“Brasil Parasita”: os segredos da guerra cultural forjada pela extrema direita

O documentário “Brasil Parasita” desvenda os meandros das manipulações da Brasil Paralelo, uma organização milionária de extrema direita empenhada em criar uma “verdade alternativa”, capaz de construir uma narrativa de enfrentamento a setores progressistas. Um projeto de guerra cultural que tem muito a ver com a explosão de ódio e intolerância que explodiu durante o governo de Jair Bolsonaro, dividindo o país ao meio.

O doc é uma parceria entre o comunicador Rodrigo Kenji, conhecido como Normose, e o grupo de pesquisa “Brasil para Lerdos”, busca desmontar e revelar ao público as estratégias da produtora “Brasil Paralelo”, empresa de comunicação que ganhou popularidade ao produzir vídeos com revisionismo histórico e pró-extrema direita, ou seja, desinformação em massa. 

Com o nome “Brasil Parasita”, a campanha foi lançada propositadamente nesta semana, quando se completam os 60 anos do golpe militar no Brasil. A ação envolve articulação com uma série de outros perfis das redes sociais.

Assista.

A frase do dia

“Algumas celebridades sempre muito falantes em relação aos direitos humanos – como Lady Gaga e Viola Davis – definitivamente vão ignorar a matança de crianças e mulheres palestinas por Israel. Fazem a militância que o capital aceita. Ou ordena, sei lá”.

Rita Machado, professora

O dia em que o rock morreu, 30 anos

Cinco de abril de 1994, toca o telefone, é a editora do Folhateen, Noelly Russo: Kurt Cobain se matou. Você escreve?

Sentei, escrevi, mandei. O texto está abaixo.

Por André Forastieri

Tiro colocou o ídolo na história do rock’n’roll

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Kurt Cobain se matou. Isso não é romântico. Não é um momento fundamental da história do rock’n’roll. Não é charmoso, não é legal, não é engraçado e não vai mudar a vida de uma geração. É, pura e simplesmente, uma merda.
Você pode ser realista e dizer que era carta marcada. Que se não fosse por uma bala agora, ia ser por heroína amanhã. Ou até que Cobain ia se autodestruir com mais sutileza: tornando-se cada vez menos criativo e menos relevante. É comum, no rock e na vida.
Seria uma conclusão bem lógica se você tivesse entrevistado Kurt durante o Hollywood Rock de 91. Ele era magro e mirrado. Parecia sujo, parecia triste, e seus olhos estavam mortos. Uma vez ou outra durante os quarenta minutos que conversamos, parecia que tinha alguém vivo ali. Mas a impressão passava rápido.
Só que realismo não é “rocker”. Rock é justamente sobre a possibilidade de mudar tudo. Mudar a si mesmo e mudar o mundo –viver perigosamente, no melhor sentido do termo. Quem morre perde tudo o que era e tudo o que viria a ser. Quem se mata faz isso de propósito.
E ninguém diga que Cobain não sabia o que estava fazendo quando deu um tiro na cabeça. O safado sabia exatamente no que ia dar sua atitude, chapado de heroína ou não. Ele estava “deixando a vida para entrar na história”. Duvido que num microssegundo ele não tenha pensado, “agora vai ser Hendrix, Lennon, Morrison, eu e outros menos cotados”.
Suicídio é sempre um momento de supremo egoísmo. Dessa vez foi, também, um ato de traição.
Porque é bem possível que Kurt Cobain já tivesse rendido tudo que tinha para render, mas isso não vem muito ao caso. Nem vem muito ao caso se o Nirvana era uma grande banda ou não, se foi por causa deles que que o rock alternativo explodiu ou não, se Cobain era realmente um cara telentoso ou só mais um moleque caipira com uma guitarra. Enfim, nem vem muito ao caso pensar na filha que nunca vai conhecer o pai, na família, nos companheiros de banda e tudo.
Fico só pensando nos garotos em que Kurt não pensou quando se matou. Nos milhares de garotos pelo mundo inteiro que pegaram na guitarra e caíram na estrada e na vida por causa de “Smells Like Teen Spirit”. Nos garotos que nunca mais vão ouvir um disco novo do Nirvana.

Dez anos atrás, vinte anos após a morte de Kurt, lancei este livro. Meu acerto de contas com o rock, improvisado e incompleto como quase tudo que fiz na vida. Está esgotado. Nunca republiquei, nunca vi razão. Tem em sebo por aí.

Fecham o livro o texto acima, junto com outros três sobre Kurt e o Nirvana e mais uma entrevista com ele que fiz pra Bizz. O dia em que o rock morreu é, claro, 5 de abril. A foto lá no alto é minha favorita de Kurt, tirada pelo amigo André Barcinski em 1991, em Seattle.

Rock na madrugada – Carly Simon, “You’re So Vain”

POR GERSON NOGUEIRA

Carly Simon dominou o pop rock norte-americano nos anos 70. Unia alcance vocal e um charme pessoal que desmontava resistências. Tornou-se ícone do chamado soft rock, um subgênero inventado para definir um ritmo mais melodioso. A canção é de 1972, do álbum “No Secrets” e foi um êxito monstruoso nas rádios do mundo todo. Além do solo fantástico da guitarra de Jimmy Rian, tem ainda a participação especialíssima e surpreendente de Mick Jagger nos backing vocals.

Muita gente, aliás, sempre apontou semelhança física – boca, principalmente – entre Carly e Mick, que andaram saindo nessa época. Outro ponto a destacar em “You’re So Vain” é a introdução, com um baixo nervoso (do craque Klaus Voorman), de efeito desconcertante. A própria cantora pilota o piano.

Em 1972, Mick Jagger deu uma passada no estúdio onde Carly Simon estava gravando. “You’re So Vain” já estava quase finalizada, mas Mick fez vocais de apoio. Por algum tempo, circulou a história de que o hit seria uma indireta para o líder dos Stones:

“Você é tão vaidoso /
Eu aposto que você pensa que essa música é sobre você /
Não é, não e, não é?”

A própria Carly desmentiu o boato, mas citou outro ex-namorado (Warren Beatty) como inspiração para outro verso da canção:

“Você me teve há vários anos atrás /
Quando eu era bem ingênua /
Bem, você disse que fazíamos um belo casal /
E que você nunca partiria /
Mas você se livrou das coisas que amava /
E uma delas era eu.”

Carly nasceu em berço de ouro, explodiu nas paradas com vários sucessos e virou namoradinha da América ao casar com James Taylor (“Sweet Baby James”). De família milionária, seu pai, Richard L. Simon, é um dos fundadores da famosa editora Simon & Schuster, e a mãe foi cantora de ópera. A família integra o circuito das mais ricas e famosas de Manhattan, Nova York.

Além da música, Carly é autora de livros infantis. Em 1994, foi incluída no Hall da Fama dos Compositores e, em 2020, no Hall da Fama do Rock and Roll.

Emoções compensam falta de gols

POR GERSON NOGUEIRA

O empate sem gols no Re-Pa de quarta-feira deixou um quê de frustração na torcida. Quase 33 mil espectadores no Mangueirão ficaram com o grito de gol preso na garganta. No 1º tempo, os azulinos quase desfrutaram desse prazer. Quatro chances claras, três delas desperdiçadas por Ribamar. Na etapa final, a sensação esteve mais ao lado dos bicolores.

Ao contrário do que era mais ou menos consenso sobre o jogo, Remo e PSC se lançaram à partida com volúpia, buscando o gol. Como a desmentir uma tendência de suas últimas partidas, os azulinos fizeram um 1º tempo de almanaque, com desempenho quase impecável.

A defesa atuou com firmeza, não dando oportunidades ao ataque alviceleste. O meio-de-campo, pela primeira vez formado pelo trio Paulinho Curuá-Jaderson-Pavani, adotou postura dinâmica, marcando forte e impondo velocidade às ações ofensivas.

Logo nos primeiros minutos, a situação parecia mais favorável para o Papão, que botou pressão e rondou a área azulina. Mas, aos 7 minutos, Jaderson avançou velozmente e lançou Kelvin na esquerda. O disparo assustou o goleiro Diogo Silva, passando perto do travessão.

Depois dos 10 minutos, com bolas esticadas para os atacantes, principalmente Ribamar e Kelvin, o Leão inverteu completamente as perspectivas. Edinho, melhor do PSC no período, cobrou falta rasante, para uma defesa arrojada de Marcelo Rangel.

Logo, porém, o Remo retomou as rédeas. Aquele time sempre hesitante ao longo da etapa inicial das partidas deu lugar a uma equipe resoluta, confiante. Parece que não haveria amanhã. Meio e ataque estavam calibrados para buscar o gol.

Em seguida, Kelvin entrou pela direita e bateu à meia altura para uma grande defesa de Diogo Silva. Na sequência, Edinho bateu escanteio e Wanderson cabeceou bola traiçoeira rente ao travessão. Marcelo Rangel espalmou com a ponta dos dedos.

Aos 20’, bola enfiada por Vidal apanhou a zaga do PSC adiantada e Ribamar em deslocamento para a esquerda. O centroavante dominou e chutou rasteiro, à esquerda da trave. Primeira chance desperdiçada.

Não dava tempo para respirar. Aos 24’, Jaderson limpou jogada na intermediária e fez um lançamento caprichado para Pavani, que avançou e tocou para Ribamar. Ele caiu de novo para a esquerda e, livre de marcação, mandou um chute no travessão. Segunda chance perdida.

Aos 27’, Pavani descolou uma inversão de bola para Ribamar. Ele chegou à frente de Gabriel Bispo, avançou até a área, mas perdeu o controle e a bola ficou nas mãos do goleiro. Só dava Remo.

De repente, o Papão acordou. Um cruzamento da direita foi escorado por Edinho e defendido por Marcelo Rangel. João Vieira pegou o rebote, mas finalizou à direita. O lance foi invalidado por impedimento.

O Remo voltou a pressionar depois de um passe em profundidade de Pavani para Ribamar. O atacante chegou, como sempre, na frente dos zagueiros e chutou forte, mas Wanderson conseguiu desviar a tempo.

Ainda houve tempo para um arremate de Raimar, bem defendido por Diogo Silva. O primeiro tempo terminou com a sensação de que os azulinos tinham conquistado o controle do clássico. O problema é que as chances criadas não têm repeteco.

Veio o 2º tempo e as coisas mudaram de lado. Logo de cara, o Remo perdeu seu jogador mais estratégico, Jaderson. O PSC já tinha Robinho no lugar de Biel. A troca de passes ficou mais afiada e Nicolas passou a dispor de espaço para manobrar na área azulina.

Aos 10 minutos, Nicolas disputou com Ícaro e a bola sobrou para Robinho bater rasteiro, à direita do gol. Faltou pouco. No instante seguinte, Bryan cruzou na medida para Nicolas cabecear no ângulo da trave azulina. Marcelo Rangel defendeu com a mão direita e evitou o gol.

Com o Papão predominante, o Remo só chegava de vez em quando, como num chute de Renato Alves aos 30’ e um tiro alto de Sillas, aos 33’. O jogo terminou assim, lá e cá, indefinição permanente quanto ao placar, mas sem lances agudos nos instantes finais.

Para um jogo que acabou em 0 a 0, o relato dos lances mostra que houve embate, luta e aplicação, fazendo com que as emoções aflorassem o tempo todo, como bem manda a tradição do clássico.

Expectativas de evolução para o 2º clássico

Para domingo, quando começa a série decisiva do Parazão, as expectativas aumentam. Podemos ter um jogo ainda mais brigado e tático, visto que os técnicos irão aproveitar o que foi visto na quarta-feira para corrigir seus sistemas e buscar formas de explorar as deficiências do adversário.

Sem Jaderson, lesionado, o Remo tende a enfrentar mais dificuldades para reeditar a boa atuação. O PSC terá o retorno de Jean Dias e Leandro Vilela, titulares que não atuaram. São detalhes que podem fazer muita diferença.

Leão lança camisa especial alusiva ao TEA

O Remo teve uma iniciativa interessante para saudar o mês de celebração de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA): lançou uma camisa especial em alusão ao Dia Mundial do Autismo, comemorado na terça-feira, 2.

A camisa, em parceria com a fornecedora Volt, traz a cor azul marinho, mas tem detalhes de peças de quebra-cabeças coloridos, símbolo universal do TEA. A camisa tem um coração em relevo atrás do escudo, além do selo da campanha na parte de trás da camisa, com a frase “Jogamos pelo autismo. Hoje e sempre”.

“É preciso conscientizar a população sobre os desafios e a realidade de uma pessoa dentro do espectro autista, e o futebol é um grande meio para que possamos transmitir esse discurso”, disse o diretor de marketing do Remo, Bruno Carmona.

A comercialização da camisa ocorre nas lojas do clube ao preço de R$ 199,99. Parte do valor arrecadado com as vendas será destinado a instituições que apoiam a causa.

O objetivo é contribuir para a conscientização da população (e da torcida azulina) sobre o autismo e as necessidades e direitos de pessoas que fazem parte desse espectro. Agora fica com a torcida a missão de comprar o uniforme e abraçar a importante causa.

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 05)