A segunda parte da longa jornada do Partidão em busca da democracia

Volume aborda a trajetória do PCB (Partido Comunista Brasileiro) do IV Congresso, realizado em 1967 até 1992

Por Daniel Costa (*)

Após o lançamento do primeiro volume escrito pelo jornalista Carlos Marchi em 2022, a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) traz, para o público especializado ou não, o segundo volume do livro Longa jornada até a democracia – Os 100 anos do partidão (1922-2022), escrito pelo jornalista e escritor Eumano Silva, também coautor do vencedor do Prêmio Jabuti, “Operação Araguaia”. O volume aborda a trajetória do PCB (Partido Comunista Brasileiro) do IV Congresso, realizado em 1967 até 1992, momento em que os líderes da sigla estiveram sintonizados com os ventos de mudança ocorrido no leste europeu e foram inspirados pelo processo que culminaria na transformação do PCI (Partido Comunista Italiano) em PDS (Partido Democrático da Esquerda).

É nesse conturbado cenário que o grupo majoritário do partido opta pela mudança da sua linha política, deixando de lado os símbolos da foice e do martelo, o léxico revolucionário, passando a adotar a sigla PPS (Partido Popular Socialista).

Fruto de uma longa e densa pesquisa, Eumano Silva mostra, ao longo de 844 páginas, os tortuosos caminhos do Partidão no processo de enfrentamento à ditadura civil-militar implantada em 1964. O livro ainda aborda o processo de luta pela anistia e redemocratização, a relação do PCB com o novo sindicalismo surgido no ABC paulista no final da década de 1970, o surgimento do Partido dos Trabalhadores, agremiação que, apesar das afinidades ideológicas, seria um dos causadores (não o único) do eclipse do Partidão e, claro, as próprias crises e embates internos entre as diferentes concepções partidárias e estratégias e táticas políticas.

Nós, historiadores, geralmente, encaramos livros como o escrito por Eumano Silva com certo ceticismo acerca de possíveis qualidades, seja pela construção da narrativa do fato histórico, pelo enquadramento dos personagens seja por outras questões que são caras ao métier historiográfico. Porém, dado o rigor analítico, a diversidade dos personagens entrevistados, o denso embasamento bibliográfico e a farta pesquisa documental, arrisco dizer que, desde seu lançamento, ao lado do primeiro volume, a obra se torna referência para aqueles que desejam compreender não somente os tortuosos caminhos daquela que fora a grande referência para a esquerda brasileira até o surgimento do Partido dos Trabalhadores, mas também os caminhos e descaminhos da nossa democracia.

Como ressalta o jornalista Luiz Carlos azedo, responsável pela orelha do livro, “o PCB sobreviveu por sua política. Eumano Silva, por meio de documentos, depoimentos e pesquisas bibliográficas, reconstitui a trajetória desses heróis quase anônimos da luta contra a ditadura, muitos dos quais foram sequestrados, presos e barbaramente torturados. Poucos membros do Comitê Central permaneceram no país, mesmo caçados vivos ou mortos”.

Em um partido com oitenta anos de trajetória, considerando o período entre 1922 e 1992, as disputas internas seriam algo constante, em momentos extremos, causando inclusive rupturas – cabe destacar que, para pesquisadores dedicados à trajetória da agremiação comunista, a riqueza dos debates internos seria o motor para a formulação de políticas que daria relevância ao Partidão ao longo de sua existência. Tratar principalmente de rupturas em organismos coletivos nem sempre é uma tarefa fácil, geralmente opta-se em contar apenas a versão do lado vencedor, e aqui temos mais um mérito para destacar na obra, assim como ressaltar a postura do autor e da própria Fundação Astrojildo Pereira.

A pluralidade fica latente ao verificar a diversidade de personagens entrevistados para a construção da narrativa. Assim, o leitor terá a oportunidade de travar contato com a visão de figuras ligadas ao atual Cidadania, como o sindicalista paulista Davi Zaia; o historiador e jornalista Ivan Alves filho; o já citado Luiz Carlos Azedo e o ex-presidente do Cidadania Roberto Freire, um dos principais nomes do partido após o processo de mudança de nome e concepção, que ficaria a frente da sigla até 2023, quando foi substituído pelo professor Comte Bittencourt.

São ouvidos ainda personagens como José Genoíno, ex-integrante do PCdoB, que chegou a participar da guerrilha do Araguaia e hoje segue militando no PT, e Frei Chico, destacado militante do PCB paulista nos anos 1970 e irmão do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A diversidade de entrevistados abarca ainda personagens como o sindicalista carioca Ivan Pinheiro, uma das lideranças ao lado de Horácio Macedo, do grupo que se opunha ao processo ocorrido em 1992, que passaria a ocupar o cargo de secretário-geral do PCB “reconstruído” e em 2023 seria um dos articuladores de uma nova ruptura à esquerda dentro da pequena agremiação.

Por fim, em relação à diversidade de personagens ouvidos por Eumano, ainda podemos destacar nomes como a historiadora Marly Vianna, próxima do grupo prestista; o cientista político Marco Aurélio Nogueira, próximo do grupo de Armênio Guedes; José Salles; Florestan Fernandes Júnior; Mauro Malin, Marcelo Cerqueira e o ex-governador do Rio de Janeiro Wellington Moreira Franco.

Desse modo, percorrendo os 181 capítulos do volume, Eumano apresenta ao leitor fatos de fundamental importância não só para compreender a trajetória do PCB, mas também como funcionava os meandros da repressão ao longo da ditadura civil- militar. Repressão que compreendia desde a tortura realizada nos tenebrosos porões até infiltração de agentes e delatores, como o notório caso do “agente” Carlos e a suposta delação de Severino Theodoro de Mello, tido como figura fundamental na perseguição ao Comitê Central do Partido, resultando na morte de dez integrantes da instância partidária.

Ao longo do segundo volume dessa longa jornada, o autor mostra ainda situações como a descoberta e desmantelamento da gráfica do PCB, responsável pela impressão do jornal “Voz operária”, a operação que resultou na transferência para a Itália do acervo de Astrojildo Pereira, um dos fundadores do partido em 1922. Figuram ainda casos como o tão falado “ouro de Moscou” e a disputa dentro do Comitê Central que culminaria na ruptura de Luiz Carlos Preses no começo da década de 1980.

Apesar do forte ataque sofrido pelos órgãos de repressão ao longo da década de 1970, a linha de atuação política tirada no Congresso realizado em 1967 começa a apresentar resultados. Mesmo sem deter a hegemonia política nas esquerdas e na oposição consentida – algo claramente inviável ‐, as palavras de ordem e bandeiras de luta propostas pelo partido começam a ganhar ressonância na sociedade civil, que passa a incorporar como pauta temas como a anistia, eleições livres e diretas em todos os níveis, liberdade de expressão e organização, constituinte, etc.

Outro fato narrado que mostra a seriedade do autor na condução da narrativa é visto na abordagem da crise ocorrida no Comitê Central em meados da década de 1970 acerca da questão que envolveu o dirigente partidário e possível sucessor de Prestes na condução do CC, José Sales. Não cabe apresentar aqui de forma detalhada o caso, porém, o que fica para o leitor é a capacidade demonstrada por Eumano em ouvir os diferentes personagens envolvidos e as diferentes perspectivas interpretativas. No segundo caso, as biografias do dirigente comunista Luiz Carlos Prestes escrita pelo historiador Daniel Aarão Reis Filho, lançada pela Companhia das Letras e o volume escrito pela também historiadora e filha do cavaleiro da esperança, Anita Prestes, e colocada nas livrarias pela Boitempo são cotejadas pelo jornalista que busca aparar a divergência entre os autores para tecer uma narrativa sóbria do episódio.

Como bem destacou o historiador José Antônio Segatto, responsável pelo prefácio do livro, “o autor – em vez de utilizar, principalmente, a bibliografia existente – valeu-se, em grande medida, da documentação, tanto do PCB (resoluções manifestos, declarações etc.) como as produzidas por órgãos governamentais (muitas delas inéditas, que levantou em arquivos), sobretudo os encarregados da investigação policial e da repressão; muitos desses aparelhos, diga-se, operantes no porão da ditadura do regime ditatorial ou mesmo clandestinos. Além disso, Eumano serviu-se de uma variedade de depoimentos de dirigentes e militantes, alguns com protagonismo proeminente e outros coadjuvantes ou meramente laterais”.

O jornalista Marcelo Godoy, autor da contracapa da publicação, destaca que o trabalho feito por Eumano, “vai além de iluminar fatos e de servir de olhos do leitor nos lugares onde não podemos estar”. Ainda segundo Godoi, “Eumano redescobre um passado, que nos envolve com seu manto e se dissimula em meio à enganosa normalidade cotidiana do esquecimento de conflitos e caminhos da longa jornada até o presente. Compreender esse conjunto, sem anacronismos, foi o passo seguinte. Lucien Febvre dizia que onde não há problema não há história. Sem ele, há apenas narrações e compilações. Um problema é o começo e o fim da história. Eumano ajuda-nos a compreender o crepúsculo do PCB e resgata a presença do passado e nosso presente sem a qual nenhuma pretensão do sonho democrático seria possível”.

Ao conversar com o autor no lançamento realizado em São Paulo, ele destacou a riqueza e a quantidade de depoimentos de entrevistas realizadas ao longo da pesquisa e que, dada a quantidade e a qualidade de informações, cada entrevista merecia até um novo livro. Fica a dica para a Fundação Astrojildo Pereira para que no futuro pense em tal possibilidade, para continuar contando a História e as histórias daquele que fora um dos principais partidos políticos do Brasil, inclusive no pequeno período em atuou de forma legal, como no período de clandestinidade, mostrando a perspectiva daqueles atores que fizeram essa história.

Por fim, destacamos, novamente, o prefácio escrito por José Antônio Segatto, que, além de saudar o esforço de Eumano, exalta a iniciativa de tratar e mostra a história do partidão em sua fase terminal, “expondo-a na forma de uma extensa reportagem, fornecendo a um público ampliado, com pouco ou nenhum conhecimento do assunto em questão, uma contribuição inédita e significativa para o entendimento de uma das mais importantes instituições da sociedade civil e política (PCB) e de um período histórico-político extremamente sombrio da República brasileira”.

Com a publicação do segundo volume do livro “Longa jornada até a democracia – Os 100 anos do partidão (1922-2022)”, a Fundação Astrojildo Pereira contribui para a memória daquela que foi uma das principais forças de esquerda no país e mostra aos leitores que uma sociedade justa e igualitária só pode ser constituída sob os signos da democracia.

  • Daniel Costa é historiador pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e desenvolve na mesma instituição pesquisa de mestrado acerca da corrupção na América portuguesa no período pombalino, especialmente nas capitanias de Pernambuco e Minas ao longo do século XVIII.

Alepa aprova 3 propostas do Executivo e PL que cria campanha de combate a crimes cibernéticos

Em matéria de urgência e em regime único, os deputados da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), comandados pelo deputado Chicão (MDB), aprovaram, na manhã desta terça-feira (16), três Projetos de Lei de autoria do Poder Executivo. A primeira proposta – nº 3/2024 – altera a Lei Estadual nº 6.282, de 19 janeiro de 2000, que cria a Polícia Científica do Pará.  

O objetivo do PL é contemplar as perícias efetuadas no interesse dos processos administrativos de maneira geral. A lei estadual n° 9.382, de 16 de dezembro de 2021, alterou a lei estadual n° 6.282 de 2000, e retirou, da Política Científica do Pará, a competência para a realização de perícias cíveis. A alteração legislativa causou divergências interpretativas em situações em que a demanda pericial decorre da própria administração pública.

De acordo com o líder do governo na Alepa, deputado Iran Lima (MDB), o projeto de lei inclui, definitivamente, a polícia científica do Pará no sistema de segurança estadual. “A aprovação deste projeto de lei fortalece as atividades de uma entidade importante para o Estado, bem como engrandece e reconhece ainda mais a necessidade da polícia científica no sistema de segurança do Pará”, disse.

A segunda proposta – nº 75/2024 – dispõe sobre a instituição da campanha permanente informativa e de conscientização sobre o risco de doenças e agravos relacionados à intoxicação por agrotóxicos – considerados como todo produto químico sintético usado para matar insetos, larvas, fungos e carrapatos, sob a justificativa de controlar as doenças provocadas por esses vetores e de regular o crescimento da vegetação, no ambiente rural, urbano e doméstico e utilizado em ações de saúde pública.

Segundo a mensagem do governo do Pará, enviada à Alepa, a iniciativa é decorrente do requerimento de indicação n° 139/2023, de autoria da deputada Lívia Duarte (PSOL). A deputada sugeriu ao Poder Executivo a realização de uma campanha de conscientização acerca dos riscos à saúde ocasionados pela ingestão de produtos que contêm agrotóxicos, principalmente diante de dados que comprovam o constante crescimento de notificações de intoxicação ocasionadas por esses produtos no Pará, nos últimos 10 anos – a maior exposição é à população do nordeste paraense. 

“O estado do Pará está entrando na tendência do agronegócio, na produção de grãos.  É justamente diante desse contexto que o governo do Estado cria a política estadual de atenção e de cuidados em relação ao uso de agrotóxicos, fazendo com que não haja intoxicações através dos produtos”, avalia o deputado Iran Lima.

A deputada Lívia Duarte comentou a relevância da aprovação da proposta. “Essa é uma pauta urgente. A ingestão de produtos que contêm agrotóxicos é algo que causa problemas de saúde à população”. A proposta foi aprovada pela maioria dos deputados presentes, exceto Aveilton Souza (PSD); Rogério Barra (PL) e Wescley Tomaz (Avante).   

Por fim, foi aprovado o Projeto de Lei nº 114/2024, que altera a Lei Estadual nº 9.853, de 9 de fevereiro de 2023, que dispõe, sobre a gratificação de que trata o inciso II do caput do art. 132 da Lei Estadual nº 5.810, de 24 de janeiro de 1994. “A proposta busca dar maior dinamismo à administração pública, possibilitando que parte da remuneração dos servidores que ocupam cargo comissionado no Poder Executivo seja paga na forma de ajuda de custo”, diz a mensagem do governador, Helder Barbalho, encaminhada à Casa de Leis.    

Propostas da Casa

De autoria da deputada Diana Belo (MDB), foi aprovado o Projeto de Lei nº 34/2022, que dispõe sobre a Campanha de Combate aos Crimes Cibernéticos Financeiros e “Golpes”. A proposta destina-se ao desenvolvimento de ações educativas e informativas, objetivando proteger potenciais vítimas e conscientizá-las, além de encorajar a sociedade a participar do enfrentamento aos crimes financeiros.

As ações serão realizadas anualmente no mês de setembro, tendo como intuito combater: mensagens e propagandas enganosas que induzam as vítimas a fazerem transferências ou depósitos de valores em contas bancárias dos criminosos ou golpistas, ou ligado a estes; golpes por aplicativos de mensagens que sequestram tais contas e operam em nome da vítima, pedindo valores a terceiros; ações de sequestros-relâmpago para forçar as vítimas a transferir dinheiro para as contas bancárias dos criminosos, ou ligado a estes, e demais ações criminosas e golpes que venham a surgir provocando prejuízos financeiros às vítimas.

“Com a chegada das transações de valores via Pix e outras normas bancárias, a população brasileira viu sua vida e rotina comercial mudar positivamente com todas as facilidades oferecidas no momento de efetuar compras, pagamentos e transferências de valores”, disse a deputada Diana Belo, na justificativa do Projeto de Lei, e acrescentou:

“Não demorou muito para que criminosos e golpistas usassem essa facilidade ao seu favor. Desde então, o número de crimes cibernéticos financeiros disparou por todo o país, não sendo diferente no nosso Estado. ‘Golpes’ de internet, clonagem de números de cartões e mensagens com links duvidosos são apenas alguns artifícios encontrados por criminosos para extorquir, furtar e roubar dinheiro de suas vítimas”, finaliza. 

Tropeço na conta do técnico

POR GERSON NOGUEIRA

Remo foi derrotado logo na estreia na Série C. Não perdeu para o adversário, Volta Redonda, mas para os erros de seu técnico, Gustavo Morínigo. Logo que a escalação foi anunciada, ficou evidente que os riscos eram imensos. O jogo confirmaria isso. O Leão foi derrotado por 2 a 1, após um 1º tempo pavoroso. Reagiu no 2º tempo, mas sofreu um castigo tremendo nos minutos finais e ainda teve dois pênaltis não marcados.

Depois de errar quase todas as tentativas de saída, o Remo tomou o primeiro gol logo aos 19 minutos. A defesa, mal posicionada, não conseguiu marcar a troca de passes entre Berguinho e MV, culminando com a finalização perfeita deste último, mandando a bola no ângulo esquerdo do gol defendido por Marcelo Rangel. Um golaço.

Depois dos 30 minutos, o Remo atacou muito, mas sempre pelo lado errado e com a objetividade prejudicada pela ausência de força na área. Morínigo, que havia inventado três estreias – Sheldon na zaga, João Afonso no meio e Cachoeira no ataque –, decidiu ir além, lançando Sillas como centroavante. Sim, não é delírio, é teimosia mesmo.

O centroavante improvisado estragou uma boa oportunidade na pequena área, deixando de finalizar ou tocar para os lados. Simplesmente, errou na hora de definir. Nenhuma surpresa, pois Sillas foi um dos mais improdutivos na sequência de clássicos, desperdiçando chances claras.

Havia um engessamento entre os setores, com jogadores espaçados demais. Tudo o que Gustavo Morínigo havia conseguido em termos de consolidação de um sistema foi por água abaixo diante do Volta Redonda.

Coube a Jaderson a melhor jogada remista, batendo de curva sobre o gol de Jean Dorny, com muito perigo. Nos instantes finais, o Voltaço voltou a sair para o ataque, criando dois bons ataques com Ítalo Carvalho.

Veio o 2º tempo e o treinador azulino tratou de corrigir as próprias lambanças. Trocou João Afonso por Matheus Anjos, Cachoeira por Ribamar e Felipinho por Ronald. Com os jogadores certos, o time se soltou e dominou amplamente as ações, acuando o Volta Redonda.

As chances começaram a surgir em sequência, com Ribamar (2), Matheus (2), até que aos 31 minutos veio o empate, com Jaderson escorando um rebote da defesa. O Remo exercia pressão total, o visitante se livrava da bola e parecia questão de tempo para sair o segundo gol. 

Matheus botou uma bola na trave e Jaderson encaixou um disparo na gaveta, mas o goleiro Jean foi nela e desviou para escanteio. Aos 40’, Thalys foi atingido na perna quando saía da área, mas o árbitro não deu o penal.

Aí veio o castigo cruel. Sob chuva forte, aos 43’, num raro ataque do Voltaço, a zaga cedeu escanteio. Na cobrança, Pavani desviou contra o patrimônio. Um gol que fez a torcida esmorecer no Baenão.

Ainda houve tempo para um outro pênalti ignorado pelo árbitro. Michel fez carga sobre Ribamar dentro da área, diante do apitador, que nada marcou. A diretoria do Remo encaminhou protesto à CBF, denunciando a arbitragem ruim, mas o estrago já foi feito.

Sobre responsabilidade e comprometimento

A derrota para o Voltaço reavivou o trauma azulino de 2023, quando o time de Marcelo Cabo perdeu os quatro jogos iniciais da Série C. Por essa razão, o que ocorreu no estádio Evandro Almeida no sábado à tarde é mais grave do que parece, por abrir caminho para um novo mau começo.

Gustavo Morínigo atribuiu a derrota a erros no aspecto coletivo e mau rendimento dos atletas estreantes. Ora, até o leãozinho de pedra do Baenão sabia que mexer nos três setores era uma temeridade.

Morínigo e sua comissão técnica entenderam que os novatos eram superiores aos antigos titulares. Não são. João Afonso não é superior a Paulinho Curuá, Sheldon não é melhor que Jonilson ou Bruno Bispo.

Cachoeira pode vir a ser uma opção interessante pelos lados, mas está muito abaixo de Ronald. O pior foi a centralização de Sillas no ataque, sendo que Kanu seria uma alternativa natural para a função.

É preciso que a comissão técnica e o elenco sejam cobrados com mais rigor. O projeto do acesso à Série B é fundamental para o clube, inclusive financeiramente. Ninguém alcança resultados sem comprometimento.

Cabe lembrar que, das quatro metas do Remo na temporada, três (Copa Verde, Parazão e Copa do Brasil) já foram perdidas.

Papão surpreende positivamente, apesar da derrota

O 1º tempo na Vila Belmiro foi inteiramente favorável ao PSC, que não deixou o Santos jogar. Favorito por jogar em casa (mesmo sem torcida), o Peixe teve imensas dificuldades para sair do campo de defesa nos 15 minutos iniciais. A pressão alta exercida pelo meio-campo e ataque do Papão provocava erros seguidos dos defensores santistas e abria espaço para arremates de fora da área.

Jean Dias, Robinho e Edinho tiveram boas oportunidades para abrir o placar, revezando-se em ações pelos lados e investidas pelo centro do ataque, sempre com toques de primeira e praticamente sem erros de passe.

Do começo ao fim da etapa inicial, o PSC foi dominante e marcou o Santos com extrema eficiência. Nem mesmo a substituição forçada de Robinho por Val Soares, aos 23 minutos, quebrou o ritmo imposto pelos bicolores.  

Veio a segunda etapa e o cenário se modificou. O Peixe fez duas mudanças importantes nas laterais: JP Chermont e Rodrigo substituíram Aderlan e Hayner, aumentando o poder de fogo pelos lados. Essas mexidas iriam se complementar depois com a entrada de Pedrinho no lugar de Otero.

E foi Pedrinho que abriu caminho para a vitória santista. Com a colaboração de Gabriel Bispo, ele fintou dois marcadores e mandou rasteiro no canto direito de Matheus Nogueira, fazendo Santos 1 a 0, aos 23 minutos. Bispo havia substituído Leandro Vilela.

Aos 27’, quase saiu o segundo. Julio Furch finalizou diante de Matheus Nogueira, que fez excelente defesa. Aos 34’, Michel Macedo recebeu livre e em condições de definir, mas dominou mal e perdeu a chance do empate.

O Santos liquidaria a fatura aos 44’, em nova boa jogada de Pedrinho. Após fintar Bispo com facilidade, ele bateu cruzado. Matheus Nogueira deu rebote e Guilherme chutou para as redes. Apesar da queda na segunda etapa, o PSC deixou boa impressão na partida de retorno à Série B.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 22)

Rock na madrugada – Screaming Trees, “Shadow of the Season”

POR GERSON NOGUEIRA

Os dois fundadores do Screaming Trees já não estão entre nós. Mark Lanegan, cantor e letrista, morreu em fevereiro de 2022, aos 57 anos. Gary Lee (Van) Conner, guitarrista, morreu em janeiro de 2023, aos 55 anos. Verdadeiras lendas do grunge, ídolos entre os astros surgidos em Seattle, embora o grupo seja originário de Washington (EUA). Curiosamente, o respeito à banda se consolidou depois que ambos partiram. É possível que a imagem de banda musicalmente sofisticada e “difícil” tenha atrapalhado a trajetória comercial do Screaming Trees, mas não impediu que ganhasse reconhecimento quase unânime.

Voz crua, sempre certeira nas notas baixas, era a principal característica de Lanegan, como se pode comprovar em músicas como “Shadow of the Season” (Sombra da temporada). Pioneiro no gênero que a mídia batizou de grunge, o Screaming não obteve o mesmo sucesso popular de Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden e Alice in Chains, mas conquistou o respeito de todos pelas letras profundas e pela fidelidade a um som mais rústico e diferenciado.

Destaque do álbum Sweet Oblivion (Doce esquecimento), a canção tem uma levada de guitarra típica de Van Conner, que utiliza o instrumento no limite do sentimento. Não é tecnicamente um dos maiores guitarristas do rock, mas o seu som transpira alma e energia. “Shadow of the Season” abre triunfalmente o disco que reúne algumas das melhores poesias de Lanegan emolduradas por uma produção inspirada, com arranjos incomuns para o rock dos anos 90.

Sweet Oblivion é o 6º disco de estúdio, lançado em 1992, que retrata a essência da banda, influenciada pelo punk e uma certa nostalgia psicodélica. Graças a ele, o Screaming conquistou a crítica e agradou o público, vendendo mais de 300 mil cópias.