Remo anuncia oficialmente mais duas contratações

O Clube do Remo anunciou nesta segunda-feira mais duas contratações para a temporada 2024: o zagueiro Ligger e o lateral-esquerdo Raimar.

Ligger, de 35 anos, é natural de Santo Amaro-BA. O defensor tem passagens por times como Icasa, Guarani de Juazeiro, Cianorte, Juazeiro-CE, Oeste, Sheriff, da Moldávia, Joinville, Fortaleza, Red Bull Brasil, Red Bull Bragantino, Bahia, São Bernardo e Grêmio Novorizontino, onde disputou a última Série B.

Chegando ao Leão, o novo atleta remista deu suas primeiras palavras. “Agradecer a Deus por mais uma oportunidade na carreira. Estou feliz e ainda mais motivado por estar vestindo uma camisa de respeito, de um dos grandes clubes do Brasil, o Maior do Norte. Chego com grandes expectativas e com muito trabalho ao lado do nosso torcedor remista vamos conquistar todos os objetivos da temporada”, disse. 

Já Raimar, de 21 anos, retorna ao Remo para sua segunda passagem vestindo o manto azulino. Natural de Manaus-AM, o lateral jogou no Leão em 2021 e conquistou o título da Copa Verde. Atualmente, estava atuando em Portugal, no Nacional e tem no currículo clubes como Paraná, Athletico Paranaense e Atlanta United, dos EUA.

O lateral comentou sobre vestir a camisa do Remo novamente. “Estou muito feliz com meu retorno ao Rei da Amazônia. Um clube que tenho um carinho enorme por já ter jogado. Quando me despedi virei um torcedor e estava sempre torcendo para que o clube ganhasse, conquistasse o acesso. Hoje volto com a ambição de poder conquistar os objetivos do clube e poder dar alegria à torcida azulina que sempre nos apoia”, contou.

FICHA TÉCNICA

LIGGER
35 anos
Zagueiro

Nome completo: Ligger Moreira Malaquias
Data de nascimento: 18/05/1988
Naturalidade: Santo Amaro-BA
Peso: 83kg
Altura: 1,86cm
Clubes: Icasa, Guarani de Juazeiro, Cianorte, Juazeiro-CE, Oeste, Sheriff, da Moldávia, Joinville, Fortaleza, Red Bull Brasil, Red Bull Bragantino, Bahia, São Bernardo e Grêmio Novorizontino

RAIMAR
21 anos
Lateral-esquerdo

Nome completo: Raimar Rodrigues Lopes 
Data de nascimento: 27/05/2002
Naturalidade: Manaus-AM
Peso: 67kg
Altura: 1,75
Clubes: Paraná, Athletico Paranaense, Clube do Remo, Atlanta United, dos EUA e Nacional, de Portugal.

(Do site oficial do Clube do Remo)

A frase do dia

“Sob o argumento de não chocar os leitores, jornais evitam publicar imagens de crianças palestinas mortas ou feridas. Mas até agora não se conhece a justificativa para esconder as fotos das grandes manifestações ao redor do mundo contra o genocídio promovido por Israel”.

Lula Falcão, jornalista e escritor

Leão segue na liderança do Ranking da CBF na Região Norte

O Ranking Nacional de Clubes da CBF traz o Remo à frente na Região Norte. O Leão está na 41ª posição, com 3.525 pontos, enquanto o PSC está na 44ª colocação, com 3.146 pontos.

Torcidas de Remo e Paysandu — Foto: Thiagos Gomes/O Liberal e John Wesley/Paysandu

Torcidas de Remo e Paysandu — Fotos: Thiagos Gomes/O Liberal e John Wesley/Paysandu

Em comparação com a última atualização, o Remo caiu três posições. O Paysandu também viu um time passar na frente. A CBF monta o ranking fazendo um apanhado das últimas cinco temporadas de cada clube. Para cada ano há um peso diferente, com o último sempre tendo peso 5x. Mesmo com o acesso à Série B 2024, o PSC permanece atrás do Remo.

Nos últimos cinco anos, o Leão disputou a Série B uma vez, enquanto o Papão só esteve na Terceira Divisão.

Veja como estão os times paraenses no ranking da CBF:

  • 41° – Remo
  • 44° – Paysandu
  • 88° – Tuna Luso
  • 92° – Águia de Marabá
  • 112° – Castanhal
  • 173° – Bragantino-PA
  • 189° – Paragominas
  • 199° – Independente-PA
  • 215° – São Raimundo-PA

Leão prepara anúncio de mais cinco reforços

O Remo segue ativo no mercado e prepara o anúncio de novos últimos contratados para a temporada de 2024. Até o momento, nove jogadores já foram oficializados. Nos próximos dias, mais cinco atletas – que já estão acertados – serão divulgados através das redes sociais azulinas.

O Leão já definiu as contratações dos zagueiros Ligger, ex-Novorizontino-SP, e Habraão, que na última Série B jogou pelo ABC-RN e pertence ao Fortaleza-CE; do lateral-direito Patrick, campeão da Série C com o Amazonas; do ponta Jaderson, ex-Tombense, mas ainda vinculado ao Athletico-PR; e também do lateral-esquerdo Raimar, que atuou no Leão em 2021, e que estava no Nacional da Ilha da Madeira.

Todos ficarão no Leão até o final da Série C 2024. Com exceção de Raimar, que deve se apresentar no próximo dia 15 de dezembro, os demais terão que cumprir férias por terem encerrado suas atividades no final de novembro, disputando a Série B deste ano.

Antes dessa lista, o Remo já havia anunciado Camilo, Ytalo, Daniel, Renato Alves, Leo Lang, Ícaro, Reniê e Giovanni Pavani. Nos últimos dias, surgiram especulações em torno do goleiro Muriel, ex-Fluminense.

Os novos reforços do Leão:

Habraão

Com apenas 22 anos, Habraão fez boa parte da sua curta carreira no Fortaleza onde acabou se destacando nas categorias de base. Em 2023, ele disputou a Série B pelo ABC-RN, através de empréstimo e chega avalizado pelo executivo de futebol Sérgio Papellin.

Ligger

Com 35 anos de idade, o zagueiro Ligger acumula passagens por Icasa-CE, Oeste-SP, Fortaleza-CE (com Sérgio Papellin), Red Bull Bragantino-SP (por 3 temporadas), Bahia-BA, São Bernardo-SP e, por último, no Grêmio Novorizontino-SP, onde atuou nos últimos dois anos – e na Série B de 2023 atuou em 22 dois 38 jogos.

Jaderson

Revelado pelo Athletico-PR, onde contribuiu para a conquista da Sul-Americana em 2019, Jaderson, de 23 anos, tem passagens por Santa Cruz e Sport Recife. Recentemente, defendeu o Tombense, participando de 26 dos 38 jogos na Série B.

Patrick

Com marcante passagem pelo Atlético-MG, onde atuou por 8 anos, o lateral-direito Patrick, de 34 anos, recentemente foi campeão brasileiro da Série C, atuando pelo Amazonas-AM. Ele também já jogou no Criciúma, São Caetano, América-MG, Cruzeiro, Ponte Preta, Coritiba, Avaí, Náutico e Sport.

Raimar

Após sair do Leão, Raimar atuou nos Estados Unidos vestindo a camisa do Atlanta United, nos anos de 2022 e 2023, onde jogou 31 partidas e marcou 5 gols, Na sequência, ele foi transferido para o Nacional da Madeira, de Portugal. Até o momento, ele disputou 3 jogos e marcou 1 gol no time lusitano. Na sua passagem pelo Remo, emprestado pelo Atlético Paranaense, Raimar jogou 17 partidas sem marcar gols.

(Com informações de Magno Fernandes)

Repúdio à expulsão de Dom Azcona da Prelazia do Marajó

O Instituto Dom Azcona (IDA) divulgou nota pública de repúdio pela expulsão do bispo da Prelazia do Marajó:

“Neste sábado, 9 de dezembro de 2023, véspera do aniversário de 75 anos da Declaração Universal de Direitos Humanos, fomos surpreendidos com a expulsão do Bispo Dom José Luís Azcona da Prelazia do Marajó. Por mais de 40 anos, Dom Azcona dedicou sua vida ao serviço incansável em prol da comunidade, especialmente no enfrentamento ao abuso sexual de crianças e adolescentes e ao tráfico de pessoas.

Sua atuação corajosa e comprometida trouxe luz a questões tão delicadas e fundamentais para o bem-estar de nossa população. Dom Azcona é incansável em sua luta pela proteção das vítimas, pela justiça, no combate às desigualdades, enfrentando desafios e resistências com determinação e coragem.

A expulsão de Dom Azcona representa um desrespeito não apenas a ele, mas também à nossa comunidade. É inadmissível que um líder tão exemplar, que dedicou sua vida em prol do próximo, seja tratado desta forma injusta e arbitrária.

Exigimos que as autoridades eclesiásticas reconsiderem essa decisão e restabeleçam o Bispo Dom José Luís Azcona em seu posto na Prelazia do Marajó. Sua presença é indispensável para continuarmos avançando na luta contra o abuso sexual de crianças e adolescentes e o tráfico de pessoas.

Reafirmamos nosso apoio incondicional a D. Azcona e nos colocamos ao seu lado nessa batalha por justiça e dignidade. Não descansaremos até que sua expulsão seja revertida e sua honra restaurada”.

Rock na madrugada – The Smiths, “Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before”

“E a dor foi suficiente para fazer um budista tímido e careca refletir e planejar um assassinato em massa”.

Este verso clássico marcou fortemente a discografia dos Smiths e do próprio Morrissey. Na Inglaterra dos anos 80, tão acostumada a bandas que rompiam padrões, a canção “Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before” significou uma guinada importante no rock um tanto sombrio que prevalecia à época.

The Smiths surgiu em Manchester, em 1982. Fez sucesso inicialmente no circuito das rádios universitárias, fundamental para divulgar a música indie. A dupla criativa, Morrissey e Johnny Marr, também guitarrista, conseguiu segurar as pontas até 1987, quando o grupo se separou. Além deles, integravam a banda o baixista Andy Rourke (já falecido) e o baterista Mike Joyce.

Inserida no álbum “Strangeways, Here We Come” (1987), a canção expõe em primeiríssimo plano o talento de Marr na guitarra e a linha de baixo executada por Rourke. O clipe traz imagens da banda circulando pelas ruas de Manchester. Morrissey diria anos depois, em sua biografia, que não curtia o vídeo, que é um dos mais elogiados da curta história dos Smiths.

Vaticano comunica que D. José Luiz Azcona vai deixar a Prelazia do Marajó

O bispo emérito do Marajó, Dom José Luis Azcona Hermoso, vai deixar a Prelazia do arquipélago, por determinação do Vaticano. A informação foi confirmada pelo pároco de Soure, padre José Antônio, em comunicado aos fieis depois de muitas perguntas a respeito do assunto. O motivo da mudança e os próximos passos do bispo não foram informados oficialmente.

“Queridos paroquianos, diante das perguntas acerca da informação sobre a saída e D. José da Prelazia do Marajó, devo dizer que, infelizmente, é verdade. Dom José recebeu um comunicado da Nunciatura Apostólica do Brasil, onde afirma que deve deixar a prelazia do Marajó. São essas as informações que tenho até o momento. Rezemos por nosso eterno pastor”, afirmou.

Dom Azcona está em viagem e ainda não se pronunciou publicamente sobre a situação. A expectativa é de que ele deixe o Marajó a partir de 13 de janeiro quando D. José Ionilton Lisboa chegar para assumir a prelazia. O provável destino do religioso é uma casa de recolhimento para bispos em Belém, o que na prática representa uma aposentadoria.

Com mais de 30 anos de Marajó, Azcona é um dos mais profundos conhecedores da realidade marajoara. Também por isso é combativo em relação à exploração sexual infantil  e ambiental, desagradando políticos, latifundiários e até religiosos.

Foi D. Azcona, por exemplo, quem recebeu a denúncia de possíveis crimes sexuais praticados dentro da igreja pelo arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, e que deu encaminhamento ao processo que foi encerrado sem a condenação do religioso.

(Com informações do site Notícia Marajó)

Campeonato inesquecível – e ruim

POR GERSON NOGUEIRA

O nível do futebol brasileiro ficou cruelmente exposto na Série A deste ano, vencida pelo Palmeiras do paraense Rony. O vice-campeão Grêmio teve no veterano Luis Suárez seu grande destaque, eleito o craque da competição. Mesmo em fase decadente, com joelhos estropiados, Luizito brilhou  e quase levou seu time ao título nacional. Essa situação surpreendente diz mais sobre o Campeonato Brasileiro do que sobre o goleador em fim de carreira.

Um campeonato que começou com outra espantosa novidade. A partir da terceira rodada, o Botafogo assumiu a liderança, passou a acumular pontos e emendar vitórias. Chegou a botar 15 pontos de vantagem na reta final do turno. Ninguém conseguia acompanhar o ritmo do Alvinegro.

É bem verdade que muitas equipes de ponta estavam preocupadas com outras competições – Libertadores e Copa Sul-Americana. Mas nem isso explicava a sensacional caminhada botafoguense. A troca de técnico, com a saída de Luís Castro, foi contornada com a chegada de Cláudio Caçapa, que manteve a pegada vitoriosa.  

A incredulidade reinava. Ninguém entendia como o time medíocre do Campeonato Carioca tinha se transfigurado a ponto de tomar a liderança do Brasileiro e não permitir qualquer aproximação.

Enquanto isso, o Flamengo patinava sob o comando de Jorge Sampaoli. Sem conseguir ser competitivo, começou a perder jogos seguidos e mergulhou em crise, que proporcionou até briga nos vestiários. O artilheiro Pedro foi esmurrado pelo auxiliar técnico.

O Atlético-MG aparecia nas últimas posições. Felipão vivia fustigado pelas críticas. O que melhor se saía, distante do Botafogo, era o Palmeiras. O Grêmio, recém-saído da Série B, tinha em Luis Suárez a grande estrela, mas o time mantinha-se longe das primeiras colocações.

De maneira geral, o nível era fraco, com exceção de bons jogos realizados pelo Botafogo de Tiquinho Soares, artilheiro do primeiro turno, e seus companheiros Eduardo, Tchê Tchê, Adryelson e Lucas Perri. Os dois últimos se saíram tão bem que foram convocados para a Seleção.

Quando o turno acabou ninguém em sã consciência duvidava mais do Botafogo, que passou a ser visto como o futuro campeão. Talvez essa confiança excessiva tenha atrapalhado o time apenas regular e objetivo agora comandado pelo português Bruno Lage.

Com ele, o “tapetinho” do estádio Nilton Santos perdeu sua invencibilidade, justamente contra o rival Flamengo. Esse tropeço foi o primeiro sinal da derrocada que viria a seguir. Ainda assim, o time se mantinha 10 pontos à frente do Palmeiras quando Lage foi demitido.

Lúcio Flávio assumiu e o Botafogo mergulhou de vez ladeira abaixo. Houve nova troca de comando, e quando Tiago Nunes assumiu na 33ª rodada a liderança escapou. Para isso, contribuiu muito a derrota de virada para o Palmeiras, repetida depois diante do Grêmio de Luizito.

Reparem que estamos falando de um campeonato diferente de tudo até a 33ª rodada. O Botafogo era o grande protagonista, mas caiu de rendimento e foi incapaz de obter novas vitórias. Aí, o Palmeiras finalmente deu as caras. Mesmo sem brilho, conquistou o bicampeonato.

O nível técnico foi sofrível, com os times oscilando muito. O Grêmio, vice-campeão, teve a quarta pior defesa. O campeão chegou aos 70 pontos, mas esteve ameaçado até a penúltima rodada, o que acrescentou certa emoção à disputa final. 

No fim das contas, o Brasileiro vai ficar marcado pelo futebol aquém do esperado e por um curioso desfecho: vencido pelo Palmeiras e perdido pelo Botafogo.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 22h, na RBATV. Giuseppe Tommaso e este escriba baionense participam dos debates. Em pauta, os preparativos da dupla Re-Pa para a temporada de 2024. A edição é de Lino Machado.

STJD decide: toda homofobia será castigada

No feriado de Conceição e Iemanjá, o torcedor do PSC foi surpreendido com uma notícia impactante: o técnico Hélio dos Anjos foi condenado pelo Pleno do STJD a cumprir suspensão de nove partidas, enquadrado por ofensas graves e homofobia. Significa que o treinador desfalcará o Papão à beira do gramado nos jogos iniciais da Copa do Brasil e da Série B.

Os incidentes ocorreram na partida Paysandu x Volta Redonda, na Série. Punido inicialmente com multa de R$ 1 mil e nove partidas de suspensão, o treinador teve a multa majorada para R$ 20 mil e mantida a pena inicial.

O recurso do clube foi julgado e a decisão proferida por unanimidade, não cabendo mais recurso. O setor jurídico do clube se movimenta para pedir a transformação da pena em serviços sociais ou comunitários, embora seja pouco provável que essa iniciativa seja acatada.

Na súmula, o árbitro narrou que aos 45 minutos do 2º tempo expulsou Hélio de maneira direta porque após o quarto árbitro levantar a placa de acréscimos, o técnico proferiu aos gritos as seguintes palavras: “vai tomar no c* c******, só 5 minutos” e “tá de sacanagem, veio aqui roubar nós”.

Não satisfeito, após o apito final, o técnico invadiu o campo e foi atrás do assistente Bruno Muller, xingando-o com termos homofóbicos. “O STJD não pode ser complacente com práticas discriminatórias, pois já passou da hora de adotarmos medidas enérgicas com penas relevantes e com caráter pedagógico na tentativa de cessar esse tipo de comportamento odioso, lastimável e inconcebível”, afirmou o auditor Maurício Fonseca.

E acrescentou: “Em certa medida, o mundo do futebol precisa encontrar-se com práticas de educação em direitos humanos. A educação em direitos humanos poderá atuar na mudança de corações e mentes que hoje destilam preconceitos que levam até a morte. Essas práticas devem alcançar atletas, comissão técnica, sócios, funcionários, patrocinadores e a torcida”.

Que a lição seja aprendida. 

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 09)

Deu no New York Times: “Onde os sabores da Floresta Amazônica se deliciam”

Por Seth Kugel, no The New York Times

Na cidade portuária de Belém, obcecada por comida, pratos doces, salgados e às vezes viciantes são feitos com ingredientes frescos que são difíceis de encontrar no Rio de Janeiro, muito menos fora do Brasil.

Um visitante estrangeiro que caminhasse pela Praça Brasil, uma praça arborizada na cidade portuária amazônica de Belém, poderia pensar que o zumbido dos liquidificadores em uma dúzia de carrinhos de comida próximos estava criando as tigelas de açaí mais autênticas do planeta.

Isso faria sentido, pois Belém é a capital do estado do Pará, o epicentro global do cultivo, colheita e exportação de açaí, e as lojas de smoothies de mirtilo que viraram superfrutas são a atração principal em todo o mundo. Mas em Belém, a fruta roxa é consumida principalmente como acompanhamento saboroso para peixes e camarões, e a mistura vendida na Praça Brasil – chamada guaraná da Amazônia – é um shake cheio de proteínas cujos ingredientes incluem castanha de caju, amendoim e um xarope feito de sementes de guaraná, que lembram grãos de café na aparência, mas os superam no teor de cafeína.

Os shakes raramente estão disponíveis fora da Amazônia. O mesmo pode ser dito de muitos pratos populares nesta cidade de 1,5 milhão de habitantes obcecada por comida, aqueles feitos com ingredientes frescos – com nomes indígenas como tucupi, jambu, taperebá e pirarucu – que são difíceis de encontrar no Rio de Janeiro, muito menos fora do Brasil. Neste outono, visitei Belém por três dias e comi até morrer, indo a cerca de 20 restaurantes e lanchonetes, devorando comidas e bebidas tão diferentes até mesmo da norma brasileira que parecia que havia tropeçado em algum reino culinário secreto.

Atrações em uma cidade portuária amazônica

Um guaraná da Amazônia custa cerca de 20 reais, ou pouco mais de US$ 4, a 4,90 reais o dólar, e sim, pode ser pedido com açaí misturado. Mas os shakes ficam melhores com bacuri, uma fruta com notas adjacentes de maçã que aparentemente todo mundo ama. Adicione-o à lista de ingredientes que você encontra fora da região apenas congelados, se houver.

Isso porque o bacuri fresco, como muitos outros ingredientes cultivados regionalmente, viaja mal. O mesmo acontece com muitos turistas, cuja única parada urbana na Amazônia brasileira é a não tão deliciosa Manaus, a cinco dias de barco ou duas horas de avião de Belém, e a base mais acessível para se aventurar em eco-resorts da floresta tropical ou em passeios de barco sofisticados.

No entanto, isso irá mudar, à medida que Belém melhorar a sua infraestrutura para receber dezenas de milhares de visitantes em 2025, quando acolher a COP30, a 30.ª edição da conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas.

Os visitantes encontrarão o Ver-o-Peso, um movimentado mercado de peixes, frutas e castanhas-do-pará da Amazônia; restaurantes e lojas de luxo na Estação das Docas, situada em armazéns ribeirinhos reformados do século XIX; e um centro histórico que vai do charmoso ao degradado e abriga o único hotel boutique da cidade, o Atrium Quinta das Pedras. Há também escapadelas que vão desde passeios de um dia à vizinha Ilha Combu para experimentar a vida fluvial ou excursões noturnas à Ilha do Marajó, com 16.000 milhas quadradas, lar de inúmeros búfalos (e sua carne e queijo).

Embora a região mais ampla ofereça essas e outras aventuras baseadas na floresta tropical, as três principais atrações da área urbana de Belém são o café da manhã, o almoço e o jantar. Apropriadamente, um dos influenciadores mais reconhecidos da cidade tem tudo a ver com comida.

Marcos Antônio Gonçalves Bastos, conhecido pelo apelido de infância, Médici, documentou a culinária local em sua conta no Instagram. Ele compara os belemenses aos italianos na forma como cuidam e protegem a tradição local. “Dizem que algo feito de determinada maneira nunca deve mudar”, disse Medici, citando a indignação entre os puristas quando alguém adicionou beterraba à sopa de camarão chamada tacacá para criar uma versão da Barbie neste verão.

O verdadeiro tacacá é amarelo turvo porque sua base é o tucupi, talvez o sabor mais marcante e viciante da região, criado há séculos por grupos indígenas. O tucupi é feito espremendo a raiz amarga da mandioca, deixando o amido da tapioca assentar à medida que o líquido fermenta, depois adicionando temperos e cozinhando-o por dias para remover o cianeto de hidrogênio que ocorre naturalmente – e é venenoso. O resultado não é tanto doce e azedo, mas sim azedo e doce, e combina magicamente bem com arroz e peixe, e estrela o prato local de pato, “pato no tucupi”.

Às vezes o tucupi funciona como um caldo, outras vezes é mais um molho ou, quando misturado com pimenta e engarrafado, um condimento. Medici, que se juntou a mim em parte da minha extravagância alimentar, apenas chama isso de “meu sangue”.

Repórteres de viagens do Times. Quando nossos redatores avaliam um destino, eles não aceitam serviços gratuitos ou com desconto ou, na maioria dos casos, revelam que trabalham para o The Times. Queremos que a experiência deles seja o que você pode esperar.

O tucupi vira tacacá quando combinado com fécula de tapioca, pequenos camarões secos e outro alimento indispensável e onipresente da culinária amazônica: o jambu, cujas folhas e às vezes flores são adicionadas indiscriminadamente, mas deliciosamente, a quase tudo, inclusive em coquetéis. Ele contém um anestésico natural que causa uma dormência agradável nos lábios e na língua que realça outros sabores de forma contra-intuitiva. “Tucupi e jambu são como nosso presunto e queijo”, disse Médici. “Se pudéssemos colocá-los em tudo, nós o faríamos.”

A large plate holds rice, stew, and a large portion of fried fish, vegetables and shrimp.
No Box da Lúcia o prato de filhote frito leva camarão, legumes e arroz. Crédito: Alessandro Falco para o The New York Times

Tacacá é uma comida de rua tão popular que muitas vezes empresta seu nome a barracas de rua ou restaurantes informais que servem uma série de outros pratos, da mesma forma que uma barraca de taco serve quesadillas e burritos. Um dia almocei no Tacacá MJ, espremido entre uma barraca de conserto de relógios e uma barraca de doces, dirigida por um jovem simpático chamado Diego Lublime, que mantém as coisas tão organizadas quanto pode, considerando que a área de estar do restaurante é apenas uma fila de plástico. cadeiras compartilhando uma calçada movimentada no centro da cidade com pedestres em alta velocidade.

“Sente-se! Almoçar!”, ele me contou, e eu peguei o prato combinado de vatapá, caruru e maniçoba, coberto com o previsível emaranhado de jambu. Vatapá é um ensopado cremoso de camarão, caruru um mingau de camarão e quiabo engrossado com farinha de mandioca e maniçoba um ensopado de carne de porco cujo ingrediente principal é a maniva, folhas moídas da mandioca amarga cozida por cerca de sete dias para retirar o cianeto. Pratos com os mesmos nomes existem em outras partes do Norte e Nordeste do Brasil, mas com variações. Na Bahia, o vatapá é principalmente um acompanhamento feito com amendoim e castanha de caju, enquanto no Pará é um prato principal sem nozes.

Um axioma da alimentação aventureira é que se você gosta de tudo, você está fazendo errado – e foi na maniçoba que tracei o limite, achando-a muito amarga e com cor e textura muito próximas do esterco de vaca. Para saber se você discorda, recomendo avaliar o que você gosta e o que não gosta no Amazônia na Cuia, uma espécie de restaurante de tapas paraense onde os clássicos locais são servidos em pequenas cabaças chamadas cuias e custam de 18 a 49 reais. Incluem tudo o que comi no Tacacá MJ, além do próprio tacacá e do famoso pato com tucupi. No final da refeição, seus lábios estarão dormentes e você saberá o que deseja tentar novamente.

Delícias doces e salgadas

Depois de provar alguns pratos básicos, provei frutas das quais a maioria dos visitantes nunca ouviu falar na Blaus, uma sorveteria local onde os sabores incluíam taperebá, bacuri, tucumã e cupuaçu, um querido parente do cacau que para mim tem um sabor desagradável e medicinal.

Também experimentei o açaí em seu acompanhamento aveludado e saboroso. As opções mais refinadas estão em pontos populares para famílias e turistas, como o Point do Açaí ou o Ver-o-Açaí, mas no mercado Ver-o-Peso, os balconistas passam o açaí fresco por uma máquina que retira sua fina camada de polpa do poços e adiciona água. Percebi rapidamente que o açaí com o qual estou acostumado não é realmente açaí, mas uma versão cristalizada, muito parecida com outro produto de exportação latino-americano originalmente consumido na forma líquida amarga.

“Gosto de compará-lo com chocolate”, disse Médici. “Chocolate não é bolo de chocolate. Bolo de chocolate tem chocolate”. ​

No mercado Ver-o-Peso optei por um lugar mais conhecido pelos frutos do mar do que pelo açaí, o tão elogiado Box da Lúcia. (Estranhamente, “caixa” significa barraca em português, com a Lúcia ocupando os números 37 e 38.) Lá pedi um prato de camarão e peixe com arroz, feijão e uma refrescante salada de repolho, por 70 reais. Embora o camarão suculento e de crosta grossa seja o prato mais famoso da Lúcia, foi também onde me apaixonei pelo filhote, a carne do piracuí juvenil que é macia e macia, embora um pouco firme demais para ser chamada de creme .

Mas, ao contrário de outros peixes locais, como o tambaqui, o filhote é desperdiçado na fritura. Em um restaurante sofisticado fora do centro da cidade chamado Restô da Villa Prime, Medici e eu comemos um filhote de aperitivo chamado avuado, que é um prato de delicados e suculentos mini-filés grelhados e regados em azeite e alho. Também comemos uma caldeirada fumegante, onde o filhote era cozido com surpresa, tucupi e jambu.

Eminentemente acessível

Com tanta comida boa disponível nas ruas, pareceria quase desnecessário ir a restaurantes sofisticados de Belém, como o Restô da Villa. Mas com o estado atual do real brasileiro, mesmo os locais mais preciosos são eminentemente acessíveis e fazem de tudo para enfatizar os ingredientes locais.

A Casa do Saulo, que leva o nome do chef Saulo Jennings, oferece pratos criativos como o carpaccio de pirarucu defumado – finas fatias do grande pirarucu empanadas com pesto de jambu e geleia de cupuaçu e regadas com castanhas-do-pará picadas (58,90 reais).

Na polida Santa Chicória, o pirarucu é caprichado com “três texturas” de mandioca – chips, espuma e tucupi – por 81 reais.

Na Santa Chicória, o pirarucu é fantasiado com “três texturas” de mandioca – chips, espuma e tucupi. Crédito: Alessandro Falco para NYT

Em seus cardápios de coquetéis, os dois restaurantes apresentam um dos meus ingredientes preferidos: o taperebá, fruta de polpa amarelo-escura e sabor tropical cremoso.

Taperebá não é exclusivamente amazônica – a mesma espécie é conhecida como “cajá” em outras partes do Brasil, e como ameixa-de-porco ou cajá-amarela em algumas ilhas do Caribe. Mas Médici discorda: embora seja geneticamente a mesma fruta, ele disse que “é influenciada pelo terroir – pelas variações no solo e no clima” da Amazônia. E, considerando o sabor delicioso da geleia de taperebá que levei para casa na minha torrada matinal, não estou disposto a discutir com ele.

Rock na madrugada – Bob Dylan, “I Want You”

Bob Dylan, já em sua fase eletrificada, gravou “I Want You” no dia 17 de junho de 1966, nos estúdios da Columbia Records, para o álbum Blonde on Blonde.

O agente funerário culpado suspira,
O solitário tocador de realejo chora,
Os saxofones prateados dizem
Eu deveria recusar você.
Os sinos rachados e as buzinas desbotadas
Sopre na minha cara com desprezo,
Mas não é assim,
Eu não nasci para perder você.
Eu quero você, eu quero você,
Eu quero tanto você,
Querida, eu quero você

A poesia urgente e inspirada do bardo já se destacava na cena roqueira, apesar do domínio do rock britânico de Beatles e Rolling Stones. Anos depois, esse rico material lírico garantiria a Dylan o Prêmio Nobel de Literatura.

STJD aumenta multa e mantém suspensão de Hélio dos Anjos por homofobia

Do site do STJD

O Pleno aumentou a pena do técnico Hélio dos Anjos por ofensa e palavras homofóbicas proferidas contra a arbitragem na partida entre Paysandu e Volta Redonda. Punido inicialmente com multa total de R$ 1 mil e nove partidas de suspensão, o treinador teve a multa majorada para R$ 20 mil, mantida a pena de suspensão. O recurso foi julgado nesta quinta-feira, 7 de dezembro, e a decisão proferida por unanimidade dos votos.

Na súmula da partida válida pela Série C, o árbitro narrou que “aos 45 minutos do 2 tempo expulsei de maneira direta, por após o quarto árbitro levantar a placa de acréscimos, o mesmo proferiu aos gritos as seguintes palavras: “vai tomar no c* c******, só 5 minutos”, após ser expulso o referido treinador continuou, “tá de sacanagem, veio aqui roubar nós”. Após o término da partida, o treinador invadiu o campo de jogo e foi atrás do assistente nº1, Bruno Muller, proferindo as seguintes palavras: “seu veadinho, vai tomar no c*, veado, veadinho”. Relato ainda que quando o quinteto de arbitragem estava saindo do campo de jogo, no término da partida, o técnico veio atrás e proferiu as seguintes palavras, seu pipoqueiro, pipoqueiro, pipoqueiro”.

Denunciado pela Procuradoria nos artigos 243-F (ofensa) e 243-G (discriminação), Hélio dos Anjos foi julgado e punido pela Quarta Comissão Disciplinar com multa de R$ 500 e suspensão de quatro partidas no primeiro artigo e multa de R$ 500 e suspensão de cinco partidas pelo segundo artigo.

O treinador recorreu da decisão pedindo a desclassificação dos artigos denunciados para o artigo 258 entendendo por uma conduta contrária à disciplina, enquanto a Procuradoria recorreu pedindo a majoração das penas.

Em julgamento do recurso a defesa do técnico foi feita pelo advogado Felipe Jacob. O pedido da defesa não foi acolhido pelo relator do processo, auditor Maurício Neves Fonseca, que manteve a capitulação e majorou as multas entendendo pela gravidade na conduta praticada pelo treinador denunciado.

“O STJD não pode ser complacente com práticas discriminatórias, pois já passou da hora de adotarmos medidas enérgicas com penas relevantes e com caráter pedagógico na tentativa de cessar esse tipo de comportamento odioso, lastimável e inconcebível.

Em certa medida, o mundo do futebol precisa encontrar-se com práticas de educação em direitos humanos. A educação em direitos humanos poderá atuar na mudança de corações e mentes que hoje destilam preconceitos que levam até a morte. Essas práticas educativas devem alcançar atletas, comissão técnica, sócios, funcionários, patrocinadores e a torcida. Os eventos, canais de mídia e jogos devem servir como palco para ações de educação em direitos humanos que não apenas coíbam atos discriminatórios, mas que possibilitem a mudança de pensamento.

Diante do exposto, NEGO PROVIMENTO ao Recurso Voluntário interposto pelo PAYSANDU SPORT CLUB, em favor de seu técnico Sr. HELIO CÉZAR PINTO DOS ANJOS e DOU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO da PROCURADORIA DA JUSTIÇA DESPORTIVA DO STJD para majorar a multa pecuniária para R$ 10.000,00 (dez mil reais) e manter a pena de 04 partidas de suspensão pela infração ao artigo 243-F do CBJD e majorar a multa pecuniária para R$ 10.000,00 (dez mil reais) e manter a pena de 05 partidas de suspensão pela infração ao artigo 243-G do CBJD”, votou o relator.

Os demais auditores acompanharam o entendimento e voto do relator na íntegra e o resultado foi proferido por unanimidade.

COP: Belém não tem como ser Dubai. E isso não será o fim do mundo. Pode até ser o começo de um mundo melhor

Por Glauco Alexander Lima

Escrevo dos Emirados Árabes Unidos, em dezembro de 2023, em plena COP28, a cada vez mais badalada United Nations Climate Change Conference, ou Conference of the Parties of the UNFCCC. Em nosso português, a 28ª Sessão da Conferência das Partes, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), que está sendo  realizada até 12 deste mês na Expo City, em Dubai.

A Expo City é um centro de convenções gigantesco, distante uns 40 quilômetros do centro de Dubai. Ou seja, a cidade pouco se envolve com o evento.

Um dos pontos que mais chama atenção aqui e mesmo no Brasil, é a preocupação dos brasileiros, principalmente os que não são amazônicos ou não vivem na Amazônia, sobre a capacidade de Belém do Pará, que vai ser a sede da COP30 em 2025, fazer um evento igual ou melhor do que essa mega COP que está sendo realizada aqui, no Oriente Médio.

A resposta é clara: não!

Belém não fará um evento igual ao de Dubai. Mas, antes que o leitor entre em desespero, é bom alertar que isso não é uma tragédia. E será, inclusive, um fator positivo para ajudar nesse grande debate, sobre como conter as mudanças climáticas e o perverso aumento das temperaturas na Terra. Belém não será nem melhor, nem pior. Mas certamente será mais valiosa em muitos aspectos, para a discussão aprofundada dessa temática.

A COP não é uma COPA do mundo de futebol, ou um campeonato para ver quem faz a reunião mais suntuosa. A COP não é entretenimento. É uma conferência para discutir um drama que ameaça a vida no planeta. Belém do Pará, na América do Sul, e Dubai, na Ásia, são experiências humanas bem distintas. Ambas importantes para ajudar no entendimento histórico de como a nossa caminhada na Terra, nos levou a esse ponto crítico e emergencial sobre uma catástrofe ambiental que já está em andamento.

Dubai faz lembrar aquele verso de Caetano Veloso na canção Sampa: “a força da grana, que ergue e destrói coisas belas”

A cidade é extraordinária, futurista, um esplendor da força do dinheiro e da obstinação humana. Foi erguida com o poder da enorme riqueza vinda do combustível fóssil. Combustível que alavancou avanços e ao mesmo tempo ajudou a danificar muitos biomas por todos os continentes e oceanos. Os dirigentes de Dubai sabem que essa riqueza, embora astronômica, é esgotável. E aproveitaram seus bilhões de dólares para criar outra matriz econômica, construindo uma cidade que já é um dos maiores destinos do turismo de luxo, divertimento caro, gerador de divisas para esse pequeno país do golfo Pérsico.

A cidade de Dubai, como ficou famosa internacionalmente, é fruto do século 20. Tudo foi erguido recentemente, movido a petróleo. E como diz outra canção do Caetano: “aqui tudo parece ainda em construção e já é ruína”. A transição energética pode demorar mais, ou chegar antes do que se pensa, mas já é uma realidade inevitável. E o reinado de Dubai percebeu isso e se prepara para viver de outras indústrias e a turística é uma delas.

Dubai será sempre um monumento para se refletir sobre um tempo da vida na Terra.

Belém tem 407 anos. Estes mais de 4 séculos, algo em torno de 270 anos, foram vividos em regime de escravidão de seres humanos negros, e avanços cruéis sobre povos indígenas, sem expressivas reparações. O que marca a ecologia social da cidade até hoje.

Belém foi erguida sobre uma região inapropriada para assentamentos urbanos, instalada num terreno pantanoso. Seu ponto mais alto não chega a 20 metros. E mais de 40% do perímetro urbano fica abaixo da cota quatro do nível do mar. Isso torna a urbanização quase impossível e exige investimentos permanentes de bilhões de dólares em macrodrenagem. Ainda mais para essa explosão metropolitana que temos hoje, onde vivem e sobrevivem quase 3 milhões de pessoas.

Se Dubai tem seus fascínios, Belém também os tem. E muito fascinantes. Principalmente para quem quer buscar, no entendimento das relações sociais, nas relações do capital com o trabalho, na relação humana com a natureza, nas relações políticas e históricas, as lições para ajudar na busca de novos caminhos, que conciliem o progresso da economia com a evolução humana e a preservação do ecossistema.

Estamos na 28ª COP das Nações Unidas e, desde a primeira, lá nos anos 1990, a crise do clima só se agrava. Embora pareça que governos, empresas, mundo financeiro, instituições de ensino, organizações corporativas estejam interessadas em conter o aquecimento, não se percebem ações efetivas ou concessões para estancar a sangria. O inferno, cada vez mais quente onde estamos vivendo, está cheio de boas intenções e poucas atitudes, além das belas retóricas dos mais poluidores.

O que se sente em Dubai 2023, é um avanço das corporações de mercado sobre a questão, os países ricos falando bonito, mas tudo parece mais um  charmoso apelo verde para agregar valor para marcas e ideologias, do que esforços para melhorar as relações econômicas, reduzir a concentração de muita renda nas mãos de poucos, o avanço de um capitalismo cada vez mais financista, hegemônico, tudo isso que, no fundo no fundo, está nas causas da devastação da natureza, da quebra do clima, das catástrofes ambientais.

Uma COP na esquina da bacia amazônica com o oceano Atlântico é algo que instiga. Belém tem tudo para ser espaço maior para os movimentos sociais e a sociedade civil apresentarem suas propostas, protestos e questionamentos. Em 2025, o Brasil, o Pará e Belém certamente vão estar sob governos democráticos, não negacionistas, comprometidos com a humanidade e a ciência, o que ajudará na qualidade do confronto de ideias e na pressão para que as grandes máquinas políticas e empresariais globais flexibilizem seus interesses.

O grande problema da COP 30 em Belém não vai ser só se faltar hotel, restaurante,  ou se nossas ruas não forem como saídas de uma inteligência artificial, como as de Dubai. O grande drama da COP na Amazônia será se não for, de fato, um divisor de águas doces e salgadas, entre o que temos hoje, e uma nova postura, sincera e efetiva, para achar uma forma de reduzir desigualdades econômicas, sociais e regionais, o que é na verdade a melhor mudança para conter as terríveis mudanças no clima e regenerar a natureza.

(*) Glauco Alexander Lima é publicitário

(Foto: Divulgação/Setur/PA)