A sorte socorre os valentes

POR GERSON NOGUEIRA

O Re-Pa não é para amadores. É um jogo especial, diferente de tudo. A história mostra isso. Em função da alta emoção, alguns jogadores sentem o impacto e não rendem o que deles se espera. Outros se inflamam e jogam muito mais do que poderiam. Na semifinal da Copa Verde, ontem, no Mangueirão, essas reações se mostraram mais vivas e expostas do que nunca. E o Papão mostrou-se forte e preparado mentalmente para superar duas expulsões e garantir classificação nas penalidades.

No tempo normal, em partida eletrizante e com dois expulsos (ambos do PSC), o placar terminou 1 a 1. Na série extra de penalidades, o Papão triunfou (4 a 3) porque teve mais gana. Se os 90 minutos já são calibrados pelo lado anímico, a cobrança de tiros livres da marca do pênalti potencializa mais essa combustão emocional. Nos tiros livres, ficou claro que os bicolores estavam mais preparados, inclusive mentalmente.

Mas, primeiro vamos falar do jogo, que foi bonito de ver ao longo dos 90 minutos. Depois de muito equilíbrio nos minutos iniciais, sem chances claras de gol, as redes balançaram quase em sequência, aos 33 e 35 minutos. Bryan Borges aproveitou o sururu na área e marcou para o Papão. Dois minutos depois, Paulinho Curuá tocou para Bruno Bispo empatar.

A primeira parte terminou com a promessa de fortes emoções no período final. E foi o que aconteceu. Os times retornaram jogando em alta velocidade. Ronald entrou no lugar de Marco Antônio e o Remo se tornou mais agudo pela esquerda.

O PSC trocou Robinho e Leandro Vilela por Biel e Val Soares. E foi o primeiro a ameaçar de verdade. Aos 2 minutos, em escanteio cobrado por Jean Dias, Nicolas errou o cabeceio embaixo da trave. A bola saiu por cima.

Aos 4’, resposta azulina: Ronald chutou, a bola desviou e o goleiro Diogo Silva espalmou. Kelvin pegou o rebote de cabeça e o goleiro salvou outra vez. Aos 8’, foi a vez de Matheus Anjos bater forte para nova defesa de Diogo.

Depois dessa volúpia inicial, o clássico esfriou um pouco e a marcação passou a prevalecer, com Paulinho Curuá de um lado e João Vieira do outro. Novas emoções apenas depois dos 30 minutos. Felipinho entrou no lugar de Kelvin e Sillas substituiu Ribamar, dando mais mobilidade ao ataque.

Aos 37’, Felipinho lançou Sillas, que deu um passe na medida para Ronald, que estava livre na área. O ponta se precipitou e bateu rasteiro à esquerda da trave, desperdiçando a melhor chance remista no jogo. Poderia ter dominado a bola e escolhido o canto.

Aos 38’, Wanderson foi expulso por falta violenta em Ronald. O PSC perderia ainda Biel, que atingiu Nathan com um pontapé. Apesar de inferiorizado, o Papão foi mais aguerrido e conseguiu criar mais chances de gol, inclusive com uma bola na trave, salva milagrosamente por Nathan.

Sem iniciativa, o Remo teve oito minutos para aproveitar a vantagem numérica e não deu um chute a gol. Nos penais, onde sorte e competência andam de mãos dadas, deu PSC por 4 a 3. Classificação merecida.

Mentalidade vitoriosa fez toda a diferença no fim

Dois momentos evidenciaram a diferença entre um time mentalmente preparado e outro ainda em fase de arrumação. O PSC tinha tudo para sair do Mangueirão ontem com uma derrota: perdeu dois jogadores na reta final da partida. O Remo teve oito minutos para conseguir a vitória, mas se perdeu em passes improdutivos na meia-cancha e indecisão na hora de arriscar tudo em busca do segundo gol.

Ao contrário, mesmo com dois jogadores a menos, o Papão não se acomodou naquela velha e surrada prática de recuar todo mundo para se resguardar. Com valentia, brigou pela bola no meio e saiu em vantagem, conseguindo duas faltas e ainda criar um ataque que quase resultou em gol.

Aos 49 minutos, com três jogadores na área do Remo, o PSC quase chegou ao gol. Marcelo Rangel soltou a bola e Ruan Ribeiro chutou na trave esquerda. Quando ia entrar no gol, Nathan conseguiu afastar.

Na cobrança dos tiros livres da marca do pênalti, o Papão começou mal. O artilheiro Nicolas perdeu a primeira. Só que o Remo falhou também logo em seguida, com Sillas. Quando a contagem poderia ser empatada de novo, Jaderson cobrou, o goleiro Diogo Silva tocou na bola, que bateu caprichosamente no travessão e saiu.

Sorte? Os simplistas diriam que sim, mas o futebol tem outros fatores capazes de influir numa disputa. As chances que o Remo teve para definir, no tempo normal e nos pênaltis, não poderiam ser desperdiçadas. O PSC teve frieza e confiança na dose certa para reverter e sair vencedor.

Enfim, um Re-Pa com arbitragem séria e impecável

Arthur Gomes Rebelo, árbitro do Espírito Santo, deu um show à parte. Apitou sobriamente, sem espalhafato e com presença sempre próxima aos lances. Não deu brecha para reclamações, expulsou quando foi preciso, amarelou na medida certa, inclusive o técnico Hélio dos Anjos (PSC).

Ficou claro que, ao contrário de Bráulio da Silva Machado, o desastrado apitador catarinense do clássico de domingo (7), que as coisas seriam bem diferentes. Sem pestanejar, Arthur Rebelo deu logo cartão amarelo para Robinho, Leandro Vilela e Paulinho Curuá.

Controlou o jogo, afastou os reclamantes e tratou de deixar o clássico fluir, como deveriam fazer todos os árbitros. Quando a partida terminou no tempo normal, só os mais afoitos ousariam protestar contra a atuação irretocável do capixaba. E ele não teve o VAR para servir de escudo e desculpa. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 11)

Xadrez da guerra mundial de Elon Musk contra o Brasil

Por Luis Nassf, no Jornal GGN

PEÇA1 – A GEOPOLÍTICA E OS NEGÓCIOS

O que Musk faz com o Twitter é o mesmo que Rupert Murdoch fez com a Fox News e Roberto Civita com a revista Veja, arrastando boa parte da imprensa brasileira consigo. Trata-se de transformar seus veículos em atores políticos principais e, com o poder conquistado, barrar a entrada de competidores e alavancar os negócios. 

No meu livro “O caso Veja: o naufrágio do jornalismo brasileiro”, narro em detalhes como se misturavam jogadas políticas e interesses empresariais.

Agora, o que ocorre é um jogo de poder mundial.

As nações são parte relevante na estratégia de negócios de suas empresas. É só conferir o papel dos Estados Unidos – inclusive na desestabilização do governo Dilma Rousseff após a descoberta do pré-sal -, e a China, apoiando suas multinacionais.

Além disso, as últimas décadas de ultraliberalismo, criaram um novo ator político: os bilionários atuando politicamente e, se for necessário, alavancando a ultradireita e participando de processos de desestabilização de países que jogam no seu time. Está aí o impeachment da Dilma Rousseff para comprovar.

Há duas maneiras do partido dos bilionários atuarem: uma light e outra de parceria direta com a ultradireita.

PEÇA 2 – O ESTILO DE INFLUENCIAR

O que a Transparência Internacional e a Fundação Lemann tem em comum? O mesmo modus operandi e o mesmo diretor Joaquim Falcão.

modus operandi consiste em se apresentar como uma fundação sem fins lucrativos e sem remuneração, interessada apenas em fornecer assessoria técnica ao governo. Mas, na condição de “assessor técnico”, poder opinar sobre verbas públicas.

Foi o que a Fundação Lemann tentou fazer com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), assinando um convênio para assessorar o programa de banda larga nas escolas. O presidente da Anatel era Leonardo Morais. Bastou a troca de presidência para a nova diretoria denunciar o acordo e pular fora.

A Fundação Lemann concentrou-se, então, no Ministério da Educação, no mesmo papel de assessorar no programa de banda larga das escolas.

Depois do golpe das Americanas, a revelação das relações com Elon Musk terá bastante impacto sobre os negócios e a imagem de Lemann. Monta-se o mesmo jogo de desestabilização política presente na Lava Jato – que tinha na TI seu braço internacional.

PEÇA 3 – O ENFRENTAMENTO DOS ESTADOS NACIONAIS

Por outro lado, esse poder descomunal do Partido dos Bilionários e das big techs criou pontos de conflito com as nações organizadas.

No início, tentaram se sobrepor aos estados nacionais. Perderam quando Mark Zukenberg, da Meta, teve que prestar contas ao Congresso americano. Depois, esse conflito se arrastou para outros países:

– Combate à desinformação e notícias falsas:

– Alemanha: Multa de até €50 milhões para plataformas que não removem conteúdo ilegal prontamente.

– França: Lei que exige que as plataformas identifiquem e removam conteúdo de ódio dentro de 24 horas.

– Proteção da privacidade dos usuários:

– União Europeia: Lei Geral de Proteção de Dados (GDPR), que impõe regras rígidas sobre como as empresas podem coletar e usar dados pessoais.

– Brasil: Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), com regras semelhantes à GDPR.

– Promoção da concorrência:

 Estados Unidos: Investigações antitruste contra empresas como Facebook e Google.

– Austrália: Lei que obriga as plataformas a pagarem por conteúdo de notícias.

Alguns exemplos específicos de países que enquadraram as redes sociais:

– China: O governo chinês impõe um controle rígido sobre a internet, incluindo o bloqueio de sites e redes sociais estrangeiras.

– Rússia: Lei que exige que as plataformas armazenem dados de usuários na Rússia e que removam conteúdo considerado “extremista”.

– Índia: Lei que exige que as plataformas identifiquem a origem de mensagens encaminhadas e que removam conteúdo que possa incitar violência.

PEÇA 4 – A PARCERIA COM A ULTRADIREITA

A saída encontrada foi a participação em processos de desestabilização de países e nas parcerias com a ultradireita.

As investidas de Elon Musk no Brasil não se limitaram aos contatos com Jair Bolsonaro. Aproximou-se também das Forças Armadas, a ponto de ser condecorado pelo então Ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, com a medalha da Ordem dos Mérito da Defesa, para civis e militares que prestaram “relevantes serviços às Forças Armadas”.

Essa aproximação com a ultradireita e com o poder militar garantiu bons negócios a Elon Musk e à Starllink.

Conforme reportagem do Teletime, os sites de compras públicas mostram contratações de conectividade Starlink pelo Exército, pela Marinha, Tribunais de Justiça, Tribunais de Contas Eleitorais e até mesmo por Tribunais Regionais Eleitorais. Como as Forças Armadas são especializadas, também, nas chamadas guerras híbridas, só se entende essa preferência pela Starlink no plano das afinidades políticas. Ainda mais sabendo-se que a empresa é sustentada por grandes contratos com o governo norte-americano. Musk nao abre o capital da Starlink, porque a empresa não se paga até agora e não dá pra saber os detalhes financeiros.

O argumento de que a empresa tem gateways no Brasil (estações terrenas por meio das quais os satélites se conectam entre si e com a Internet) não basta para justificar as compras. Segundo o Teletime, 

“São estações bastante simples, que abrigam apenas um conjunto de antenas, e muitas delas não estão ativadas ou sequer mostram, pelas imagens de satélite, quaisquer sinais de edificação. Esses gateways estão ligados à rede brasileira de telecomunicações e, no limite, podem ser objeto de uma intervenção direta, seja por uma ação Judicial, da fiscalização da Anatel (uma ação de bloqueio) ou até mesmo, em casos extremos, de órgãos de Defesa”.

Com a entrada de uma nova tecnologia – a comunicação por laser entre satélites -, a rede de satélites fugirá completamente do controle das autoridades nacionais. Mais que isso, como lembra o Teletime:

“Com um apertar de botão, o controlador do serviço de satélite poderia cortar o sinal de todos os usuários no Brasil, incluindo Marinha, Exército, TREs etc. Como, aliás, Elon Musk fez na Ucrânia em 2023”.

É por isso que a Europa trabalha em um modelo próprio de tecnologia, o Canadá investe na constelação Lightspeed, a China trabalha na Constelação Guowang, a Rússia no projeto Esfera, além de vários outros países europeus.

Daí a necessidade premente de Musk, de se aliar a governos de ultradireita. Por aí, pode-se entender sua ofensiva contra Alexandre de Moraes e o governo brasileiro.

PEÇA 5 – A GUERRA DA DÉCADA

Por muitas razões, o Brasil é peça chave para os negócios de Musk.

Seu principal produto, a Tesla, está sendo ameaçada pela BYD, da China, que mostrou mais velocidade que ele na entrada no Brasil: montou uma fábrica aqui e já adquiriu minas de lítio, matéria prima essencial para as baterias. Aliás, o lítio é uma das matérias primas estratégicas para a nova etapa tecnológica, e tem chamado a atenção as muitas descobertas de jazidas no Brasil. A Starlink é outro produto com enorme potencial de ampliação no Brasil.

Esses três mercados – carro elétrico, lítio e Internet – estariam escancarados para Musk na eventualidade da volta da ultradireita ao poder. Por aí se entende sua tentativa de  desestabilização das instituições brasileiras.

A parte mais relevante dessa disputa é que a guerra Musk x Supremo Tribunal Federal será histórica e ajudará a mudar os rumos das big techs no mundo. Musk é um Bolsonaro das big techs, sem limites, mostrando de forma explícita os riscos embutidos no setor.

Por isso mesmo, a disputa será acompanhada de perto por todas as nações democráticas do planeta. 

Democracia em Portugal e no Brasil, tema de colóquio na UFPA em celebração aos 50 anos da Revolução dos Cravos

Na última quinta-feira, 4 abril, foi realizado, no Centro de Eventos Benedito Nunes da UFPA, o Colóquio “Democracia Conquistada: 50 Anos da Revolução dos Cravos”, em alusão ao dia 25 de abril de 1974, data que marcou o fim de uma ditadura que se estendeu por mais de quarenta anos em Portugal. O evento homenageou também a memória do Professor Eduardo Lourenço, intelectual português, filósofo, crítico e ensaísta literário, falecido em 2020, aos 97 anos.

Promovido pela Reitoria da UFPA, pelo Vice-Consulado de Portugal em Belém, pelo Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Pará e pela Cátedra João Lúcio de Azevedo, parceria entre o Instituto Camões e a UFPA, o colóquio foi aberto com uma apresentação musical dos professores da Escola de Música da UFPA, Marcos Cohen, na clarineta, e Carlos Pires, no piano digital.

Na sequência, participaram da mesa de abertura o reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, o embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, a vice-cônsul de Portugal em Belém, Maria Fernanda Gonçalves Pinheiro, o representante do Conselho da Comunidade Luso-Brasileira do Pará, Vitor Manuel Jesus Mateus; e a professora Nazaré Sarges, diretora da Cátedra João Lúcio de Azevedo (parceria do Instituto Camões e UFPA).

Os componentes da mesa lembraram a importância da Revolução dos Cravos para a construção da democracia em Portugal e como inspiração para outros países. O embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, registrou que 2024, além da celebração dos 50 anos da Revolução dos Cravos, é um ano particularmente especial para a comunidade portuguesa, pois também são comemorados os 500 anos do nascimento do poeta Luís Vaz de Camões e o Centenário do intelectual Eduardo Lourenço.

Também ressaltou que a memória dessas datas ajuda a fortalecer a defesa da democracia. “Quem nasceu após 25 de abril de 1974, nunca soube o que era viver sem liberdade. Hoje, cinquenta anos depois, quando vemos o surgimento de populismos, totalitarismos e extremismos, devemos lembrar a todos que essa conquista não é eterna. Nós é que temos que fazer com que ela dure”, declarou o embaixador.

O reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho, por sua vez, fez um paralelo entre Brasil e Portugal. “Temos muitas lições a tirar, portugueses e brasileiros, de nossas histórias políticas. A principal é nunca pensar que a democracia é uma conquista acabada e permanente. A democracia se constrói, se conquista, a cada dia, a cada disputa na sociedade, a cada esforço para garantir a cidadania. Por isso se há maneira de torná-la mais resiliente e perene, mais capaz de enfrentar as frequentes ameaças autoritárias, essa possibilidade inclui o investimento em educação, ciência, arte e cultura. Celebramos a democracia com os ouvidos atentos e o olhar apreensivo de quem vê ameaças autoritárias rondando as sociedades de todos os continentes. As eleições recentes em Portugal e no Brasil nos são um alerta. Neste momento, são as nossas lutas pela democracia que nos aproximam e são as nossas histórias que formam os nossos presentes”, refletiu o reitor.

Participando remotamente, a jornalista e presidenta da Fundação José Saramago, Pilar del Río, falou sobre o legado e a memória de Eduardo Lourenço. Assista à mensagem na íntegra abaixo.

Conferências – Compondo a programação do colóquio, três conferências abordaram a história e os desdobramentos de 1974 em Portugal e além-mar. Ainda durante a manhã, o jurista e ex-ministro da Cultura de Portugal, José António de Melo Pinto Ribeiro, proferiu a conferência “O 25 de Abril em 1974 e em 2024, sem Trompetes nem Trombones”.

“O 25 de abril é muito antes e muito depois do 25 de abril”, falou José António Ribeiro para explicar os movimentos que desencadearam a deposição do então presidente Marcello Caetano e que se sucederam à data histórica. O intelectual também explanou que a Revolução não se concentrou em Lisboa, mas ocorreu essencialmente também nas então colônias, não sendo possível pensar em uma solução democrática para o país que não estivesse atrelada à independência imediata das colônias e à busca de condições para convivência de brancos e negros sem escravidão.

No período da tarde, a jornalista Anabela Mota Ribeiro, proferiu a conferência “Como casa limpa / Como chão varrido / Como porta aberta: os habitantes de uma casa chamada Liberdade”. Com título inspirado em versos da poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, Anabela apresentou uma série de personagens mulheres entrevistadas que tinham em comum o fato de terem nascido após 25 de abril de 1974. A partir de perfis e histórias distintas, Anabela reflete sobre o significado e a importância da Revolução dos Cravos para chamados “Filhos da Madrugada”, uma geração que, como disse o embaixador Luís Faro Ramos, “não soube o que é viver em um país sem liberdade”. “Filhos da Liberdade” é o título também de um programa de TV apresentado, entre 2021 e 2022, por Anabela Mota Ribeiro em Portugal e de um livro escrito pela jornalista.

Finalizando a programação do Colóquio, o filósofo, ex-ministro da Educação no Brasil e atual presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Renato Janine Ribeiro, falou sobre “A conquista da democracia em Portugal e no Brasil”. Ao fazer o comparativo entre a história dos dois países, o intelectual destacou que para entender as dificuldades que o Brasil tem para lidar com a memória das ditaduras, diferentemente de outros países como Portugal, é que os principais movimentos que levaram a mudanças políticas significativas foram orquestrados de “cima para baixo”.

Citou como exemplos a Independência do Brasil deflagrada por um monarca, o imperador Dom Pedro I; a República proclamada por um marechal do Império, Deodoro da Fonseca; a Revolução de 1930 feita por oligarcas; a deposição de Getúlio Vargas em 1945 conduzida por generais; e o fim da ditadura militar em 1984 que levou à presidência do Brasil um ex-presidente do partido da ditadura, José Sarney. “Isso explica, em parte, porque é tão difícil para o país fazer um ajuste de contas com o passado”.

Renato Janine também falou da preocupação, entre brasileiros e portugueses, com a nova ascensão da extrema direita hoje. “A direita foi fagocitada pela extrema direita. Temos o dever de lutar pela democracia com duas linhas políticas em disputas, esquerda e direita, que mesmo com métodos diferentes, possuam como linhas comuns erradicar a pobreza, manter a paz com os países vizinhos, garantir a liberdade. A democracia é um work in progress, que precisa continuar, não só no âmbito político. Nas relações sociais, de trabalho e afetivas ainda há muito a se fazer”, concluiu.

(Transcrito do site da UFPA)

Rock na madrugada – Jimi Hendrix, “Like A Rolling Stone”

POR GERSON NOGUEIRA

Quando tocou esse cover de Bob Dylan em 1967, James Marshall Hendrix, mais conhecido como Jimi Hendrix, tinha apenas 24 anos. Atingia o ápice de sua brilhante e curtíssima carreira, personificando para sempre a figura do herói da guitarra. Foi o primeiro a merecer essa definição. Era um instrumentista excepcional e um compositor inspirado. E tinha uma voz sensacional, pouco valorizada diante das diabruras que saíam de sua guitarra. Foi sempre inseguro quanto ao talento vocal. Precisou ser incentivado por amigos como John Lennon e Mick Jagger a soltar o vozeirão.

The Hall of Rock’n’Roll Fame o descreve como “Inquestionavelmente um dos maiores músicos da história do rock”. Ninguém tem dúvida quanto a isso. Quando comecei a ouvir música compulsivamente, a partir dos 10 anos, eu não entendia Jimi Hendrix porque não entendia distorções e ruídos na música. Achava tudo confuso, sem um ritmo claro. Uma reação normal para um garoto fissurado nas melodias dos Beatles.

O vídeo acima flagra o despertar de um gigante. Era o início de tudo. Jimi era um desconhecido ainda. Há um filme desse período mostrando ele relaxando na plateia, curtindo outros músicos. Quando subiu ao palco, não havia pressão porque não existia expectativa.

Jimi faz uma releitura original desta canção clássica de Bob Dylan, talvez porque fosse um fã declarado do bardo de Minnesota. E que banda o acompanhava! Noel Redding no baixo e Mitch Mitchell na bateria, garantindo a tessitura necessária para os solos de Jimi.

Quando você não tem nada, não tem nada a perder/ Você é invisível agora, não tem segredos a esconder

A letra de “Like A Rolling Stone” (Como uma pedra rolante) é rascante, sem travas, puro Dylan. Combina com o destemor das notas que Jimi extrai do instrumento. É o melhor de dois mundos. Felizes os que viveram para apreciar dois gênios da mesma geração.

Ex-PM que matou torcedor no Mangueirão se entrega após se livrar do flagrante

Policial da reserva foi preso pela autoria do disparo que matou torcedor durante uma briga entre torcidas organizadas do Remo, no estacionamento do Mangueirão, no último domingo, 7

Foi preso nesta terça-feira, 9, o policial militar da reserva Cristóvão Augusto Alcântara Evangelista, suspeito de atirar e matar o torcedor Paulo Alexandre Silva. O crime ocorreu durante uma briga entre torcidas organizadas do Clube do Remo, logo após o clássico Re-Pa válido pela decisão do Campeonato Paraense 2024, no último domingo, 7.

A prisão temporária realizada pela Delegacia de Proteção ao Torcedor e de Grandes Eventos (DPTGE) foi expedida pela 1ª Vara de Inquéritos de Medidas Cautelares, após investigações da Polícia Civil, que analisaram as imagens da câmeras de segurança e ouviu depoimentos apontando o sargento como o autor do disparo que matou o torcedor. O ex-PM se apresentou à delegacia, dois dias depois do homicídio.

“A partir de agora, nós iremos pegar todas as provas produzidas e ouvir também o investigado para que ele possa esclarecer alguns pontos que são necessários para elucidação do crime e do próprio inquérito policial, com isso a gente possa concluir o caso e encaminhar à Justiça”, destacou o secretário de Segurança Pública, Ualame Machado. “Após os fatos, a Polícia Civil agiu rapidamente na identificação do suspeito, trazendo uma rápida resposta à sociedade”, informou o delegado-geral, Walter Resende.

Relembre o caso – No último domingo, 7, ao final da partida entre Remo e Paysandu, pelo Campeonato Paraense 2024, um tumulto se formou no estacionamento do Estádio Olímpico Jornalista Edgar Proença, o Mangueirão, envolvendo torcidas organizadas do Clube do Remo. Nesse momento, disparos de arma de fogo foram feitos pelo ex-PM Cristóvão Evangelista, vindo a atingir mortalmente o torcedor Paulo Alexandre, de 29 anos.

Seis torcidas organizadas foram punidas preventivamente, sendo proibidas de comparecer aos próximos seis jogos de Remo e Paysandu em Belém. A decisão foi tomada durante uma reunião do Conselho de Segurança Pública, nesta segunda-feira, 8.