A força que vem do meio-campo

POR GERSON NOGUEIRA

A ocorrência de lesões e suspensões é rotineira na Série B, o que obriga os clubes a não descuidar do chamado almoxarifado – reserva de qualidade para suprir ausências importantes. É exatamente o que ocorre com o PSC a esta altura da competição, com perdas expressivas na equipe titular, casos de Juninho e Leandro Vilela.

Com um farto contingente de meio-campistas, a comissão técnica tem alternativas interessantes para o time que vai enfrentar o Operário-PR no próximo domingo, na Curuzu. Se Vilela está fora, Val Soares, Netinho, Carlos Maia e Brendon são opções imediatas.

Caso o meia-atacante Juninho não esteja em condições de voltar contra o Operário, Netinho é a peça mais indicada para substituí-lo. Christophe é outro que pode ser lançado, sem esquecer do experiente Robinho, que pode entrar ao longo do confronto.  

Os dois últimos jogos, contra CRB e Chapecoense, mostraram a força das peças alternativas. O elenco respondeu bem quando o PSC precisou lançar mão de substitutos. Já havia sido assim contra o América-MG, primeira vitória do time no campeonato.

Naquela ocasião, Val Soares saiu de campo consagrado pela bela atuação no segundo tempo. Marcou o gol que abriu caminho para o triunfo e ainda participou intensamente do duelo de meio-campo.

É importante que o time tenha jogadores capazes de contribuir positivamente, mesmo que tenham estilos e características diferentes dos que vêm jogando. Longe de representar uma perda qualitativa, funciona como rejuvenescimento de repertório, o que é sempre positivo.

A saída de bola, item fundamental da estratégia ofensiva do PSC, precisa estar bem sincronizada, sob pena de prejudicar as jogadas no ponto de origem. Quando atua com Vilela, João Vieira e Juninho, a formação titular da meia-cancha, o time acelera e consegue surpreender os adversários.

Mesmo quando não conta com dois desses titulares, a equipe pode ser igualmente poderosa no movimento de avanço sobre o campo inimigo. Val Soares é vertical e agressivo nas finalizações.

Netinho também é um volante com perfil de meia, que gosta da aproximação no ataque e dos chutes de média distância. À sua maneira, ambos tornam o PSC mais forte ofensivamente. (Foto: Matheus Vieira/Ascom PSC)

Felipinho está certo: tumulto ferrou o Leão em Natal

Muito oportuno o desabafo de Felipinho, autor do gol do Remo na derrota para o ABC, em Natal, por 3 a 1. O atacante lamentou o tumulto criado pelas facções organizadas, culminando com a invasão do gramado exatamente depois do gol remista. A interrupção provocada pelo confronto prejudicou o Leão, que vivia seu melhor momento no jogo.

O gol de Felipinho, aos 30 minutos, coroou a melhor atuação azulina na etapa final. O problema é que não houve tempo para continuar pressionando e aproveitando o momento de instabilidade do setor defensivo do ABC.

Além de avaliar que o resultado surpreendeu o próprio time, que fazia planos de sair com pelo menos um ponto de Natal, Felipinho expressou o sentimento geral dos jogadores. Deve ser frustrante ter uma evolução de jogo neutralizada pela ação irresponsável da própria torcida.

Em Belém, contra o S. Bernardo, a parte baderneira da torcida azulina – ou elementos que se disfarçam de torcedores – já tinha se exibido, quebrando assentos e agredindo pessoas, incluindo um policial militar.

Felipinho observou, com razão, que a confusão esfriou o jogo quando o ABC já havia baixado suas linhas e estava claramente atordoado, tanto que o Remo manobrava com extrema liberdade em campo.

Facções uniformizadas se transformaram em problema para os clubes paraenses, não apenas em Belém. O PSC foi punido no ano passado por tumultos causados por torcedores em Florianópolis. Agora, em função da baderna contra S. Bernardo e ABC, o Remo corre o risco de sofrer uma punição pesada no STJD.

Messi, gênio solitário, deve muito aos operários valorosos

A Copa América, com jogos ainda desinteressantes na primeira fase, tem comprovado que o super craque Lionel Messi depende cada vez mais dos carregadores de piano da seleção argentina. Jogadores como De Paul funcionam como verdadeiros cães de caça a serviço do camisa 10.

Os demais jogadores, inclusive os da linha de zagueiros, trabalham o tempo todo em função dele. Limpam a área, criam espaço e lutam do começo ao fim em alta intensidade para que o solista possa brilhar.

Foi assim na Copa de 2022, mas o jogo coletivo (ou comunitário) da Argentina não se desfez depois do título mundial. Pelo contrário, acabou se intensificando, pela consciência de que todos são coadjuvantes ante a grandeza individual do gênio.

Um tabu que desafia a lógica e os investimentos

Alguns tabus nacionais são teimosos, insistem em se manter de pé apesar das óbvias diferenças técnicas entre os times. É o caso de Flamengo e Juventude. Ontem, o rubro-negro do Rio sofreu nova derrota jogando na Serra Gaúcha. Foi o oitavo tropeço diante do Juventude na era dos pontos corridos.

Tudo começou em 2003, com o empate em 2 a 2. No ano seguinte, vitória do Juventude por 1 a 0. Empate em 2 a 2, em 2005; vitória gaúcha por 1 a em 2006; empate, 2 a 2, em 2007; triunfo do Juventude em 2021, por 1 a 0. Novo 2 a 2 em 2022 e, finalmente, ontem, 2 a 1.

Desta vez, o Flamengo estava há nove partidas sem perder. A melhor fase do time desde a chegada de Tite, mas nem isso foi capaz de resistir à força do tabu. Só mesmo a saudável e maravilhosa incerteza que ronda o futebol para justificar uma escrita entre duas forças desiguais.

O Juventude tem o segundo menor orçamento dos clubes que disputam a Série A. Já o Flamengo é o segundo em investimentos na temporada (R$ 162 milhões), abaixo apenas do Cruzeiro, com R$ 188 milhões.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 27)

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