À mestra com carinho

“Se você não se preocupa com justiça social, com quem paga a conta, você não é um economista sério. Você é um tecnocrata”

Por Aluizio Mercadante (*)

Perdemos hoje uma gigante do pensamento brasileiro e mundial. Recebo com profunda tristeza a notícia da morte da minha querida amiga e mestra Maria da Conceição Tavares, a mais brasileira de todas as portuguesas.

Com densa formação intelectual e profunda coragem, Conceição teve uma vida de compromisso com a democracia, com o desenvolvimento, com a distribuição de renda, com a justiça social e com o enfrentamento do neoliberalismo.

Debatedora perspicaz, contundente e de formação heterodoxa, defendeu em sua vasta obra que a economia é um instrumento para melhorar socialmente e politicamente uma nação. Na Cepal, desenvolveu contribuições originais para a análise das características e singularidades da economia brasileira e latino-americana.

Convivemos muito de perto por diversas ocasiões, quando a ajudei, por exemplo, na construção de sua tese “Ciclo e Crise: o movimento recente da industrialização brasileira” em 1977, ou na vitoriosa campanha de Conceição à deputada federal em 1994. Ainda, quando tive o prazer de contar com Conceição como minha assessora no Senado Federal, em 2003. Sem falar dos vários anos em que dividimos a coluna Lições Contemporâneas na Folha de S.Paulo.

Não poderia deixar de mencionar a imprescindível contribuição de Conceição para a construção do BNDES, instituição em que ela entrou concursada em 1958 e que atualmente presido. Em março deste ano, na ocasião de comemoração do dia das mulheres, realizamos uma homenagem à Conceição na sede do BNDES.

Destaco também que Conceição ajudou na concepção e na implantação do Plano de Metas.

Neste momento de tristeza incomensurável, deixo meu abraço fraterno e minha solidariedade para os filhos, amigos, familiares, discípulos e, especialmente, aos ex-alunos e estudantes de economia, que perdem hoje uma referência intelectual de integridade e compromisso com o Brasil e o povo brasileiro.

(*) Economista e presidente do BNDES

Em busca da primeira página

POR GERSON NOGUEIRA

Foto: Samara Miranda/Ascom Remo

Alcançar a primeira página (10 primeiros lugares) da classificação é a meta do Remo na sétima rodada da Série C. Passar pelo São Bernardo, melhor situado na tabela (5º), dirigido por Ricardo Catalá, é o desafio do time de Rodrigo Santana neste domingo à noite, no Baenão.

O novo treinador estreou contra o Sampaio Corrêa, na rodada passada, em São Luís (MA), e arrancou uma vitória quase heroica. Mostrou ousadia e desprendimento com uma escalação inovadora. Pela primeira vez na temporada – e em muito tempo –, o Remo jogou no sistema 3-4-3.

Deu certo por 20 minutos, quando o time teve seu melhor desempenho no campeonato, trocando passes em velocidade e dominando o adversário. Depois, veio o descalabro e o sofrimento. Um apagão físico e técnico que até hoje carece de uma explicação.  

O esforço maior do confronto de hoje será contra a derrocada física do Leão, tormento que durou praticamente todo o 2º tempo daquela partida. Com a espetacular atuação de Marcelo Rangel, o time conseguiu sobreviver à pressão do Sampaio e saiu do Castelão com os três pontos, passando a ocupar a 13ª colocação.

Para adquirir mais entrosamento, a escalação deve ser a mesma, com ênfase na movimentação de Jaderson e Marco Antônio, que foram fundamentais na parte boa da atuação em São Luís. Ytalo deve ser o comandante do ataque e as alas seguem ocupadas por Diogo e Raimar.

Um sintoma de que o clima está mais tranquilo e arejado no Baenão foi a ideia de abrir aos torcedores o treino final deste sábado. Que esse ambiente de descontração seja um ensaio para o embate de domingo, com a presença maciça da torcida azulina.

Bola na Torre

O programa vai ao ar excepcionalmente depois da partida da NBA, na RBATV. Guilherme Guerreiro apresenta, com a participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Em pauta, a caminhada dos clubes paraenses nas Séries B, C e D do Brasileiro. A edição é de Lino Machado.

Invicto, Papão é puro otimismo para duelo com Sport

A vitória categórica sobre o América-MG quebrou o longo jejum do PSC na Série B e tirou um peso terrível das costas da equipe na competição. Além disso, permitiu deixar a zona de rebaixamento. Os problemas na classificação permanecem, mas é inegável que o astral melhorou muito.

O adversário da vez é o Sport, na Arena Pernambuco, uma parada sempre indigesta para qualquer visitante. O momento do rubro-negro pernambucano não é dos melhores. Perdeu três jogos – Ituano, Avaí e Goiás – e despencou na tabela. Ocupa atualmente a 9ª posição.

Dono de um dos maiores investimentos da Série B, o Sport entrou na competição com a firme disposição de obter o acesso, após ter fracassado no ano passado. A folha é uma das mais caras entre os 20 clubes, mas o desempenho do time desagrada o torcedor.

Foto: Jorge Luís Totti/Ascom PSC

Cabe ao PSC explorar essa instabilidade vivida pelo Leão e brigar por nova vitória, o que garantiria à equipe um salto na classificação, passando do 16º lugar para o 11º. A formação deve ser a mesma do jogo com o América, com a volta de Leandro Vilela para formar dupla com João Vieira.

Apesar do susto inicial, tudo funcionou bem diante dos mineiros e a proposta é manter a postura intensa, de marcação alta e pressão sobre o adversário, que faz do time um dos mais agressivos da Série B.

Por que elite da bola reage tão mal às denúncias de Textor?

As declarações da presidente do Palmeiras, Leila Pereira, sempre pairando entre o deboche e o insulto, traduzem o estado geral de temor dos donos do futebol no Brasil com as denúncias de John Textor, proprietário da SAF Botafogo, apontando indícios e evidências de manipulação de jogos nas duas últimas edições do Campeonato Brasileiro (2022 e 2023).

De certo modo, isso não surpreende ninguém, afinal historicamente os principais beneficiários de erros de arbitragem no Brasil são os maiores e mais ricos clubes do país. Leila não se preocupa em usar argumentos para invalidar as acusações. Insiste na tática de descredibilizar Textor.

A reação que mais impressiona é a da imprensa esportiva, célere em atacar o denunciante e abafar a investigação, hoje concentrada na CPI instalada no Senado. Nomes ilustres da crônica queimam o próprio filme com argumentos mirabolantes para blindar um esquema que desperta suspeitas há décadas. Alguns flertam com a leviandade ao garantir que não há corrupção no futebol brasileiro. É como se o escândalo Edilson Pereira de Carvalho tivesse sido sugado pelo túnel do tempo.

Por dever de ofício, jornalistas devem se dedicar a apurar os fatos, o que significa investigar denúncias e suspeitas. No Brasil atual, a quase totalidade da mídia esportiva decidiu abrir mão do esforço investigatório, aliando-se aos dirigentes e empresários que combatem qualquer insinuação de apuração de atos de corrupção.

Alvejam John Textor pelo simples fato de ser um estrangeiro ousando, veja só, “manchar” a sacrossanta imagem dos árbitros nacionais, como se os erros de todo fim de semana não tivessem importância. Ou, ainda, como se o VAR fosse uma instituição aceita e louvada por todos.

Aliás, sobre o VAR, a CPI do Senado ouviu nesta quinta-feira o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Wilson Seneme. Seu depoimento foi marcado pela espantosa declaração de que o árbitro de vídeo não é obrigado a mostrar todos os ângulos de um lance ao árbitro de campo.

Não parece ser do interesse dos donos do futebol mexer em temas inconvenientes, como a manipulação de resultados e o favorecimento histórico a alguns poucos clubes. O gringo, ao expor os podres da estrutura do futebol, virou a Geni da velha canção de Chico Buarque. 

(Coluna publicada na edição do Bola de sábado/domingo, 08/09)