No sufoco, Leão volta a vencer

POR GERSON NOGUEIRA

O técnico Ricardo Catalá foi muito vaiado no intervalo da partida e depois do apito final também. É início de trabalho, todos compreendem, mas o pavoroso comportamento defensivo irritou os torcedores, desconfiados com as atuações nos clássicos contra PSC e Tuna. A vitória de virada significou a recuperação do Remo no campeonato, mas a repetição de erros deixou muitas dúvidas no ar quanto à confiabilidade do time.

Quando um time vence por dois gols de diferença fica a impressão de que impôs superioridade em relação ao oponente. Não foi bem o caso do confronto de ontem à noite, quando o Tapajós foi sempre organizado e perigoso quando investia em direção ao gol.

O gol tapajônico aos 20 minutos, com Elizeu aproveitando cobrança de escanteio, fez o torcedor reviver as aflições do clássico diante da Tuna, que também saiu na frente. Aos 25’, na primeira boa jogada bem tramada, a bola chegou a Marco Antônio na esquerda e o cruzamento saiu certeiro, nos pés de Ytalo, que desviou para as redes.

Nem mesmo a igualdade fez o Remo se tranquilizar. Seguiu sofrendo com as articulações do adversário, sempre iniciadas por Otávio e buriladas por Nilson, um dos melhores em campo. Um novo lançamento longo que garantiu a virada azulina ainda na etapa inicial: Ligger lançou Camilo no centro do ataque, o meia se livrou da marcação e bateu no canto direito de Cassiano, para colocar o Remo em vantagem.

Logo em seguida, Marco Antônio driblou um marcador dentro da área e chutou em direção ao gol, mas a bola desviou na zaga. Depois disso, foi só pressão do Tapajós buscando o empate, que quase veio com o zagueiro Sorriso, mas o lance foi anulado por impedimento, aos 49’.

Depois do intervalo, com Thalys substituindo Vidal na lateral direita, o Remo voltou mais adiantado, tentando errar menos. O duelo no meio-campo ficou mais equilibrado, com a participação de Henrique, muito empenhado em dar o primeiro combate à frente da zaga.

Nilson continuava jogando à vontade, sem muitos obstáculos para ir à frente e lançar bolas na área. Numa dessas tentativas, a zaga retomou e tocou para Camilo, que lançou Felipinho na direita. O ponta recebeu e fez um cruzamento perfeito para Ytalo no comando do ataque. Este deu um leve toque para Marco Antônio chegar e finalizar.

Um bonito gol, com a bola entrando no lado direito da trave de Cassiano. A vantagem de 3 a 1 poderia deixar o Remo menos atrapalhado nas ações pelo meio e nas tentativas de saída pelos lados. Lego engano.

O Tapajós seguiu mais presente no campo de defesa azulino, aproveitando o recuo da equipe. Ficou ainda mais perigoso depois que, por contusão, Marco Antônio e Felipinho foram substituídos por Echaporã e Kelvin.

O Remo só levou perigo outra vez quando Camilo cobrou uma falta com maestria, bem ao seu estilo, aos 34 minutos. A bola ia no canto esquerdo, mas Cassiano mandou para escanteio.

Quase ao final, Borel (que substituiu Tiago) acertou um tiro forte no travessão de Marcelo Rangel. O goleiro ainda salvaria a lavoura em chute rasteiro de Jaquinha que pegou efeito após resvalar em Ligger. Defesa milagrosa, de puro reflexo.

Vitória importante, excelente resultado, mas desempenho chinfrim, abaixo das expectativas da torcida, que voltou a vaiar o técnico no final.

Técnico não contesta vaias e vê evolução no time

O técnico Ricardo Catalá faz boas e comedidas análises dos jogos. Não costuma exagerar nos rapapés, nem fica com auto louvação, como é do feitio alguns. Melhor assim. Vaiado pela torcida azulina, que não se conforma com a derrota para a Tuna e nem esquece a pífia temporada de 2023, ele não perdeu a elegância nas respostas no pós-jogo.

Admitiu que não tem uma formação definida, por isso as experimentações e tentativas com vários jogadores. Atribuiu aos problemas de condicionamento o rendimento oscilante de alguns jogadores – Ligger, principalmente, que deixou a torcida com os cabelos em pé.

Fez questão de elogiar a boa participação de Henrique na marcação, a insistência com lançamentos longos, responsáveis pelos dois primeiros gols, e destacou o poder de reação do time, que saiu em desvantagem e conseguiu reagir rápido.

Por outro lado, não deixou de tirar uma casquinha, mencionando que na Série C do ano passado arrumou o time a partir da zaga e terminou o campeonato com a segunda melhor média na parte defensiva.

Precisa apenas explicar como a dupla titular da defesa não consegue nem afastar bolas fáceis em cobranças de escanteio. Mesmo em segundo lugar na classificação, o torcedor não se conforma em ver um time tão inseguro quando é atacado, por isso reage manifestando insatisfação.

Déficit de talento explica fracasso do basquete feminino

A torcida paraense foi incansável nas manifestações de carinho e incentivo à seleção brasileira de basquete feminino durante as três partidas do Pré-Olímpico, disputado na Arena Mangueirinho, semana passada. Apesar do apoio, isso não foi suficiente para empurrar o time à classificação.

As três derrotas puseram fim ao sonho da vaga olímpica para os Jogos de Paris. Em alguns momentos, a seleção até parecia perto de alcançar isso, como na estreia diante da Sérvia. Mesmo assim, a diferença de qualidade frente a australianas e germânicas foi gritante demais.

Na partida final, disputada no sábado, o placar nunca foi próximo da diferença necessária para classificar o time. Em muitos momentos, ficou escancarada aquela que é a maior deficiência do nosso basquete atual: a ausência de talentos.

Quem acompanhou todos os jogos saiu tristemente conformado. Sem jogadoras diferenciadas, como Paula e Hortência, voltar aos dias de glória será muito difícil, talvez impossível.   

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 15)

Rock na madrugada – Pink Floyd, “Shine On You Crazy Diamond”

Presente em qualquer lista de clássicos definitivos do rock, “Shine On You Crazy Diamond” aparece aqui numa versão ao vivo, capturada em Knebworth, 1990. A refinada qualidade instrumental do Pink Floyd está sempre em destaque, a partir da genialidade de David Gilmour, que assumiu o comando com a saída de Roger Waters.

A música é uma homenagem tocante a Syd Barrett, poeta e músico fundador da banda nos anos 60 e que mergulhou no abismo das drogas e da loucura, de onde nunca mais conseguiu sair. Morreu em 2006, vitimado por complicações de diabetes, mas jamais será esquecido.

Em 1973, quando o mítico “The Dark Side of the Moon” estourava nas paradas, Gilmour comentou ao Melody Maker sobre as incertezas que rondaram a banda depois que Barrett se retirou. Amigo do compositor desde a infância, o guitarrista conviveu com ele por apenas duas semanas no grupo. Sem ele, Gilmour e os companheiros acharam que o Pink Floyd podia acabar, o que não ocorreu.

Mesmo depois que empresários de Barrett entraram em embate jurídico com o grupo, as relações continuaram boas. Sem ressentimentos, eles aceitaram tocar e produzir várias canções no primeiro álbum solo de Syd, “The Madcap Laughs” (1970). Gilmour e o tecladista Richard Wright (já falecido) ainda trabalhariam em seu disco seguinte, “Barrett”.

O impressionante é que o “Diamante Louco” (Crazy Diamond) como era chamado foi tributado ainda em vida – a canção é de 1975.

O Diamante Louco agora brilha no céu. Shine, Syd!