Sobre intensidade e resistência

POR GERSON NOGUEIRA

Virou tendência no Brasil a repetição da palavra intensidade pelos técnicos. A palavra virou doce na boca dos ‘professores’. A todo instante aparece alguém para garantir que o seu time joga intensamente. Um clichê que se estende a todas as divisões, da Série A à Série C.

O jogo de sexta-feira, válido pela final do Mundial de Clubes, na Arábia Saudita, derrubou esse conceito falho e pouco compreendido pelas comissões técnicas brasileiras. Intensidade é como o Manchester City joga, do primeiro ao último minuto, sem tirar o pé. O resto é potoca.

Ser intenso é manter constância no uso da velocidade, da marcação e do revezamento entre jogadores de diferentes posições. São tarefas que o time do City executa com incrível frieza e correção. Parece que os passes e trocas de função são absolutamente naturais, quase automáticos.

Na verdade, a maneira de jogar é reflexo dos intensos treinamentos. Entre a semifinal e a decisão, Pep Guardiola fez o time se exercitar duas vezes, em treinos de três horas de duração. Repetição exaustiva de situações de jogo.

Atentem para a situação: o melhor esquadrão do mundo treinando com rigor para encarar um time sul-americano. Isto é seriedade a serviço do futebol, subvertendo a ideia que os brasileiros costumam ter quanto à naturalidade do jogo. Desde moleques, aprendemos que o talento resolve tudo.

É uma ilusão. O talento é importante, acrescenta muito no processo, mas sozinho não leva muito longe. É preciso adequar as qualidades naturais ao modelo praticado pelo time. O City joga em permanente transformação. O zagueiro Stones se torna um volante/meia sempre que o time tem a bola.

Faz isso com perfeição porque todos treinam muito, incessantemente, para que essas mudanças repentinas sejam adotadas sem atropelos. Rodri, melhor homem em campo, não dribla e nem finta. Marca, cerca, recupera e lança os companheiros, brilhantemente.

O City ganhou porque soube explorar erros pontuais do Flu e teve paciência para esperar o momento de tomar conta do jogo. Duas falhas graves facilitaram as coisas: a inversão errada de Marcelo primeiro gol e a hesitação de André na jogada que resultou no gol contra de Nino.

Apesar disso, por cerca de 20 minutos, o domínio e a posse de bola pertenceram ao Tricolor. Não aprofundava jogadas, mas controlava as ações, ensaiava reagir. Incomodou o City, que não conseguiu ter o que mais persegue: a bola nos pés. Até que o 2 a 0 mudou os rumos da final.

Mesmo sem dois excelentes jogadores, Haaland e De Bruyne, Guardiola concentra a força mental do time na segurança inabalável de quem sabe como direcionar o jogo para suas valências.

O cenário mais emblemático do abismo entre as duas escolas foi a repetição do cerco que seis jogadores do City faziam à saída de bola brasileira. Aqui, os técnicos falam em marcação alta. Ora, marcar em cima é o que Alvarez, Grealish, Aké, Rodri, Foden e Bernardo Silva fizeram o tempo todo, atazanando a vida da defesa do Fluminense.

Independentemente do poderio econômico, que divide hoje o futebol em mundos distintos, precisamos falar de organização de jogo. Eles podem ter os melhores jogadores, mas isso só funciona à perfeição porque evoluíram muito em desenvolvimento tático, mobilidade e ocupação de espaços.

Lampions amplia o fosso em relação à Copa Verde

A premiação da Copa do Nordeste de 2024 será feita com base no IPCA, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. A informação é do colunista Cassio Zirpoli. A CBF confirmou o novo modelo econômico em reunião do presidente em exercício, José Perdiz de Jesus, com as nove federações estaduais e representantes dos 28 clubes classificados.

Os valores de todas as cotas disponibilizadas em 2023 foram mantidos, havendo para 2024 a correção pelo IPCA. Em 2023, somando a fase preliminar (Pré-Nordestão) e a fase principal (a partir da fase de grupos), foram distribuídos R$ 46,58 milhões para todos os times, de R$ 120 mil aos eliminados na 1ª eliminatória a R$ 6,4 milhões ao campeão (Ceará).

Segundo a calculadora on-line do Banco Central, o aumento será de 5,11%. O valor total dos repasses chegará a R$ 48.961.514, um aumento de R$ 2,38 milhões. A menor será de R$ 126 mil, enquanto o campeão poderá acumular R$ 6.727.213, o maior prêmio na história da Lampions League.

Ao contrário da desprestigiada Copa Verde, a receita provém das parcerias firmadas. A última edição teve 17 patrocínios. Os jogos seguem nas grades do SBT (TV aberta) e da ESPN, através dos contratos assinados até 2025. Já o pay-per-view será com o Nosso Futebol. Esta será a 21ª edição da copa, que completará 30 anos de história.

A disputa começa em 7 de janeiro, na preliminar, que terá duas etapas em jogos únicos. A fase de grupos começará só em 4 de fevereiro, com as partidas da decisão marcadas para os dias 5 e 9 de junho.

Bola na Torre

O programa vai ao ar às 22h, na RBATV, com apresentação de Guilherme Guerreiro e participação de Giuseppe Tommaso. O convidado é o presidente do PSC, Maurício Ettinger. A edição é de Lino Machado.

Direto do blog campeão

“O resultado do jogo Flu x City é uma prova inconteste da distância oceânica do atual futebol do Brasil com aquele praticado nos bons clubes da Europa. O legado deixado pelos atletas que venceram 5 Copas foi destruído pela corrupção desenfreada dentro da CBF e dos clubes que são comandados por grupos e empresários escusos que comandam contratações, convocações, arbitragens e resultados de jogos em todas as séries.

A superioridade é tão grande que os europeus não fazem questão de disputar o Mundial de Clubes que só atrapalha o calendário deles. O time B do City venceria qualquer clube brasileiro numa final. Agora, reduzidos à nossa verdadeira inexpressão, é tentar com uma possível, mas não provável mudança na CBF, colocar nos trilhos este trem de incansáveis vexames”.

Aldo Valente, torcedor alviceleste

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 24)