Desafio para o Papão, e para Nicolas

POR GERSON NOGUEIRA

O jogo com a Chapecoense neste domingo à tarde, em Chapecó (SC), representa um novo desafio para o PSC em busca de afirmação dentro do Brasileiro da Série B. Em 16º lugar, com 12 pontos, a um passo da zona da degola, a equipe paraense busca retomar o bom desempenho dos jogos contra América-MG e Ituano, seus melhores momentos na competição.

O sistema não mudou, as peças continuam basicamente as mesmas, mas o desempenho varia muito, tanto em casa quanto fora. É um problema que a comissão técnica não consegue resolver. Por conta dessa instabilidade, o Papão continua marcando passo na parte inferior da tabela.

Time por time, o adversário não é de assustar. Na classificação, a Chape não está tão à frente. Está tem apenas duas colocações acima. Ocupa a 12ª posição, com 14 pontos. As atuações da equipe catarinense têm sido muito criticadas, com altos e baixos.

No PSC, cada vez mais se consolida a impressão de que o time sente falta da liderança técnica de Nicolas, ídolo da torcida e principal goleador na temporada. Com discreta participação no campeonato, eclipsado pelo sucesso de Esli García, o camisa 9 precisa reagir.

Foto: Jorge Luís Totti/Ascom PSC

O posicionamento mais recuado, que é alvo de questionamento até do treinador, talvez explique as dificuldades do artilheiro na Série B. Nicolas é um exímio cabeceador e tem recursos técnicos que fazem dele um atacante extremamente eficiente dentro da área.

Quando ele sai para buscar jogo ou auxiliar na troca de passes, fica longe demais da área e abre mão de seus maiores trunfos. Um exemplo disso foi o confronto com o Sport, em Recife, quando ele se manteve distante das poucas tramas ofensivas do PSC.

No único cruzamento perigoso em direção à área pernambucana quem apareceu para cabecear foi o volante João Vieira. Curiosamente, Nicolas estava junto à linha da grande área, acompanhando o lance à distância.

Diante do Ituano, quando o ataque bicolor foi avassalador, Nicolas não conseguiu marcar. Encabulado, apresentou-se para cobrar o pênalti e desperdiçou, como havia ocorrido diante do América-MG na Curuzu.

É evidente que o inesperado sucesso de Esli tem efeito sobre o desempenho do centroavante, o que é mais do que natural em função da competitividade. Ocorre que Nicolas pode contribuir para que o ataque seja ainda mais forte. É fundamental que reencontre o caminho do gol e, para isso, tem que jogar ao lado de Esli.

A distância entre ambos facilita o trabalho das defesas adversárias. O sistema 4-3-3 utilizado pelo PSC muitas vezes se transforma em 4-4-2 porque Nicolas renuncia ao papel de protagonista no ataque. Corrigir essa distorção é missão e responsabilidade da comissão técnica. Nicolas precisa voltar a jogar em bom nível.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro apresenta o programa, a partir das 22h deste domingo, com a participação de Giuseppe Tommaso e deste escriba baionense. Em debate, as rodadas das Séries B, C e D. A edição é de Lourdes Cezar.

Quatro campeões nacionais na zona do rebaixamento

Fazia tempo que não se via uma zona de rebaixamento tão pontilhada de estrelas do futebol brasileiro. Disputadas dez rodadas, Vasco, Corinthians, Grêmio e Fluminense ocupam as últimas posições da Série A, algo impensável quando a competição começou.

Que o Vasco vive momentos difíceis, não é novidade. Já o Corinthians, mesmo sem ter um grande time, faz um esforço desmedido para tornar tudo ainda pior. O Grêmio tem uma justificativa válida: o time virou visitante, em função da tragédia ambiental no Rio Grande do Sul.

Problema de alto calibre é o do Fluminense. Campeão da Libertadores, o Tricolor tem somente seis pontos, já sofreu 18 gols e vem acumulando derrotas inexplicáveis. Fernando Diniz, que até meses atrás era celebrado, passou a ser hostilizado e apontado como culpado pela má campanha.

Pode ser um retrato de momento, afinal o campeonato está só começando, mas é um cenário difícil de explicar em relação ao desempenho daquele que foi o melhor time da América do Sul em 2023.  

Leão festeja a simplicidade de critérios na escalação

Em 10º lugar, o Remo entra em campo na segunda-feira à noite, no Frasqueirão, em Natal. Vai enfrentar o ABC, que está um ponto abaixo, ocupando a 13ª colocação. É jogo para alavancar posições dentro da Série C. Caso ainda ambicione a classificação, o Leão terá que lutar pela vitória, a fim de entrar pela primeira vez no G8.

O empate não é um resultado totalmente ruim, mas praticamente inviabiliza o fim do “projeto do acesso”, pois restariam nove rodadas e possibilidades reduzidas de terminar entre os oito classificados.

Foto: Samara Miranda/Ascom Remo

Em meio a isso, o ambiente no Baenão é visivelmente melhor do que no começo da competição. Gustavo Morínigo não conseguiu estabelecer uma comunicação clara e transparente com o elenco. Exagerava nas mudanças e a cada jogo inventava uma nova escalação.

Rodrigo Santana, que chegou sem despertar grande entusiasmo, tem surpreendido com um método prático: moldou um novo sistema, com três zagueiros, e acabou com as alterações que tanto intranquilizavam a todos.

Desde o jogo de estreia, contra o Sampaio Corrêa, o Remo tem uma escalação oficial. Os titulares são os mesmos, de Marcelo Rangel a Ytalo. O desempenho melhorou significativamente, tanto no aspecto coletivo quanto no individual. 

Não por acaso, em 9 pontos disputados, o time conquistou 6. Nos seis jogos anteriores, a equipe somou apenas 4 pontos.

(Coluna publicada na edição do Bola de sábado/domingo, 22/23)

Chico Buarque de Hollanda segundo Caetano Veloso

“O Brasil é capaz de produzir um Chico Buarque: todas as nossas fantasias de autodesqualificação se anulam. Seu talento, seu rigor, sua elegância, sua discrição são tesouro nosso. Amo-o como amo a cor das águas de Fernando de Noronha, o canto do sotaque gaúcho, os cabelos crespos, a língua portuguesa, as movimentações do mundo em busca de saúde social. Amo-o como amo o mundo, o nosso mundo real e único, com a complicada verdade das pessoas. Os arranha-céus de Chicago, os azeites italianos, as formas-cores de Miró, as polifonias pigmeias. Suas canções impõem exigências prosódicas que comandam mesmo o valor dos erros criativos. Quem disse que sofremos de incompetência cósmica estava certo: disparava a inevitabilidade da virada. O samba nos cinejornais de futebol do Canal 100, Antônio Brasileiro, o Bruxo de Juazeiro, Vinicius, Clarice, Oscar, Rosa, Pelé, Tostão, Cabral, tudo o que representou reviravolta para nossa geração foi captado por Chico e transformado em coloquialismo sem esforço. Vimos melhor e com mais calma o quanto já tínhamos Noel, Haroldo Barbosa, Caymmi, Wilson Batista, Ary, Sinhô, Herivelto. A Revolução Cubana, as pontes de Paris, o cosmopolitismo de Berlim, o requinte e a brutalidade de diversas zonas do continente africano, as consequências de Mao. Chico está em tudo. Tudo está na dicção límpida de Chico. Quando o mundo se apaixonar totalmente pelo que ele faz, terá finalmente visto o Brasil. Sem o amor que eu e alguns alardeamos à nossa raiz lusitana, ele faz muito mais por ela (e pelo que a ela se agrega) do que todos nós juntos.”

By Caetano Veloso

(Texto-homenagem de Caetano por ocasião dos 79 anos de Chico, em 2023)

O endiabrado Donald Sutherland

Não virou ícone. Foi coisa melhor

Por André Forastieri

Donald Sutherland talvez seja o melhor ator de sua geração que não teve um papel definitivo. Submergia nos papéis e os servia brilhantemente, da comédia ao drama e tudo no meio. Nada “icônico”, nosso favorito.

O que vão mostrar na retrospectiva do Oscar, ele como Hawkeye em M.A.S.H.? Os portais usaram como gancho para o obituário seu papel em “Jogos Vorazes”, a única chance de caçar alguns cliques com o velho ator, 88. Prefiro ele acima, como o professor provocador, sacana de um filme memorável e antiquado, “Clube dos Cafajestes”.

Fez um bocado de filme bom, daqueles que serão vistos enquanto pessoas assistirem filmes. E esteve ótimo em muitos filmes nem tanto.

Vi um assim semanas atrás, pelo qual ganhou o Emmy, “Citizen X”. Faz um coronel atrás de um assassino serial na URSS. É baseado numa história horrível e real. Você nunca fica confortável com as escolhas de Sutherland como esse tira ambíguo, político, um tanto assustador. Olhos satânicos, tinha Donald.

Me ocorre agora que é um ator mais completo que ícones como DeNiro, Pacino ou Nicholson, que me dizes?

Para o velório, vamos tocar essa linda música da Kate Bush, com ele fazendo o papel de… Wilhelm Reich. A letra combina. Quando Donald entra em cena, você já sabe: someting good is gonna happen.

A salvação da lavoura bicolor

POR GERSON NOGUEIRA

Foto: Jorge Luís Totti/Ascom PSC

Ninguém levou muito a sério quando Esli García foi apresentado pelo PSC como um dos reforços para a temporada. Baixinho (1,63m), franzino e com cara de garoto, o venezuelano chegou sem muito alarde. Passou semanas treinando, sem ser utilizado de imediato no time que disputou o Parazão.

Quando começou a ser escalado, caiu rapidamente nas graças do torcedor. Apesar do sucesso junto à galera, custou a convencer a comissão técnica. De início, surgiram várias desculpas para justificar a não titularidade, algumas risíveis e sem sentido.

A pressão das arquibancadas falou mais alto e Esli teve que ser escalado, contribuindo bastante para a conquista do título estadual. Foi importante também na exitosa campanha da Copa Verde, sempre como artilheiro.

Veio a Série B e o atacante deslanchou de vez, embora de início não fosse escalado como titular. A perseverança deu certo, novamente com a ajuda decisiva e sábia da torcida, que passou a cobrar sua presença.

Até agora são cinco gols marcados no Brasileiro, o que lhe garante um lugar entre os principais goleadores da competição – e o estrangeiro com mais gols nas três principais divisões nacionais.

Cabe lembrar que Esli não chegou como candidato a artilheiro. Sempre foi um atacante velocista, atuando pelos lados. O candidato natural à artilharia era Nicolas, ídolo da Fiel e campeão de gols na temporada.

Acontece que a habilidade para dribles em curto espaço e finalizações certeiras fizeram toda a diferença na árdua luta contra as defesas da Série B. Depois de esperar pacientemente por um lugar no time, ele abriu caminho com a melhor arma possível: fazendo gols e provando utilidade.

Antes de virar titular, Esli virou xodó da torcida. O ataque tinha Jean Dias, Nicolas e Edinho. Esli entrava no 2º tempo e sempre deixava sua marca. Foi assim contra o Botafogo-SP, no Mangueirão, quando marcou um golaço, bem ao seu estilo, driblando o marcador e encobrindo o goleiro.

Os gols foram acontecendo e as dúvidas sobre o papel de Esli foram desaparecendo. Acabou a discussão sobre massa muscular ou porte físico. Virou um gigante no ataque do Papão. Soma cinco gols, virou peça imprescindível e ninguém sequer discute sua importância. Pode-se dizer que hoje é Esli e mais 10. Coisas do futebol.

Torneio continental começa sem o Brasil como favorito

A Copa América começou ontem à noite, com o jogo Argentina x Canadá, apresentando pela primeira vez um cenário no qual o pentacampeão mundial Brasil não é o grande favorito. Ao longo da história, isso nunca ocorreu. A Seleção canarinho sempre esteve na pole-position para o título.

Desta vez, porém, a situação é completamente diferente. Com números pífios nas Eliminatórias Sul-Americanas, a Seleção está no segundo pelotão dos times cotados para levantar a taça, ao lado de Uruguai e Colômbia.

Terceiro maior campeão do torneio, com nove títulos (atrás apenas dos 15 de Argentina e Uruguai), o Brasil teve suas maiores conquistas a partir de 1997. Foram cinco títulos desde então.

Na edição atual, o favoritismo pertence à atual campeã, Argentina, cujo cartel é abrilhantado pelo recente título mundial, conquistado em 2022 no Qatar. Conta muito para essa condição a presença de Lionel Messi, ainda um supercraque, apesar da fase declinante.

O Brasil tem como trunfo Vini Jr., um dos melhores jogadores do mundo, mas não tem um time pronto. Rodrygo também é um nome de respeito, mas os coadjuvantes são pouco mais que aplicados.

Por outro lado, a inédita perda de protagonismo talvez seja positiva. Vai fazer com que o time de Dorival Júnior busque dar a resposta em campo. A história mostra que o Brasil costuma crescer quando chega a uma competição cercado de descrédito e pessimismo.

Desportiva faz peneirada para descobrir talentos

Os clubes Desportiva e Amazônia, em parceria, recebem o treinador e avaliador espanhol Sosa Espinel na próxima semana. Ao lado do técnico Walter Lima, Espinel vai comandar uma semana de avaliações, no período de 25 de junho a 2 de julho, para atletas de 18 a 21 anos.

A semana de avaliações será realizada no CT da Desportiva, em Marituba, diariamente a partir de 8h. O valor de inscrição de cada atleta será de R$ 50,00. Cada atleta deve levar seu próprio material de treino.

Os aprovados na peneirada viajarão para a Espanha, logo após providenciarem a documentação necessária. Uma grande oportunidade para jovens atletas de Belém e do interior do Estado.

Corrida do Bem vai reunir 3.200 atletas em Parauapebas

Parauapebas prepara-se para receber a etapa paraense da Corrida do Bem/Eco 2024, no próximo dia 30 de junho. O evento, que une esporte, sustentabilidade e solidariedade, promete encantar o público da cidade. A expectativa é reunir 3.200 corredores para disputar as distâncias de 5 e 10 quilômetros. A Corrida do Bem/Eco 2024 é aberta a atletas de todas as idades e níveis de condicionamento físico.

As inscrições já estão abertas – no site oficial do evento – e são gratuitas, para garantir que a participação esteja ao alcance de todos os interessados. O evento busca não apenas promover a prática esportiva, mas também disseminar valores de solidariedade e sustentabilidade.

Em sintonia com os princípios da economia circular, a Corrida do Bem/Eco 2024 destaca uma iniciativa especial de doação de tênis novos ou usados, de qualquer tamanho. Cada par de tênis beneficia diretamente aqueles em situação de vulnerabilidade social e contribui para a construção de uma comunidade mais consciente.

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 21)

Fake news a R$ 25 mil: como o Google treinou e enriqueceu blogueiros de direita no Brasil

Por Rodrigo Ghedin, Tatiana Dias e Paulo V. Ribeiro – Intercept Brasil

Um grupo de seis blogueiros políticos se reuniu na sede do Google Brasil no Itaim Bibi, bairro nobre de São Paulo, em julho de 2016. Convidados pela empresa, a maioria saiu de Minas Gerais para receber orientações sobre como aumentar seus ganhos com o AdSense, o programa do Google de ‘aluguel’ de publicidade em sites. No encontro, um funcionário da empresa teria aberto uma planilha com um case de sucesso para inspirá-los: o site de direita O Antagonista, que receberia milhares de dólares por dia com anúncios.

Em seguida, os blogueiros receberam dicas de otimização e sugestões de temas que renderiam mais dinheiro no AdSense. Embora o Google não tenha sido explícito a esse respeito, o grupo saiu de lá certo de que uma agenda contra o PT e a presidente da República, Dilma Rousseff, era o caminho para ganhar muito dinheiro. Funcionou. Em agosto de 2016, mês seguinte ao encontro, derradeiro para o impeachment, o faturamento de um dos blogs passou de R$ 25 mil.

O encontro foi narrado ao Intercept por um ex-blogueiro que fazia parte do grupo. Ele conta que tinha um blog político bastante ativo – 20 posts por dia, em média – e, em busca de cliques, pesava a mão no sensacionalismo e nas notícias falsas, especialmente se fossem contra o PT.

Os blogs do grupo surgiram no levante antipetista e surfaram a onda do impeachment, e depois ajudaram a engrossar o coro lava-jatista e bolsonarista. Hoje, alguns não escondem seu apreço por autoritarismo e intervenção militar, tudo regado a boas doses de sensacionalismo e meias-verdades – ou a mentiras inteiras. Entre os exemplos citados pelo ex-blogueiro, estão os sites Diário do Brasil, Jornal do País, Notícias Brasil Online e Pensa Brasil, ainda no ar, e Brasil Verde Amarelo e The News Brazil, hoje desativados.

O Diário do Brasil e o Jornal do País, que seguem no ar com uma agenda fortemente bolsonarista, ainda veiculam anúncios pelo AdSense. São exibidos ao lado de notícias como “General do Exército cogita ‘intervenção cirúrgica’ no país” e “Uma rede de televisão não pode citar o nome do presidente em um caso de morte e não ser punida”. Informações mentirosas, de tom alarmista, conspiracionista ou, no mínimo, bastante questionáveis.

Dos blogs identificados pela nossa fonte, quatro viraram canais de direita no YouTube. O Top Tube Famosos (do mesmo dono do The News Brazil) é o mais bem sucedido deles. Com 851 mil assinantes e vídeos como “Moro muda tudo, tranca Lula de vez na cadeia e enlouquece Gleisi”, ele acumula mais de 150 milhões de visualizações – e fatura, no mínimo, R$ 6 mil por mês com anúncios, segundo calcula o SocialBlade. Ele está entre os canais que mais cresceram no YouTube no ranking Em Alta, que divulga o conteúdo que está bombando no momento, no período eleitoral. O algoritmo recomenda os vídeos campeões de audiência e dá a eles um lugar privilegiado no site, ajudando-os aumentar ainda mais o número de espectadores. O Google deu a ferramenta para que eles lucrassem com anúncios, depois os ajudou a aumentar a audiência. Nada mau.

O ex-blogueiro ouvido pelo Intercept contou que, entre 2014 e 2016, foi convidado a participar de reuniões de um grupo de blogs de direita. Eles trocavam dicas sobre assuntos que estavam bombando, compartilhavam conteúdos uns dos outros e frequentavam os mesmos eventos. Só no Google, segundo ele, foram quatro encontros. Em março de 2016, afirma, começou a trabalhar para um dos sites. “Os assuntos mais comentados [na internet] eram apresentados para nós”, diz.

Cada blogueiro tinha total liberdade para produzir conteúdos quando quisesse, sem rotinas pré-estabelecidas. Eles não combinavam previamente sobre quais temas escreveriam, mas aprenderam rápido que tipo de conteúdo bombava.

Na semana seguinte a um dos encontros no Google, a manchete em um dos sites era “Dilma Rousseff foi pega comandando pessoalmente esquema de propina de R$ 48 milhões”, uma notícia claramente falsa – afinal, tal flagrante não existiu.

Os blogueiros também aprenderam como usar as ferramentas do Google para aumentar a audiência, a relevância e, assim, os lucros. Para isso, contaram com o auxílio técnico da empresa. Em novembro de 2016, Denis Rodrigues, na época estrategista de contas e parcerias globais do Google, enviou ao ex-blogueiro um e-mail com dicas técnicas para implementar os anúncios do AdSense em celulares. De novo, o exemplo usado foi O Antagonista. Não é por acaso: para vender a tecnologia, o Google procura exemplos que tenham afinidade com o cliente. E a empresa sabia com quem estava falando.

E-mail de Denis Rodrigues com dicas para otimizar os anúncios e aproveitar a alta do comércio gerada pela Black Friday.

COMO OS BLOGUEIROS APRENDERAM A GANHAR DINHEIRO

O ex-blogueiro diz que, ao vir para São Paulo, era Rodrigues quem os recebia na sede do Google. “Denis apresentava para nós os dados dos nossos sites e depois a gente ia ao auditório, onde era a reunião grande em que o Google ensinava a respeito de engajamento, tags, como aumentar os views, assuntos que davam mais cliques.”

Em fevereiro de 2019, Denis Rodrigues foi promovido a gerente dos programas de marketing para a América Latina do Google.

Ao Intercept, um porta-voz da empresa não confirmou as reuniões e nem o envio de orientações. O Google disse apenas que “oferecer aos usuários informações confiáveis é parte da nossa missão” e que tem “políticas claras contra conteúdo enganoso em nossas plataformas de anúncios”. Isso inclui conteúdo perigoso, depreciativo ou enganoso. Pelo jeito, mentir afirmando que Dilma comandava um esquema de propina ou que Lula doou dinheiro ao Hamas é conteúdo que a empresa considera digno de credibilidade.

O Google afirma que não deu orientações relacionadas a palavras-chave, mas apenas à otimização do AdSense. O programa de anúncios, lançado em 2003, gerou mais de US$ 15 bilhões para a empresa só neste ano. Ele permite que donos de site cedam espaço em suas publicações para que o Google venda anúncios. Os lucros, gerados por cliques, são divididos entre o dono do site e o Google. Assim, gerar uma audiência e engajamento não é bom só para o blogueiro, mas também para a gigante da internet.

Os anúncios do AdSense são gerados por um sistema de leilão dinâmico, que leva em consideração o perfil do usuário e o conteúdo do site que ele está visitando. Graças a essa combinação, o Google consegue cobrar mais de empresas que queiram anunciar em páginas de temas mais valiosos ou para usuários que tenham um perfil que lhes pareça mais atraente.

É tudo automatizado e feito em um piscar de olhos: assim que o usuário acessa um site com AdSense, o sistema o identifica e dispara um leilão de milissegundos nos bastidores entre os anunciantes interessados em exibir anúncios naquele espaço ou àquele usuário. Quem fizer o maior lance entre os que se enquadram nos critérios do momento ganha o direito de se exibir ao usuário.

Assim, as palavras-chave usadas em um texto ou o perfil de um usuário têm o potencial de gerar mais ou menos lucro. Os blogueiros aprenderam isso com o Google. Com O Antagonista como exemplo de sucesso, o grupo entendeu como conseguir mais acessos e dinheiro com posts políticos. E, para turbinar os rendimentos, não importava se a informação publicada fosse mentirosa – bastava que chamasse a atenção.

“Teve notícias contra o PT que nunca foram comprovadas até hoje, como a de que o filho do Lula é dono da [gigante de telecomunicações] Oi. Você já leu coisa desse tipo na internet: ‘O Lula tem uma fazenda no Uruguai’, ‘a Dilma teve um relacionamento extraconjugal’”, lembra o ex-blogueiro. A única constante, fosse a notícia inventada ou não, era ser crítica ao governo petista. “Só tinha uma regra: notícias negativas, contra o PT, deveriam ser publicadas”, disse. “A regra era essa. O Google não ia pedir isso pra gente numa reunião, né? Eles podiam ser gravados. Mas a recomendação era que esse tema era o que mais remunerava.”

A falta de compromisso com a realidade era combinada com a produção em série de posts. Segundo o ex-blogueiro, o Google recomendou que eles publicassem 20 posts por dia porque, dessa maneira, eles ganhariam mais relevância no buscador e, obviamente, seriam criados mais espaços para veicular os anúncios do AdSense.

Acatando a sugestão, os blogueiros se juntaram em uma rede em que as notícias de cada um eram replicadas em outros sites e espalhadas em suas respectivas páginas no Facebook. Isso ajudava a dar ares de verdade à publicação e fazia o blog subir posições na exibição na busca do Google – o mecanismo considera o número de links para determinada página um critério importante para posicionar um resultado no topo. Quanto mais links apontando para uma página, maior o peso dela em relação às demais.

Deu muito certo. Os acessos aos blogs chegavam à casa dos milhões. Nos momentos de pico, o ex-blogueiro ouvido pelo Intercept tinha 2,6 mil pessoas online em tempo real no seu site. Entre setembro e dezembro de 2016, ele manteve uma média de 7,5 milhões de visualizações por mês em seu blog.

Graças ao AdSense, tamanha audiência era revertida em lucro. Em maio de 2016, ele diz que recebeu do Google R$ 4,3 mil. Em julho, quase o triplo: R$ 13 mil. Um mês depois, R$ 25,7 mil. Era agosto de 2016, mês fundamental para o impeachment de Dilma Rousseff, quando o Senado aprovou o afastamento dela e Michel Temer assumiu a presidência da República.

Boleto do mês mais lucrativo para o ex-blogueiro antipetista: o que Dilma Rousseff sofreu o impeachment.

“Às vezes, chegava a ganhar R$ 4 mil com apenas uma notícia em um dia”, relembrou o ex-blogueiro. “Eu sabia o que estava fazendo, mas quando você está precisando de grana… E era muita grana, não era pouca, né? E em dólar. Quanto pior o governo, maior [a cotação do dólar]. E mais dinheiro pra gente.”

Embora o Google receba pagamentos de anunciantes em real no Brasil, a parte operacional do AdSense é concentrada nos Estados Unidos, de onde saem todos os pagamentos — por isso eles são contabilizados e pagos em dólar. No início do programa, o Google enviava cheques de papel pelos Correios aos parceiros brasileiros. Isso mudou em 2007, quando a empresa adotou a transferência eletrônica. Desde então, basta que o parceiro brasileiro informe dados bancários de uma instituição financeira daqui no sistema do Google para que os depósitos passem a cair mensalmente em sua conta, desde que a receita gerada no mês seja de no mínimo US$ 100.

A mudança de ares na política brasileira afetou os rendimentos do grupo. Notícias sobre o então novo presidente, Michel Temer, não rendiam tanto. “Era o Temer que estava no governo e as notícias, por exemplo, aqueles escândalos em que ele teve que comprar a Câmara duas vezes, não davam views, não dava dinheiro”, diz o blogueiro, em referência às duas votações em que deputados rejeitaram a abertura de processos de investigação contra o emedebista. O ex-blogueiro foi banido do AdSense por violação dos termos de uso – acusado de cometer plágio – no começo daquele ano. Ainda tentou criar outro blog, mas não funcionou. “Eu parei porque não era mais viável economicamente”, conta. Um processo movido por uma figura política petista contra ele também pesou na decisão.

O Intercept entrou em contato com O Antagonista e todos os ex-colegas do blogueiro. Apenas um, o Diário do Brasil, retornou. A resposta foi enviada por Patrícia Carvalho, que disse ter comprado o blog do antigo dono, Luciano Moura, em 2016, e não ter mais contato com ele. Falou, ainda, que não responderia às perguntas porque “não confiamos na linha editorial (anti-Brasil) do The IntercePT (sic)”. Ela disse que não tem contato com outros blogs, não participa de qualquer rede bolsonarista e que jamais recebeu um centavo de dinheiro público.

Mas continua ganhando dinheiro com anúncios. Dos seis blogs do grupo, dois não estão mais no ar. Quatro, inclusive o Diário do Brasil, ainda lucram com anúncios – três com AdSense e dois com o Taboola, uma ferramenta semelhante.

DE ONDE VEM O DINHEIRO

Só no segundo trimestre desse ano, a Alphabet, dona do Google, faturou US$ 38,9 bilhões. 83% desse valor, ou US$ 32,6 bilhões, veio da publicidade. A Google Network, denominação no balanço financeiro do Google que indica os locais de terceiros que veiculam seus anúncios, movimentou US$ 5,3 bilhões, um aumento de 8,4% em relação ao ano passado. Ninguém revela quanto dinheiro o YouTube movimentou, mas Ruth Porat, diretora financeira da Alphabet, disse que o site de vídeos foi a segunda maior fonte de renda da empresa.

Anunciar com os serviços do Google é eficiente porque a empresa combina a montanha de dados que ela tem sobre seus usuários – quem tem um Gmail, faz buscas no Google ou assiste vídeos no YouTube está entregando informações à empresa – para traçar seus perfis e assim oferecer aos anunciantes a possibilidade de anúncios bem direcionados. No AdSense, um anunciante pode, por exemplo, escolher que tipo de site veiculará sua propaganda com base nos temas, nas palavras-chave e no tipo de público que quer atingir – por idade, localização, interesses, gênero e outras informações.

O Google diz, explicitamente, que consegue alcançar pessoas por traços demográficos (“segmentos amplos da população que compartilham traços comuns, como estudantes universitários, proprietários de residências ou pais de primeira viagem”), afinidades (“usando uma imagem geral dos estilos de vida, paixões e hábitos delas”), intenção de compra (“que estão pesquisando e considerando ativamente a compra de um produto ou serviço como o seu”) e grandes eventos (“interaja com usuários do YouTube e do Gmail próximo a importantes acontecimentos, como mudança de endereço, formatura da faculdade ou casamento”).

Por alguma razão, o público interessado em conteúdo antipetista e impeachment ficou especialmente atraente para anunciantes em 2016 – por isso, rendia muito dinheiro a quem conseguisse impactá-lo. O ex-blogueiro que conversou com o Intercept disse que, em seu blog, eram frequentes anúncios do Itaú, Bradesco, Magazine Luiza, Santander e Localiza, entre outros.

Hoje, a rede de blogueiros que ainda usa a ferramenta exibe anúncios de empresas como C&A, SafraPay, Uber, Quinto Andar, Reserva, Burger King, Nissan e Magazine Luiza, entre outras. Nós perguntamos a cada uma dessas empresas se elas endossam a linha editorial dos sites em que anunciam, e quase todas deram a mesma resposta: não.

A ignorância é um fenômeno global, como atesta Matt Rivitz, criador da iniciativa Sleeping Giants, que alerta empresas sobre anúncios veiculados em sites problemáticos nos Estados Unidos, como o Breitbart News: “Os anunciantes não só não estão cientes dos sites onde estão [seus anúncios], como muitas vezes não sabem o que os sites estão publicando. Sem saberem, eles apoiam financeiramente sites que empurram de tudo aos leitores, de teorias da conspiração a discurso de ódio”.

Natura, Magazine Luiza, Quinto Andar e demais empresas disseram não endossar o discurso de qualquer canal senão o delas mesmas. As marcas também dizem não apoiar conteúdos que sejam contrários à lei e à ética, divulguem conteúdo desrespeitoso ou promovam desinformação. Só o Magazine Luiza, que terceiriza à Criteo a curadoria dos sites que podem ou não exibir seu conteúdo, disse não ver problema em veicular propagandas no Notícias Brasil Online.

A Nivea disse que “nenhum conteúdo da marca deve ser veiculado dentro de canais que falem sobre temas pré-determinados, como é o caso de política”. Segundo a assessoria, o que houve foi uma “falha tecnológica de distribuição do conteúdo” e eles afirmam já estar tomando as providências necessárias para resolver. C&A, Uber e Burger King não responderam ao nosso contato.

O Google disse ao Intercept que o anunciante não escolhe o site em que anunciará, mas pode vetar determinados conteúdos. Nenhuma das empresas ouvidas pela reportagem sabia que seus anúncios estavam sendo usados para financiar desinformação.

“O ecossistema da desinformação é movido a ganhos financeiros”, disse ao Intercept Craig Fagan, diretor da Global Disinformation Index, uma consultoria que publicou há dois meses um estudo para quantificar quanto dinheiro da indústria de propaganda online vai para sites que espalham desinformação. O resultado é estarrecedor: US$ 235 milhões em um ano – isso só nos 20 mil sites analisados por ele, o que não inclui o Brasil. A estimativa é conservadora, eles garantem.

Segundo Fagan, a produção desse tipo de conteúdo falso é feita em torno de assuntos que engajam as pessoas – eleições, catástrofes, questões de violência – justamente para lucrar com anúncios.

Para o estudo, o GDI coletou dados de 20 mil sites considerados por eles como propagadores de notícias falsas e desinformação, como o Rt.com, antigo Russia Today, classificado como questionável pelo Media Bias Fact Check.

Gráfico do GDI mostra qual é a parcela de cada empresa de anúncios que ajuda a financiar a desinformação.

O GDI oferece uma espécie de consultoria para alertar as empresas e mostrar onde investir melhor o dinheiro com propaganda online. “A melhor maneira de cortar isso é se marcas e outros comprarem espaço de propaganda direto no site. Elas precisam saber com quem estão falando e os riscos que correm e tomar a decisão de não ter anúncios nesse site.”

Segundo o estudo, o Google é responsável por 70% do valor gasto com desinformação. Fagan, no entanto, não culpa só a gigante. “Não é um problema só do Google, mas de toda a indústria”, diz. Ele acredita que, se o Google parar de fornecer esse tipo de serviço, outras empresas ocuparão esse espaço.

Na avaliação de Fagan, o Google é um problema justamente por seu ecossistema que não apenas oferece anúncios, mas ajuda a alavancar a audiência e aumentar a reputação de quem espalha mentiras. E isso acontece não só nos sites, mas também no YouTube, onde os blogueiros conseguiram alavancar mais audiência em torno de seu conteúdo de extrema-direita.

Rivitz, do Sleeping Giants, também não acredita que mudanças significativas partirão das plataformas. “Há muita gente ganhando muito dinheiro para que algo real aconteça. Enquanto não houver transparência, continuará a ser um problema.”

Google banca sites de extrema direita que espalham desinformação

Por Laís Martins – The Intercept

AS RELAÇÕES ENTRE AS PLATAFORMAS DO GOOGLE E DESINFORMAÇÃO já são conhecidas há algum tempo, mas um novo estudo publicado em maio mostrou como a infraestrutura de anúncios automatizados do Google viabiliza a existência de sites hiperpartidários e desinformativos ao garantir a eles uma fonte de receita praticamente passiva, independente de relações com anunciantes ou marcas. 

Cerca de 70% do financiamento de sites como Terra Brasil Notícias e Jornal da Cidade online vem de publicidade programática, principalmente do Google AdSense. Outras fontes de receita, como assinaturas e conteúdo pago, ficaram em segundo plano, concluíram os pesquisadores Marcelo Alves dos Santos Junior, professor do Departamento de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e Bruno Washington Nichols, da Universidade Federal Fluminense. 

O estudo focou em 55 sites brasileiros compartilhados com frequência em grupos de extrema direita no Telegram. Os pesquisadores fizeram uma análise desses sites em busca de informações sobre financiamento, como programa de membros e existência de um sistema de assinatura.

Para analisar as fontes de receita publicitária, os autores extraíram rastreadores de anúncios inseridos nesses sites. Além disso, analisaram informações obtidas via Lei de Acesso à Informação para verificar se essas páginas receberam recursos públicos federais e de parlamentares em 2023.

O estudo identificou que houve apoio institucional na forma de assinaturas da Revista Oeste e do site Brasil Paralelo pelos deputados federais delegado Ramagem, do Partido Liberal, e do parlamentar cassado Deltan Dallagnol. Além deles, o deputado federal João Maia, do Progressistas, declarou pagamentos em 2023 no valor total de R$ 28 mil para os sites A Trombeta News, Terra Brasil Notícias e Diário do Brasil Notícias. 

Entre 2021 e 2022, a Presidência da República pagou R$129,3 mil aos sites Terra Brasil Notícias, Diário do Poder, Diário do Brasil Notícias e Jovem Pan por campanhas de vacinação contra a covid-19, de combate à dengue, doação de leite e telessaúde. 

Mas as doações financeiras destes políticos não chegam aos pés do dinheiro que entra graças à inserção de publicidades pelo Google. O Intercept Brasil falou com Marcelo Alves, um dos autores da pesquisa, sobre o estudo e sobre a importância de uma regulação que olhe não só para o conteúdo desinformativo, mas também para a infraestrutura ao seu redor. 

Intercept Brasil  – O estudo mostrou um domínio da infraestrutura do Google enquanto fonte de receita para os sites que vocês analisaram. Esse número te surpreendeu?

Marcelo Alves – Esse é um achado que na verdade a gente tinha quase enquanto premissa, porque todos os estudos internacionais chegam ao mesmo resultado. Não somente quando se estuda desinformação, mas também quando se estuda jornalismo. Então, não é um achado especificamente do campo dos estudos de desinformação. Na minha perspectiva, está ligado com o modelo histórico de dependência e de desenvolvimento da própria estrutura programática de plataformas digitais na publicidade que era dominada pelo Google fundamentalmente ali desde 2002 quando o modelo de Google AdWords começa a se consolidar.

Desde então o Google compra a DoubleClick, ali em 2007 compra o YouTube e passa a construir um verdadeiro império de concentração tanto vertical quanto horizontal da publicidade. Então, o Google tem hoje não somente o maior inventário de espaços para inserção de anúncios, mas também o maior acervo de anunciantes, de marcas. 

No artigo, você aborda como esses sites hiperpartidários que produzem desinformação imitam  o jornalismo. De que maneira eles se aproximam ou distanciam do jornalismo no que diz respeito a financiamento?

Eu tinha partido de uma hipótese no debate da bibliografia de desinformação que é a hipótese da mimese jornalística. Ou seja, é um debate que surge ali mais ou menos em 2017 de que esses sites passam a adotar a gramática, a estética, o gênero, literalmente fazer uma cópia de um arcabouço ali estrutural, formal do jornalismo, mas sem seguir os princípios, as práticas, as normas da profissão.

Mas você tem uma forma de captura de receita por esses sites de desinformação que diverge de forma muito significativa do jornalismo. Embora esse achado de que o Google AdSense, que é a infraestrutura programática do Google, seja relevante nas duas frentes, o modelo e a forma de captura de receita dessa infraestrutura, ou seja, via Google,  tem um peso muito diferente no jornalismo e nesses sites de desinformação. 

Em que sentido?

Nesses sites de desinformação, de saída já se constrói um modelo de aquisição de audiência e de captura de receita que ele não implementa paywall porque a lógica é inteiramente construída em torno de uma dinâmica de monetização pela economia de atenção. Quer dizer que esses sites estão diretamente interessados em construir modelos de negócio que estão relacionados com a quantidade de tráfego que eles conseguem gerar. 

Em um artigo anterior, você explorou o teor dos anúncios que apareciam no Terra Brasil Notícias e se deparou com muitos de baixa qualidade, fazendo propaganda de remédios milagrosos, sobre apostas e inclusive conteúdo fraudulento. Ou seja, é uma desinformação que acaba por financiar a desinformação. Isso é por desenho ou acidental?

Tem uma dimensão que é: esses sites de desinformação, seja Terra Brasil Notícias ou outros sites menores, também conseguem ser aprovados no sistema de governança do Google e fazer parte da infraestrutura programática do Google para receber anúncios de grande anunciantes. Então não quer dizer que eles só recebam anúncios de baixa qualidade. Na verdade, até uma avaliação quantitativa que eu fiz é que é quase meio a meio, eles conseguem receber muitos anúncios de grandes anunciantes. 

O que leva a dois debates importantes. O primeiro é quais são as três funções da infraestrutura programática para desinformação? E o primeiro argumento é: a infraestrutura programática financia sites de desinformação. O Google financia sites de desinformação.

Tem um outro eixo que é a perda de controle sobre a qualidade dos anúncios que tradicionalmente era feita por uma relação entre anunciantes e jornalistas e agora passa a ser feita por um algoritmo do Google ou por um conjunto de algoritmos do Google, ela facilita com que anúncios de baixa qualidade ou, em última análise, fraudulentos cheguem a grandes audiências. 

É aí tem um outro lado que é mais pernicioso que é: esses anúncios de baixa qualidade também aparecem no site de jornalísticos. Então você vai ver na imprensa de qualidade do Brasil, geralmente no rodapé, anúncios da Taboola, da OutBrain, que também são anúncios de muito baixa qualidade, nem sempre com fraude, mas muitas vezes com clickbait [uso de termos ou títulos sensacionalistas e exagerados para capturar a atenção do leitor] e que acabam contribuindo para reduzir a credibilidade e a confiança do veículo de notícia.

Um sistema que traz esperança

POR GERSON NOGUEIRA

O crescimento do Remo na Série C deve-se, em boa medida, à mudança no sistema de jogo. Depois de iniciar com um 4-3-3 enganoso com Ricardo Catalá e passar para um 4-3-2-1 confuso com Gustavo Morínigo, o time finalmente ganhou feições objetivas e adaptadas às características dos jogadores. Como o elenco é limitado, escolhas corretas são fundamentais.

Durante um certo tempo, o maior problema do Remo era a escalação inadequada de jogadores. Isso inclui as três fatídicas rodadas perdidas no começo da competição, responsáveis pelo prejuízo que o time acumula até agora em relação aos adversários.  

Destaque desde os primeiros jogos, o meia-atacante Jaderson se constitui no principal acerto da extensa lista de atletas contratados para a Série C. Cotado inicialmente para ser um atacante de lado, ele aos poucos foi ganhando espaço – e funções – sob o comando de Catalá.

Algo raro no Remo atual, Jaderson atuou bem em todas as posições para as quais foi designado. Até como lateral esquerdo ele se saiu bem, mas ganhou definitivamente o respeito da torcida com as atuações no meio-de-campo, como volante ou como meia-armador.

A dedicação, a boa técnica e a disciplina tática foram pontos determinantes para que se atribua a ele a condição de melhor jogador do Remo na temporada. O começo foi um pouco tumultuado por lesões que atrapalharam a sua efetivação.

Desde que se recuperou plenamente, Jaderson subiu de cotação, a ponto de despertar a cobiça de outros clubes, até de Série B. Comprometido com o Remo, o jovem meia-atacante tem hoje importância capital na organização do time, que há três rodadas utiliza um sistema inteiramente novo.

A adoção do esquema com três zagueiros impõe responsabilidades que se estendem por todo o time. Além da necessidade de aproximação constante entre a última linha de defesa e o meio, há a obrigatoriedade de um funcionamento eficiente das alas.

Em função da movimentação que Jaderson dá ao time, com saídas rápidas, lançamentos e inversões, os alas Diogo Batista e Raimar assumiram papéis decisivos sob o comando do técnico Rodrigo Santana.

Um exemplo disso é que o ala esquerdo Raimar chegou a frequentar lista de dispensas no clube, ao lado de jogadores que realmente eram descartáveis, como Renato Alves e Nathan.  

É justo reconhecer que, mesmo quando o time vivia seu pior momento, entre o Campeonato Paraense e a fase inicial da Série C, Jaderson já era indiscutivelmente a melhor peça do time, com desempenho individual tão satisfatório quanto sua entrega ao esforço coletivo.

Após fazer 26 jogos, Jaderson tem quatro gols marcados, mesmo não tendo a obrigação de pisar na área. Em alguns jogos, ele se tornou arco e flecha. É o caso do confronto com o Sampaio Corrêa, quando deu assistência primorosa para o gol de Raimar e foi o autor da finalização no lance do segundo gol. É um dos poucos titulares absolutos no Leão atual.

O surpreendente ressurgimento de Jean Dias

Há algumas histórias envolvendo atletas que misturam mistérios e reviravoltas impressionantes, dentro de uma competição apenas. É o que se verifica com Jean Dias, ponta que brilhou no PSC durante o Parazão e a Copa Verde, mas que repentinamente caiu em desgraça e perdeu vez no time titular na disputa da Série B.

Sumido da relação de atletas nos últimos cinco jogos do Papão, Jean Dias só era lembrado pela participação nos treinos. Nenhuma explicação sobre o que de fato acontecia com o jogador. Do mesmo jeito como a ausência não foi explicada, a volta também dispensou informações.

Logo ficou patente que o retorno de Jean Dias contra o Ituano foi a melhor notícia para o Papão nas últimas semanas. Além de um golaço que abriu a goleada em Itu, Jean fez o cruzamento para o segundo gol e o passe magistral para Esli García fazer o quarto.

Uma atuação tão caprichada, absolutamente sem retoques, com envolvimento e ousadia, levanta questionamentos sobre os humores dos técnicos em relação a determinados atletas. Fica claro que problemas menores de vestiário devem ser contornados com sabedoria e habilidade, em nome do bem maior, que é o êxito do time.

Em má fase, Vasco encaminha dispensa de técnico português

Qualquer observador mais atento percebe que o problema do Vasco não está no comando técnico. Ramón Díaz, que foi afastado ainda no início do Brasileiro, não era o maior responsável pela fase pavorosa do time. O português Álvaro Pacheco, contratado há duas semanas, é menos culpado ainda.  

Espantosamente, a diretoria do clube já estuda a demissão do treinador após três derrotas, como forma de dar uma resposta à torcida e, ao mesmo tempo, se esquivar das responsabilidades pelo fracasso do projeto.

Em meio aos tropeços do time em campo, o clube vive um clima de insegurança com a batalha judicial envolvendo a SAF da 777. A diretoria tem o ex-jogador Pedrinho como presidente, mas por ora pouco tem sido mostrado em termos de ações práticas.

O Vasco montou um elenco repleto de erros e apostas desastradas. Salvam-se apenas o francês Payet e o argentino Vegetti. Sem a contratação de reforços não há muito a fazer no sentido de salvar o time. Como é costumeiro no futebol brasileiro, a saída mais barata e prática é despachar o técnico, já que não é possível demitir todo o elenco.

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 20)

Nubank é alvo de boicote de internautas após post de sócia-fundadora apoiando Brasil Paralelo

Da IstoÉ Dinheiro

O Nubank enfrenta uma crise nas redes sociais nesta terça-feira, 18, após um post de sua sócia-fundadora, Cristina Junqueira, no Instagram. A imagem compartilhada pela executiva mostra um convite recebido para um evento do Brasil Paralelo, com participação do psicólogo Jordan Peterson, tão popular quanto controverso pelo conteúdo de suas palestras e publicações.

Não satisfeita em mostrar que estaria presente no evento com Peterson, que também é conhecido por livros com posições extremistas, Cristina agradece o convite e marca os perfis do próprio psicólogo, da produtora Brasil Paralelo e do Fronteiras do Pensamento, organizadora da palestra.

O Brasil Paralelo é uma empresa de mídia e alvo constante de críticas por conta de sua linha editorial, que abre espaço para pautas que vão desde o negacionismo sobre as mudanças climáticas até a um documentário sobre o agressor de Maria da Penha, retrato como injustiçado, passando por ensino de História com conteúdo impreciso.

A imagem compartilhada por Junqueira na noite de segunda-feira, 17, chegou às redes poucos dias após uma reportagem do Intercept apontar uma ligação antiga entre o Nubank e o Brasil Paralelo. O diretor da empresa, segundo o Intercept, foi um dos principais engenheiros de software do banco digital, e foi denunciado na internet por suas postagens com ideias extremistas e pelo envolvimento em fórum com discurso de ódio. Ainda assim, relata a reportagem, o banco teria mantido o profissional em seu quadro.

Entre os críticos à postagem de Cristina Junqueira está a deputada Erika Hilton (Psol-SP). Ela compartilhou o post de Junqueira acompanhado de outras postagens sobre a relação do Nubank com o Brasil Paralelo. A publicação reúne mais de 55 mil curtidas, e passa dos 13 mil compartilhamentos e 1 mil comentários até a noite desta terça-feira.

🚨 PERIGO NO NUBANK

Ontem, a executiva do Nubank, Cristina Junqueira, divulgou um evento do Brasil Paralelo. O Brasil Paralelo apoia o PL do Estupro.

E tem como diretor Konrad Scorciapino, criador do site de pedofil*a e de incentivo a chacinas em escolas, 55chan. Konrad foi…

— ERIKA HILTON (@ErikakHilton) June 18, 2024

Com a repercussão, começaram a surgir postagens estimulando os clientes a encerrarem suas contas no Nubank, ou compartilhando que, de fato, já haviam encerrado sua relação com o banco digital.

Cancelei a minha conta no @nubank.
Segue o passo a passo: pic.twitter.com/SBB5jD3srw

— Flávio Costa (@flaviocostaf) June 18, 2024

Já solicitei o cancelamento da minha conta. Nubank nunca mais!

— Lázaro Rosa 🇧🇷 (@lazarorosa25) June 18, 2024

Pronto: decidi fechar minha conta no Nubank. Que morram abraçados no Brasil Paralelo.

Tem algum desses bancos virtuais que não seja uma filial de Chernobyl?

— cidadão médio (@manotelli) June 18, 2024

Decisão tomada. Thaís e eu vamos cancelar nosso @nubank . Somos clientes há bastante tempo. Mas eu não quero meu dinheiro ~talvez~ financiando a Brasil Paralelo. Quem também não quer, recomendo que faça o mesmo.

— O Linck do Quadrinhos na Sarjeta (@linck_alexandre) June 18, 2024

Já outros usuários de redes sociais brincaram sobre deixar de pagar a fatura do banco digital.

nubank apoiando coisa errada? de castigo pra eles não irei pagar a fatura deste mês pic.twitter.com/tIFe0aNVfT

— daniel (@daneldix) June 18, 2024

Internautas resgataram outro momento em que aparições públicas de Junqueira geraram críticas ao banco. Em 2020, durante participação no programa Roda Viva, da TV Cultura, a executiva respondeu que a ausência de pessoas negras em cargos de chefia do banco ocorria, pois “não dá para nivelar por baixo” as contratações.

esta Cristina Junqueira não foi aquela que disse que o nubank ”não pode nivelar por baixo” quando questionada no roda viva sobre contratar executivos negros para posições de liderança? https://t.co/204RJICXr2

— Ricardo 🍓🍂 (@Riicardofsousa) June 18, 2024

‘Nubank’ e ‘Brasil Paralelo’ também aparecem listados pelo X como “Assuntos do Momento” no Brasil. A reportagem de IstoÉ Dinheiro procurou o Nubank e o Brasil Paralelo para comentar o caso, mas, até o fechamento deste texto, não houve retorno. O espaço segue aberto e o texto será atualizado assim que houver um posicionamento das empresas citadas.

(Com informações do ICLNotícias)

Empate com cheiro de frustração

POR GERSON NOGUEIRA

O 1º tempo foi abaixo do esperado pela torcida, na Curuzu. Ainda sob os efeitos da goleada aplicada no Ituano, todos contavam com um PSC mais forte ofensivamente. Não foi o que aconteceu, em função principalmente da marcação do CRB,postada em duas linhas. Os alagoanos tinham apenas com Anselmo Ramon e Léo Pereira no ataque. O 2º tempo teve mais presença do Papão na frente, mas sem objetividade. Empate justo e ruim para os bicolores.

Como o CRB não se expunha, o PSC ficou travado, conformando-se com o jogo de poucas investidas sobre a zaga alagoana. Foram cinco finalizações, uma delas de João Vieira com perigo. Nicolas teve só lampejos e Esli García não teve liberdade para explorar o lado esquerdo.

Os melhores momentos do PSC ocorreram em jogadas pelo lado direito, com Edinho e Edilson. Isso enquanto Juninho esteve em campo. Aos 33 minutos, ele sentiu um baque na coxa e foi substituído por Netinho, que não acrescentou qualidade à transição.

Mesmo com o controle da posse de bola, o Papão tinha dificuldades para romper as linhas de marcação. Muito recuado, o CRB teve poucas tentativas. A melhor foi em cruzamento de Anselmo Ramon para Léo Pereira, mas o goleiro Diogo Silva levou a melhor.

Na volta do intervalo, o PSC aproximou mais as linhas e passou a contar com a agressividade de Netinho, que se posicionou mais à frente e arriscou duas vezes com perigo em direção ao gol. Enquanto isso, Esli García e Nicolas permaneciam sem encontrar espaço, ainda mais quando se ficavam longe da área.  

Como ambos são fundamentais para empoderar o ataque, o time sofre quando estão fora de ação. Apesar disso, a vitória chegou a se esboçar para o PSC. Aos 13 minutos, Kevyn chutou cruzado e a bola bateu na mão de Gegê. Pênalti confirmado pelo VAR e convertido por João Vieira.

O entusiasmo da torcida durou pouco. Cinco minutos depois, em rápida trama pelo meio, Rômulo tocou para Léo Pereira, que disparava pela esquerda. Ele dominou a bola, passou pela marcação e chutou cruzado, sem chances para Diogo Silva. O empate abateu o PSC, que custou a reagir.

Vieram as mudanças – Val Soares, Gabriel Santos e Michel Macedo no lugar de Leandro Vilela, Edinho e Edilson – e o time lançou-se ao ataque, tentando chegar ao gol com cruzamentos inúteis para a área do CRB.

O gol quase saiu pelos pés de Val Soares, aos 42’, e Netinho, aos 44’. Muito pouco para um jogo que representava muito no esforço para avançar na classificação. Apesar da postura conservadora, o CRB ameaçou no final com duas investidas que passaram perto do gol paraense.

A igualdade no placar refletiu o equilíbrio nas ações e limitações das duas equipes. Ninguém merecia sair vitorioso.  

Lateral direito é uma das boas surpresas do Leão

Substituto de Thalys, um dos mais regulares jogadores do Remo na temporada, o lateral Diogo Batista tem chamado atenção pela boa movimentação tanto no ataque quanto resguardando o lado direito. Estreou junto com o técnico Rodrigo Santana na vitória contra o Sampaio Corrêa, atuou bem diante do São Bernardo e foi um dos melhores no triunfo sobre o Ypiranga.

O perfil agressivo, principalmente nas ações ofensivas, agradou o torcedor e foi fundamental para dar solidez à ala direita remista. Domingo, contra o Ypiranga, impressionou pelo desempenho técnico e pela resistência física em confronto castigado por uma temperatura de quase 40 graus.

Além disso, Diogo foi vibrante, comemorando todos os lances em que levou vantagem, o que impressionou a torcida no Baenão. Indicação do técnico, Diogo é uma das peças que podem alavancar o processo de evolução do Remo no Brasileiro.

A vocação para apoiar o ataque ficou demonstrada nos três jogos, mas a participação contra o Ypiranga foi mais marcante. Responsável pelo cruzamento rasante para o gol de Ytalo, ele se manteve presente em todas as tentativas de ataque durante a partida.

Diante do temor pela ausência prolongada de Thalys, lesionado com gravidade no início da competição, a chegada de Diogo foi um achado.

Precisamos falar sobre o show da Eurocopa

Craques distribuídos por quase todas as seleções participantes garantem o encanto da Eurocopa, iniciada na sexta-feira (14) com o jogão entre Alemanha e Escócia. A sede também contribui bastante para valorizar o torneio, que rivaliza em qualidade com a própria Copa do Mundo. As cidades alemãs são encantadoras, com populações apaixonadas por futebol.

Depois do show particular de Toni Kroos na avassaladora estreia do escrete alemão – goleou por 5 a 1 –, a primeira rodada da Euro terminou ontem, com o confronto entre Portugal x República Tcheca.

Favorito, Portugal quase desceu do salto diante da forte marcação tcheca, mas conseguiu virar nos minutos finais. O controle do jogo esteve sempre com Cristiano Ronaldo e seus companheiros, mas faltou gol no primeiro tempo.

CR7, visivelmente entusiasmado em seguir jogando em alto nível, desperdiçou uma chance e criou dificuldades para os marcadores, mas foi um golaço de Provod que abriu o placar em favor da República Tcheca no início da 2ª etapa.

O empate veio com um toque de sorte. Aos 23 minutos, Nuno Mendes desviou de cabeça, o goleiro Stanek espalmou e a bola desviou em Hranác antes de entrar.

Empurrado pela torcida, Portugal continuou em cima. CR7 meteu um cabeceio na trave e Diogo Jota fez o gol, mas o lance foi anulado. Aos 46’, não teve jeito: Pedro Neto cruzou, o atrapalhado Hranác não conseguiu cortar e a bola sobrou para Francisco Conceição marcar o gol da virada.

Um jogo interessante, como foi Turquia x Geórgia no início da tarde de ontem, também pelo grupo F da Eurocopa. O triunfo dos turcos foi valorizado pelo golaço do jovem craque Arda Güler, de 19 anos, uma das promessas do Real Madrid.

(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 19)

Uma vitória grandiosa em Itu

POR GERSON NOGUEIRA

Foi quase perfeito, como na decisão da Copa Verde. Um Papão agressivo e determinado em busca do gol. O esforço foi recompensado. Antes dos 30 minutos, o placar já apontava 3 a 0. A parte imperfeita da história foi o cochilo de três minutos, entre 41 e 43 minutos, quando o Ituano fez dois gols e ameaçou estragar a festa. No 2º tempo, porém, a vitória se consolidou em 5 a 3 – e podia ser maior, se Nicolas não tivesse perdido um pênalti, o segundo nesta Série B.

O resultado foi importante por marcar a primeira vitória fora de casa na competição e também por representar a afirmação de um sistema que depende de intensidade e transição rápida. Foi jogando assim que o Ituano foi envolvido a partir dos 10 minutos, quando o PSC passou a rondar a área, principalmente pela boa movimentação de Jean Dias.

Os três gols marcados em apenas nove minutos dão a medida da agressividade e da concentração em torno do objetivo de vencer. Era como se o mau passo diante do Sport estivesse dependendo de uma resposta – e realmente estava.

Nesse sentido, a resposta foi contundente e avassaladora. Jean Dias marcou um golaço aos 20 minutos, após ser lançado por Juninho. Aos 27’, Jean Dias cobrou falta e Quintana cabeceou para as redes. E, aos 29’, Kevyn desviou para o gol um cruzamento de João Vieira. Tudo parecia sacramentado e indicando um baile alviceleste em Itu.

O problema é que o Ituano resolveu reagir, após mudanças promovidas pelo técnico Alberto Valentim. Aos 41’, Miquéias descontou aproveitando uma confusão na área do PSC. Dois minutos depois, a reação se tornou real: Yann Rolim fez o segundo gol e recolocou o Ituano no jogo.

A nova situação exigiu do Papão uma atitude mais decidida no 2º tempo. Eslí García, que fazia boa partida sem ter tido chances, ampliou para 4 a 2, depois de um passe perfeito de Jean Dias. Ele iludiu a marcação e tocou com categoria na saída do goleiro Jefferson Paulino.

O próprio Esli foi derrubado por Léo Duarte, aos 18 minutos. Pênalti que Nicolas desperdiçou, bola saiu pelo fundo após tocar na trave. A segunda penalidade desperdiçada pelo atacante, que havia perdido também contra o América-MG na Curuzu.

Para complicar as coisas, logo no lance seguinte o Ituano ganhou um pênalti também. Quintana tocou a bola com a mão e o VAR confirmou a infração. Eduardo Diniz chutou no canto, deixando o jogo de novo perigosamente equilibrado. PSC 4 a 3.

O confronto entrou numa fase de ataques seguidos de parte a parte, com chances desperdiçadas tanto pelo Papão como pelo Ituano. Gabriel Santos, que havia acabado de entrar, marcou o quinto gol bicolor, mas o VAR anulou a jogada. O Ituano tentava apertar, mas abria a defesa. Netinho então avançou com a bola e disparou um foguete, marcando 5 a 3.

O Papão subiu da 16ª para a 15ª colocação na tabela de classificação. O Ituano segue em 18º lugar. O próximo compromisso do PSC será na terça-feira (18), às 21h30, contra o CRB na Curuzu.

Leão vence com melhor atuação no campeonato

O gol de Ytalo aos 22 minutos coroou o bom início do Remo diante do Ypiranga-RS, ontem à tarde, no Baenão. Abriu caminho para a vitória e deu o tom de uma atuação equilibrada, tanto na defesa quanto no ataque, nos dois tempos. Pelo desembaraço exibido nas iniciativas pelos lados, a imposição no ataque e a perfeita proteção à zaga, destacando Paulinho Curuá na função, foi a melhor apresentação do Leão na Série C.

Os primeiros movimentos já exibiram um Remo bem distribuído em campo, não permitindo que o Ypiranga trocasse passes além de seu campo. Aos poucos, Jaderson e Marco Antônio começaram a abrir espaço nas linhas do adversário, com passes em velocidade para Ytalo e Pavani, que chegava como elemento surpresa.

Depois de duas finalizações perigosas, de Ytalo e Diogo Batista, veio a jogada mais aguda pela direita. Diogo avançou até à linha de fundo e cruzou para o interior da pequena área. Ytalo chegou entre os zagueiros e só fez escorar para o fundo do barbante.

O artilheiro do Remo na temporada ainda fez outra finalização perigosa. A bola resvalou na zaga e quase entrou no gol. Jaderson também fez uma tentativa pela esquerda, defendida pelo goleiro Alexander.

Na etapa final, um breve recuo do Leão abriu brecha para o visitante atacar com mais liberdade. Apesar disso, não houve uma chance clara em favor da equipe gaúcha. Aos poucos, as jogadas rápidas com Diogo, Marco Antônio e Jaderson voltaram a botar em dificuldades a defesa do Ypiranga.

Seguro na linha de zaga e forte na marcação, com Paulinho Curuá e Pavani, o Remo achou espaço para criar dois ataques agudos, com Kelvin desperdiçando embaixo da trave e Matheus Anjos arriscando com perigo da entrada da área.

A vitória convincente selou um reencontro pacífico e alegre com a torcida. Ontem, apenas 3 mil torcedores estavam no Baenão, número que deve crescer à medida que os triunfos forem se repetindo. O próximo desafio é o ABC, na próxima segunda-feira, em Natal.

Fogão de Júnior Santos vence e retoma liderança

O próprio torcedor botafoguense ainda precisa se convencer de que 2023 ficou para trás. Em muitos momentos, amigos recordam a traumática campanha para colocar em dúvida a força do time atual. A cada jogo, porém, Artur Jorge e seus comandados têm dado provas de que merecem ser acompanhados com atenção e, principalmente, apoiados.

Ontem, em Cariacica (ES), o Botafogo derrotou o Grêmio por 2 a 1. Gols de Cuiabano e Júnior Santos, que confirma a cada gol a grande fase que vive e a importância que tem hoje para o time. Agressivo nas ações pelo meio ou pelos lados, virou um tormento para as defesas inimigas.

É cedo para falar em título, mas a liderança do campeonato não é produto do caso. Há merecimento nisso. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 17)