Sangue, suor e (in)gratidão

POR GERSON NOGUEIRA

Há um elemento nas arengas do futebol que muitas vezes é subestimado pelos técnicos burocráticos e teóricos, pouco afeitos aos sentimentos que impactam no jogo. Raça. O torcedor costuma estabelecer uma régua de comparação entre jogadores, valorizando mais quem entrega mais. Os mais aguerridos são sempre mais respeitados e reconhecidos.

Até hoje a torcida bicolor lembra de João Tavares, Ércio, Sandro Goiano e Zé Augusto. Sinônimos de entrega em campo. Deixavam sangue, suor e lágrimas sobre o relvado. Perdiam dentes e unhas também. Tudo em nome de um objetivo maior: honrar dignamente o manto que vestiam.

Do lado azulino, François, Dutra, Roberto Diabo Louro e Agnaldo de Jesus pontificavam como atletas raçudos, capazes de tudo para garantir a vitória ou pelo menos derrotas honrosas, dependendo das circunstâncias.

Nos tempos atuais, até pelo fluxo de trocas e negociações, um ir-e-vir incessante que não permite relações longevas no mercado da bola, pouquíssimos jogadores criam raízes e vínculos afetivos definitivos com um clube. Esqueçam lendas como Niltons (Santos), Dinamites e Zicos, que faziam das camisas de seus times quase uma segunda pele.

O espírito guerreiro de doação física pelos times também acaba em segundo plano quando as relações profissionais não permitem laços mais duradouros. O que se tem mais é a história de atletas que têm um período mais longo de dedicação a determinados clubes.

É o caso do goleiro Vinícius, que vive hoje um estranho momento de desligamento involuntário no Remo. Não se pode dizer que está na galeria dos raçudos no sentido mais explícito e físico do termo.

O goleiro e capitão está, porém, inscrito na seleta lista dos heróis, pelos tantos anos dedicados à causa remista. Vinícius teve momentos icônicos em 2019 e 2021, ano confuso de glória e queda na Série B. Foi quem garantiu o único título do Remo na Copa Verde.

O perfil calmo e sereno talvez induza muitos a entender que não havia nele o aguerrimento que se espera dos heróis. Protagonizou heroísmos de outra maneira, com extrema dedicação e competência profissional.

Quase no mesmo perfil de temperamento do guardião azulino, Nicolas é o herói do momento no PSC. Da primeira vez, passou pouco mais de dois anos no clube, fazendo gols e construindo uma imagem de ídolo. Tornou-se ainda maior quando se empenhou em voltar ao ninho alviceleste.

E voltou em grande estilo, fazendo o que sabe fazer de melhor: gols. E que gols. Na quarta-feira, na Curuzu, fez uma jogada antológica. Do meio-campo, encobriu o goleiro do Bragantino e marcou o gol mais bonito do Campeonato Paraense.

Vinícius está de saída, cumprindo o que lhe resta de contrato, constrangido por um comportamento hostil por parte de algumas figuras do clube. Nicolas cumpre uma trajetória inversa e ascendente, provando o quanto ainda pode ser útil ao Papão. Coisas da vida, e do futebol.

Bola na Torre

O programa vai ao ar, em plena folia, sob o comando de Guilherme Guerreiro, às 22h, na RBATV. Giuseppe Tommaso e este escriba de Baião participam dos debates sobre a quarta rodada do Campeonato Paraense. A edição é de Lourdes Cezar.

Pré-Olímpico: mesa tirou ponto das brasileiras

Um erro cometido pela mesa do jogo Brasil x Austrália, na quinta-feira, na Arena Mangueirinho, com o registro em súmula de um ponto a mais para as australianas, prejudicou o Brasil dentro da acirrada disputa pela vaga olímpica. Era a rodada de abertura do Pré-Olímpico de Basquete Feminino e a seleção perdeu o confronto por cinco pontos (60 a 55).

A falha, inadmissível em tempos de tecnologia de ponta nas competições, chamou a atenção de Nelson Maués, ícone do basquete paraense, que estava no Mangueirinho. Segundo ele, o equívoco da mesa lembrou o ocorrido no Campeonato Brasileiro Juvenil nos anos 70, na partida entre Pará e Ceará, na qual trabalhava como apontador da súmula.

No final, com empate entre as duas equipes, todos já se preparavam para a prorrogação. Ao perceber um erro na contagem, Nelson informou ao árbitro principal que a equipe cearense havia vencido por um ponto.

No dia seguinte, na reunião técnica da CBB, Nelson foi elogiado pela maneira correta como agiu, própria de um verdadeiro desportista.

Sobre o jogo de quinta-feira, foi impressionante a distração da comissão técnica do Brasil, que não pediu a interrupção imediata para reparar o erro. Tanta gente no banco da seleção e ninguém anotou o erro. Comeram mosca. Na torcida, muitos perceberam e chegaram a gritar.

O placar baixo para os padrões normais refletiu a força das defesas sobre os ataques. Importante também foi a reação brasileira após a Austrália abrir 14 pontos no 2º quarto. O Brasil chegou a assumir a dianteira do placar, mas as australianas garantiram a vitória no último minuto.

Brasil duela com Argentina por vaga na França

Rivais históricos, brasileiros e argentinos repetem hoje, na Venezuela, um duelo marcado por emoções arrebatadoras. Os times participam do Pré-Olímpico de futebol e dependem de uma vitória para assegurar vaga para Paris. Aos trancos e barrancos, o time de Ramon Menezes venceu a Venezuela e agora depende de suas próprias forças para se classificar.

Para sorte do criticado Ramon, a Seleção conseguiu chegar à rodada final na 2ª colocação, com três pontos, atrás do líder Paraguai, que tem quatro. Argentina e Venezuela têm um ponto cada. Ao Brasil, cabe vencer os hermanos para classificar direto. Se empatar, vai depender do placar de Paraguai e Venezuela, mas ainda com boas possibilidades. 

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 11)

Ex-funcionário do TCE-PA é indiciado por ofensas racistas contra Benedita da Silva

Com informações do g1 Rio

O ex-funcionário do Tribunal de Contas do Pará (TCE/PA) foi identificado e indiciado pela Polícia do Rio como autor das ofensas racistas em uma rede social contra a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), em 2020. Júlio Marcos de Deus Saraiva vai responder por praticar e induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A pena é de 3 anos de reclusão e multa.

A denúncia por racismo e injúria foi feita contra um homem que, em uma postagem de rede social, chama Benedita, entre outros xingamentos, de “preta ridícula, beiçuda, nariz de tomada” e “negra idiota”. O servidor, que é formado em administração, também teceu ofensas contra os povos quilombolas na mesma postagem.

As investigações foram feitas pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

Durante o inquérito, foi constatado que Júlio Marcos já ocupou os cargos de assessor de gabinete da Secretaria de Administração do Governo do Pará, administrador do Tribunal de Contas do Estado do Pará, assessor da Assembleia Estadual Constituinte, assessor da Prefeitura Municipal de Belém, secretário de Comunicação de Cametá e assessor do Gabinete Civil do Governo do Pará.

O funcionário do TCE Júlio Marcos de Deus Saraiva — Foto: Reprodução

O ex-funcionário do TCE Júlio Marcos de Deus Saraiva — Foto: Reprodução

Ele também colaborou com vários meios de comunicação da região, embora não tenha o registro profissional de jornalista, nem formação na área. A equipe de reportagem do g1 tenta contato com Júlio Marcos e com o Conselho Regional de Administração do Pará (CRA-PA).

A publicação foi feita após o TSE aprovar uma consulta criada pela parlamentar que determina a distribuição proporcional dos recursos de campanha e também do tempo de televisão a candidaturas pretas a partir de 2022.

“Mulher feia, insípida, inodora, incolor, preta ridícula, beiçuda, nariz de tomada, essa vagabunda criou uma lei, que dá para quem e quilombola, (preguiçosos e lerdos) e preto em geral, cota de 20 % nos partidos na próxima eleição, vai inviabilizar os partidos, só podia ser coisa dessa negra idiota, líder da esquerda evangélica”, escreveu o servidor em seu perfil.

Publicação que teria sido feita por Júlio — Foto: Reprodução

Publicação que teria sido feita por Júlio — Foto: Reprodução

À época, a postagem gerou revolta e inúmeros internautas denunciaram o perfil do homem, assim como iniciaram uma campanha de solidariedade à Benedita da Silva nas redes sociais. Horas depois o homem, que se dizia “administrador especialista em gestão com pessoas”, apagou a publicação, no entanto, os prints começaram a circular por todo o país e o suspeito bloqueou suas redes sociais.

O QUE DIZ O TCE/PA

Em nota, o Tribunal de Contas do Estado do Pará (TCE/PA) informou que Júlio Marcos de Deus Saraiva não é servidor do TCE/PA desde fevereiro de 2017.

“Sobre o assunto, o Tribunal de Contas do Estado do Pará esclarece que o Sr. Júlio Marcos de Deus Saraiva, não é servidor deste TCE/PA, desde 05/02/2017, quando foi exonerado do cargo comissionado de assistente de transporte, função na qual permaneceu por cerca de dois anos. (…) Por fim, o Tribunal de Contas do Estado do Pará repudia qualquer tipo de atitude, independente do meio utilizado, que venha a caracterizar práticas de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, ou procedência nacional”, dizia a nota.

Rock na madrugada – Genesis, “Invisible Touch”

Puro suco dos trepidantes anos 80, “Invisible Touch” (álbum Invisible Touch, de 1986) é uma obra-prima do Genesis, num momento em que a banda já não tinha mais Peter Gabriel (1967 a 1975) e Steve Hackett (1971 a 1977) nem cultivava mais a fixação no rock progressivo. Phil Collins havia assumido os vocais, deixando a bateria com Chester Thompson. Sucesso de dimensões planetárias, a canção mostra Collins em plena forma e a levada de guitarra contínua e quase marcial de Mike Rutherford é um dos pontos altos do arranjo.

O videoclipe (com Tony Banks nos teclados) captura um pouco da convivência alto astral da banda. A letra tem tintas românticas, como quase tudo do Genesis:

Ela parece ter um toque invisível, sim
Ela chega e agarra seu coração
Ela parece ter um toque invisível, sim
Ele assume o controle e lentamente despedaça você.