Rock na madrugada – Deep Purple, “Smoke On The Water”

POR GERSON NOGUEIRA

Cinquenta segundos do mais puro rock’n’roll marcam a abertura deste clássico eterno do Deep Purple. A combinação de guitarras, bateria e órgão é uma das mais geniais introduções musicais do gênero. O riff de guitarra criado por Ritchie Blackmore garantiu à canção o 11º lugar na lista das 100 maiores músicas de Hard Rock do canal VH1 e é lição obrigatória para qualquer moleque disposto a aprender como tocar guitarra.

O vídeo acima é de um show de 1972, em Nova York, com o Purple no auge, ainda com a formação mais conhecida: Ian Gillan (voz), Ritchie Blackmore (guitarra), Jon Lord (órgão), Roger Glover (baixo) e Ian Paice (bateria).

O Deep Purple foi fundado em Hertford (Inglaterra), em 1968. De cara, tornou-se um dos esteios do rock pesado, ao lado de Led Zeppelin e Black Sabbath. Pioneiro do metal, o Purple brilharia como expoente do hard rock, de pegada mais melodiosa.

Ian Gillan, o vocalista definitivo, só ingressou na banda em 1969. O primeiro foi Rod Evans, que participou dos três primeiros discos – mas quem lembra mesmo dele? O único músico ativo da formação original é Ian Paice.

O grupo passou por várias mudanças, com idas e vindas de Ian Gillan e do guitarrista Ritchie Blackmore, que desistiu definitivamente do Purple em 1993, após briga feia com Gillan na turnê The Battle Rages On. A banda que vem ao Rock In Rio 2024 tem apenas Glover e Gillan da formação clássica.

Uma curiosidade: o Purple tocou em Belém (no Parque do Entroncamento, em 2013) para um pequeno público.

“Smoke On The Water” (Fumaça na Água) é um dos hits do álbum Machine Head, de 1972. A letra narra um fim de semana cheio de problemas para a banda, que fazia gravações para o disco. Relata o incêndio ocorrido durante show de Frank Zappa & The Mothers of Invention, no Hotel Casino, em Montreux (Suíça), em 4 de dezembro de 1971:

Todos fomos a Montreaux
Às margens do lago Genebra
Para gravarmos com um estúdio móvel
Não tivemos muito tempo

Frank Zappa e os Mothers
Estavam no melhor lugar que havia
Mas algum idiota com um sinalizador
Reduziu o lugar a cinzas

Fumaça na água e fogo no céu
Fumaça na água

Eles incendiaram o cassino
Ele veio abaixo com um terrível estrondo
Funky e Claude entravam e saiam
Tirando as crianças do local

Quando tudo havia terminado
Nós tivemos que procurar outro lugar
Mas o tempo na Suíça estava se esgotando
Parecia que nós não conseguiríamos chegar a tempo

Nós terminamos no Grand Hotel
Estava vazio, frio e sem ninguém
Mas com o caminhão de gravação dos Rolling Stones do lado de fora
Nós gravamos a nossa música lá

Com algumas luzes vermelhas e algumas camas velhas
Nós fizemos bonito
Não importa o que ganharemos com isso
Eu sei, eu sei que nunca esqueceremos

O cassino pegou fogo pra valer e os músicos do Purple e do Mothers foram levados a um outro cassino, o Grand Hôtel Territet, de onde acompanharam o espetáculo da fumaça sobre a água, que virou título do hino. Roger Glover descreveu o incêndio como uma explosão de fogos de artifício, o que inspirou a composição.

O incidente atrasou a finalização de Machine Head, mas permitiu que a nova canção fosse trabalhada com todo esmero, principalmente no encaixe do poderoso riff de Blackmore com a “voz de prata” de Gillan. Sobre a criação de Blackmore circulam várias versões. A mais mirabolante é de uma versão invertida da “Quinta Sinfonia”, de Beethoven.

O guitarrista teria tocado sinfonia de trás para a frente, invertendo a ordem natural da composição. O riff teria sido composto em estilo medieval, em “quartas”. Uma outra história vincula o riff a suposto plágio de uma canção do brasileiro Carlinhos Lyra, intitulada Maria Moita. A amparar essa teoria o fato de que o produtor Claude Nobs (o Funky Claude da letra) era um assumido fã de bossa nova e teria apresentado a música de Lyra aos amigos do Purple.

Na realidade, Blackmore não teve uma inspiração instantânea para criar o riff. Segundo amigos, ele teria trabalhado no arranjo durante anos, esperando uma canção para aplicar o riff.

Como ocorreu tantas outras vezes, nenhum dos músicos da banda acreditava que Smoke On The Water viria a ser um mega sucesso, surpreendendo-se com o gigantesco sucesso da canção, até hoje uma das mais cultuadas da história do rock.

Leão segue ladeira abaixo

POR GERSON NOGUEIRA

O retrato da derrocada ficou esboçado na estreia contra o Volta Redonda, em Belém, na semana anterior. Na ocasião, os erros de escalação levaram a uma derrota que não constava dos planos do Remo para o começo da Série C. Diante do Athletic, sábado à noite, o cenário ficou mais claro para quem ainda nutria esperanças de uma retomada. O placar final de 3 a 1 retratou fielmente o que foi a partida.

Com poucos minutos de partida, o Remo já se deixava dominar por completo, sem esboçar reação. Tudo o que se viu diante do Voltaço voltou a ocorrer: falta de articulação, espaçamento entre os setores e apatia ofensiva. Para piorar, nenhum sinal de garra em busca de um resultado favorável. Quando um time não tem técnica, escora-se no espírito de luta. Nem isso foi possível ver em São João del Rei.

Até o empate poderia ser considerado bom, nas circunstâncias. Afinal, o Remo desafiava o time que estreou metendo 4 a 0 no Caxias, lá na casa do adversário. Ocorre que o Athletic nem precisou ser tão efetivo ofensivamente, a defesa azulina propiciou as facilidades.   

Logo aos 10 minutos, o artilheiro Jonathas apareceu na área para cabecear com muito perigo. O gol parecia apenas questão de tempo. E foi assim que realmente aconteceu: aos 16′, Jonathas foi lançado na pequena área e mandou para as redes. Chutou de bico e a bola entrou.

Quando chegou ao gol, numa escapada com Ribamar entrando pela esquerda, o lance foi invalidado. A arbitragem flagrou impedimento. O primeiro tempo se arrastou sem maiores emoções, embora o Athletic tenha levado muito mais perigo à meta remista.  

O Leão voltou mais agressivo e esperto para o 2º tempo. Parecia que ia funcionar a velha estratégia de Gustavo Morínigo, que costuma transformar a equipe com mexidas pontuais. Logo aos 3 minutos, Marco Antônio emendou da entrada da área, na primeira boa chegada azulina.

Em resposta, o Athletic foi ao ataque de forma contundente. Aos 6′, um contra-ataque puxado por David Braga pegou a defesa azulina desarrumada. Ele tocou para Torrão e recebeu um cruzamento perfeito para ampliar de cabeça.

O Remo então resolveu partir para cima e, aos 26’, Sillas recebeu um passe rasteiro na área e bateu cruzado para diminuir o prejuízo. Por alguns minutos, o empate pareceu possível. Kanu finalizou dentro da área, mas o goleiro evitou o gol. A pressão terminaria aí.

Aos 36′, o Athletic aplicou o golpe de misericórdia. Robinho, da entrada da área, chutou forte. A bola desviou em Bruno Bispo e enganou o goleiro Marcelo Rangel, fechando a contagem. Marco Antônio ainda foi expulso, quebrando de vez as forças do Remo em campo.

Na lanterna da Série C, o Leão enfrenta o Botafogo-PB no domingo (5), em João Pessoa, precisando vencer para reagir na competição.

García aplica drible “2 pra lá, 2 pra cá” e faz golaço

A torcida bicolor, em número decepcionante para as expectativas do jogo (7 mil pagantes), saiu frustrada do Mangueirão com o empate entre PSC e Botafogo-SP, no sábado à tarde. Mas, se o 1 a 1 no placar não inspirou comemorações, o golaço de Esli García foi digno de aplausos.

O confronto teve momentos eletrizantes, com oportunidades de gol para os dois lados. O problema é que os atacantes erraram muito. Por isso mesmo, o Papão sentiu demais a ausência do artilheiro Nicolas.

Aos 10 minutos, Schappo recuou perigosamente e Ruan Ribeiro teve a chance de marcar após disputar a bola com o goleiro. Aos 15′, Patrick Brey entrou livre na área e, quando ia chutar para o gol, foi abalroado por João Vieira. O árbitro mandou o jogo seguir, sem revisão de VAR.

Logo em seguida, Edinho invadiu a área botafoguense, driblou um marcador e chutou com muito perigo. Aos 24′, mais emoção: Quintana deu um carrinho para cortar o ataque fulminante do Botafogo, mas chutou contra o patrimônio. A bola bateu no poste direito e saiu.

Aos 30′ foi a vez de Carlos Maia cabecear na trave. No rebote, Leandro Vilela cabeceou novamente, mas Jean Victor evitou o gol. No finalzinho, Alex Sandro acertou a trave esquerda de Matheus Nogueira.

Logo aos 5 minutos do 2º tempo, o lateral Bryan Borges foi expulso. Como já havia recebido o amarelo, seu retorno para a etapa final foi uma temeridade. Esli García foi lançado no jogo, a pedido da torcida, e não decepcionou. Com ele, o Papão passou a ameaçar nos contra-ataques.

Aos 22′, a estrela do ponta venezuelano brilhou. Chamou os marcadores para dançar e mandou um chute por cobertura. A bola beijou o travessão e entrou. Um golaço, consagrando Esli junto à Fiel.

Aos 34’, em jogada rápida pela direita, o lateral Wallison cruzou na área e o atacante Toró se antecipou a Wanderson, batendo de primeira para empatar. Nos instantes finais, o PSC teve boa chance para marcar e o Bota quase desempatou em duas finalizações salvas pelo goleiro Matheus Nogueira.

O próximo compromisso será contra o Avaí, sexta-feira (5), na Curuzu.

Depois de décadas, Bota vence Fla sem erro de apito

Com arbitragem monitorada minuto a minuto, o Botafogo superou o Flamengo na manhã de domingo. No Maracanã cheio de rubro-negros, o time de Artur Jorge foi cirúrgico. Ofensivo e extremamente rápido, o Alvinegro venceu o clássico com gols de Luiz Henrique e Savarino.

John Textor não estava em campo, mas foi o personagem mais lembrado ontem. Suas denúncias contra a arbitragem brasileira geraram polêmica durante a semana e foram potencializadas pelo anúncio de que Rafael Claus seria “vigiado” em tempo real. Funcionou. O árbitro, useiro e vezeiro em atuações desastrosas contra o Fogão, esteve impecável.

O esquema 4-2-4 utilizado por Artur Jorge começa a engrenar, com vitórias seguidas e saldo de 10 gols em quatro jogos. Não é possível cravar se vai funcionar a longo prazo. Por enquanto, está ajudando a diminuir as desconfianças da torcida botafoguense.    

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 29)

Políticas sociais mudam a cabeça do povo?

Por Frei Betto

Minha resposta à pergunta acima é não. Em setenta anos de União Soviética, o povo foi beneficiado com direitos que o Ocidente ainda não conquistara. Homens e mulheres desempenhavam os mesmos trabalhos e tinham igual remuneração. Já na década de 1920, 600 mulheres ocupavam cargos similares ao de prefeita, enquanto na maioria dos países ocidentais elas nem tinham direito a voto. 
A União Soviética foi o primeiro país da Europa a apoiar direitos reprodutivos, em 1920. As mulheres detinham plena autoridade sobre seu corpo.[1] O ensino escolar era gratuito, inclusive a pós-graduação. Os estudantes recebiam do poder público livros didáticos e material escolar.[2] Também o sistema de saúde era inteiramente gratuito. O número de usuários de drogas era extremamente baixo e os poucos que conseguiam entorpecentes o faziam através de turistas que contrabandeavam para dentro do bloco.[3] Foram os soldados que ocuparam o Afeganistão, no fim da década de 1980, que infestaram de drogas os países do bloco soviético. 
Apesar de tudo, a União Soviética colapsou sem que fosse disparado um único tiro. O povo deu boas-vindas ao capitalismo. Hoje, a Rússia é um dos países onde a desigualdade social é mais alarmante.
O socialismo soviético não fez a cabeça do povo em prol de uma sociedade solidária. Do mesmo modo, o Estado de bem-estar social, predominante na Europa “cristã” até ruir o Muro de Berlim, não fez a cabeça do povo.
Antonio Candido dizia que a maior conquista do socialismo não se deu nos países que o adotaram, e sim na Europa Ocidental, onde o medo do comunismo levou a burguesia a ceder os anéis para não perder os dedos.
Findo o socialismo, a burguesia ergueu os punhos e revelou sua verdadeira face: prevalência dos privilégios do capital sobre os direitos humanos; repúdio aos refugiados; privatização dos serviços públicos; alinhamento à política belicista dos EUA. 

Governos do PT

O Brasil conheceu 13 anos de governos do PT que asseguraram à população de baixa renda vários benefícios: Bolsa Família; salário mínimo corrigido anualmente acima da inflação; Luz para Todos; Minha casa, Minha vida; Fies; cota nas universidades; redução drástica da miséria, da pobreza e do desemprego; aumento da escolaridade etc. 
No entanto, Dilma Rousseff foi derrubada sem que o povo fosse às ruas defender o governo. E Bolsonaro foi eleito presidente em 2018. Em 2022, perdeu para Lula pela diferença de apenas 2 milhões de votos, de um total de 156 milhões de eleitores.

Freud e Chomsky

Segundo Freud, “a massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela. (…) Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza. Vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem. Quem quiser influir, não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com imagens mais fortes, exagerar e sempre repetir a mesma fala. (…) Ela respeita a força, e deixa-se influenciar apenas moderadamente pela bondade, que considera uma espécie de fraqueza. Exige de seus heróis fortaleza, até mesmo violência. Quer ser dominada e oprimida, quer temer os seus senhores. No fundo, inteiramente conservadora, tem profunda aversão a todos os progressos e inovações, e ilimitada reverência pela tradição.”[4]
Quem faz a cabeça do povo é o capitalismo, que exacerba nosso lado mais individualista e narcisista. E promove 24h por dia a deseducação da sociedade ao estimular o consumismo, a competitividade, a ambição de riqueza, o “salve-se quem puder”. 
Noam Chomsky[5] enumera os recursos do sistema para evitar a consciência crítica: o entretenimento constante (vide a programação de TV); disfarçar os abusos como necessidades, como o aumento das tarifas dos transportes (“Medidas que são, na verdade, prejudiciais à população por favorecer os interesses escondidos de uma minoria, passam a ser implantados como se fossem garantir benefícios em comum”); tratar o público como criança e manter a consciência infantilizada; fazer a emoção prevalecer sobre a razão; manter o público na ignorância e na mediocridade, como a linguagem cifrada utilizada nas matérias sobre economia; autoculpabilização (sou o único responsável por meu fracasso ou sucesso); convencer que a grande mídia sabe mais do que qualquer pessoa etc. São o que Chomsky denomina as “armas silenciosas para guerras tranquilas”. 
O PT governou por quatro vezes os municípios de Maricá (RJ) e Ipatinga (MG), assegurando grandes benefícios às suas populações. Em 2022, Bolsonaro venceu nos dois turnos nas duas cidades.
Isso significa que é real o risco de a direita voltar à presidência da República em 2026. Por mais benefícios que o governo Lula venha a garantir ao povo brasileiro. Qual é, então, a saída? Como evitar que isso venha a ocorrer?

Educação política

Só há uma alternativa: intenso e imenso trabalho de educação popular, pelo método Paulo Freire, utilizando dois recursos preciosos que o governo dispõe, a capilaridade e o sistema de comunicação. Capilaridade seria adotar a pedagogia paulofreiriana na formação dos agentes federais em contato com os segmentos mais vulneráveis da população, como saúde, IBGE, Embrapa etc. Por que não incluir no Bolsa Família, que atende mais de 21 milhões de famílias, uma terceira condicionalidade, além da escolaridade e da vacina? Seria a capacitação profissional. Além de propiciar qualificação aos beneficiários, de modo a que possam produzir a própria renda, as oficinas de capacitação seriam pelo método Paulo Freire. Mulheres que se inscreverem para se capacitarem em oficinas de culinária e costura, por exemplo, aprenderiam esses ofícios segundo o método que desperta consciência crítica.

A rede de comunicação do governo federal

O outro recurso é a EBC – Empresa Brasileira de Comunicação -, poderoso sistema de comunicação em mãos do governo federal, desde a “Voz do Brasil”, ouvida diariamente por 70 milhões de pessoas.
A TV Brasil, Canal 2, rede de televisão pública, conta com 50 afiliadas em 21 estados. Em 2021, ficou entre as 10 emissoras mais assistidas do país. O sistema de rádio EBC engloba 9 emissoras próprias em 2 estados e no Distrito Federal. A EBC dispõe do maior sistema de cobertura nacional de rádio, com 14 rádios afiliadas. A Rádio Nacional é uma rede de emissoras da EBC. É formada pelas seguintes emissoras: Rádio Nacional do Rio de Janeiro (alcance em todo o território nacional por transmissão via satélite); Rádio Nacional de Brasília; Nacional FM (Brasília); Rádio Nacional da Amazônia (sede em Brasília, mas programação voltada para a região Norte); Rádio Nacional do Alto Solimões (Tabatinga, AM); e as Rádios MEC e MEC FM (Rio de Janeiro).
A comunicação do governo federal dispõe ainda da Radioagência Nacional, agência de notícias que distribui áudios produzidos pelas emissoras próprias da EBC e emissoras parceiras. Segundo a estatal, mais de 4.500 emissoras de rádios utilizam os conteúdos da Radioagência. E a Agência Brasil, focada em atos e fatos relacionados a governo, Estado e cidadania, alcança 9,19 milhões de usuários por mês. 
Há ainda o Portal EBC, plataforma na internet que integra conteúdos dos veículos (Agência Brasil, Radioagência Nacional, Rádios EBC, TV Brasil, TV Brasil Internacional) da Empresa Brasil de Comunicação e da sociedade em um único local. 
A EBC, além de gerenciar as emissoras públicas federais, também é responsável pela formação da Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP). A RNCP visa estabelecer a cooperação técnica com as iniciativas pública e privada que explorem os serviços de radiodifusão pública. Atualmente, a rede conta com 38 emissoras espalhadas por todo o país.  
Dentro da política da RNCP, a EBC pode solicitar a qualquer tempo canais para execução de serviços de radiodifusão sonora (rádio FM), de sons e imagens (televisão) e retransmissão de televisão por ela própria ou por seus parceiros. São as chamadas Consignações da União. Atualmente, 13 veículos são operados dessa forma em todo o país: TV Brasil Maranhão, com o Instituto Federal do Maranhão; TV UFAL, com a Universidade Federal de Alagoas; TV UFPB, com a Universidade Federal da Paraíba; TV UFSC, com a Universidade Federal de Santa Catarina; TV Universidade, com a Universidade Federal do Mato Grosso; e TV Universitária, com a Universidade Federal de Roraima.
Imagina o leitor ou a leitora toda essa rede voltada para o despertar da consciência crítica do público. Basta para isso mudar a chave epistemológica, passar da lógica analógica, que apenas se foca nos efeitos dos problemas sociais, à lógica dialética, centrada nas causas dos problemas sociais. 
Quando vemos na TV campanhas em favor de quem tem fome, em geral aparecem indicações de locais de coleta de alimentos e doações de cestas básicas. Em nenhum momento o noticiário levanta as perguntas: por que há pessoas com fome? Por que não têm acesso aos alimentos? É natural que haja abastados e famintos? Como superar essa desigualdade? 
Há muito a fazer para conscientizar, organizar e mobilizar o povo brasileiro. Recursos existem. E há vontade política por parte de Lula e da Secretaria Geral da Presidência da República, monitorada pelo ministro Márcio Macedo. Faltam apenas maior empenho, produção de material para os veículos de comunicação social e verba para que o governo disponha de uma rede de educadores populares de, no mínimo, 50 mil pessoas!
       
Frei Betto é escritor e educador popular, autor de “Por uma educação crítica e participativa” (Rocco) e, com Paulo Freire, “Essa escola chamada vida” (Ática), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org 

[1] Abortion, Contraception, and Population Policy in the Soviet Union, David M. Heer.

[2] A Geography of Russia and its Neighbors”, do geógrafo Mikhail S. Blinnikov

[3] Arquivo da CIA: The USSR and Illicit Drugs: Facing Up to the Problem.

[4] Psicologia das massas e análise do eu, 1921.

[5] Mídia – propaganda política e manipulação, São Paulo, Martins Fontes, 2013