O fator X

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Por Sergio Abranches

A politização militante do X(Twitter) por seu dono, Elon Musk, mostra a contradição insanável de plataformas privadas de difícil regulação abrigarem o espaço público global da democracia digital. Até as postagens de Musk contendo desafios às decisões do ministro Alexandre de Moraes e justificativas que circulam nos perfis e bots da extrema-direita, o problema das redes digitais eram os algoritmos que favorecem a linguagem de ódio e atitudes antidemocráticas. Mas, ela se agrava muito com a interferência proposital, pensada e militante do dono da plataforma com viés da extrema-direita.

Os algoritmos são artefatos matemáticos, tecnológicos, produzidos, ou seja programados e codificados, por cientistas que trabalham para a plataforma, portanto sociais. Esta é a razão pela qual chamamos os algoritmos de artefatos tecnossociais. O impulsionamento de postagens com discurso de ódio e outros vícios humanos ocorre como efeito colateral do verdadeiro viés dos algoritmos para identificar as postagens que geram mais engajamentos e oferecer aos que as acessam outras postagens de teor similar. O objetivo é “fidelizar” os usuários da rede, induzi-los a ficar mais tempo conectados e se engajar mais, para ficarem mais expostos às mensagens publicitárias explícitas ou como parte de mensagens dos chamados “influenciadores”. Os algoritmos “aprendem” com o enorme volume de dados gerados pelas interações e vão impulsionando aquelas que cumpram os seu objetivos mercadológicos com maior eficácia.

É um problema que não se resolverá apenas com regulação. Será necessário reprogramar os algoritmos para que identifiquem e filtrem as postagens com linguagem de ódio, evitando impulsioná-las. Também será preciso que os falsos perfis e robôs maliciosos sejam identificados e expurgados. Essa disfuncionalidade das plataformas abrange também postagens criminosas, de pedofilia e de exploração sexual.

Diferente é a interferência política que incita a desobediência a ordens judiciais e às autoridades nacionais, por proprietários de plataformas digitais, globalizadas e que prescindem de bases em qualquer país. Elon Musk defendeu perfis que cometeram crimes políticos e contra a ordem constitucional, usou argumentos que se encontra em qualquer perfil da extrema-direita utilizado para atacar, difamar, caluniar, ofender e ameaçar os perfis com alta tração que considerem inimigos. Há uma minoria de perfis da esquerda que utiliza o mesmo método. No Brasil, essa minoria ataca os perfis de maior prestígio que critiquem os governos do PT. Mostra que o fascismo também está na extrema-esquerda. Mas, a maioria dos perfis identificados com o Partido dos Trabalhadores e com Lula, aceita as regras do embate democrático.

O viés introduzido por Elon Musk no X(Twitter) não é mercadológico, nem constitui um artefato tecnossocial. É um filtro político-ideológico que alinha a plataforma à extrema-direita e abre esta rede digital a todo tipo de propagandista da extrema-direita global. Não é uma postagem de perfis falsos, chatbots ou perfis minúsculos que servem apenas para permitir que robôs e perfis de maior influência repitam suas mensagens e elas sejam identificadas e impulsionadas pelos algoritmos. Em geral esses perfis são rasos, ignorantes, incapazes de criação, teleguiados pelos “ideólogos digitais”. Elon Musk se tornou um “ideólogo digital” e militante, como Andrew Anglin, Richard Spencer e Stephen Bannon, entre outros.

É muito mais grave e totalmente diferente. Aguça a contradição entre plataforma digital privada e espaço público, porque ameaça promover a ocupação ideológica e política deliberada do espaço público digital. Não falamos mais do fenômeno incidental, como efeito colateral, de algoritmos reprogramáveis, que promovem mensagens de ódio e outros conteúdos nocivos porque dão tração. É uma ação antidemocrática que ameaça a possibilidade de uma conversação coletiva, digital, múltipla e plural nas redes.

A reação inicial no Brasil tem sido discutir se o ministro Alexandre de Moraes está certo, se o que determinou é censura e se fere a liberdade de expressão. A liberdade de expressão absoluta invocada por Musk é contra-democrática. Também não é o tema mais importante a natureza jurídica da decisão do ministro. O importante não é se o X(Twitter) será ou não fechado no Brasil. Nenhuma dessas é a questão principal. O ponto-chave e que transcende o X é de uma plataforma privada abrigar espaço público global e ser transformada em um palanque ideológico por seu proprietário.

Tuaregues das praias

Por Heraldo Campos

Segundo renomados pesquisadores brasileiros da área de geologia [1], em trabalhos realizados
há mais de quatro décadas passadas, o estudo da geologia, tectônica, geomorfologia e sismologia regionais de interesse às usinas nucleares da Praia de Itaorna (RJ) as condições tectônicas atuais parecem ser residuais, com discreta acomodação dos blocos intensamente movimentados no Terciário. Essa acomodação, a se julgar pelos dados geomorfológicos e sísmicos, não é generalizada mas se concentra em área de maior incidência, caracterizando várias zonas sismogênicas. Essas zonas de instabilidade tectônica e sismogênica têm sido consideradas como províncias sismo-tectônicas.
Alarmismos à parte, principalmente pelo recente terremoto de magnitude 4,8 sentido na cidade
de Nova York e arredores (05/04/2024), vem, também, a lembrança familiar de que o desconforto causado por um tremor de terra foi sentido no bairro do Brás, na capital de São Paulo [1], no mesmo prédio em que nasci, no ano de 1954. Acrescenta-se que, nesse contexto dos terremotos, nunca é demais mencionar que segundo o dicionário de Tupi-Guarani [2] a palavra “Itaorna” quer dizer “Pedra friável, que se esfarela”.
Mas, então, porque que será que foi construída uma usina nuclear em Angra dos Reis, por exemplo, numa praia de “Pedra friável, que se esfarela”? Ao que tudo indica, mais uma vez, a sabedoria dos povos indígenas que apontavam alguma coisa frágil nessa área, parece que foi
ignorada. Por isso, precisamos ficar diuturnamente atentos e não baixar a guarda. Com esse espírito e de forma bem simplificada, sem exageros, pode-se dizer que Ubatuba e arredores está situada em área sobre feixe de falhas geológicas [3], alinhado na direção nordeste, numa zona sismogênica, e que os efeitos sísmicos potenciais poderiam causar eventuais danos em construções comuns.
Entretanto, “Será que, numa hipótese macabra, tivesse ocorrido um acidente nuclear em Angra dos Reis (RJ) por causa de um terremoto, durante o governo militar existente no período de 2019 a 2022, as populações que habitam esse município e região teríam ouvido um sonoro “e daí?”, como foi durante um bom tempo da pandemia do coronavírus e sem vacina?
Lamentavelmente, essa hipótese não pode ser descartada. Mas, como voltamos a ter um governo que preza o diálogo e a democracia, espera-se que a população angrense tenha treinamento suficiente para saber onde deve ir em caso de algum infortúnio geológico porque, salvo melhor juizo, o ubatubense que vive cerca de 160 km dessa região talvez não saiba o que fazer, nem para onde ir. Terremotos e daí?”. [4]
Por outro lado, saindo de uma escala regional para uma escala local, e mudando de certa maneira de assunto, é de conhecimento que “Em várias cidades espalhadas pelo mundo cada dia que passa se observa a proliferação de espigões altíssimos que parecem que ao atingir os céus buscam um “contato com Deus”. Muitas cidades litorâneas também estão caminhando para essa linha de ocupação verticalizada e cada vez mais alta com seus edifícios mas, outras, no entanto, ainda se expandem pela malha urbana com prédios menores, de quatro cinco andares, como é caso que vem ocorrendo, há alguns anos, no município de Ubatuba, localizada no Litoral Norte do Estado de São Paulo.” [5]
“Setores colados nas faixas de areia das praias, muitas vezes ocupados por residências, restaurantes, quiosques e outros equipamentos urbanos, que não deveriam estar assentados nesses lugares, podem ter a sua destruição causada pela ação das águas do mar e, ao mesmo tempo, interferir de forma desfavorável nos serviços ecossistêmicos, prejudicando a regulação
biológica de extensas áreas da orla marítima. Um exemplo disso é o processo erosivo na beirada do calçamento na praia do Iperoig em Ubatuba (SP).” [6]
Recentemente, esse trecho do calçamento foi recuperado, onde foi feita trincheira para colocação de muro de gabião e recoberto com areia, para posterior assentamento de bloquetes. O monitoramento contínuo dessa área, na identificação de futuros processos erosivos provocados pela ação do mar, deve ser constante para verificar se esse tipo de obra vai ter uma capacidade duradoura ao longo do tempo. A observação e perseverança dos tuaregues das praias, que vivem caminhando nesse espaço e não muito distante de Angra dos Reis, não vai deixar de existir.

Para encerrar, fica aqui o trecho de ”Tuareg” canção de Jorge Ben, feita para o disco “Gal”,
lançado em 1969: “Pois com muita fé, ele só para pra rezar / Pois pela direção do sol e das
estrelas / No oásis escondido, água ele vai achar / Pois o homem de véu azul é o prometido de
Alá”.

Fontes
[1] Hasui, Y.; Almeida, F. F. M. de; Mioto, J. A.; Melo, M. S. de. 1982. Geologia, tectônica,
geomorfologia e sismologia regionais de interesse às usinas nucleares da Praia de Itaorna.
Monografia do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT/Publicação IPT no 1.225. São Paulo,
SP. 149 p., 4 anexos.

[2] “Vocabulário Tupi-Guarani-Português” de Francisco da Silveira Bueno, 3a Edição Revista e
Aumentada, Brasilivros Editora e Distribuidora Ltda, de 1984.

[3] Campos, H. C. N. S. “Caracterização e cartografia das provincias hidrogeoquímicas do
estado de São Paulo”. 1993. 1 mapa na escala 1:1.000.000. São Paulo. Inst. Geoc. USP. 177 p.
(Tese Dout.).
https://doi.org/10.11606/T.44.1993.tde-02092013-101042
[4]”Terremotos e daí?” artigo de 19/09/2023.

https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2023/09/terremotos-e-dai.html?view=magazine
[5] “Manjadas associações” artigo de 14/08/2023.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2023/08/manjadas-associacoes.html?view=magazine
[6] “Biscoito de polvilho” artigo de 20/04/2022.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2022/04/biscoito-de-polvilho.html?view=magazine

(*) Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976),
mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da
USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e
Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).

Papão fica a um passo do título

POR GERSON NOGUEIRA

A vantagem de 2 a 0, construída pelo PSC ontem, no primeiro clássico da decisão do Campeonato Paraense, deixa a disputa em aberto para o segundo confronto, domingo que vem. Em termos realistas, levando em conta o placar estabelecido e o equilíbrio que habitualmente prevalece em Re-Pa, o título está muito próximo dos bicolores.

Para reverter, o Remo precisará vencer por três gols de diferença, placar que há 11 anos não favorece os azulinos. O time de Gustavo Morínigo que fazer um jogo ofensivo e de superação, não podendo correr o risco de sofrer gols. Em suma, é possível, mas pouco provável.

Na tarde ensolarada de domingo, o PSC começou melhor e terminou absolutamente dominante. Dominou as ações e correu poucos riscos ao longo do confronto. O Remo pouco chutou a gol e, quando o fez, não levou perigo.

Ao contrário da partida de quarta-feira, válida pela Copa Verde, quando Morínigo aplicou um nó tático em Hélio dos Anjos nos primeiros 45 minutos, desta vez a partida não apresentou surpresas na distribuição das equipes. Escaldado pelo sufoco sofrido no jogo anterior, o Papão foi mais articulado e marcou melhor, principalmente pelos lados.

Com Edilson e Jean Dias na direita e Bryan Borges e Edinho na esquerda, Hélio deixou o meio mais livre para as manobras de João Vieira, Leandro Vilela e Robinho, sendo que este procurava cair pelo lado esquerdo para tabelas com Jean e Nicolas.

Essa configuração dava volume aos avanços do PSC sobre a defensiva remista. A primeira chegada, porém, foi do Remo. Paulinho Curuá tocou para Sillas, que lançou Thalys e este bateu por cima.

O PSC seguiu cercando a área, insistindo na troca de passes à espera de uma brecha para infiltrações. A bola aérea era o recurso mais utilizado, como é próprio do esquema de Hélio dos Anjos. Nicolas tentou duas vezes, mas a melhor oportunidade coube a Wanderson, que escorou à direita de Marcelo Rangel uma cobrança caprichada de Robinho.  

Quando Nathan errou no domínio e entregou a bola para Edinho, aos 17 minutos, o primeiro grande momento do jogo se desenhou. O ponta foi à linha de fundo, cruzou e Jean Dias aproveitou quase na pequena área: 1 a 0. Note-se que Jean saiu de sua posição na esquerda para ir ao centro finalizar.

O PSC continuou melhor depois do gol, mas segurou o ímpeto. Quase ao final, Nathan avançou pela esquerda e bateu em direção ao gol, mas Matheus Nogueira defendeu sem problemas.

Logo no começo da etapa final, com Ribamar na vaga de Ytalo, o Remo perdeu Nathan. Ele já tinha o amarelo, cometeu falta sobre Edinho e foi expulso. Aliás, ninguém entendeu porque o técnico Gustavo Morínigo não tirou o lateral no intervalo, visto que havia falhado e estava pendurado. Nicolas desviou cruzamento e a bola foi no poste direito de Marcelo Rangel.

O Leão passou a se encolher, esperando o momento de explorar o contragolpe, mas o PSC não repetiu os erros do primeiro clássico e se fechava bem, com João Vieira fazendo papel de terceiro zagueiro adiantado, posicionando-se de forma a evitar surpresas.  

Kelvin teve uma boa chance, mas mandou para fora. Quando o time parecia disposto a uma última investida pelo empate, Paulinho Curuá foi expulso após entrada dura em Biel, revisada pelo VAR. Aos 47 minutos, com a defesa remista aberta, Biel chutou forte, Marcelo Rangel defendeu parcialmente e Esli Garcia tocou para as redes.

Em seguida, veio o sururu generalizado, envolvendo mais de 10 jogadores. Tudo porque o árbitro não deu falta de Leandro Vilela sobre Raimar, provocando a revolta dos remistas e o início da briga. Avisado pelo VAR, o confuso apitador expulsou Vilela, mas não puniu nenhum dos brigões.

No instante final, ele também deixou de marcar uma falta de Wanderson em Ícaro quase na linha da grande área. O jogo terminou sob clima de protesto de um lado e delírio do outro.

Célebre pelas trapalhadas, Bráulio estragou o jogo

Muito conhecido pelas polêmicas que marcam sua carreira, Bráulio Machado (SC-Fifa) deu todas as demonstrações de que não é mal avaliado por acaso. Parecia distraído, ausente de tudo e pouco atento às faltas que aconteciam à sua frente.

Sempre próximo aos lances, errava de forma primária na avaliação dos lances. Deixou passar pontapés e entradas violentas, dentro do velho estilo da arbitragem da Libertadores, deixando o jogo rolar. O problema é que faltas devem ser marcadas e punidas.

Poderia ter expulsado João Vieira, que cometeu duas infrações pesadas. Como também podia ter mandado Nathan embora mais cedo, também por falta grave. O pior, porém, estava reservado para o final. Não deu o segundo cartão para Paulinho Curuá, embora estivesse bem perto. Foi preciso o VAR avisá-lo.

Depois, Bráulio não puniu o carrinho de Leandro Vilela, acabando por provocar briga feia entre os jogadores dos dois lados. Só puniu o volante depois que foi chamado pelo VAR. No último minuto, ignorou falta de Wanderson sobre Ícaro.

Arbitragens atrapalhadas e erráticas como a de ontem irritam os jogadores, prejudicam o jogo e frustram o torcedor.

Fantasma da violência volta a assombrar o clássico

O Re-Pa é a maior festa esportiva do Pará e, pela importância que tem, merece ser preservado e protegido. O que ocorreu ontem, após o jogo, mostra que continuamos falhos no esforço de evolução do futebol paraense. Segurança é um item fundamental no processo, exigindo um esforço de conscientização das torcidas.

Um torcedor (Paulo Alexandre Silva Dias, 30 anos) foi morto a tiros no estacionamento do estádio. O controle do uso de armas deve ser repensado e reforçado. É inadmissível que alguém vá a uma partida de futebol portando armamento. É um local de celebração, jamais de agressão e morte. É preciso encontrar meios de frear essa irracionalidade.

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 08)

Em clássico de 3 expulsões e arbitragem confusa, Papão vence 1º duelo da final do Parazão

POR GERSON NOGUEIRA

O Paysandu saiu vitorioso do primeiro Re-Pa decisivo do Campeonato Paraense 2024. Em clássico tenso no final, ocorreram três expulsões e tumultos entre jogadores. Os bicolores venceram por 2 a 0, abrindo boa vantagem para o confronto final da decisão, previsto para o próximo domingo, 14. Jean Dias, aos 17 minutos do 1º tempo, e Esli Garcia, aos 47′ do 2º tempo, marcaram os gols do Papão.

Nos dois tempos, o PSC foi sempre mais organizado e com jogadas de aproximação, apesar de poucas chances de gol na primeira etapa. O gol de abertura surgiu de falha do lateral remista Nathan. Edinho avançou e cruzou na pequena área para a finalização de Jean Dias. No 2º tempo, quando o Remo esboçava uma reação, Nathan recebeu o segundo amarelo e foi expulso. Quase ao final, Paulinho Curuá também foi excluído. Aproveitando a desorganização azulina, Esli Garcia marcou o segundo gol após defesa parcial do goleiro Marcelo Rangel.

A arbitragem confusa e sem critérios de Braulio da Silva Machado (SC-CBF) contribuiu para os problemas disciplinares que estouraram no fim da partida. Uma falta violenta de Leandro Vilela sobre Raimar foi o pivô da briga, depois que o árbitro mandou o lance seguir. Na sequência, junto ao banco de reservas do Remo, houve pontapés e troca de socos entre jogadores.

Em consequência, Leandro Vilela acabou expulso, aos 53 minutos, após Braulio ser chamado para ver o lance no monitor de vídeo. Nathan já havia sido expulso, aos 7 minutos do 2º tempo, e o Remo ainda ficaria sem Paulinho Curuá, expulso aos 43′ por falta violenta. No último lance da partida, Braulio errou de novo: Ícaro levou uma cotovelada junto à área e o árbitro, mesmo a poucos metros, não puniu a infração e nem advertiu o zagueiro Wanderson.

A frase do dia

“PIADA DO ANO. Agora que é um NADA, o inelegível diz que está cumprindo agenda de trabalho. Quando era presidente, só sabia participar de motociatas e passeios de jet ski”.

Renata Fontenelle, designer gráfico

O passado é uma parada

Melhores momentos de Brasil 3 x 0 Argentina, na Copa do Mundo de 1982, na Espanha. O Brasil tinha um timaço e Diego Maradona estreava em Copas do Mundo. Foi um passeio da Seleção de Telê, que depois seria eliminada na fatídica partida do Sarriá contra a Itália, por 3 a 2.

Craque do traço e defensor da democracia, Ziraldo morre aos 91 anos

Morreu neste sábado, 6, aos 91 anos, o cartunista, desenhista e escritor Ziraldo, criador de personagens como os de “O Menino Maluquinho” e “Turma do Pererê”. A informação foi confirmada pela família do desenhista na tarde deste sábado (6). Ziraldo morreu dormindo, quando estava em casa, em um apartamento no bairro da Lagoa, na Zona Sul do Rio, por volta das 15h.

Também chargista, caricaturista e jornalista, ele foi um dos fundadores nos anos 1960 do jornal “O Pasquim”, um dos principais veículos a combater a ditadura militar no Brasil.

Ziraldo Alves Pinto nasceu em 24 de outubro de 1932 em Caratinga (MG), onde passou a infância. Mais velho de uma família com sete irmãos, foi batizado a partir da combinação do nome da mãe (Zizinha) com o nome do pai (Geraldo). Leitor assíduo desde a infância, teve seu primeiro desenho publicado quando tinha apenas seis anos de idade, em 1939, no jornal “A Folha de Minas”.

O desenhista e cartunista Ziraldo, em momento de trabalho, em foto de arquivo de 18 de maio de 1969. — Foto: IARLI GOULART/ESTADÃO CONTEÚDO

O desenhista e cartunista Ziraldo, em momento de trabalho, em foto de arquivo de 18 de maio de 1969. — Foto: IARLI GOULART/ESTADÃO CONTEÚDO

Iniciou a carreira nos anos 1950, na revista “Era uma vez…”. Em 1954, passou a fazer uma página de humor no mesmo “A Folha de Minas” em que havia estreado. Em 1957, formou-se em Direito na Faculdade de Direito de Minas Gerais, em Belo Horizonte. No mesmo ano, entrou para o time das revistas “A Cigarra” e, depois, “O Cruzeiro”. Em 1958, casou-se com Vilma Gontijo, sua namorada havia sete anos. Tiveram três filhos, Daniela, Fabrizia e Antônio.

Já na década seguinte, destacou-se por trabalhar também no “Jornal do Brasil”. Assim como em “O Cruzeiro”, publicou charges políticas e cartuns. São dessa época os personagens Jeremias, o Bom, Supermãe e Mineirinho. No período, pôde enfim realizar um “sonho infantil”. Ele se tornou autor de histórias em quadrinhos e publicou a primeira revista brasileira do gênero com um só autor, sobre a “Turma do Pererê”.

Os personagens eram um pequeno índio e vários animais que formam o universo folclórico brasileiro, como a onça, o jabuti, o tatu, o coelho e a coruja.

A revista deixou de ser publicada em 1964, a partir do início do regime militar. Cinco anos mais tarde, Ziraldo fundou, com outros humoristas, “O Pasquim”. Com textos ácidos, ilustrações debochadas e personagens inesquecíveis, como o Graúna, os Fradins ou o Ubaldo, o semanário entrou na luta pela democracia.

Ao mesmo tempo que combatiam a censura, Millôr, Henfil, Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Ivan Lessa, Sérgio Augusto e Paulo Francis, dentre outros colaboradores do jornal, sofriam com ela. Um dia depois do AI-5, baixado em 13 de dezembro de 1968, Ziraldo foi detido em casa e levado para o Forte de Copacabana.

Em 1969, publicou seu primeiro livro infantil, “Flicts”. Em 1979, passou a se dedicar à literatura para crianças. Seu maior sucesso, “O Menino Maluquinho”, saiu em 1980. É considerado um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro em todos os tempos. (Com informações do G1/Carta Capital)

Re-Pa: teste final para o Brasileiro

POR GERSON NOGUEIRA

Quando terminar a decisão do Campeonato Paraense, no dia 14 de abril, encerrando a sequência de quatro clássicos, PSC e Remo terão uma semana para o começo da Série B e da Série C. O Brasileiro da 2ª Divisão terá início no dia 20 de abril, já o da 3ª Divisão começa no dia 21 de abril.

O Papão terá como primeiro adversário um dos favoritos da competição, o Santos, no estádio da Vila Belmiro. O Leão joga em Belém, no estádio Jornalista Edgar Proença, diante do Volta Redonda.

Significa que os quatro clássicos disputados em 12 dias, de 3 a 14 de abril, se transformam em verdadeiro teste de resistência e avaliação para os elencos dos dois representantes paraenses nas competições nacionais.

Uma oportunidade de ouro para que os técnicos corrijam os problemas mais agudos de seus times, verifiquem se há necessidade de mudanças e até mesmo possam avaliar o estágio em que as equipes se encontram.

Dentro dessa perspectiva, o Re-Pa de hoje tem grande importância porque marca o começo da decisão do Parazão, competição indiscutivelmente mais importante para as torcidas do que a Copa Verde.

Vencer o estadual é uma prioridade nos dois clubes. O PSC busca atingir o recorde histórico de 50 conquistas regionais. O Remo persegue o título depois do fracasso em 2023, quando deixou escapar em casa, e para impedir que o rival alcance a sonhada marca.

Ao contrário do clássico de quarta-feira, o confronto deste domingo tende a ser mais tático e equilibrado nos dois tempos. A surpresa que foi a postura ofensiva e acelerada do Remo dificilmente se repetirá, pois do lado bicolor Hélio dos Anjos deve se cercar de cuidados para impedir isso.

A ausência de Jaderson, principal figura do meio-campo azulino, deve ser suprida com o posicionamento de Pavani ou Sillas naquele setor. O técnico Gustavo Morínigo terá também a opção do veloz Felipinho para o ataque.

Leandro Vilela e Jean Dias, que não atuaram na primeira partida, são reforços certos no Papão, ajudando a qualificar o meio e o ataque. De quebra, Kevin pode voltar à lateral esquerda, permitindo que Bryan seja adiantado.

Uma quase certeza: o placar finalmente será movimentado. Os clássicos disputados no ano terminaram em 0 a 0. A lógica diz que o gol vai sair.  

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro apresenta o programa a partir das 22h, na RBATV, com participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba baionense. Em debate, o Re-Pa de abertura da final do Parazão e a partida que vai definir a semifinal da Copa Verde. A edição é de Lourdes Cezar.

Copa Grão Pará: S. Francisco avança e desafia Tuna

O São Francisco, do técnico Samuel Cândido, derrotou o Águia na sexta-feira à noite, em Marabá, e garantiu presença na decisão da Copa Grão Pará contra a Tuna. O vencedor ganha o direito de disputar a Copa do Brasil 2025. O resultado pode ser considerado uma surpresa pela força do Azulão dentro do estádio Zinho Oliveira, mas não é absurdo diante da campanha feita pelo Leão santareno nesta temporada.

Com muitos sacrifícios, sem ajuda de empresários e sem patrocínio privado, o São Francisco havia se classificado entre os oito primeiros do Campeonato Paraense, por um triz não tirou a Tuna das semifinais e agora se impôs categoricamente contra o Águia, atual campeão estadual.

O gol foi marcado por Darilson, no 1º tempo. Ele entrou na área, aplicou um belo drible na marcação e tocou para o fundo das redes. O Águia pressionou muito em busca do empate, mas a zaga santarena reagiu bem.

Depois do insucesso no Parazão, o Águia de Mathaus Sodré perdeu o rumo. Vai muito bem na Copa do Brasil, mas não pode se desestruturar. Até porque ainda disputa a Série D neste ano.

A final da Copa Grão Pará não tem local definido, mas é possível que seja no Baenão ou na Curuzu, pois o Souza está em situação precária.

Troféu Camisa 13 ganha exposição no Pátio

De 11 a 13 de abril, no Shopping Pátio Belém, os torcedores poderão visitar a exposição do Troféu Camisa 13, ano 22. É uma bela oportunidade para mergulhar na história do futebol paraense, participando do talk show e garantindo prêmios especiais. Sempre das 10h às 22h.

O Troféu Camisa 13 é uma promoção da RBATV Afiliada Band, com patrocínio de Amaral Costa, Portugal e RR Pneus. A coordenação é da ZF Comunicação e Marketing.

Definida transmissão da Série B, carlosfalta a Série C

Resolvido o impasse da transmissão dos jogos da Série B 2024, falta agora a CBF e os clubes definirem como será a transmissão da Série C. Para a Segunda Divisão, três propostas foram discutidas e aceitas: Globo, Canal Goat e TV Brasil irão transmitir os jogos do campeonato.

A Globo fará a exibição no SporTV e no Premiere, seu serviço de pay-per-view, incluindo todas as 380 partidas. O Goat transmitirá no YouTube por streaming. O Goat só não exibirá partidas do Santos como mandante.

A novidade é a entrada em cena da TV Brasil, que exibirá algumas partidas em TV aberta, selecionadas em conjunto com a CBF. Globo e Sport negociam para que o time pernambucano tenha partidas transmitidas para o Estado em TV aberta também, o que abre precedente para que o Paysandu também reivindique transmissões locais.

Resta formalizar a transmissão dos jogos do Brasileiro da Série C, que no ano passado foram exibidos pelo canal Nosso Futebol.   

(Coluna publicada na edição do Bola deste sábado/domingo, 06/07)

Rock na madrugada – The Pretenders, “Back on the Chain Gang”

POR GERSON NOGUEIRA

Encontrei uma foto sua, oh oh oh oh
O que sequestrou meu mundo naquela noite
Para um lugar no passado
Fomos expulsos? ah ah ah ah
Agora estamos de volta à luta
Estamos de volta ao trem
Oh, de volta à gangue

Uma circunstância além do nosso controle, oh oh oh oh
O telefone, a tv e as notícias do mundo
Entrei em casa como um pombo do inferno, oh oh oh oh
Jogou areia nos nossos olhos e desceu como moscas
Coloque-nos de volta no trem
Oh, de volta à gangue

Hit mundial que consolidou a carreira dos Pretenders e carimbou o talento de Chrissie Hynde como cantora/compositora. Quarenta e dois anos depois, a canção não perdeu força. Pelo contrário, cada vez que é tocada renasce em encanto e charme. A música foi originalmente dedicada a James Honeyman-Scott, que morreu antes da gravação. Outro ex-integrante, Pete Farndon, morreu na época em que a música atingiu o topo das paradas. A frontwoman diz se sentir indiretamente responsável pelo ocorrido aos companheiros de banda, vitimados por problemas causados pelo consumo de drogas.

The Pretenders é uma banda anglo-americana, cuja formação se divide entre Hereford (Inglaterra) e Akron (EUA), em 1978. Surgiu no embalo do pós-punk e da new wave. A formação original tinha Chrissie (vocalista e guitarrista), uma norte-americana que vivia em Londres; James Honeyman-Scott (guitarrista), Pete Farndon (baixista) e Martin Chambers (baterista).

A participação no concerto beneficente para refugiados do Camboja (possuem três faixas no álbum Concerts for People of Kampuchea) no início dos anos 80 foi o ponto de partida para turnês na Europa e EUA, bem recebidos por crí­tica e público. A revista Rolling Stone premiou os Pretenders como grande revelação daquele ano.

Durante o processo de gravação do álbum Get Close, lançado em 1986, Martin Chambers saiu da banda. O músico retornaria na década de 1990, período em que o grupo lançou os álbuns Packed! (1990), Last of the Independents (1994) e Viva el Amor (1999). No século seguinte saíram os discos Loose Screw (2002), Break Up the Concrete (2008), Alone (2016), Hate for Sale (2020) e Relentless (2023).

A banda emplacou hits memoráveis na história do pop-rock dos anos 1980, como “Message of Love”, “Middle of the Road” (1983) e “Don’t Get Me Wrong”.

“Brasil Parasita”: os segredos da guerra cultural forjada pela extrema direita

O documentário “Brasil Parasita” desvenda os meandros das manipulações da Brasil Paralelo, uma organização milionária de extrema direita empenhada em criar uma “verdade alternativa”, capaz de construir uma narrativa de enfrentamento a setores progressistas. Um projeto de guerra cultural que tem muito a ver com a explosão de ódio e intolerância que explodiu durante o governo de Jair Bolsonaro, dividindo o país ao meio.

O doc é uma parceria entre o comunicador Rodrigo Kenji, conhecido como Normose, e o grupo de pesquisa “Brasil para Lerdos”, busca desmontar e revelar ao público as estratégias da produtora “Brasil Paralelo”, empresa de comunicação que ganhou popularidade ao produzir vídeos com revisionismo histórico e pró-extrema direita, ou seja, desinformação em massa. 

Com o nome “Brasil Parasita”, a campanha foi lançada propositadamente nesta semana, quando se completam os 60 anos do golpe militar no Brasil. A ação envolve articulação com uma série de outros perfis das redes sociais.

Assista.

A frase do dia

“Algumas celebridades sempre muito falantes em relação aos direitos humanos – como Lady Gaga e Viola Davis – definitivamente vão ignorar a matança de crianças e mulheres palestinas por Israel. Fazem a militância que o capital aceita. Ou ordena, sei lá”.

Rita Machado, professora

O dia em que o rock morreu, 30 anos

Cinco de abril de 1994, toca o telefone, é a editora do Folhateen, Noelly Russo: Kurt Cobain se matou. Você escreve?

Sentei, escrevi, mandei. O texto está abaixo.

Por André Forastieri

Tiro colocou o ídolo na história do rock’n’roll

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Kurt Cobain se matou. Isso não é romântico. Não é um momento fundamental da história do rock’n’roll. Não é charmoso, não é legal, não é engraçado e não vai mudar a vida de uma geração. É, pura e simplesmente, uma merda.
Você pode ser realista e dizer que era carta marcada. Que se não fosse por uma bala agora, ia ser por heroína amanhã. Ou até que Cobain ia se autodestruir com mais sutileza: tornando-se cada vez menos criativo e menos relevante. É comum, no rock e na vida.
Seria uma conclusão bem lógica se você tivesse entrevistado Kurt durante o Hollywood Rock de 91. Ele era magro e mirrado. Parecia sujo, parecia triste, e seus olhos estavam mortos. Uma vez ou outra durante os quarenta minutos que conversamos, parecia que tinha alguém vivo ali. Mas a impressão passava rápido.
Só que realismo não é “rocker”. Rock é justamente sobre a possibilidade de mudar tudo. Mudar a si mesmo e mudar o mundo –viver perigosamente, no melhor sentido do termo. Quem morre perde tudo o que era e tudo o que viria a ser. Quem se mata faz isso de propósito.
E ninguém diga que Cobain não sabia o que estava fazendo quando deu um tiro na cabeça. O safado sabia exatamente no que ia dar sua atitude, chapado de heroína ou não. Ele estava “deixando a vida para entrar na história”. Duvido que num microssegundo ele não tenha pensado, “agora vai ser Hendrix, Lennon, Morrison, eu e outros menos cotados”.
Suicídio é sempre um momento de supremo egoísmo. Dessa vez foi, também, um ato de traição.
Porque é bem possível que Kurt Cobain já tivesse rendido tudo que tinha para render, mas isso não vem muito ao caso. Nem vem muito ao caso se o Nirvana era uma grande banda ou não, se foi por causa deles que que o rock alternativo explodiu ou não, se Cobain era realmente um cara telentoso ou só mais um moleque caipira com uma guitarra. Enfim, nem vem muito ao caso pensar na filha que nunca vai conhecer o pai, na família, nos companheiros de banda e tudo.
Fico só pensando nos garotos em que Kurt não pensou quando se matou. Nos milhares de garotos pelo mundo inteiro que pegaram na guitarra e caíram na estrada e na vida por causa de “Smells Like Teen Spirit”. Nos garotos que nunca mais vão ouvir um disco novo do Nirvana.

Dez anos atrás, vinte anos após a morte de Kurt, lancei este livro. Meu acerto de contas com o rock, improvisado e incompleto como quase tudo que fiz na vida. Está esgotado. Nunca republiquei, nunca vi razão. Tem em sebo por aí.

Fecham o livro o texto acima, junto com outros três sobre Kurt e o Nirvana e mais uma entrevista com ele que fiz pra Bizz. O dia em que o rock morreu é, claro, 5 de abril. A foto lá no alto é minha favorita de Kurt, tirada pelo amigo André Barcinski em 1991, em Seattle.