Uma tragédia anunciada

POR GERSON NOGUEIRA

O gol teve um desenho parecido com outro, recente, sofrido contra a Tuna. Bola baixa é cruzada no primeiro pau, atacante se adianta e ninguém aparece para marcar. Um leve desvio é suficiente para passar por três zagueiros na pequena área e vencer o goleiro. Gol bobo, de futebol pelada, quase infantil, mas bastou para o modesto Porto Velho derrubar o favorito Remo na primeira rodada da Copa do Brasil.

Uma derrota que significa uma tragédia desenhada nas fracas atuações do Remo no Parazão. Após sofrer o gol, ontem, o resultado se consolidou ao longo de mais de 80 minutos da mais completa falta de inspiração. Desorganizado desde a saída da zaga até a chegada ao ataque, o Remo levou vários minutos após o gol para cair na real e tentar buscar o empate.

Quase em ritmo de treino, o Remo levava um inverno inteiro para passar da defesa ao ataque. E tome passes laterais e recuados, enquanto o adversário fazia a única coisa possível naquele momento: recuava o time inteiro, ficando com 10 jogadores atrás da linha da bola.

O futebol passou por muitas mudanças, mas há uma que segue imutável desde os primórdios de Elba de Pádua Lima, o Tim, e Gentil Cardoso. Contra times retrancados só resta explorar os lados do campo. Para isso, porém, é preciso ter bons laterais e pontas. Marco Antônio era a exceção tentando abrir caminho pela esquerda.

Do outro lado, Felipinho estava apagado. A pior apresentação dele desde que foi efetivado. Burocrático, recebia a bola e cruzava na área, sem direção, ou então recuava para Thalys, o que não resultava em nada.

Ainda assim, com a lerdeza prevalecendo, o Remo teve duas grandes chances com Ribamar e Marco Antônio. O ponta bateu cruzado, o goleiro Digão espalmou e o centroavante cabeceou, de peixinho, junto ao poste esquerdo. Outro cabeceio foi facilmente agarrado pelo goleiro.

O Porto Velho abriu mão do ataque ao longo do primeiro tempo, cuidando apenas de se defender com chutões e cai-cai. Nem precisava se amedrontar tanto, pois o Remo não apertava e nem chutava de fora da área.

Veio a segunda etapa e os azulinos pressionaram mais forte. Ytalo entrou e o ataque passou a ter dois centroavantes. Uma completa inutilidade porque a bola nunca chegava em condições. Os laterais – primeiro Nathan, depois Raimar, e Thalys – estavam em tarde pavorosa.

Alguém podia reclamar do gramado, muito ruim e lamacento, mas quem joga com a apatia que o Remo mostrou não venceria nem jogando num tapete. E tome chuveirinho na área, todos bloqueados pela zaga alta do Porto Velho ou defendidos pelo bom Digão.

Não havia uma jogada trabalhada com infiltrações ou tabelas pelo meio. É como se o time estivesse com preguiça ou, mais provável, que as tais articulações criativas não tenham sido treinadas.

Entrou Kelvin nos 30 minutos finais, mas o ataque seguiu previsível demais. Quase nos acréscimos, o Porto Velho esteve perto de ampliar com Bacca. Em resposta, o Remo botou pressão e no abafa quase empatou. Botou uma bola na trave e três chutes defendidos espetacularmente por Digão, o melhor em campo.

Foi a 12ª eliminação na 1ª fase da Copa do Brasil e seguramente a mais dolorosa. O Remo perde a chance de repetir a caprichada campanha do ano passado e deixa de faturar um bom dinheiro. Além da queda, o coice.  

Mal treinado, Leão perde para time semiamador

Ao todo, foram 35 finalizações do Leão contra apenas cinco do Porto Velho. A prova insofismável de que nem sempre quem chuta mais leva a melhor. O time da casa só precisou de uma chegada certeira para garantir a vitória e a classificação.

Ricardo Catalá disse, ao final do jogo, que levou alguns jogadores em condições inadequadas (fisicamente) e avaliou que a equipe ficou nervosa ao tomar o gol logo cedo.

Talvez as frases tenham sido em função da perturbação gerada pelo fracasso em Rondônia, mas é inconcebível que um grupo de jogadores experientes – Camilo, Ribamar, Renato Alves, Ligger – seja tão despreparado emocionalmente.

Detalhe importante: dos cinco gols tomados pelo Remo na temporada, quatro foram em cruzamentos na área. Em todos, a zaga ficou estática, com os pés fincados no chão. Não poderia haver cenário mais desolador.

Sem maiores ambições, o modesto Porto Velho tem folha salarial de R$ 90 mil, cerca de 10 vezes menor que a do Leão.  

Dorival não quer irritar clubes e sonha com Neymar

O discreto e maneiroso Dorival Júnior comentou em entrevista como pretende aproveitar Neymar na Seleção Brasileira e também já antecipou que não vai hesitar em desfalcar times nacionais na convocação para a Copa América, marcada para junho e julho, nos Estados Unidos.

Segundo o calendário divulgado pela CBF, o Brasileiro será disputado normalmente durante o torneio continental. A disputa será afetada em pelo menos nove rodadas, dependendo da campanha da Seleção.

Desde já, Dorival pede compreensão caso determinados clubes sejam prejudicados pela lista, já se antecipando ao esperneio de técnicos e torcedores. Abriu uma pequena possibilidade de se adaptar ao calendário, sem explicar direito como seria isso.

A impressão é que Dorival ainda pisa em ovos, preocupado em não melindrar interesses. Sabe que conflitar com os interesses dos clubes é um passo firme no sentido de não durar muito na Seleção.

“De repente conversaremos para que o número de jogos seja menor, para que tenhamos a possibilidade de ter os melhores jogadores. Precisamos começar a dialogar mais, nos reunir mais, para debater mais o futebol brasileiro, não só castigando, jogando pedras”, defendeu.

Voltou a dizer que tem entre seus objetivos recuperar Neymar para a Seleção. Trabalharam juntos no Santos, há 14 anos, quando o camisa 10 era um adolescente e voava nos campos. Situação bem diferente de agora, quando se comporta como um ex-jogador em férias. Tremendo desafio para o diplomático (até demais) Dorival. 

Vexame: Leão é atropelado pela Locomotiva e está fora da Copa do Brasil

Com atuação confusa, o Remo foi eliminado da primeira fase da Copa do Brasil, jogando contra o Porto Velho, nesta terça-feira (20), na capital rondoniense. O gol da partida foi marcado aos 8 minutos do primeiro tempo, em jogada aérea que pegou a defesa azulina desarrumada. No desespero para chegar ao empate, o Leão passou a insistir em cruzamentos para a área e acabou parando na muralha representada pelo goleiro Digão, melhor em campo com três grandes defesas na reta final do jogo.

Foi a 12ª eliminação do Remo na competição. Com o resultado, o Porto Velho repete o feito de Genus e Ulbra, de Ji-Paraná, equipes de Rondônia que passaram de fase na competição.

Último a conseguir o feito, o Genus enfrentou o ASA (AL) em 2016 e conseguiu a classificação. Depois da derrota por 2 a 0, na partida realizada em Porto Velho, o ASA venceu por 2 a 1, em Arapiraca, mas não foi suficiente para eliminar os rondonienses. Na fase seguinte, a equipe parou na Ponte Preta.

A frase do dia

“Uma imprensa que paga pau pra governante estrangeiro em detrimento do seu próprio presidente é o puro suco do viralatismo”.

Cynara Menezes, jornalista

“Lula é a única liderança mundial verdadeiramente empenhada em parar Netanyahu”

Marco Aurélio de Carvalho defendeu o presidente Lula dos ataques que vem sofrendo do governo de extrema direita de Israel

Marco Aurélio de Carvalho, Lula e Benjamin Netanyahu
Marco Aurélio de Carvalho, Lula e Benjamin Netanyahu (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil | Ricardo Stuckert/PR | Reuters)

Do Brasil247

O coordenador do Grupo Prerrogativas, o jurista Marco Aurélio de Carvalho, afirmou nesta segunda-feira (19) que o presidente Lula é a “única liderança mundial verdadeiramente empenhada em parar” a guerra de Israel na Faixa de Gaza e os ataques promovidos pelo governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que já deixaram mais de 29 mil palestinos mortos no enclave sitiado

Por conta de críticas contundentes do presidente Lula aos ataques promovidos pelo governo israelense em Gaza, Tel Aviv decidiu atacar o chefe de Estado brasileiro, declarando-o persona non grata.

Em resposta, Carvalho afirmou que a fala do presidente Lula expressa um desejo de obter a paz na região. Ele também lembrou que o presidente Lula em repetidas vezes condenou os ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023, quando cerca de 1.200 pessoas foram mortas em Israel, segundo Tel Aviv. 

Ele também criticou aqueles que buscam explorar as críticas de Lula para atacar o governo federal e citou o exemplo de judeus progressistas ao redor do mundo que têm se levantado contra o governo de extrema direita de Israel. 

Leia abaixo a íntegra da nota de Marco Aurélio de Carvalho: 

Lula é a única liderança mundial verdadeiramente empenhada em parar Netanyahu.

Nem Biden, nem os europeus estão conseguindo evitar que Netanyahu invada Rafah e ocupe a Faixa de Gaza.

É realmente importante que a fala do Presidente Lula seja analisada na exata dimensão em que foi proferida. Lula vai continuar buscando a paz entre as nações. E vai ter a oportunidade de explicar suas posições e deixar claro mais uma vez que condena com veemência os ataques terroristas do Hamas, e que também condena a manutenção de todos os reféns que ainda não foram libertados e a reação criminosamente desproporcional de Netanyahu.

Tenho certeza absoluta que Lula pautou um debate importante, e que abriu, com isso, uma oportunidade muito rica para um aprendizado coletivo.De toda sorte, a exploração política exagerada, desonesta  e oportunista do episódio não me parece ser o melhor caminho. 

O que espanta é que os textos a respeito do episódio não mostram a indignação que todos os humanistas deveriam sentir com a matança que está acontecendo em Gaza. 

Sim. Matança! De mulheres e crianças … de civis inocentes ! Quem seria capaz de negar isso?

Judeus progressistas do mundo todo têm se levantado corajosamente contra o que está ocorrendo na região. E é perfeitamente possível conciliar as indignações. Sem seletividade!

Podemos condenar com a mesma força o terrorismo odioso do Hamas, e a reação completamente criminosa e desproporcional do governo de extrema direita de Netanyahu. Qual a dificuldade?

Precisamos enfrentar o tema com toda a complexidade que ele tem, mas sem perder a coerência e o senso crítico. Mas para que não sejamos mal interpretados, reitero:

1. Toda a solidariedade do mundo aos judeus, ao povo de Israel e também ao povo palestino;

2. ⁠Que a história não se repita jamais. Precisamos, para isso, combater com toda a força e empenho o antissemitismo que nos cerca e assombra. E que ele não seja justificativa para explicar ou relativizar o horror e a barbárie desta guerra; 

3. ⁠Que possamos olhar para além dos muros, e enxergar que não existe um direito natural à reações desproporcionais… que não existe nada que justifique a morte banal e desnecessária de milhares de civis inocentes (e não importa o credo, a raça ou a cor);

4. ⁠Que possamos olhar para além dos muros e enxergar o sofrimento de milhões de pessoas que foram jogadas involuntariamente nesta guerra sangrenta que só produz morte e miséria;

5. ⁠Que os reféns sejam libertados imediatamente, e que a ONU seja empoderada adequadamente para mediar a paz na região e no mundo;

6. ⁠Que os responsáveis sejam devidamente penalizados;

7. ⁠E que, como diz a canção, não sejamos “indiferentes”.

Rock na madrugada – The Wallflowers, “I’m Looking Through You”

The Wallflowers em sua elegante versão do clássico dos Beatles, que entrou na trilha do filme “I am Sam”. Uma pérola do Fab Four revista por um herdeiro da aristocracia do rock: Jacob Dylan, filho de Bob, é o vocalista. Filho do bardo de Minesotta com Sara Dylan, fundou a banda em 1989 em plena efervescência do indie rock.

A estrela do campeonato

POR GERSON NOGUEIRA

Nicolas é o principal nome do Paraense até agora. Marcou seis gols em seis jogos e marcou o gol mais bonito da competição. Atuou sempre com absoluta determinação, lidera o time do PSC em campo e não desanima jamais, mesmo quando as coisas não estão funcionando conforme o planejado.

As melhores atuações ocorreram contra o Caeté, quando garantiu a vitória nos minutos finais de uma partida extremamente difícil, e diante do Águia, em Marabá, quando marcou duas vezes. Naquela tarde no Zinho Oliveira, ficou claro que o atacante vive uma fase iluminada.

No lance do segundo gol, a bola foi defendida parcialmente pelo goleiro Axel Lopes e voltou no rosto de Nicolas, encaminhando-se caprichosamente para as redes. Costuma-se dizer, em linguagem boleira, que quando a fase é boa a bola bate e entra. Foi exatamente o que ocorreu.

Contra o Remo, a equipe não foi feliz nas finalizações. Nicolas também fez sua pior partida no campeonato, quase não criando situações na área e desperdiçando a chance mais preciosa já nos minutos finais do clássico. Um desempenho inteiramente diferente do que mostrou em todo o torneio.

Diante do Cametá, no domingo, o posicionamento recuado da equipe da casa criou muitos obstáculos para o setor ofensivo do Papão. Durante o primeiro tempo, apesar da insistência, as oportunidades foram escassas.

Depois do intervalo, quando o jogo exigia uma atitude mais decidida, lá estava o goleador para cabecear e abrir o placar logo aos 2 minutos, quando a equipe cametaense parecia ainda desconcentrada. O cruzamento de Robinho veio perfeito e Nicolas, bem posicionado na área, só teve o trabalho de testar com convicção.

Parece um lance relativamente fácil, o que é revelador da aplicação dos jogadores envolvidos no lance. Robinho dando a assistência e Nicolas demonstrando uma de suas principais qualidades dentro da área: o faro para se posicionar corretamente à espera da bola.

A volta para casa fez muito bem a Nicolas. As coisas estão saindo melhor que a encomenda. Com o talento de artilheiro que sempre teve, ele tem aproveitado toda e qualquer oportunidade para deixar sua marca. Com isso, ajuda a disfarçar muitos problemas que o PSC apresenta, principalmente no setor de criação.

Deve-se a Nicolas, pelos gols que fez em cinco jogos, a liderança folgada que o time de Hélio Anjos tem hoje. Dos oito gols da equipe, seis são de Nicolas, quatro deles originados de iniciativa solitária dele. São méritos que afastam as desconfianças que surgiram quando ele chegou, vindo de uma temporada pífia no Ceará.

Leão carrega cobranças para a Copa do Brasil

Sob forte pressão pelas atuações pouco convincentes no Campeonato Estadual, o Remo enfrenta o Porto Velho (RO), hoje, na capital rondoniense, com a responsabilidade de estrear bem e classificar para a próxima fase da Copa do Brasil.

Além da importância pecuniária da competição, o Remo precisa se encontrar, mostrar capacidade de organização e finalmente revelar uma identidade, inexistente até este momento.

Com a vantagem do empate, garantida pelo regulamento, os azulinos mostram-se dispostos a buscar a vitória até como forma de dar uma satisfação ao torcedor, que vaiou a equipe e o técnico Ricardo Catalá no intervalo e depois da vitória sobre o Tapajós.

De certa forma, as cobranças recaem de maneira mais intensa sobre Catalá, que já admitiu que ainda não encontrou a formação ideal. Com Henrique e Renato Alves escalados para dar mais segurança à frágil dupla de zaga, o time deve mostrar evolução.

No ataque, tudo indica que Marco Antônio – o melhor reforço da temporada – e Felipinho irão jogar ao lado de Ribamar, que está cotado para entrar jogando, substituindo Ytalo.

Goleador Pikachu marcou 150 vezes

A título de esclarecimento, Yago Pikachu fez 150 gols na brilhante carreira. Três desses tentos foram marcados em amistosos, fato que é usado por alguns estatísticos e sites para diminuir os números do lateral mais goleador do Brasil. Os jogos não oficiais foram todos marcados quando Pikachu era atleta do PSC.

No total, pelo Papão, Pikachu balançou as redes 64 vezes. Pelo Fortaleza, 46. Pelo Vasco, 40. Os dados foram compilados, jogo a jogo, pelo competente pesquisador Jorginho Neves.   

O drama de um Botafogo traumatizado e sem comando

Depois do jogo com o Vasco, quando foi goleado por 4 a 2 em pleno estádio Nilton Santos, o técnico Tiago Nunes aproveitou a entrevista para reproduzir uma velha prática do Velho Lobo Zagallo. Sob ataque, culpava sempre o time pelas atuações ruins.

Tiago foi pelo mesmo caminho. Deixou escapar que alguns jogadores têm se mostrado frágeis emocionalmente, pedindo até para ficar fora dos jogos, ainda abalados pela pipocada na Série A 2023. Se o clima já não era dos melhores no clube, certamente vai azedar ainda mais daqui para frente.

Para sorte do burocrático comandante, a cúpula da SAF discorda da torcida e tende a prestigiar Tiago, mesmo com a campanha oscilante no Carioca e as escalações sem pé nem cabeça que tem utilizado.

(Coluna publicada na edição do Bola desta terça-feira, 20)