muitos objetos foram atirados no gramado, os atletas correram para os vestiários e torcedores invadiram o campo.

A partida foi interrompida e o VAR, por segurança, só divulgou o resultado da análise do gol 2 horas depois. As equipes voltaram a campo para jogar por três minutos. Marrocos, merecidamente, venceu.

O VAR, porém, perdeu. Nada surpreendente para o torcedor brasileiro, acostumado com as patacoadas do árbitro de vídeo. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 26)

Rock na madrugada – The Rolling Stones, “Route 66”

POR GERSON NOGUEIRA

Julho é o mês de aniversário dos Stones. Eles completam 62 anos de estrada. Foi em 12 de julho de 1962 que oficialmente tudo começou, no palco do 100 Club, na Oxford Street, em Londres. “Eu não escolhi os Stones, eles me escolheram. Eu estava em algumas bandas e a que ficava me pedindo para fazer shows era os Stones”, contou certa vez Charlie Watts, que não participou da primeira apresentação – entrou para a banda seis meses depois.

Naquela noite, Charlie foi testemunha ocular do nascimento da banda. Ele era baterista do grupo Blues Incorporated, de Alexis Korner, que deveria tocar no 100 Club. Alexis optou em cima da hora por tocar no programa “Jazz Club” da BBC Radio, deixando o dono do clube lutando para encontrar uma banda substituta.

Felizmente, ele tinha o número de telefone de Brian Jones, que ainda era o líder dos Stones. A história do rock’n’roll nunca mais seria a mesma desde aquela noite em Londres.

Route 66 é uma das primeiras músicas dos Stones a alcançarem as paradas. Tudo o que faziam era inspirado nos grandes blueseiros americanos. A música é de Bobby Troup (escrita em 1946), celebrizada na voz de Nat King Cole em ritmo mais lento. Os Stones gravaram e reinventaram a canção, transformando-a num rock poderoso, destaque do álbum de 1964.