Vaticano comunica que D. José Luiz Azcona vai deixar a Prelazia do Marajó

O bispo emérito do Marajó, Dom José Luis Azcona Hermoso, vai deixar a Prelazia do arquipélago, por determinação do Vaticano. A informação foi confirmada pelo pároco de Soure, padre José Antônio, em comunicado aos fieis depois de muitas perguntas a respeito do assunto. O motivo da mudança e os próximos passos do bispo não foram informados oficialmente.

“Queridos paroquianos, diante das perguntas acerca da informação sobre a saída e D. José da Prelazia do Marajó, devo dizer que, infelizmente, é verdade. Dom José recebeu um comunicado da Nunciatura Apostólica do Brasil, onde afirma que deve deixar a prelazia do Marajó. São essas as informações que tenho até o momento. Rezemos por nosso eterno pastor”, afirmou.

Dom Azcona está em viagem e ainda não se pronunciou publicamente sobre a situação. A expectativa é de que ele deixe o Marajó a partir de 13 de janeiro quando D. José Ionilton Lisboa chegar para assumir a prelazia. O provável destino do religioso é uma casa de recolhimento para bispos em Belém, o que na prática representa uma aposentadoria.

Com mais de 30 anos de Marajó, Azcona é um dos mais profundos conhecedores da realidade marajoara. Também por isso é combativo em relação à exploração sexual infantil  e ambiental, desagradando políticos, latifundiários e até religiosos.

Foi D. Azcona, por exemplo, quem recebeu a denúncia de possíveis crimes sexuais praticados dentro da igreja pelo arcebispo de Belém, Dom Alberto Taveira, e que deu encaminhamento ao processo que foi encerrado sem a condenação do religioso.

(Com informações do site Notícia Marajó)

Campeonato inesquecível – e ruim

POR GERSON NOGUEIRA

O nível do futebol brasileiro ficou cruelmente exposto na Série A deste ano, vencida pelo Palmeiras do paraense Rony. O vice-campeão Grêmio teve no veterano Luis Suárez seu grande destaque, eleito o craque da competição. Mesmo em fase decadente, com joelhos estropiados, Luizito brilhou  e quase levou seu time ao título nacional. Essa situação surpreendente diz mais sobre o Campeonato Brasileiro do que sobre o goleador em fim de carreira.

Um campeonato que começou com outra espantosa novidade. A partir da terceira rodada, o Botafogo assumiu a liderança, passou a acumular pontos e emendar vitórias. Chegou a botar 15 pontos de vantagem na reta final do turno. Ninguém conseguia acompanhar o ritmo do Alvinegro.

É bem verdade que muitas equipes de ponta estavam preocupadas com outras competições – Libertadores e Copa Sul-Americana. Mas nem isso explicava a sensacional caminhada botafoguense. A troca de técnico, com a saída de Luís Castro, foi contornada com a chegada de Cláudio Caçapa, que manteve a pegada vitoriosa.  

A incredulidade reinava. Ninguém entendia como o time medíocre do Campeonato Carioca tinha se transfigurado a ponto de tomar a liderança do Brasileiro e não permitir qualquer aproximação.

Enquanto isso, o Flamengo patinava sob o comando de Jorge Sampaoli. Sem conseguir ser competitivo, começou a perder jogos seguidos e mergulhou em crise, que proporcionou até briga nos vestiários. O artilheiro Pedro foi esmurrado pelo auxiliar técnico.

O Atlético-MG aparecia nas últimas posições. Felipão vivia fustigado pelas críticas. O que melhor se saía, distante do Botafogo, era o Palmeiras. O Grêmio, recém-saído da Série B, tinha em Luis Suárez a grande estrela, mas o time mantinha-se longe das primeiras colocações.

De maneira geral, o nível era fraco, com exceção de bons jogos realizados pelo Botafogo de Tiquinho Soares, artilheiro do primeiro turno, e seus companheiros Eduardo, Tchê Tchê, Adryelson e Lucas Perri. Os dois últimos se saíram tão bem que foram convocados para a Seleção.

Quando o turno acabou ninguém em sã consciência duvidava mais do Botafogo, que passou a ser visto como o futuro campeão. Talvez essa confiança excessiva tenha atrapalhado o time apenas regular e objetivo agora comandado pelo português Bruno Lage.

Com ele, o “tapetinho” do estádio Nilton Santos perdeu sua invencibilidade, justamente contra o rival Flamengo. Esse tropeço foi o primeiro sinal da derrocada que viria a seguir. Ainda assim, o time se mantinha 10 pontos à frente do Palmeiras quando Lage foi demitido.

Lúcio Flávio assumiu e o Botafogo mergulhou de vez ladeira abaixo. Houve nova troca de comando, e quando Tiago Nunes assumiu na 33ª rodada a liderança escapou. Para isso, contribuiu muito a derrota de virada para o Palmeiras, repetida depois diante do Grêmio de Luizito.

Reparem que estamos falando de um campeonato diferente de tudo até a 33ª rodada. O Botafogo era o grande protagonista, mas caiu de rendimento e foi incapaz de obter novas vitórias. Aí, o Palmeiras finalmente deu as caras. Mesmo sem brilho, conquistou o bicampeonato.

O nível técnico foi sofrível, com os times oscilando muito. O Grêmio, vice-campeão, teve a quarta pior defesa. O campeão chegou aos 70 pontos, mas esteve ameaçado até a penúltima rodada, o que acrescentou certa emoção à disputa final. 

No fim das contas, o Brasileiro vai ficar marcado pelo futebol aquém do esperado e por um curioso desfecho: vencido pelo Palmeiras e perdido pelo Botafogo.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda o programa, a partir das 22h, na RBATV. Giuseppe Tommaso e este escriba baionense participam dos debates. Em pauta, os preparativos da dupla Re-Pa para a temporada de 2024. A edição é de Lino Machado.

STJD decide: toda homofobia será castigada

No feriado de Conceição e Iemanjá, o torcedor do PSC foi surpreendido com uma notícia impactante: o técnico Hélio dos Anjos foi condenado pelo Pleno do STJD a cumprir suspensão de nove partidas, enquadrado por ofensas graves e homofobia. Significa que o treinador desfalcará o Papão à beira do gramado nos jogos iniciais da Copa do Brasil e da Série B.

Os incidentes ocorreram na partida Paysandu x Volta Redonda, na Série. Punido inicialmente com multa de R$ 1 mil e nove partidas de suspensão, o treinador teve a multa majorada para R$ 20 mil e mantida a pena inicial.

O recurso do clube foi julgado e a decisão proferida por unanimidade, não cabendo mais recurso. O setor jurídico do clube se movimenta para pedir a transformação da pena em serviços sociais ou comunitários, embora seja pouco provável que essa iniciativa seja acatada.

Na súmula, o árbitro narrou que aos 45 minutos do 2º tempo expulsou Hélio de maneira direta porque após o quarto árbitro levantar a placa de acréscimos, o técnico proferiu aos gritos as seguintes palavras: “vai tomar no c* c******, só 5 minutos” e “tá de sacanagem, veio aqui roubar nós”.

Não satisfeito, após o apito final, o técnico invadiu o campo e foi atrás do assistente Bruno Muller, xingando-o com termos homofóbicos. “O STJD não pode ser complacente com práticas discriminatórias, pois já passou da hora de adotarmos medidas enérgicas com penas relevantes e com caráter pedagógico na tentativa de cessar esse tipo de comportamento odioso, lastimável e inconcebível”, afirmou o auditor Maurício Fonseca.

E acrescentou: “Em certa medida, o mundo do futebol precisa encontrar-se com práticas de educação em direitos humanos. A educação em direitos humanos poderá atuar na mudança de corações e mentes que hoje destilam preconceitos que levam até a morte. Essas práticas devem alcançar atletas, comissão técnica, sócios, funcionários, patrocinadores e a torcida”.

Que a lição seja aprendida. 

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 09)

Deu no New York Times: “Onde os sabores da Floresta Amazônica se deliciam”

Por Seth Kugel, no The New York Times

Na cidade portuária de Belém, obcecada por comida, pratos doces, salgados e às vezes viciantes são feitos com ingredientes frescos que são difíceis de encontrar no Rio de Janeiro, muito menos fora do Brasil.

Um visitante estrangeiro que caminhasse pela Praça Brasil, uma praça arborizada na cidade portuária amazônica de Belém, poderia pensar que o zumbido dos liquidificadores em uma dúzia de carrinhos de comida próximos estava criando as tigelas de açaí mais autênticas do planeta.

Isso faria sentido, pois Belém é a capital do estado do Pará, o epicentro global do cultivo, colheita e exportação de açaí, e as lojas de smoothies de mirtilo que viraram superfrutas são a atração principal em todo o mundo. Mas em Belém, a fruta roxa é consumida principalmente como acompanhamento saboroso para peixes e camarões, e a mistura vendida na Praça Brasil – chamada guaraná da Amazônia – é um shake cheio de proteínas cujos ingredientes incluem castanha de caju, amendoim e um xarope feito de sementes de guaraná, que lembram grãos de café na aparência, mas os superam no teor de cafeína.

Os shakes raramente estão disponíveis fora da Amazônia. O mesmo pode ser dito de muitos pratos populares nesta cidade de 1,5 milhão de habitantes obcecada por comida, aqueles feitos com ingredientes frescos – com nomes indígenas como tucupi, jambu, taperebá e pirarucu – que são difíceis de encontrar no Rio de Janeiro, muito menos fora do Brasil. Neste outono, visitei Belém por três dias e comi até morrer, indo a cerca de 20 restaurantes e lanchonetes, devorando comidas e bebidas tão diferentes até mesmo da norma brasileira que parecia que havia tropeçado em algum reino culinário secreto.

Atrações em uma cidade portuária amazônica

Um guaraná da Amazônia custa cerca de 20 reais, ou pouco mais de US$ 4, a 4,90 reais o dólar, e sim, pode ser pedido com açaí misturado. Mas os shakes ficam melhores com bacuri, uma fruta com notas adjacentes de maçã que aparentemente todo mundo ama. Adicione-o à lista de ingredientes que você encontra fora da região apenas congelados, se houver.

Isso porque o bacuri fresco, como muitos outros ingredientes cultivados regionalmente, viaja mal. O mesmo acontece com muitos turistas, cuja única parada urbana na Amazônia brasileira é a não tão deliciosa Manaus, a cinco dias de barco ou duas horas de avião de Belém, e a base mais acessível para se aventurar em eco-resorts da floresta tropical ou em passeios de barco sofisticados.

No entanto, isso irá mudar, à medida que Belém melhorar a sua infraestrutura para receber dezenas de milhares de visitantes em 2025, quando acolher a COP30, a 30.ª edição da conferência das Nações Unidas sobre as alterações climáticas.

Os visitantes encontrarão o Ver-o-Peso, um movimentado mercado de peixes, frutas e castanhas-do-pará da Amazônia; restaurantes e lojas de luxo na Estação das Docas, situada em armazéns ribeirinhos reformados do século XIX; e um centro histórico que vai do charmoso ao degradado e abriga o único hotel boutique da cidade, o Atrium Quinta das Pedras. Há também escapadelas que vão desde passeios de um dia à vizinha Ilha Combu para experimentar a vida fluvial ou excursões noturnas à Ilha do Marajó, com 16.000 milhas quadradas, lar de inúmeros búfalos (e sua carne e queijo).

Embora a região mais ampla ofereça essas e outras aventuras baseadas na floresta tropical, as três principais atrações da área urbana de Belém são o café da manhã, o almoço e o jantar. Apropriadamente, um dos influenciadores mais reconhecidos da cidade tem tudo a ver com comida.

Marcos Antônio Gonçalves Bastos, conhecido pelo apelido de infância, Médici, documentou a culinária local em sua conta no Instagram. Ele compara os belemenses aos italianos na forma como cuidam e protegem a tradição local. “Dizem que algo feito de determinada maneira nunca deve mudar”, disse Medici, citando a indignação entre os puristas quando alguém adicionou beterraba à sopa de camarão chamada tacacá para criar uma versão da Barbie neste verão.

O verdadeiro tacacá é amarelo turvo porque sua base é o tucupi, talvez o sabor mais marcante e viciante da região, criado há séculos por grupos indígenas. O tucupi é feito espremendo a raiz amarga da mandioca, deixando o amido da tapioca assentar à medida que o líquido fermenta, depois adicionando temperos e cozinhando-o por dias para remover o cianeto de hidrogênio que ocorre naturalmente – e é venenoso. O resultado não é tanto doce e azedo, mas sim azedo e doce, e combina magicamente bem com arroz e peixe, e estrela o prato local de pato, “pato no tucupi”.

Às vezes o tucupi funciona como um caldo, outras vezes é mais um molho ou, quando misturado com pimenta e engarrafado, um condimento. Medici, que se juntou a mim em parte da minha extravagância alimentar, apenas chama isso de “meu sangue”.

Repórteres de viagens do Times. Quando nossos redatores avaliam um destino, eles não aceitam serviços gratuitos ou com desconto ou, na maioria dos casos, revelam que trabalham para o The Times. Queremos que a experiência deles seja o que você pode esperar.

O tucupi vira tacacá quando combinado com fécula de tapioca, pequenos camarões secos e outro alimento indispensável e onipresente da culinária amazônica: o jambu, cujas folhas e às vezes flores são adicionadas indiscriminadamente, mas deliciosamente, a quase tudo, inclusive em coquetéis. Ele contém um anestésico natural que causa uma dormência agradável nos lábios e na língua que realça outros sabores de forma contra-intuitiva. “Tucupi e jambu são como nosso presunto e queijo”, disse Médici. “Se pudéssemos colocá-los em tudo, nós o faríamos.”

A large plate holds rice, stew, and a large portion of fried fish, vegetables and shrimp.
No Box da Lúcia o prato de filhote frito leva camarão, legumes e arroz. Crédito: Alessandro Falco para o The New York Times

Tacacá é uma comida de rua tão popular que muitas vezes empresta seu nome a barracas de rua ou restaurantes informais que servem uma série de outros pratos, da mesma forma que uma barraca de taco serve quesadillas e burritos. Um dia almocei no Tacacá MJ, espremido entre uma barraca de conserto de relógios e uma barraca de doces, dirigida por um jovem simpático chamado Diego Lublime, que mantém as coisas tão organizadas quanto pode, considerando que a área de estar do restaurante é apenas uma fila de plástico. cadeiras compartilhando uma calçada movimentada no centro da cidade com pedestres em alta velocidade.

“Sente-se! Almoçar!”, ele me contou, e eu peguei o prato combinado de vatapá, caruru e maniçoba, coberto com o previsível emaranhado de jambu. Vatapá é um ensopado cremoso de camarão, caruru um mingau de camarão e quiabo engrossado com farinha de mandioca e maniçoba um ensopado de carne de porco cujo ingrediente principal é a maniva, folhas moídas da mandioca amarga cozida por cerca de sete dias para retirar o cianeto. Pratos com os mesmos nomes existem em outras partes do Norte e Nordeste do Brasil, mas com variações. Na Bahia, o vatapá é principalmente um acompanhamento feito com amendoim e castanha de caju, enquanto no Pará é um prato principal sem nozes.

Um axioma da alimentação aventureira é que se você gosta de tudo, você está fazendo errado – e foi na maniçoba que tracei o limite, achando-a muito amarga e com cor e textura muito próximas do esterco de vaca. Para saber se você discorda, recomendo avaliar o que você gosta e o que não gosta no Amazônia na Cuia, uma espécie de restaurante de tapas paraense onde os clássicos locais são servidos em pequenas cabaças chamadas cuias e custam de 18 a 49 reais. Incluem tudo o que comi no Tacacá MJ, além do próprio tacacá e do famoso pato com tucupi. No final da refeição, seus lábios estarão dormentes e você saberá o que deseja tentar novamente.

Delícias doces e salgadas

Depois de provar alguns pratos básicos, provei frutas das quais a maioria dos visitantes nunca ouviu falar na Blaus, uma sorveteria local onde os sabores incluíam taperebá, bacuri, tucumã e cupuaçu, um querido parente do cacau que para mim tem um sabor desagradável e medicinal.

Também experimentei o açaí em seu acompanhamento aveludado e saboroso. As opções mais refinadas estão em pontos populares para famílias e turistas, como o Point do Açaí ou o Ver-o-Açaí, mas no mercado Ver-o-Peso, os balconistas passam o açaí fresco por uma máquina que retira sua fina camada de polpa do poços e adiciona água. Percebi rapidamente que o açaí com o qual estou acostumado não é realmente açaí, mas uma versão cristalizada, muito parecida com outro produto de exportação latino-americano originalmente consumido na forma líquida amarga.

“Gosto de compará-lo com chocolate”, disse Médici. “Chocolate não é bolo de chocolate. Bolo de chocolate tem chocolate”. ​

No mercado Ver-o-Peso optei por um lugar mais conhecido pelos frutos do mar do que pelo açaí, o tão elogiado Box da Lúcia. (Estranhamente, “caixa” significa barraca em português, com a Lúcia ocupando os números 37 e 38.) Lá pedi um prato de camarão e peixe com arroz, feijão e uma refrescante salada de repolho, por 70 reais. Embora o camarão suculento e de crosta grossa seja o prato mais famoso da Lúcia, foi também onde me apaixonei pelo filhote, a carne do piracuí juvenil que é macia e macia, embora um pouco firme demais para ser chamada de creme .

Mas, ao contrário de outros peixes locais, como o tambaqui, o filhote é desperdiçado na fritura. Em um restaurante sofisticado fora do centro da cidade chamado Restô da Villa Prime, Medici e eu comemos um filhote de aperitivo chamado avuado, que é um prato de delicados e suculentos mini-filés grelhados e regados em azeite e alho. Também comemos uma caldeirada fumegante, onde o filhote era cozido com surpresa, tucupi e jambu.

Eminentemente acessível

Com tanta comida boa disponível nas ruas, pareceria quase desnecessário ir a restaurantes sofisticados de Belém, como o Restô da Villa. Mas com o estado atual do real brasileiro, mesmo os locais mais preciosos são eminentemente acessíveis e fazem de tudo para enfatizar os ingredientes locais.

A Casa do Saulo, que leva o nome do chef Saulo Jennings, oferece pratos criativos como o carpaccio de pirarucu defumado – finas fatias do grande pirarucu empanadas com pesto de jambu e geleia de cupuaçu e regadas com castanhas-do-pará picadas (58,90 reais).

Na polida Santa Chicória, o pirarucu é caprichado com “três texturas” de mandioca – chips, espuma e tucupi – por 81 reais.

Na Santa Chicória, o pirarucu é fantasiado com “três texturas” de mandioca – chips, espuma e tucupi. Crédito: Alessandro Falco para NYT

Em seus cardápios de coquetéis, os dois restaurantes apresentam um dos meus ingredientes preferidos: o taperebá, fruta de polpa amarelo-escura e sabor tropical cremoso.

Taperebá não é exclusivamente amazônica – a mesma espécie é conhecida como “cajá” em outras partes do Brasil, e como ameixa-de-porco ou cajá-amarela em algumas ilhas do Caribe. Mas Médici discorda: embora seja geneticamente a mesma fruta, ele disse que “é influenciada pelo terroir – pelas variações no solo e no clima” da Amazônia. E, considerando o sabor delicioso da geleia de taperebá que levei para casa na minha torrada matinal, não estou disposto a discutir com ele.

Rock na madrugada – Bob Dylan, “I Want You”

Bob Dylan, já em sua fase eletrificada, gravou “I Want You” no dia 17 de junho de 1966, nos estúdios da Columbia Records, para o álbum Blonde on Blonde.

O agente funerário culpado suspira,
O solitário tocador de realejo chora,
Os saxofones prateados dizem
Eu deveria recusar você.
Os sinos rachados e as buzinas desbotadas
Sopre na minha cara com desprezo,
Mas não é assim,
Eu não nasci para perder você.
Eu quero você, eu quero você,
Eu quero tanto você,
Querida, eu quero você

A poesia urgente e inspirada do bardo já se destacava na cena roqueira, apesar do domínio do rock britânico de Beatles e Rolling Stones. Anos depois, esse rico material lírico garantiria a Dylan o Prêmio Nobel de Literatura.