Leão decide jogo em 15 minutos

POR GERSON NOGUEIRA

A reabilitação que o Remo buscava veio com uma vitória construída no 2º tempo, depois de uma fase inicial confusa e sem inspiração. Tudo o que foi falado do time depois do vexame na Copa do Brasil se repetiu nos primeiros 45 minutos, para irritação da torcida (4.028 presentes), que vaiou os jogadores na descida para o intervalo. Na etapa final, com outra postura, o time resolveu o jogo em 15 minutos.

Apesar de controlar as ações e segurar o Águia, o Remo insistiu nos cruzamentos sobre a área marabaense, que travaram o jogo ofensivo e tornaram inútil a presença do centroavante Ribamar na área.

A primeira boa investida do Leão ocorreu aos 18 minutos, quando o zagueiro Ligger lançou Ribamar, que girou e bateu cruzado em direção ao gol. Axel Lopes espalmou. Aos 23’, foi a vez de Jaderson arriscar de fora da área, quase surpreendendo o goleiro do Águia.

Finalmente, aos 33’, veio a mais clara chance de gol para os azulinos na primeira etapa. Jaderson lançou Nathan, que disparou um chute à meia altura, à esquerda da trave. Em contrapartida, o Águia se manteve retraído, sem oferecer qualquer perigo à defensiva do Remo. Marcelo Rangel fez apenas duas defesas tranquilas em cobranças de escanteio.

Como a expectativa era de uma resposta azulina às cobranças da torcida, o placar em branco desagradou a torcida, que protestou com vaias.

A manifestação de desagrado surtiu efeito. Sem trocar peças, o Remo voltou do intervalo com postura mais agressiva. Logo de cara, Marco Antônio, improdutivo no 1º tempo, recebeu junto à área e chutou cruzado. Axel espalmou e Camilo aproveitou o rebote para abrir o marcador.

O Remo continuou impositivo, cercando a área do Águia, sem permitir ao adversário passar do meio-campo. Como consequência, logo aos 15’ a fatura foi liquidada. O volante Henrique, com grande atuação no trabalho de marcação, livrou-se da marcação e mandou um chute rasteiro, sem chances para Axel Lopes. O gol mais bonito da tarde.

Não houve brilho ou exuberância no jogo praticado pelos azulinos. O diferencial esteve na determinação dos jogadores e no apuro das finalizações. Em termos de organização, o time ficou devendo, mas a intensidade na marcação deu mais solidez defensiva.

Continua a faltar inventividade no meio-campo, com muito espaçamento. Outro aspecto a ser corrigido é a inclusão dos laterais no esforço ofensivo. Tanto Thalys quanto Nathan (substituído depois por Raimar) seguem excessivamente contidos, quase sem aproximação com o ataque.

O triunfo é importante por reconquistar a confiança do torcedor após atuações insatisfatórias, mas deve ser visto com cautela e sem oba-oba.

Lusa goleia Santa Rosa e se consolida no 2º lugar

Com uma campanha consistente, a Tuna se isolou na segunda colocação do Parazão após golear o Santa Rosa, por 4 a 0, na manhã deste domingo, no estádio do Souza. Ainda invicta, a equipe soma 15 pontos e 15 gols marcados, melhor artilharia da competição.

É a primeira grande campanha da Lusa desde o vice-campeonato de 2021, quando por detalhes deixou escapar o título da temporada. Sob o comando de Júlio César Nunes, neste Parazão o time tem conseguido equilibrar um jogo defensivo seguro com um ataque produtivo.

Na partida de ontem, o gol veio logo cedo, aos 19 segundos. Luquinha aproveitou um rebote na área para balançar as redes do Santa Rosa. Depois, aos 16 minutos, o artilheiro Jonathan Chula ampliou em cobrança de penalidade. Foi o 6º gol dele, que se igualou a Nicolas (PSC).

Flávio desperdiçou um pênalti para o Santa Rosa e perdeu a chance de diminuir. A Tuna foi à frente e aumentou a vantagem. Pedrinho, que havia entrado no intervalo, aproveitou falha da zaga para fazer o terceiro gol.

Ainda havia tempo para mais: o mesmo Pedrinho completou um cruzamento para as redes, fechando a contagem em 4 a 0.

Papão abusa do desperdício e tropeça no Canaã

O PSC sofreu um tropeço inesperado diante do lanterna do campeonato, na tarde de sábado, em Parauapebas. O Canaã conseguiu segurar o 0 a 0 por 30 minutos. Depois de forte pressão, o gol bicolor saiu aos 31’. Michel Macedo chutou cruzado em direção ao gol e o zagueiro Mateus tentou desviar, mas botou a bola no fundo do barbante.

Depois disso, o Papão aumentou ainda mais o ritmo, perdendo seguidas oportunidades para ampliar, muito em função da excelente performance do goleiro Matheus Poletine, responsável por três grandes defesas. O lance mais claro ocorreu quase no final do 1º tempo, quando, depois de uma falha da zaga, Leandro chutou e lá estava Matheus Poletine para evitar o gol.

Na etapa final, Elis García tentou fazer de cabeça para a equipe bicolor, mas o lance foi anulado por impedimento. O venezuelano deu outra cabeçada e o goleiro defendeu.

A jogada mais aguda teve Poletine fazendo uma defesa dupla em lance que Hyuri desperdiçou. Depois desse intenso bombardeio, o Papão acabou castigado aos 48 minutos. Em lance individual, Zé Paulo dominou na entrada da área e chutou rasteiro para empatar a partida no Rosenão.

O Papão poupou a dupla de zaga titular, Lucas Maia e Wanderson, e os atacantes Nicolas e Vinícius Leite, de olho na partida de quarta-feira, em Rondônia, contra o Ji-Paraná pela Copa do Brasil.

Psicologia do Esporte em debate no Troféu Camisa 13

O Troféu Camisa 13 promove hoje o 1º Bate-Bola da temporada, com palestra de Daniel Alvarez Pires, mestre em Educação Física e doutor em Ciências do Esporte, que vai discorrer sobre Psicologia do Esporte e como o comportamento dentro e fora de campo afeta o rendimento esportivo e influencia as relações interpessoais.

O evento é aberto ao público e começa às 18h, no auditório da RBATV, na avenida Almirante Barroso, 2190.

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 26)

A frase do dia

“CONFESSOU! A PF vai usar discurso de Bolsonaro na Paulista na investigação, pois ao se ‘explicar’ ele admitiu conhecimento sobre a minuta golpista. O covarde ficou em silêncio no depoimento, mas no domingo produziu prova contra si mesmo. O peixe morre pela boca!”.

Ivan Valente, deputado federal (PSOL-SP), professor e engenheiro

Quando traímos os criadores

Estrelando Mercenárias, Lucchetti, Frank Herbert e Enzo Ferrari

Por André Forastieri

Em 1982 atrás as Mercenárias faziam o que ninguém fazia no Brasil: pós-punk. Agressivo, abrasivo, provocativo. Cosmopolita e paulistaníssimo. Feminino e feminista. Som sem precedentes entre nós. Tudo isso quando o punk engatinhava no nosso país. Muito menos nossa niu uêive temporona, engraçadinha, cabaço, que só se afirmaria na segunda metade dos 80. Olha só elas nessa foto de 1984, do grande Rui Mendes.

As Mercenárias tinham tudo para dar errado e deram.

O primeiro disco demorou muito pra sair; no segundo, foram estranhamente tratadas como obsoletas. O rock que demole instituições nunca teve palco neste país. Ou só em versões humorísticas, ou aguadas / coreografadas – Titãs.

A gente não prestou a devida atenção nas Mercenárias. Eu também não. Outro dia assistimos Sandra e a atual formação de sua banda. Minha primeira vez desde aqueles antediluvianos 80. Agora elas fazem perfeito sentido.

Tocaram entre o Cólera e o L7. Estavam lá o Gordo e o Scandurra. Tinha um jovem casal na faixa dos vinte anos comigo. Sandra disse no nosso ABFP que o público delas agora tem gente mais jovem ainda, 13, 14 anos. E disse outras coisas que você vai gostar de ouvir também.

Estar neste show deu a sensação de fazer parte da História. Que as Mercenárias fizeram e na época não sabiam. Tavam só lá vivendo e tocando, fazendo arte e confusão, dando murro em ponta de faca, dando errado – dando certo.

Agora elas sabem e nós também.

Dá ódio e desgosto ver velho passando necessidade. É mais odioso ainda quando o velho é um criador. Gente que se dedicou a divertir, até inspirar os outros. Que fez nossas vidas menos árduas, quem sabe iluminadas.

Acontece com gênios. Acontece à beça com quem criou como funcionário ou frila, alugando seu talento pra liquidar os boletos da semana.

Dias atrás os fãs de quadrinhos se espantaram com um post de Larry Hama, 75 anos. Contou que precisa continuar trabalhando pra pagar as contas, e que continua recebendo o mesmo fixo por página de roteiro desde o século 20.

Hama não é famoso fora da gibilândia. É o principal responsável pela criação da bilionária franquia G.I. Joe, de filmes, desenhos, brinquedos. Mas não é “o criador”, não tem os direitos autorais ou patrimoniais sobre nada. O “criador” é a Hasbro, também “criadora” dos Transformers, Magic: The Gathering, Power Rangers e Peppa Pig.

Agora é Rubens Luccheti, um dos nossos maiores criadores no universo do terror e da fantasia, indissociável de Zé do Caixão. Idoso, passa dificuldades aqui pertinho, no nosso Brasil mesmo. Não tem um milésimo dos fãs de Hama. Se puder, ajude.

Reciclei um texto antigo meu sobre os bastidores da criação de “Duna”, o livro, e estou animadão pra assistir o segundo filme. Quem não leu e não sabe como acaba a história periga assustar. E assustar do tanto que George Lucas surrupiou de Frank Herbert.

Fiz um videozinho explicando minha birra com “Ferrari”, que vi e chega aos cinemas. Enzo era artista? Era. Você jamais desconfiaria assistindo esta cinebiografia. Sua italianíssima, pagã, pan-helênica busca pelo justo equilíbrio entre prazer e perfeição se perde na tradução de Michael Mann e Adam Driver para platéias anglófonas.

Quem nasceu na velha bota traz do berço saudável desrespeito pelas ilusões da performance heróica. Incompreensível para os ianques, cujo deus demanda sacrifício por resultados rápidos, “just do it”. Até no sexo cinematográfico (com Penelope Cruz!), sempre vestido e apressado, gozo funcional e voltemos ao trabalho.

Cadê o charme e a lassidão, o apolíneo e o dionisíaco, lo Mastroianni e la Cardinale? “Traduttore, traditore”, indeed…