Leão cai para o ABC e fica mais longe do sonho do acesso

O ABC venceu o Remo por 3 a 1 na noite desta segunda-feira, no Frasqueirão, em Natal (RN), em duelo pela 10ª rodada da Série C do Campeonato Brasileiro. Os gols do Alvinegro foram marcados por Jenison, Lucas Sampaio e Daniel Cruz; Felipinho descontou para o time paraense. Um tumulto provocado pela torcida do Remo interrompeu a partida por cerca de 15 minutos, logo depois do gol de Felipinho.

Com a vitória, o ABC chegou aos 12 pontos, passando a ocupar a 10ª posição. O Remo segue com 10 pontos, caindo para o 11º lugar. O Remo volta a jogar no sábado, às 19h, contra o Ferroviário no Baenão.

A partida foi decidida na etapa inicial. A primeira chance coube ao Remo, mas Ytalo parou no goleiro Pedro Paulo. Um apagão da zaga remista levou aos gols do ABC: aos 22 minutos, Lima deu assistência para Jenison, que bateu de primeira e abriu o placar; aos 25′, Lucas Sampaio chutou de fora da área e ampliou. O Remo sentiu o golpe, mas ainda teve a oportunidade para diminuir com Felipinho, após falha de Eduardo Thuram, mas o goleiro Pedro Paulo salvou.

O Remo voltou melhor no 2º tempo, pressionando o ABC, principalmente com Ytalo e Felipinho. O Alvinegro se virava para impedir as investidas do Leão. O crescimento do Remo levou ao gol de Felipinho aos 31 minutos, batendo cruzado. No mesmo instante, eclodiu a confusão entre os torcedores, que chegaram a invadir o campo. A paralisação foi de 12 minutos e atrapalhou a reação do Leão. Na retomada, o Remo ainda tentou pressionar, mas não criou chances. Nos acréscimos, o ABC fez o terceiro, com Daniel Cruz.

Rock na madrugada – The Beatles, “Old Brown Shoe”

POR GERSON NOGUEIRA

Um clássico atemporal dos Beatles. Contribuição genial de George Harrison, que de vez em quando entregava pérolas admiráveis para quebrar o domínio da dupla Lennon-McCartney. No vídeo, extraído do documentário “Get Back”, os quatro gênios estão na sala do estúdio, brincando, improvisando e apreciando os solos de Harrison na guitarra.

Old Brown Shoe (Velho sapato marrom) é da mesma fornada de Something, Here Comes The Sun, if I Needed Someone e While My Guitar Gently Weeps, clássicos da banda, todos de autoria de Harrison, cujo talento foi muito subestimado por John e Paul ao longo da existência dos Beatles.

A versão captada pelo filme mostra uma espetacular performance de Harrison nos vocais, guitarra solo e baixo – cujo riff é um dos pontos altos da música. Nas baquetas, um show particular de Ringo, principalmente na primeira parte da canção. Backing vocals de Lennon e McCartney, que também tocou piano. O grande Billy Preston não tocou na gravação, só ficou passeando e conversando com os quatro.

Quando ouvi Old Brown Shoe é uma das canções do Lado B do álbum “Hey Jude”, de 1970. As origens da letra têm a ver com a visão religiosa de Harrison. Para ele, era preciso se libertar da realidade do mundo material por ser ilusória.

Os versos condensam um jogo de palavras baseado em conceitos opostos, mas não contam uma história lógica. O título vem da primeira estrofe – “Stepping out of this old brown shoe” -, que permite interpretação variada:

“Eu quero um amor que seja certo, mas o certo é apenas parte do que é errado. Quero uma garota de cabelos curtos que às vezes use-os muito mais compridos. Por ora estou me livrando desse velho sapato marrom”.

O compacto que precedeu o álbum Hey Jude tinha “The Ballad Of John & Yoko”/”Old Brown Shoe” e foi lançado em 30 de maio de 1969 no Reino Unido e em 4 de junho de 1969 nos Estados Unidos. Foi número 1 nas paradas dos dois países.

Prestes, Brizola, Lula

Lula e Brizola no palanque (Miguel Arraes ao fundo)

Por Breno Altman

A esquerda brasileira, em mais de cem anos, desde a greve geral de 1917, produziu somente três grandes lideranças nacionais, capazes de ter suficiente apoio para assumir protagonismo e comandar o país.

A primeira delas, a mais heroica, foi Luiz Carlos Prestes, principal figura dos levantes tenentistas. Seu período de real influência foi dos anos 20 até os 60. Chefiou a coluna que levaria seu nome, conduziu a insurreição de 1935, passou quase dez anos preso e, apesar da clandestinidade e do clima anticomunista da guerra fria, além dos graves erros cometidos por seu partido e por si mesmo, desempenhou papel de relevo até o golpe de 1964. Não é à toa que encabeçava a primeira lista de cassação da ditadura.

A segunda foi Leonel Brizola. Por seu papel na crise de 1961, quando era governador do Rio Grande do Sul e comandou a resistência que derrotaria o golpe militar em andamento contra a posse de João Goulart, vice do renunciante Jânio Quadros, transformou-se em referência central do trabalhismo, a partir de uma perspectiva nacional-revolucionária que levaria amplas frações dessa corrente, fundada por Getúlio Vargas, ao campo de esquerda. Era a grande alternativa eleitoral das forças populares para o pleito de 1965: em boa medida, a reação militar-fascista se deu para barrar sua caminhada. Desde o retorno do exílio, em 1979, foi perdendo protagonismo, particularmente após 1989, quando não teve votos para passar ao segundo turno das primeiras eleições presidenciais desde o golpe de 1964.

A terceira é Luiz Inácio Lula da Silva. Ao contrário de seus antecessores, chegou à Presidência da República. Filho do movimento operário e popular que emergiu nos anos 70, seu líder incontestável, logrou forjar base social e eleitoral para, pela primeira vez na história brasileira, levar a esquerda e um partido orgânico da classe trabalhadora à direção do Estado.

Antes que alguém reclame, a nominata não inclui Getúlio Vargas porque o mentor do trabalhismo não era nem nunca se reivindicou de esquerda. Sua trajetória é a de um chefe do nacionalismo burguês que, em seu segundo mandato presidencial, rompeu com os setores hegemônicos da classe à qual pertencia e deu curso a uma inconclusa transição para o campo anti-imperialista.

Tampouco inclui Jango, pelas mesmas razões.

Também Dilma Rousseff está fora dessa tríade. Mesmo eleita e reeleita presidente, sua ascensão, em que pese biografia de bravura e dedicação, é essencialmente expressão do projeto construído por Lula e o PT.

Retomando o fio da meada: apenas três protagonistas de esquerda em cem anos.  Não seria motivo suficiente para, apesar de críticas e discordâncias eventualmente procedentes, o conjunto das forças progressistas tratar esses personagens com a prudência devida aos nossos maiores patrimônios?

Mesmo que os listados tenham distintos alinhamentos ideológicos, é inegável seu papel comum, cada qual em um ciclo determinado, de simbolizar a esperança e a unidade do povo contra a oligarquia. Mais que isso, a possibilidade real de derrotá-la.

Dos três, apenas Lula segue vivo e em função.

Como os demais, é nossa dor e nossa delicia. Sofremos com possíveis vacilações e erros, lamentando e até nos revoltando contra certas decisões que parecem desastrosas, além de apoiarmos e aplaudirmos tudo o que fez de positivo. Mas, como cada um de seus antecessores, representa o que de melhor o povo brasileiro conseguiu produzir em sua longa luta emancipatória.

Por essas e outras, defender Lula contra os inimigos de classe é tão importante. A burguesia o ataca com tamanha intensidade exatamente pela esperança que representa junto à classe trabalhadora. Porque ele continua a expressar o caminho mais visível para os pobres da cidade e do campo se imporem sobre os interesses oligárquicos.

Quem não consegue entender isso, e se julga de esquerda, deixa-se paralisar pelo sectarismo, vira as costas para a história e, infelizmente, joga o jogo que a direita joga.