Praias indo pro beleléu

Por Heraldo Campos (*)

“Existe um provérbio popular que diz “curva de rio sujo só junta tranqueira”.

É verdade o que diz esse provérbio, principalmente se estivermos falando de tranqueira produzida pelos seres humanos como garrafas pet, sacos plásticos, pneus, latas, embalagens tetra brik, pedaços de madeira, entre outras coisas, que vão sendo lançadas nos corpos d’água e acabam parando numa curva de rio. Além da conhecida contaminação das águas superficiais que esse tipo de “entulho” provoca, o seu acúmulo colabora com o aumento das enchentes em vários trechos das zonas rurais e urbanas.” [1].

Mas, não nos esqueçamos, que os rios interiores não estão sozinhos nesse triste cenário. O mar e as praias também sofrem muito com esse tipo de “abuso”. Há pouco mais de duas décadas, os indicativos desse “abuso” vinham sendo alertados.
Por exemplo, o “Guia de Praias Quatro Rodas”, de 1998, informava ao leitor que as praias do Perequê Açu e da Barra Seca, localizadas em Ubatuba, “Ficam numa enseada de água mansa, rasa, com terminal turístico (para ônibus de excursões). Na temporada aumenta a poluição na desembocadura do Rio Indaiá. Barra Seca é um trecho selvagem depois do Rio Indaiá”, em trecho citado no artigo “Praia largada” [2].
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Porém, mais de 20 anos depois, um pouco antes do inicio da pandemia do coronavírus em território brasileiro, “(…) na temporada do verão de 2020, durante os meses de janeiro e fevereiro, foram observados nessa faixa de areia: vários tipos de resíduos plásticos distribuídos de forma difusa; peixes mortos junto a restos de algas; depósitos de lixos a céu aberto próximo de quiosques; espuma de origem desconhecida acumulada na saída de galeria de águas pluviais; presença de cães na praia (com seus respectivos proprietários); espalhamento de objetos de oferenda religiosa, além da presença de frequentadores, utilizando bombas de sucção para a retirada do crustáceo corrupto (crustáceo cavador Callichirus major), geralmente utilizado como isca para peixes nas pescarias.” [3].
O quadro não é muito diferente nos dias de hoje. Observa-se com certa frequência, restos de folhas e de galhos de árvores associado ao lixo urbano variado, composto de pneus, calotas de automóveis, garrafas pet, latas de cerveja, sacos plásticos, entre outros materiais, que podem ter sido muito bem lançados diretamente na praia pelas pessoas ou nas suas proximidades, ou jogados no Rio Grande, por exemplo, localizado na parte central da cidade de Ubatuba, e terminando com a “devolução” pelo próprio mar, para formar um cordão de resíduos, no decorrer das suas variações de níveis de marés.
Com as chuvas intensas de verão, o volume desse tipo de material tende a aumentar provocando o entulhamento das calhas dos rios sejam eles de pequeno porte ou de grande porte, aumentando, sensivelmente, o risco para as inundações e os alagamentos urbanos.
Vários bairros de munícipios do Litoral Norte do Estado de São Paulo sofrem com esse tipo de
transtorno há décadas. A impermeabilização do solo pelo asfalto viário, o avanço de condomínios residenciais em áreas da orla marítima que não deveriam ser ocupadas, a ausência de sistema de drenagem urbana compatível com o volume de água de chuvas excepcionais, são alguns dos fatores que colaboram com esse tipo de situação, fazendo com que muitas praias acabem indo para o beleléu.
A pergunta que fica é: será que estamos num ponto sem volta e o conformismo nos leva a ter que conviver com esse tipo problema recorrente, consolidando um triste retrato 3×4 de várias cidades litorâneas brasileiras?

Fontes
[1] “Tranqueira” artigo de 17/02/2021.
http://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2021/02/tranqueira.html?view=magazine
[2] “Praia largada” de 18/12/2022.
http://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2022/12/praia-largada.html?view=magazine
[3] “Praia sem coronavírus!” de 14/04/2020.
http://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2020/04/a-praia-semcoronavirus-cronica-de.html?
view=magazine

(*) Heraldo Campos é geólogo (Instituto de Geociências e Ciências Exatas da UNESP, 1976),
mestre em Geologia Geral e de Aplicação e doutor em Ciências (Instituto de Geociências da
USP, 1987 e 1993) e pós-doutor em hidrogeologia (Universidad Politécnica de Cataluña e
Escola de Engenharia de São Carlos da USP, 2000 e 2010).

Censo 2022: Brasil tem mais templos do que escolas; Região Norte lidera

O Brasil tem mais estabelecimentos religiosos do que o total somado de instituições de ensino e de saúde. É o que mostram os novos dados do Censo 2022 divulgados nesta sexta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São, em média, 286 igrejas para cada 100 mil habitantes do país. Pela primeira vez, o IBGE mapeou todas as coordenadas geográficas e os tipos de edificações que compõem os 111 milhões de endereços do Brasil cadastrados durante a pesquisa.

O Censo entende como estabelecimento religioso igrejas, templos, sinagogas e terreiros, por exemplo, de todas as religiões.

  • Estabelecimentos religiosos (igrejas, templos e outros): 579,7 mil – 286 para cada 100 mil habitantes
  • Estabelecimento de ensino (escolas, creches, universidades): 264,4 mil – 130 para cada 100 mil habitantes
  • Estabelecimento de saúde (hospitais, clínicas, pronto socorro): 247,5 mil – 122 para cada 100 mil habitantes

Região Norte é a que concentra a maior relação entre o número de estabelecimentos religiosos e o total da população. Há 79.650 igrejas nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, o que representa a média de 459 para cada 100 mil habitantes, quase o dobro do valor do Brasil como um todo.

O Acre lidera a média nacional, com 554 igrejas para cada 100 mil habitantes, seguido de Roraima e Amazonas, ambos com 485 para cada 100 mil. Do lado oposto, a região Sul (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) é a que tem a menor relação entre o número de igrejas e a população, com 226 para cada 100 mil.

As informações do Censo 2022 começaram a ser divulgadas em junho de 2023. Desde então, foi possível saber que:

  • O Brasil tem 203 milhões de habitantes, número menor do que era estimado pelas projeções iniciais;
  • O país segue se tornando cada vez mais feminino e mais velho. A idade mediana do brasileiro passou de 29 anos (em 2010) para 35 anos (em 2022). Isso significa que metade da população tem até 35 anos, e a outra metade é mais velha que isso. Há cerca de 104,5 milhões de mulheres, 51,5% do total de brasileiros;
  • 1,3 milhão de pessoas que se identificam como quilombolas (0,65% do total) – foi a primeira vez na História em que o Censo incluiu em seus questionários perguntas para identificar esse grupo;
  • O número de indígenas cresceu 89%, para 1,7 milhão, em relação ao Censo de 2010. Isso pode ser explicado pela mudança no mapeamento e na metodologia da pesquisa para os povos indígenas, que permitiu identificar mais pessoas;
  • Pela primeira vez, os brasileiros se declararam mais pardos que brancos, e a população preta cresceu.

Rock na madrugada – Chris Cornell, “Nothing Compares 2 U”

Lenda do rock dos anos 90′, Chris Cornell concede ao clássico de Prince uma interpretação nova e impecável, mudando a maneira como a música sempre foi percebida. Neste registro acústico de 2015 (dois anos antes de sua morte), Cornell mostra-se arrebatado na dose certa, sem excessos, e extrai novo sentido dos versos tristonhos daquele que um dia se chamou Prince:

Posso jantar em um restaurante chique
Mas nada,
Eu disse que nada pode tirar essa tristeza
Porque nada se compara
Nada se compara a você.
Tem sido tão solitário sem você aqui
Como um pássaro sem canto
Nada pode impedir que essas lágrimas solitárias caiam

Sinéad O’Connor parecia ser a dona da versão definitiva, mas Cornell foi muito além. Por coincidência, os três (Prince, Sinéad e Cornell) já partiram, o que é muito triste.

Galera assombra, Mangueirão brilha

POR GERSON NOGUEIRA

A apresentação do time mais popular do país contra uma equipe desconhecida foi um sucesso absoluto, na quarta-feira, 30. O espetáculo atraiu 50 mil pessoas. Méritos da apaixonada torcida paraense, que driblou preços altos e perrengues normais de uma noite de meio de semana. E triunfo retumbante da arena Mangueirão como equipamento esportivo mais moderno do futebol brasileiro atual.

De volta ao país, após a pré-temporada nos Estados Unidos, o Flamengo retomou a participação no Campeonato Carioca e passou pelo Sampaio Corrêa (RJ). Ganhou por 2 a 0, o que dá a enganosa impressão de um jogo equilibrado. Não foi.

O Flamengo fez o que quis, e quando quis. Marcou logo aos 10 minutos, com Bruno Henrique aproveitando uma defesa parcial do goleiro Leandro Matheus em faltas cobradas pelo uruguaio De La Cruz.

Foi uma apresentação completamente sem sustos para o Flamengo, mas o jogo teve dois momentos. No primeiro tempo, meia pressão na saída de bola do Sampaio. Erick Pulgar, Gerson, Arrascaeta, De La Cruz, Gabigol e Bruno Henrique apareciam a todo momento para troca de passes e tentativas de entrada na área.

Davi Luiz quase abriu o placar em cabeceio no canto. O goleiro saltou e defendeu. Depois, veio o lance da falta cobrada por De La Cruz e o gol de Bruno Henrique, provocando a segunda grande manifestação da torcida – a primeira foi na entrada do time, todo de uniforme preto.

Como parte dessa etapa de preparação, o confronto não foi de muita utilidade para Tite. O Flamengo jogou muito à vontade, sem ser desafiado ou ameaçado. O gol de Gabigol, quebrando o jejum de meses, tornou a vitória ainda mais segura.

No segundo tempo, Tite trocou Gerson por Luiz Araújo e com isso tirou forças do setor que mais trabalhou as jogadas ofensivas. Depois disso, saíram De La Cruz e Arrascaeta, e o Flamengo não mais criou chances como na etapa inicial.

Gabigol teve uma excelente oportunidade, mas foi lento na definição e a zaga bloqueou. O Sampaio ensaiou uma reação, mas a limitação individual de seus jogadores não permitiu qualquer sucesso nesse sentido. Os minutos finais foram disputados em ritmo de treino.

A educada galera presente ao Mangueirão ensaiou um tímido pedido por Pedro, que estava no banco, mas Tite prestigiou Gabigol até o final. Na prática, o Flamengo realmente treinou para o clássico com o Vasco na próxima rodada do Carioca.

Quanto ao torcedor, uma exibição primorosa do amor que o paraense tem por futebol, principalmente quando craques estão em campo. O Mangueirão foi o cenário para essa explosão de alegria.

Diante do espetáculo promovido, que se junta ao que já havia ocorrido na estreia da Seleção nas Eliminatórias, é mais do que natural que o estádio entre para a agenda de grandes eventos esportivos no país.

Papão mobiliza torcida na festa de aniversário

O PSC comemora hoje 110 anos de fundação e a diretoria optou por festejar em celebração com a torcida. O engajamento começa logo cedo, às 11h, com a entrega de um enxoval completo para o primeiro bicolor nascido no dia 2 de fevereiro na maternidade da Santa Casa.

Durante o dia, haverá promoção de gratuidade do programa Sócio Fiel Bicolor. Quem se associar amanhã nos planos semestral ou anual ganha um mês adicional grátis. Ainda hoje, às 19h30, a sede social da avenida Nazaré vai receber dirigentes, funcionários e convidados para a solenidade especial de aniversário.

Amanhã, a festa continua com o treino aberto no estádio da Curuzu, com direito a bolo alusivo à data, que será distribuído aos torcedores.

Botafogo fecha a maior contratação do futebol brasileiro

Depois de ligeira novela, o Botafogo anunciou o atacante Luiz Henrique, ex-Real Betis, como novo reforço. O contrato é por cinco temporadas. A operação pode chegar a 20 milhões de euros (R$ 106,6 milhões) com metas e bônus e é, desde já, a maior contratação da história do futebol brasileiro em valores nominais.

Aos 23 anos, o atacante é o primeiro grande nome do projeto SAF de John Textor desde que o norte-americano adquiriu o Alvinegro. O jogador, revelado pelo Fluminense, deve se apresentar ainda nesta semana.

Engraçado e curioso é ver parte da mídia esportiva menosprezando o negócio e insistindo que o jogador é “barriga de aluguel” para os negócios de Textor. E se for, qual o problema? Importante é que reforçará o Botafogo na tentativa de fazer uma temporada melhor que a de 2023.

Craques tornam-se alvos preferenciais dos golpistas

O atacante Dudu, do Palmeiras, amarga um prejuízo de quase R$ 18 milhões em suas contas bancárias. O caso veio à tona ontem, a partir da investigação aberta pela Polícia Civil de S. Paulo. Um dos suspeitos é Thiago Donda, ex-assessor e padrinho de casamento do jogador. A informação foi publicada pela Globo e confirmada pela ESPN.

A ocorrência foi registrada no 15º Distrito Policial de S. Paulo. A denúncia pede investigação sobre movimentações de dinheiro realizadas nas contas do atleta sem sua anuência e com fraudes diversas – cheques com assinaturas falsas; operações de empréstimos mediante oferta de produtos; e títulos de capitalização sem autorização.

As altas somas movimentadas pelos jogadores de primeiro nível no país tornam-se alvos de picaretas e lunfas de toda espécie. Rodrigo Scarpa foi vítima no ano passado de aplicações e jogadas furadas de investimento. Quanto mais grana envolvida, mais riscos de caneladas.

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 02)

Rock na madrugada – Barão Vermelho, “Rock do Vapor/Não Me Acabo”

Trecho de apresentação do Barão Vermelho na TV Cultura, em 1994, com dois rocks brabos, “Rock do Vapor” e “Não Me Acabo”. Era a fase pós-Cazuza, com Roberto Frejat assumindo os vocais e dando à banda uma pegada mais pesada. No repertório, saíram as baladas e entraram as pedradas que fizeram do Barão um dos melhores grupos de palco do rock brasileiro.

A formação encorpou com a entrada de Fernando Magalhães (guitarra), Rodrigo Santos (baixo) e Peninha (percussão, que se juntaram ao trio de fundadores – Guto Goffi, Maurício Barros e Frejat.