O adeus anunciado de Klopp

POR GERSON NOGUEIRA

Jürgen Klopp assombrou o mundo do futebol na semana passada ao anunciar que ficará no comando do Liverpool somente até o fim da temporada 2023/2024. Um casamento pleno de sucesso tem dia e hora para acabar, e ninguém estava preparado para isso.

Ao contrário de outros treinadores consagrados, ele nunca abraçou a soberba tão cultivada por José Mourinho e Jorge Jesus, por exemplo. Aquele cara que sabe tudo e se vê como absolutamente invencível.

Klopp conquistou títulos importantes no Liverpool, devolveu protagonismo aos Reds e vinculou sua história ao clube e à torcida com incrível naturalidade. Brilhante nas formulações de jogo, ele fez do time um dos mais temidos da Europa, sem deixar de ser também um comprometido com as arquibancadas.

Entraram para a história as arrancadas dele após gols importantes e o extremo carinho com seus jogadores, que não impedem gestos amáveis com os adversários. Talvez essa generosidade justifique tantas manifestações de outras personalidades do futebol nos últimos dias.

Pep Guardiola lamentou a despedida, num primeiro momento, mas cravou em seguida que o alemão vai voltar. Talvez volte, mas se a aposentadoria for definitiva não há como negar sua importância no futebol deste século.

Uma década de trabalho sério e inventivo deram a Jürgen Klopp a respeitabilidade que poucos de sua geração conquistaram. De temperamento forte, ele exercitou no Liverpool a explícita alegria de ser parte do jogo, reagindo emocionalmente nos grandes momentos.

Suas ideias sempre claras, sobre democracia e contra o fascismo, não impediram que também se colocasse como um defensor do futebol moderno, organizado e ofensivo.

Um outro ponto que marca a trajetória profissional de Klopp é a facilidade para fazer com que seus jogadores cresçam e apareçam. Salah e Mané são exemplos bem óbvios disso. Antes de trabalharem com ele não tinham o brilho conquistado depois.

Faz com que jogadores recrutados em outros clubes, como o uruguaio Darwin Núñez e o colombiano Luis Díaz, sejam vistos com outros olhos. É quase um alquimista. Torna boleiros medianos em jogadores acima da média. É um mérito e tanto.  

Na Copa da Alemanha, em 2006, conheci Klopp pela TV estatal. Um comentarista descontraído, com pinta de popstar. Não entendia alemão, mas colegas fluentes no idioma diziam que ele era um analista antenado e brilhante. 

O tempo mostrou que o palpiteiro das análises fez a transição perfeita para a beira dos gramados, onde se tornou gigante.  

O Águia e a incrível volta do ‘técnico pródigo

Ninguém entendeu direito a súbita mudança de embocadura, mas o fato é que o técnico campeão paraense de 2023, Mathaus Sodré, está de volta ao futebol local para comandar o Águia, a quem havia abandonado em plena campanha da Série D do Campeonato Brasileiro.

Na ocasião, Sodré alegou como justificativa para deixar o clube diferenças com “alguns dirigentes”. Como no futebol não há praticamente nada que seja irreversível, as tais desavenças devem ter sido plenamente superadas para que o ex-técnico volte ao clube de origem.

É óbvio que, em termos práticos, nada mudou. O Águia continua com o mesmo corpo diretivo e não há notícia de qualquer mudança de filosofia interna. Na prática, quem parece ter mudado de posição é o próprio Sodré, que depois de deixar o Águia assumiu o comando do Itabuna, da Bahia.

Com o desligamento de Rafael Jaques logo após a derrota para o PSC, sábado, por 3 a 0, a diretoria saiu à caça de um substituto. Sodré, pelos méritos da campanha vitoriosa no Parazão passado, era um candidato óbvio. Alguns minutos de prosa bastaram para convencê-lo a voltar.

Em nota dirigida à direção do Itabuna, Mathaus Sodré se despediu, informando sobre o retorno ao Águia, alegando ter “um compromisso com jogadores, diretoria e povo marabaense”. Vá entender.

O técnico será apresentado na quarta-feira e terá um sério desafio pela frente. O Águia tem somente dois pontos no campeonato e precisa ser repaginado para encontrar o caminho das vitórias.

Pedro Vítor é confirmado no elenco azulino

Uma boa notícia para a torcida azulina. O Remo informou ontem sobre a renovação de contrato com o atacante Pedro Vítor, um dos remanescentes da temporada de 2023. Lesionado no clássico com o Paysandu, o jogador ficou meses em recuperação e deve voltar aos treinos nas próximas semanas.

Pedro Vítor foi o principal jogador da flopada campanha azulina, que começou com Marcelo Cabo e se encerrou com Ricardo Catalá. Enquanto foi dirigido por Cabo, Pedro Vítor era utilizado de um lado só do ataque, como um ponta fixo pela esquerda.

Teve atuações irregulares, como muito mais erros do que acertos. Não se firmava, apesar da habilidade que demonstrava em campo. As tomadas de decisão eram sempre questionadas e geraram críticas.

Na decisão contra o Corinthians, na Copa do Brasil, desperdiçou uma chance preciosa no primeiro tempo. Poderia acionar Muriqui, que entrava livre na grande área, mas decidiu finalizar e o tiro saiu torto, por cima da trave.

Só um dos muitos exemplos dos vacilos que não permitiam a Pedro Vítor se firmar. Com a saída de Cabo e a chegada de Catalá, ele se transformou. Ganhou mais liberdade para atacar pela direita, derivando para o meio com dribles e arrancadas.

Foi assim que conquistou o torcedor e ajudou o Remo a fazer uma boa campanha de recuperação na Série C, após o início desastroso com quatro derrotas nas quatro primeiras rodadas.

Foi o Pedro Vítor da Série C que encantou a torcida. Se reeditar as boas atuações, tem tudo para ser um bom reforço para os desafios da temporada.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta terça-feira, 30)

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