Rock na madrugada – Led Zeppelin, “Stairway to Heaven”

POR GERSON NOGUEIRA

Quando Stairway to Heaven foi lançada, em 8 de novembro de 1971, o mundo ainda estava se acostumando com as criações de Jimmy Page no Led Zeppelin. Guitarrista virtuoso e grande arranjador, ele construiu a música pacientemente ao longo de quase um ano. As histórias que rondam a criação são lendárias, mas o certo é que foi surgindo em camadas, inspirado nas canções medievais e tentando imitar trechos de obras do gênio alemão Johan Sebastian Bach.

A aura de mistério cresceu na mesma proporção em que o sucesso fez dela uma das músicas mais tocadas na história do rock, e seguramente a mais popular da discografia do Led. Não escapou de acusações de plágio (conteria trechos chupados da canção “Taurus”, do grupo Spirit), mas ninguém refuta que é mesmo uma obra do talento de Page.

Surgido dos escombros dos Yardbirds, supergrupo que durou até 1968, o Led foi uma banda toda idealizada por Page, que pessoalmente saiu à procura de outros músicos para formar um quarteto. Robert Plant, que era da Band of Joy, foi indicado e imediatamente aprovado – pelo vozeirão e o visual impactante. Junto com Plant veio John Bonham, que tocava bateria na Band of Joy. O último a entrar foi John Paul Jones, amigo de Page.

Em 1969, o Led lançou o primeiro disco, que destacava canções pesadas e longas, na contramão do rock da época. A guitarra de Page, a presença cênica de Plant e a sessão rítmica de Bonham se encarregaram de alavancar o grupo nas paradas do mundo inteiro.

Depois de três bem sucedidos LPs, o Led Zeppelin lançou um disco sem título, mas enriquecido pela épica Stairway to Heaven, cuja introdução traz acordes suaves de violão (Page) e variações de flauta (Jones) esculpindo uma espécie de hino, que cresce com os solos arrebatadores da guitarra de Jimmy e o vocal de Robert Plant. A letra foi escrita em boa parte por Plant, com contribuições de Page, girando sobre escolhas e destinos, com um toque místico bem característico da obra do Led.

À época, Plant estava obcecado pela obra de Lewis Spence, The Magic Arts in Celtic Britain, uma pesquisa sobre práticas e cultos celtas sobre profecias, magias e feitiços. A canção tornou-se alvo de muitas especulações, chegando a ser dada como satanista e pagã. A explicação de Plant é mais simplista: ele via a geração setentista muito voraz e consumista, por isso defendia uma visão mais orgânica e voltada para a natureza.

Como costuma ocorrer com clássicos do rock, a música foi recebida como pretensiosa, pomposa e medíocre pela crítica. O tempo, porém, se encarregou de transformar Stairway to Heaven em êxito espontâneo e definitivo. E o solo de Page é um dos mais festejados de todos os tempos.