Maria Clara – tragédia amazônica em três atos

Por Sonia Zaghetto

Ato 1

Na quarta-feira, 13 de setembro, às 7 horas da manhã, Maria Clara Batista Vieira, 15 anos, saiu de casa para comprar pão. Menos de uma hora depois, a adolescente foi filmada por uma câmera de segurança saindo de uma área de palafitas do Oiapoque. Trôpega, coberta de lama, a jovem indígena caminhou 150 metros pela rua sem asfalto até sua casa. Com dificuldade, contou ao pai e à madrasta que havia sido estuprada e que o agressor tentou afogá-la em um lamaçal coberto de dejetos e restos de esgoto. Quatro dias depois, a adolescente da etnia Karipuna morreu, vítima de infecção generalizada. Em sua curta vida, Maria Clara, que foi mãe aos 13 anos de idade, exemplificou a realidade de crianças e adolescentes vítimas de abusos sexuais na Amazônia brasileira. Sua morte também se tornou episódio emblemático por expor as deficiências do sistema público na tarefa de proteger os direitos do cidadão mais vulnerável.

A menina sofreu a primeira violência quando vivia, com a mãe e o padrasto, em um barraco paupérrimo na antiga invasão de Vila Vitória, a cinco quilômetros da sede do município. Em 2021, uma investigação da Polícia Civil de Oiapoque, a pedido do Conselho Tutelar, constatou que as duas irmãs mais novas de Maria Clara haviam sido sexualmente abusadas pelo padrasto, que foi preso. “A situação de pobreza da família era tão grande que nós, os policiais, nos compadecemos e voltamos no dia seguinte com algumas cestas básicas”, conta o policial civil Daniel Lima. Na ocasião, os agentes observaram que Maria Clara, então com 13 anos, havia acabado de se tornar mãe e abriram uma investigação. Como a lei brasileira classifica como estupro de vulnerável a prática de sexo com pessoa menor de 14 anos, significa que Maria Clara foi estuprada e engravidou quando mal havia saído da infância. Com o filho, que hoje tem dois anos de idade, ela passou a morar na casa do pai e da madrasta.

Na manhã do dia 13, Maria Clara foi atacada numa área de pequenas pontes de madeira, no bairro Planalto. O agressor a espancou brutalmente e a afogou na lama, a fim de que ela não pudesse gritar. Os vizinhos dormiam e nada ouviram. Após o estupro, o criminoso fugiu, acreditando que a vítima estivesse morta.

Ato 2

A prisão do estuprador só ocorreu porque a família de Maria Clara e a população do Oiapoque uniram esforços com as polícias militar e civil. As imagens das câmeras de segurança foram imediatamente exibidas aos policiais (numa delas a adolescente aparecia caminhando pelas ruas semidesertas e a outra, em local diferente, mostrava o estuprador lavando os pés e as mãos sujos de lama) e permitiram que pescadores nomeassem o agressor. Munida das imagens e de fotografias, uma equipe da Polícia Civil foi até o hospital de Oiapoque, onde a vítima estava sendo atendida, e se deparou com a adolescente com dificuldade para falar e respirar, vomitando grandes quantidades de lama e água pútrida. Ainda assim, a menina reuniu forças para um último ato de coragem. Ao ver a terceira fotografia que lhe foi apresentada, Maria Clara teve uma reação que impressionou até o delegado Charles Correa, policial experimentado. “Ela ficou apavorada, reviveu todo o trauma, mas identificou o estuprador com absoluta certeza”. A foto era do pescador cearense Cláudio  Roberto da Silva Ferreira, 43 anos, que no ano anterior havia sido acusado de tentativa de estupro e foi liberado pela Justiça.  Ferreira usou a mesma estratégia nos dois ataques: seguiu a vítima em lugar deserto e a agrediu antes de tentar estuprar. Da primeira vez, a vítima pediu socorro e recebeu ajuda. Maria Clara não conseguiu.

Os investigadores descobriram que Ferreira havia fugido em um barco que partira para pescar em alto mar. Mais uma vez a população se mobilizou. Uma canoa, um motor de 200 Hp e gasolina foram cedidos ao grupo de policiais civis e militares. A perseguição se estendeu até a foz do Rio Oiapoque. Seis horas depois, Ferreira desembarcou no cais da cidade, algemado e coberto por lama cinzenta.

No Hospital de Oiapoque, Maria Clara lutava pela vida. Mais uma vez a deficiência do Estado brasileiro se fez notar. A gravidade do caso exigia uma unidade de saúde mais equipada. Os médicos fizeram o possível e entubaram a adolescente, que tinha grande quantidade de lama e água contaminada nos pulmões e na cavidade abdominal. À noite, ela foi transferida para um hospital francês. Um acordo entre a França e o Brasil permite que pacientes muito graves sejam tratados na Guiana Francesa. “Em geral, fazemos o atendimento de emergência e levamos o paciente até Saint-Georges ou até um local próximo da ponte binacional. Ali, um helicóptero do governo francês faz o transporte para Caiena”, explica o médico Fabian Paixão, que serve no hospital, mas não fazia parte da equipe que atendeu Maria Clara.  

Ato 3

Em Caiena, a infecção progrediu e Maria Clara não resistiu. Morreu de septicemia no domingo, 17 de setembro. O acusado de estuprá-la passou por audiência de custódia e foi transferido para Macapá depois que o juiz Roberval Pantoja converteu em preventiva a prisão em flagrante, dada a gravidade do crime, a necessidade de resguardar a ordem pública e o fato do réu pôr em risco a convivência social. O Conselho de Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque (CCPIO)  lamentou a morte de Maria Clara em um comunicado divulgado nas redes sociais. E pediu justiça. O governador do Amapá informou à família que pagaria o valor de 3.800 euros (quase 20 mil reais) para repatriar o corpo da adolescente, depois que se iniciou uma campanha para arrecadar o valor. O traslado do corpo de Maria Clara foi pago pelo governo francês, que também agilizou o processo de liberação e apoiou a equipe de policiais civis brasileiros que se deslocaram até Caiena para auxiliar a mãe de Maria Clara..

“Minha filha gostava de costurar e de desenhar roupas. Dizia que um dia seria conhecida no mundo todo. Eu só não esperava que fosse dessa maneira”, lamentou, emocionado, o pai da adolescente, Diomessimo Rodrigues Vieira. O filho de Maria Clara deverá ficar sob a guarda do avô: “Eu não sei o que vou dizer para ele quando ficar grandinho. Como vou contar o que aconteceu com a mãe dele?”.

A estudante Marcela JeanJacque, da etnia Galibi Kali’na, espera que haja justiça para Maria Clara. “É tudo muito revoltante. Nós saímos das nossas aldeias em busca de estudo e um futuro melhor, mas na cidade ficamos muito vulneráveis. Hoje eu só me sinto protegida na minha aldeia”, afirma a moça, que é fotógrafa, comunicadora e pretende cursar jornalismo.

Com Marcela concorda Geilany Karipuna, 20 anos, estudante de Licenciatura Intercultural Indígena no Campus Binacional Oiapoque da Universidade Federal do Amapá. “Fora da aldeia nós sentimos muita insegurança, porque a qualquer momento podemos ser atacadas, por um agressor nas ruas”.

Sepultamento de Maria Clara Karipuna. Foto: Marcela JeanJacque

Na segunda-feira (18), uma passeata tomou as ruas de Oiapoque. Protestava contra a violência que atinge a infância e a juventude na cidade. A professora de Direito Dani Barreto, que acompanhava a manifestação, disse que o caso de Maria Clara é representativo: “Essa adolescente já havia sido vítima de estupro. É a total falência de todas as instituições quando se perde uma adolescente que sofreu tanto por tantas ausências do Estado”.

O que matou Maria Clara vai além da brutalidade que sofreu. É cúmplice nessa morte o Estado brasileiro que não criou uma rede de proteção capaz de identificar os abusos sofridos por ela desde a infância e não a protegeu de uma gravidez indesejada. Falhou a Justiça que deixou o assassino livre para atacar novamente; faltou infra-estrutura aos serviços de saúde, assim como à segurança pública que não dispunha de veículos de transporte e equipamentos que permitissem aos policiais trabalhar em condições dignas. Nesse rol de deficiências, a pouca justiça que se fará à menina indígena se deve ao empenho pessoal de familiares, comunidade e servidores públicos, também eles vítimas do abandono que atinge a Amazônia brasileira e há cem anos é a tônica da vida na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa.

A imagem de Maria Clara caminhando desamparada e só pelas ruas de Oiapoque é a metáfora exata de sua vida e de sua morte.

(Texto: Sonia Zaghetto. Foto principal: Elza Lima)

VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS É POUCO DENUNCIADA

A violência que matou Maria Clara Karipuna está longe de ser caso isolado no Oiapoque. Embora os casos de abuso e de exploração sexual de crianças e adolescentes ocorram com frequência no município localizado na fronteira do Brasil com a Guiana Francesa, os crimes são pouco denunciados e raramente punidos. Os servidores públicos que lidam com o problema reclamam da impunidade e dão demonstrações cada vez mais explícitas de insatisfação.

Segundo Karla Brarymi, psicopedagoga da Polícia Civil, a maioria dos crimes não chega a ser denunciada. As razões são diversas e boa parte delas ligadas à situação socio-econômica: “Há casos em que as mães não denunciam por medo de violência, outras porque o abusador é um familiar e outras porque o agressor é o único provedor da casa”.  Foi o que ocorreu com Bete (nome fictício), que sofreu abuso de um tio adotivo quando tinha 5 anos de idade. A família nunca denunciou. Seis anos depois, o padrasto da criança tentou em várias ocasiões abusar da menina, que gritou e informou a mãe. Esta se recusou a denunciar o companheiro.

A maioria dos casos, segundo Brarymi, ocorre no ambiente familiar. “Temos situações estarrecedoras. Uma deles, que atendi recentemente, era a de duas meninas, de 11 e 14 anos, violentadas pelo padrasto. A de onze anos estava grávida”. No dia seguinte, a profissional atendeu o caso de um pastor evangélico que violentou todas as filhas. “Ele as convidava para uma pescaria e estuprava as crianças. Como era ele o único a trabalhar, a esposa temia que a família passasse fome se ele fosse preso”. Na mesma semana, os investigadores prenderam um homem que abusava da neta de 4 anos de idade e das amiguinhas que vinham brincar com ela.

Um raro exemplo em que a própria criança buscou ajuda foi o de Juliana (nome fictício), de 11 anos. A menina procurou a polícia para denunciar os estupros que sofria desde os oito anos de idade. Os dois agressores eram o irmão do padrasto, de 38 anos; e um amigo de seu pai, de 54 anos de idade. Em ambos os casos a mãe sabia dos abusos e não queria denunciar. Chorando, a criança disse aos policiais que tinha medo de estar grávida de algum dos abusadores.

De acordo com Karla Brarymi, quando ocorre a violência sexual, outras violações já ocorreram, como negligência e agressões físicas ou psicológicas. Em geral, os primeiros sinais de abuso são detectados na escola, quando a vítima entra em crise ou repentinamente muda o comportamento. Mas em boa parte das vezes as famílias ocultam a situação, ou porque algum familiar é o abusador ou porque têm vergonha da exposição.  É a história de Júlia (nome fictício). A estudante do segundo ano do ensino médio estava disposta a se suicidar. Escreveu a carta de despedida, e chegou comprar veneno de matar ratos. Uma amiga desconfiou e encontrou carta e veneno na bolsa de Júlia. Entregou a um professor, que acionou a psicopedagoga. Após uma abordagem inicial, a adolescente concordou em contar aos pais que era abusada pelo tio desde os cinco anos de idade e que constantemente se mutilava em razão do trauma. Embora chocados e chorando, os pais optaram por não denunciar o parente, mas prometeram acolher a filha e tomar providências para que o abusador não mais tivesse contato com a vítima.  

“O trauma de um estupro se estende por vários anos e requer ajuda especializada de um psicólogo. Infelizmente, nossas escolas públicas não dispõem desses profissionais. Uma das adolescentes que atendi, estuprada pelo tio desde os quatro anos de idade, embora tenha mudado de residência, não conseguia esquecer a violência sofrida e se automutilava. Nunca pudemos ajudá-la efetivamente”, lamenta Brarymi.

Segundo a psicopedagoga,  a própria equipe policial se sente afetada pelo sofrimento das crianças e adolescentes, que muitas vezes se sentem encurralados pelos adultos e temem ser agredidos ou abandonados. “Um caso que me marcou demais foi a de uma garota de 12 anos que se automutilava por ser estuprada pelo cunhado. Órfã de pai e mãe, ela não contava para a irmã por medo de ser expulsa de casa”.

A pobreza está na raiz da maior parte dos casos de exploração e de não denúncia dos abusos. “Uma enorme quantidade de meninas se tornam mães aos 12 anos porque o sexo com homens mais velhos lhes resulta em dinheiro para alimentação. Há mães que exploram as próprias filhas em redes de prostituição. A uma delas um taxista pagava uma cesta básica em troca de fazer sexo com uma das suas filhas”, conta Karla Brarymi.

Em outros momentos, a psicopedagoga diz que é preciso usar estratagemas para obter informações. “Em uma festa de carnaval eu vi uma garota de 12 anos abraçada a um homem de 65 anos. Tentei fazer a menina contar sobre o abuso, mas ela era arisca. Só consegui saber porque um dia perguntei informalmente “por que ele te dá tantas coisas?”. E ela respondeu: “Porque ele dorme comigo”.

Tanto a psicopedagoga como o delegado criticam a Justiça. “Infelizmente, a Polícia prende e a Justiça solta pedófilos e estupradores. É desanimador”, diz Karla Brarymi. No Instagram, o delegado Charles desabafou ao anunciar a morte de Maria Clara: “O que dizer? O que falar para os pais? O que é justiça em casos assim?” e explicitou a falta de recursos para trabalhar citando a operação que resultou na prisão do agressor de Maria Clara: “Embarcação emprestada, combustível emprestado, piloto voluntário”.

Karla Brarymi. Foto: Elza Lima

OIAPOQUE É CELEIRO DE PROBLEMAS

No Oiapoque não faltam problemas relacionados à segurança pública. Garimpo ilegal, tráfico de pessoas e de animais, drogadição, contrabando, abuso sexual de crianças e adolescentes e caça ilegal. Ainda assim, o local, um dos mais isolados do Brasil, situado na Amazônia e cercado por terras indígenas e áreas de preservação ambiental, seduziu o carioca Charles Correa. É o delegado que mais tempo passou no município – doze anos e oito meses. “Eu gosto muito desta floresta, do rio, desta fronteira única. Gosto de me aventurar , ir até o oceano”, admite.

Colecionador de inimigos e de ameaças de morte, por precaução ele mantém a família longe da cidade.  Na maior fronteira brasileira – 700 quilômetros partilhados com a França –,  Correa luta contra as deficiências do serviço público. “O número de policiais ainda é insuficiente, mas tenho esperança, pois estamos recebendo reforço da nova gestão”, diz.

Além da investigação dos casos de violência sexual no âmbito familiar, há o esforço para atacar a exploração de crianças por indivíduos e por redes de prostituição. “Muitas vezes é a própria mãe que estimula a filha a se prostituir. Não é raro fazermos operações em hotéis da cidade e em prostíbulos a fim de retirar menores dessa situação”, revela. A presença de franceses na cidade é um chamariz, uma vez que o pagamento é feito em euros.

Para Correa, os mais graves desafios na região do Oiapoque são relacionados ao crescente avanço das facções criminosas que controlam o tráfico de drogas no Amapá. “São organizações criminosas violentas e que não se limitam apenas ao mercado ilegal de drogas, pois permitem e fomentam crimes contra o patrimônio”, observa.

Segundo o delegado, o consumo de crack vem aumentando entre garimpeiros e pescadores. “Antigamente, os pescadores usavam mais maconha, a fim de enfrentar quase um mês no mar, mas aos poucos o crack vem ganhando espaço. No garimpo o consumo é bem maior. Com o crack, eles trabalham 24 horas “ligados” e se alimentam menos. No garimpo, o quilo do arroz pode chegar a cem reais”, informa. Correa estima que hoje existam no Oiapoque aproximadamente 200 pontos de venda de droga e mais de 3 mil pessoas envolvidas com o comércio de entorpecentes. Uma enormidade, considerando que a população do município é de 27 mil pessoas.

Outro problema é o tráfico internacional de pessoas. Em geral garimpeiros brasileiros que querem explorar ouro ilegalmente na Guiana Francesa, mulheres apanhadas por redes internacionais de prostituição e imigrantes ilegais que desejam seguir para o sudeste do Brasil. “Após as operações na reserva dos Yanomamis, os garimpeiros vieram em massa para o Oiapoque, fazendo aqui a sua base para ir para a Guiana Francesa”, explica o delegado.

Os pequenos barcos que transportam os garimpeiros ilegais navegam em condições perigosas e estão expostos a naufrágios. De acordo com o delegado, como as viagens usam transporte não registrado, os frequentes acidentes em alto mar não chegam sequer a ser notificados e os corpos desaparecem. “Depois de algum tempo percebi que era mais efetivo eu focar nos coyotes que nos garimpeiros individualmente. Ao apreender o barco de um coyote, impeço o transporte de cerca de 30 garimpeiros ilegais. Somados, a perda do barco, da carga e do dinheiro que seria pago pelos passageiros, o prejuízo do coyote chega a mais de 300 mil reais. E ainda evitamos mortes”, afirma.  

Outro foco da atuação da Polícia Civil do Oiapoque é a caça ilegal e o tráfico internacional de animais. “Macacos guariba são considerados iguarias na Guiana Francesa. Monitoramos de perto a captura e o contrabando desses animais”, conta Correa. Na última grande operação para flagrar esse tipo de crime, foram resgatados 10 macacos guariba,  5 mutuns, uma anta e um filhote de macaco-prego. Segundo o delegado, a crueldade com os animais têm um adicional: os caçadores levam consigo uma matilha de dez cães, um excelente farejador e outros menos dotados. Ao retornar, trazem apenas o principal animal. Os demais são abandonados na selva para morrer.

Em meio à dura realidade da Amazônia, o delegado que se orgulha de “jamais ter matado um ser humano” encontra tempo para estimular o esporte na fronteira. Em 14 de outubro próximo, ele organiza a quinta edição da “Corrida França-Brasil”, uma meia maratona (a única transnacional)  que ocorrerá nos territórios francês e brasileiro.

ESTATÍSTICAS SÃO INEXISTENTES

Escrever sobre o abuso sexual a crianças e adolescentes na Amazônia esbarra na quase completa ausência de dados e estatísticas. É uma consequência direta da subnotificação, agravada pela normalização da violência, pela vergonha de denunciar, pela ignorância acerca dos direitos e pelo fato de que boa parte dos abusadores está na própria família da vítima.

No caso do Oiapoque, os dados mais recentes são de 2011 e constam de um artigo publicado este ano na revista Educação, da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. No estudo, os pesquisadores Carlos Alberto Batista Maciel e Edval Bernardino assinalam que o Oiapoque “é historicamente descrito como um espaço territorial em que os direitos humanos sofrem diversas formas de violação. Em particular a exploração sexual em grande escala, cujas vítimas são os segmentos mais vulneráveis, com destaque às crianças e adolescentes”.

A pesquisa exploratória dos professores da Universidade Federal do Pará mapeou os registros de violação de direitos de crianças e adolescentes no período de doze meses, entre 2010 e 2011, arquivados nos órgãos de políticas públicas locais. Os registros revelaram que 5,1% da população infanto-juvenil do município foi submetida a algum tipo de violência. Os 416 casos identificados foram distribuídos em 69 casos de violência física, 105 de abandono, 168 de negligência, 58 de violência sexual, 10 de desproteção social e outros 16 sem identificação. O levantamento apontou uma expressiva concentração de registros no Conselho Tutelar do município (93,4%), indicando que no período estudado os demais órgãos do sistema de garantia de direitos não estavam cumprindo adequadamente suas responsabilidades.

Em relação à faixa etária das vítimas, a maior concentração está na faixa de 13 a 18 anos (55,2%). Nas faixas de 0 a 6 anos e de 7 a 12 anos, os percentuais foram de 22,4%.

Em agosto deste ano, os Ministério da Justiça e de Direitos Humanos anunciaram que uniriam esforços com a Childhood Brasil, entidade que atua na proteção da infância, a fim de combater a exploração sexual de crianças e adolescentes na região Amazônica. O combate a esse tipo de crime é um dos eixos prioritários do Plano Amazônia: Segurança e Soberania (AMAS), iniciativa que fortalece a presença do Estado Brasileiro nas nove Unidades da Federação que compõem a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Roraima, Rondônia e Tocantins).

Em 2019, no Brasil, foram registradas 86.837 denúncias de violações de direitos de crianças e adolescentes, segundo o Disque Direitos Humanos (Disque 100)

Tudo começa pela segurança defensiva

POR GERSON NOGUEIRA

O cenário é altamente favorável ao PSC no returno do quadrangular da Série C. Caso vença o Botafogo-PB no sábado e o Volta Redonda supere o Amazonas, a tão sonhada vaga na Série B 2024 estará assegurada, com dois jogos de antecedência. Um feito e tanto para uma equipe que rondou a zona do rebaixamento até a metade da fase de classificação.

Para conquistar o resultado que lhe interessa jogando na casa do Belo, o time terá que tomar algumas providências básicas. A primeira é cuidar do setor defensivo, que vem funcionando muito bem no quadrangular, com apenas um gol sofrido (contra o Volta Redonda).

O encaixe perfeito entre a linha de zaga – Wanderson e Wellington Carvalho – e o goleiro Matheus Nogueira é responsável pelo desempenho quase impecável da zaga alviceleste.

Depois do técnico Hélio dos Anjos, principal reforço do Papão na temporada, Matheus é a surpresa positiva, ocupando o gol e passando segurança aos companheiros de retaguarda.

Chegou sem grande alarde, mas hoje é um nome indiscutível na equipe titular. A agilidade e o bom posicionamento dentro do gol permitem ao PSC jogar com tranquilidade, coisa que não ocorria quando Marquinhos Santos escalava Thiago Coelho ou Gabriel Bernard.

Uma competição como a Série C exige das equipes um comportamento defensivo quase perfeito, o que inclui, obviamente, a presença de um grande goleiro. Matheus tem sido regular e competente na função.

Mais à frente, no setor de meio-de-campo, Hélio dos Anjos tem sido obrigado a fazer mais alterações do que gostaria. A chegada do volante Alencar representou um sopro de qualidade, mas uma lesão afastou o jogador da partida contra o Botafogo e pode afastá-lo do jogo de sábado.

Com isso, o técnico volta a ter como opções o trio João Vieira/Giovanni/Robinho, tendo como alternativa Vinícius Leite e Ronaldo Mendes para encorpar o balanço ofensivo. Ao mesmo tempo, depois da atuação nos 20 minutos finais do jogo passado, marcando o gol da vitória, Jacy Maranhão tem boas chances de recuperar a titularidade. (Foto: Jorge Luís Totti/Ascom PSC)

Agressores recebem punição branda do STJD 

Para surpresa de quase ninguém, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) amarelou no julgamento do presidente do Amazonas, Wesley Couto, e do gerente de futebol do clube, Frank Bernardo, que agrediram o zagueiro Naylhor e o preparador Tomaz Lucena, do PSC, no recente jogo entre as duas equipes, realizado na Arena da Amazônia.

As punições foram brandas e praticamente inócuas. Wesley Couto, julgado por praticar agressão, invadir vestiário dos árbitros, proferir ameaças e xingamentos, além de danificar equipamentos de praça esportiva. Foi suspenso por 105 dias, mais R$ 5 mil de multa. Quase um prêmio.

O gerente Frank Bernardo foi julgado com base no artigo 254-A do CBJD, que trata de agressão física. Tomou 60 dias de suspensão. Imagens da confusão criada pelos dois mostram o gerente esmurrando o preparador físico e o zagueiro Naylhor sangrando após agressão de Wesley Couto.

Tudo aconteceu após o Amazonas ter um pênalti anulado nos acréscimos do 2º tempo, devido a um impedimento no início da jogada.

Tanto Wesley quanto Frank estarão de volta ao ambiente do futebol até o final do ano, ficando livres para aprontar novamente. Enquanto isso, o clube mandante foi poupado de qualquer punição.

Leãozinho surpreende o Grêmio com vitória digna

Muita gente temia uma nova goleada, mas o Leãozinho derrotou o Grêmio por 3 a 1, ontem à tarde, no estádio Baenão, pelas quartas de final da Copa do Brasil Sub-20. Apesar da vitória, merecida, o Remo não superou a vantagem de cinco gols imposta pelos gaúchos na partida de ida.

A eliminação não abalou os garotos do Leão, que jogaram confiantes na reversão do placar. Ocorre que, logo aos 24 minutos, Nathan Fernandes fez 1 a 0 para o Grêmio. No 2º tempo, Kanu empatou. Felipinho, cobrando falta, virou o placar, e Viery (contra) marcou 3 a 1 para o Leãozinho.

O resultado deixa claro que o mau desempenho em Porto Alegre foi fatal para os planos do time sub-20 azulino. Depois do jogo, os jogadores se envolveram numa briga, causada por troca de provocações.

The Best Fifa, que esnobou Vini Jr., abre votação

Está aberto o período de votação para a 8ª edição da premiação The Best Fifa. Depois de muito tempo, a lista de nominados não inclui nenhum jogador ou técnico brasileiro. Vinícius Júnior, que teve uma temporada excepcional, foi ignorado. O único lembrado, mas na premiação específica para goleiros, é Ederson (Manchester City).

As indicações saíram de um painel de especialistas, que selecionaram os candidatos a partir de uma lista mais extensa compilada pela Fifa, com base no mérito de cada atleta durante os períodos relevantes.

Metade dos candidatos ao Prêmio de Melhor Jogador da Fifa vem do Manchester City, que conquistou a tripla vitória na temporada 2022-2023. Pep Guardiola foi indicado ao Prêmio de Melhor Treinador.

É injustificável que Vini Jr. não esteja na lista de indicados, que inclui jogadores do nível Kevin De Bruyne (Bélgica); İlkay Gündoğan (Alemanha); Erling Haaland (Noruega); “Rodri” Hernández Cascante (Espanha); Khvicha Kvaratskhelia (Geórgia); Kylian Mbappé (França); Lionel Messi (Argentina); e Arroz Declan (Inglaterra).

Espera-se que Vinícius não tenha sido descartado em função dos episódios de racismo de que foi vítima reiteradas vezes na Espanha. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 21)

Quem ainda acredita no VAR?

POR GERSON NOGUEIRA

Quando o VAR entrou em cena havia a esperança de que muitos dos grandes e cabeludos erros de arbitragem seriam finalmente evitados no futebol brasileiro. Pura ilusão. Mesmo com seguidos cursos e orientações para os árbitros de cabine, o VAR vem se afundando em decisões e omissões que beiram o absurdo.

Ouvir o áudio das conversas que rolam na cabine é um exercício de sofrimento extra para jogadores, técnicos e torcedores de times prejudicados pelas intervenções do árbitro de vídeo.

Nos últimos dias, a falta de credibilidade do VAR explodiu com as falhas em lances capitais. Vasco, Botafogo e Grêmio foram as equipes mais afetadas. O Vasco foi vítima de uma interpretação equivocada em lance de gol claro e legal contra o Palmeiras.

O Botafogo sofreu nas mãos do reincidente Rafael Claus no clássico com o Flamengo. Os dois gols rubro-negros tiveram irregularidades na origem. Um pênalti acintoso deixou de ser marcado na reta final da partida. No sábado, em Belo Horizonte, novo erro: o gol de Diego Costa foi anulado sem revisão pelo VAR.

Já o Grêmio foi devidamente garfado, anteontem, diante do Corinthians. Uma penalidade cometida por Yuri Alberto, que rebateu com o braço um cruzamento de Ferreirinha, foi ignorada pelo árbitro Wilton Sampaio, com aval do VAR. No áudio da cabine, dois árbitros também não viram ilegalidade num pênalti claríssimo e óbvio. O caos total.

Para completar o festival de absurdos, a Associação de Árbitros de Futebol do Brasil (Abrafut) publicou ontem manifestação nas redes sociais protestando contra as reclamações de jogadores e do técnico do Botafogo após a desastrosa arbitragem do jogo contra o Atlético-MG, no último sábado (16/9), na Arena MRV.

Segundo a entidade, a anulação do gol de Diego Costa “foi clara”, lamentou as declarações do atacante alvinegro sobre o lance e repudiou as “acusações” do técnico Bruno Lage de que “coisas duvidosas e lances inexplicáveis têm beneficiado e prejudicado equipes”.

É o típico caso do poste urinando no cachorro, conforme a velha máxima jornalística. O Botafogo, sucessivamente prejudicado por arbitragens atrapalhadas, corre o risco de ser punido enquanto árbitros despreparados dentro de campo e no VAR seguem impunes.

Papão avança e Hélio cresce no conceito da torcida

O técnico Hélio dos Anjos vive uma lua-de-mel arrebatadora com a torcida alviceleste. Não é para menos. O homem é o responsável pela campanha que conduziu o PSC à classificação e pelo êxito nas três rodadas iniciais do quadrangular que define o acesso.

Hélio acertou a mão em escolhas e no diagnóstico dos problemas que impediam o PSC de exercer competitividade no campeonato. Sua gestão de vestiário também é muito elogiada no clube. Profissional experiente, ele não hesita em usar métodos antigos para corrigir problemas modernos.

A forma como interage com a torcida é outro ponto a destacar. Hélio sabe se comunicar com o torcedor, atraindo a confiança do público para o time, que muitas vezes foi execrado antes de sua chegada. Domingo, o gesto de tirar a camisa e jogar para a torcida foi simbólico dessa conexão.

Venda antecipada de ingressos faz a festa de cambistas

As vendas de ingressos para o jogo Paysandu x Amazonas, que acontece no dia 1º de outubro, no estádio Mangueirão, começaram ontem (19), com muita procura pelos torcedores, além da ocorrência de velhos problemas. Poucas horas depois de abrir a venda, o clube anunciou que as entradas para a arquibancada do Lado B estavam esgotadas.

O problema é que boa parte desses ingressos vendidos foram parar nas mãos de cambistas, que repassam até pelo dobro do preço. Lembrando que o clube reajustou os preços de arquibancadas e cadeiras. Em fotos e vídeos que circulam nas redes sociais é possível ver vários ingressos adquiridos por uma única pessoa.

O clube precisa organizar e fiscalizar melhor a venda dos bilhetes, a fim de não penalizar os torcedores.

Clima no Flamengo está cada vez mais caótico

A briga entre o vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, com um torcedor dentro de um shopping ontem na Zona Oeste do Rio, revelou o grau de descontrole reinante no clube e expôs também a ausência de Braz, que é vereador, na sessão da Câmara Municipal.

Vídeos do local que circulam em redes sociais mostram aglomerações no centro comercial perto da loja Pandora, onde Braz fazia compras, após o entrevero. As imagens também mostram um torcedor pedindo para o diretor demitir o treinador Jorge Sampaoli.

“E aí Marcos Braz, chega aí. Os ingressos caros, como vamos pra São Paulo agora? Não vai tomar uma atitude? Leva a sério o bagulho. Isso é sacanagem com a nossa cara. Arrecadou 26 milhões pra quê? A gente vai pra S. Paulo sem ter nem o ingresso. Tem que mandar o Sampaoli meter o pé, o Gabigol é outro. É só uma ideia para as coisas não piorarem”.

Quando ficou sozinho com o torcedor, Braz e um segurança partiram para chutes e pontapés. “Foi muito desnecessário, ele foi covarde, não poderia se prestar a esse papel. Ele e um segurança batendo em um menino magrinho”, relatou uma funcionária do shopping.

Depois do tumulto, um dos torcedores disse ter sido mordido pelo dirigente rubro-negro na altura da virilha durante a briga. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 20)

Rock na madrugada – The Doors, “Break on Through (To the Other Side)”

The Doors na apresentação de seu single de estreia “Break on Through (To The Other Side)”, originalmente lançado em seu álbum autointitulado The Doors (1967). Com um som envolvente que mesclava gêneros, músicas e letras instigantes, a banda se sustentava fortemente no poder da poesia e da presença cênica de Jim Morrison.

A chegada à cena roqueira em 1967 marcou não só o início de uma série de singles e álbuns de sucesso que se tornariam clássicos, mas também de algo mais relevante – uma relação nova e mais profunda entre artistas e público. Recusando-se à condição de artistas formais, o quarteto de Los Angeles desafiou e encantou incansavelmente os seus milhares de fãs.

“Break on Through” foi só o começo da saga de Jim Morrison, Ray Manzarek, Robby Krieger e John Densmore. A banda recebeu esse nome por sugestão de Morrison, que se inspirou no título do livro de Aldous Huxley, “The Doors of Perception” (As portas da percepção).

Vicente Salles é homenageado pela Editora da UFPA com lançamento de livro e rodas de conversa

Uma das últimas obras inéditas do escritor paraense Vicente Salles, Traços & Troças: o Desenho de Crítica e de Humor no Pará, foi lançada no último domingo, 10 de setembro, pela Editora da Universidade Federal do Pará (ed.ufpa), durante a 26ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, no Hangar – Convenções e Feiras da Amazônia. Além do lançamento, a ed.ufpa promoveu rodas de conversa com pesquisadores e a presença especial da violinista Marena Salles, viúva do escritor, que também autografou o livro no estande da editora.

Emocionada, Marena Salles recordou quando a obra foi entregue à UFPA para edição: “Foi correndo o tempo e agora, com essa surpresa, saiu uma edição maravilhosa, fantástica. Parabéns para a Editora da UFPA. Eu fico muito feliz em ver o livro publicado. O Vicente também estaria muito emocionado”, celebrou.

Em edição de luxo, com capa dura, sobrecapa e impressão em policromia, o livro é resultado de pesquisa ampla e cuidadosa sobre a caricatura no Pará, do fim do século XIX até os primeiros anos do XX. A obra reúne duas microedições produzidas pelo próprio autor.

Simone Neno, coordenadora editorial da ed.ufpa, explica que o texto da introdução é datado de agosto de 1998. “São treze anos até a sua publicação como microedição e doze anos até o seu lançamento na forma como agora se apresenta. O tempo decorrido nos permitiu uma imersão no legado do autor, síntese da historiografia da Amazônia. A proximidade com a Coleção Vicente Salles, sob os cuidados do Museu da UFPA, nos possibilitou explorar o extraordinário universo que o autor percorreu para produzir Traços & Troças, o que resultou na inclusão de um apêndice com imagens que enriquecem o texto e o conjunto imagético da obra”.

Para a professora Regina Maneschy, que assina o prefácio do livro, “A obra retira da invisibilidade vários artistas e desenhistas paraenses e outros que trabalharam no Pará e não são conhecidos ou citados em trabalhos que pretenderam registrar a história da charge no Brasil. O texto do Vicente sobre a charge e a caricatura também nos mostra as lutas políticas que existiram no estado desde o século XIX e como era a sociedade paraense, com suas contradições e críticas. Então, o livro, além do aspecto artístico, do desenho, da pintura, tem este outro aspecto social e político que é muito próprio de como o Vicente via a sociedade brasileira”.

Prestigiaram o lançamento o reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho, o vice-reitor, Gilmar Pereira da  Silva; a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Iracilda Sampaio; a pró-reitora de Planejamento e Desenvolvimento Institucional, Cristina Yoshino; o pró-reitor de Administração, Raimundo Almeida; o pró-reitor de Extensão, Nelson de Souza Junior; o diretor de Pós-Graduação, Marcelo Vallinoto; a diretora da Biblioteca Central, Célia Ribeiro; a diretora da ed.ufpa, Káyra Badarane; a coordenadora editorial da ed.ufpa, Simone Neno; entre outras(os) dirigentes da UFPA. Também participaram os professores Regina Maneschy e Carlos Sampaio.

Homenagens – Junto ao lançamento de Traços e Troças, a Editora da UFPA organizou um Tributo a Vicente Salles na forma de rodas de conversa. Na manhã do dia 10 de setembro, sob a coordenação de Marena Salles, a primeira roda de conversa contou com as participações dos pesquisadores Jonas Arraes, da Universidade do Estado do Pará, Paulo Maués, da Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc), e Alessandra Regina e Souza Mafra, também da Uepa.

Jonas Arraes levou aos participantes memórias partilhadas junto ao amigo Vicente Salles incluindo registros fotográficos que deixaram a coordenadora da roda emocionada. O tema central de sua fala foi Museu da UFPA e Instituto Musica Brasilis: o fundo Vicente Salles presente no Projeto Acervo Digital de Partituras Brasileiras. “Eu faço uma analogia do Vicente como a abelha que vai na flor, pega o néctar, processa dentro de si e nos dá o mel. Vicente ia nas fontes, colecionava, organizava e nos dava livros. Em suas inúmeras obras, ele está sempre falando de música. Ser amigo e trabalhar com Vicente foi realmente um presente”, contou o pesquisador que esteve na coordenação do projeto de recuperação e difusão do acervo musical da coleção Vicente Salles da Biblioteca do Museu da UFPA.

A Amazônia em múltiplas faces – entre o popular e o erudito foi o tema escolhido por Paulo Maués para falar de Salles. Ele destacou o talento e a agilidade do escritor paraense em escrever sobre diferentes vertentes, estabelecendo uma complementariedade entre o contínuo erudito-popular.  “Foi uma máquina de escrever. Escrevia muito e muito velozmente. Por isso temos tantos escritos até hoje”, enfatizou. Pesquisador e folclorista, Vicente Salles dedicou-se a diferentes temas, incluindo Amazônia, negros, música e cultura popular.

Já encerrando o ciclo de conversa da manhã, Alessandra Mafra contou sua experiência de pesquisa com base no tema O arauto da cultura Paraense: uma história intelectual de Vicente Salles, mesmo título de sua dissertação de mestrado defendida em 2012 pela UFPA, em que é destacado o tema do colecionismo e do folclore presentes na vida e obra do escritor. “Vicente Salles foi um intelectual polígrafo que, ao longo da vida, trabalhou, colecionou e escreveu sobre os mais variados temas. Suas obras são um patrimônio. Minha pesquisa me proporcionou e proporciona muitas alegrias e sinto que há muito a pesquisar ainda”, contextualizou Mafra.

No meio da tarde do mesmo dia, a segunda roda de conversa foi coordenada pelo reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, e contou com a presença de Marena Salles. Ela pontuou alguns legados de Vicente Salles, como o Acervo Vicente Salles no Museu da UFPA; a contribuição para a fundação da Academia Paraense de Cordel, da qual Vicente é patrono; as reedições de sua obra pelo Instituto de Artes do Pará (IAP); além da colaboração do escritor em diversas pesquisas acadêmicas por meio de entrevistas e disponibilização do seu acervo.

Participaram também da roda de conversa o professor Aldrin Figueiredo, da UFPA, que desenvolveu o tema Um socialista na história: Vicente Salles e a interpretação política da Amazônia; o poeta João de Jesus Paes Loureiro, professor aposentado da UFPA, que abordou O Vicente Salles que conheci, admirei e com quem caminhei pela cultura amazônica; e a professora Regina Maneschy, da UEPA, que apresentou o livro Traços & Troças: o Desenho de Crítica e de Humor no Pará.

Os integrantes da roda citaram a importância de Vicente Salles para um olhar amazônico sobre grandes temas do Brasil, seu amor pelas artes, seu respeito para com os menos favorecidos e o valor de sua obra para avaliar o passado, compreender o presente e transformar o futuro.

O reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, agradeceu a confiança da família na UFPA para editar Traços e Troças. Lembrou que, em 2014, no ano seguinte ao falecimento de Vicente Salles, a ed.ufpa o homenageou transformando o estande na Feira Pan-Amazônica do Livro em Praça Vicente Salles, que levou ao público um pouco de sua vida e obra. A homenagem também incluiu um ciclo de palestras integrado à programação oficial do evento.

Sobre o autor – Vicente Juarimbu Salles nasceu em 27 de novembro de 1931, na Vila do Caripi, município de Igarapé-Açu, no Pará, próximo a uma aldeia Tembé. Autor de uma obra multifacetada, publicou 26 livros, participou de dezenas de coletâneas e produziu 51 livretos artesanais de pequena tiragem, as microedições do autor, que ele mesmo editava e custeava. Em 2010, Vicente Salles recebeu o título de “Doutor Honoris Causa” da UFPA, em reconhecimento por sua contribuição à preservação da memória cultural e intelectual do Pará e da Amazônia. Faleceu em 7 de março de 2013, no Rio de Janeiro.

Texto: Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

Fotos: Nícia Salimos – Editora da UFPA; Alexandre de Moraes – Ascom UFPA; Heloísa Torres – Ascom UFPA

Tapando o sol com jornalismo fossilizado

Entre o desespero e o cinismo, resta responsabilizar os irresponsáveis

Por André Forastieri

Tá quente no Brasil como nunca. Aproveite o clima ameno. Todas as projeções garantem calor bem mais opressivo em anos vindouros. Fique à vontade pra escolhar qual cenário lhe parece mais provável. Vai do otimista, que é só desastroso, ao pessimista, que é inimaginavelmente cataclísmico.

Essa projeção ilustrada vai te ajudar. São as “stripes” do cientista climático britânico Ed Hawkins, que você pode seguir aqui.

Essa parte azul cobre a variação do clima global de 1850 até agora de pouco.

Dependendo do que fizermos, vamos para uma das cinco faixas à direita até 2100, daqui 76 anos. Nós estamos naquela faixa amarela clarinha, “you are here”. O canto direito superior é o apocalipse.

Eu tenho quase sessenta anos. Garanto que sete décadas passam rápido.

Dependendo do que fizermos com as petroleiras, especificamente. Como disse ontem o Gavin Newsom, “a crise climática é uma crise da energia fóssil”. O governador da Califórnia anunciava um processo do estado contra cinco big petroleiras. Até que enfim.

Sobram provas de que a indústria do petróleo vêm mentindo há décadas. Esconde deliberadamente os resultados de seus próprios estudos científicos sobre o impacto do óleo, carvão e gás sobre o Aquecimento Global. Recebe subsídios zilionários de dinheiro público, do nosso dinheiro público.

Elas vão perder o processo, figa. Elas vão ter que pagar caro e vão fechar, figa, figa.

Vai demorar. Pode demorar menos. Todo minuto faz diferença. Newsom convoca outros estados, países, cidades a entrar com processos semelhantes.

Fica a dica pra Marina Silva, o estado do Rio Grande do Sul, ou qualquer cidade que sofrer com a onda de calor desta semana: botem a Petrobras e cia. no pau. California Dreaming, why not?

Enquanto isso o noticiário varia entre o desespero e o cinismo, mesma situação do negociador climático citado hoje pela Daniela Chiaretti no jornal Valor Econômico.

O desespero está na página 2 abaixo. Na canseira da incansável Dani com quem pede mais leveza na cobertura do Clima; na resignação do Fernando Meirelles.

O cinismo está na página 4 do próprio Valor: uma página inteira falando dos investimentos do novo PAC. Em 2023, continuamos lendo matérias sobre petróleo sem uma única menção à Emergência Climática.

Nosso jornalismo fossilizado promove o Capitalismo Fóssil. Não é exclusividade do Valor, é a regra. Pego no pé porque leio diariamente e porque é nosso principal veículo econômico. Vale igual pra todos os outros, que também têm vozes indispensáveis – e isoladas – como a Dani Chiaretti.

Naturalmente os jornalistas que cobrem setores específicos precisam manter boas relações com suas fontes. Isso não é menos verdade no setor energético.

Quem tem que determinar que toda matéria sobre petróleo, carvão e gás explique a relação destes combustíveis com o Aquecimento Global é a direção de cada veículo. É o que fez na Inglaterra o Guardian, maior jornal em língua inglesa do planeta.

Certo que é farta a publicidade dos poluidores, no Brasil e em todo lugar. Mas imprensa não pode tapar eternamente o sol com peneira. É preciso responsabilizar os irresponsáveis, tanto os poluidores quanto seus propagandistas. Chega de cinismo.

Sob aplausos, Lula defende na ONU o combate à desigualdade e pede imprensa livre

Experiente no púlpito das Nações Unidas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu demandas antigas, ao retornar à Assembleia Geral, em Nova York, após um intervalo de 14 anos. Num discurso forte e estruturado, ele centrou na desigualdade a origem das mazelas que desafiam a ONU e recebeu aplausos sete vezes, sobretudo quando anunciou, mais uma vez, a sua volta e a do Brasil a um palco internacional de debates.

“Estabilidade e segurança não serão alcançadas onde há exclusão social e desigualdade”, advertiu o presidente brasileiro, que soma oito discursos na Assembleia Geral nas duas últimas décadas.

A fome, a pobreza, a ameaça da extrema direita, a defesa pela reforma do Conselho de Segurança, por soluções à emergência climática e a cobrança de recursos das nações desenvolvidas permearam o discurso desta terça-feira, sempre com a desigualdade como pano de fundo. “Não haverá sustentabilidade nem prosperidade sem paz”, insistiu.

POR ASSANGE

“É fundamental preservar a liberdade de imprensa. Um jornalista como Julian Assange não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima”, declara Lula, na abertura da Assembleia Geral da ONU.

“A estabilidade geopolítica e a segurança não serão alcançadas onde há exclusão social e desigualdade. A ONU nasceu para ser a casa do entendimento e do diálogo. As sanções unilaterais causam grande prejuízos à população dos países afetados. Continuaremos críticos a toda tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reeditar a Guerra Fria. Além disso, o Conselho de Segurança da ONU vem perdendo progressivamente sua credibilidade. Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia”, ressaltou.

Na abertura dos debates, Lula cresceu e tirou proveito do vazio deixado no cenário internacional por seu antecessor, Jair Bolsonaro, para delinear aos representantes de mais de 140 países a sua agenda social. O ex-presidente, hoje inelegível, defendeu a cloroquina e o negacionismo em plena pandemia e diante da assembleia da ONU.

Celebrou bandeiras como o combate ao racismo, à xenofobia, à intolerância, e ao feminicídio; ressaltou a importância da preservação da liberdade de imprensa, dos direitos dos grupos LGBTQ+. “O Brasil está se reencontrando consigo mesmo, com nossa região, com o mundo e com o multilateralismo.”

Críticas à paralisia da ONU e à perda de credibilidade do Conselho de Segurança entraram no discurso para justificar uma bandeira antiga, proferida todas as vezes que subiu à tribuna: a necessidade da reforma do órgão como parte da solução dos problemas. O Brasil pleiteia um assento permanente, juntamente com Alemanha, Japão e Índia, integrantes do chamado G-4.

“Essa fragilidade decorre em particular da ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime. A guerra na Ucrânia escancara a nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer o propósito e os princípios da Carta da ONU.”

Dessa forma, Lula corrigiu deslizes anteriores – como o de equiparar a responsabilidade do conflito aos dois países – e deixou a tribuna como estadista. (Com informações de O Globo e Folha de SP)

Tribunal popular Anistia Nunca Mais vai julgar Bolsonaro em novembro

Em novembro 2023, um tribunal popular vai julgar os crimes cometidos pelo governo Bolsonaro durante a pandemia da Covid-19. Mais de 700 mil brasileiros perderam a vida numa tragédia cujo alcance poderia ter sido menor: sabemos que o Brasil foi o país com o maior número de mortes evitáveis. Segundo estudo elaborado com o apoio do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor e da Oxfam Brasil), foram 305 mil mortes evitáveis. O julgamento simbólico é fruto direto da coleta de mais de 100 mil assinaturas do manifesto “Anistia nunca mais” , capitaneada pelo Manifesto Coletivo.

O pedido de apoio envolve tais tarefas, brevemente descritas a seguir:

  1. ORGANIZAÇÃO: produção de material gráfico (lambes e panfletos) que serão distribuídos em locais públicos como forma de mobilização direta da população à participarem do evento. 
  2. PRODUÇÃO: o evento contará com a presença de convidados que irão compor o julgamento. Algumas pessoas precisarão de ajuda de custo para o deslocamento até o local do evento. 
  3. DOCUMENTÁRIO: O evento será filmado em formato de documentário e para tanto precisaremos alugar equipamentos áudio-visuais, contratar profissionais de filmagem, iluminação e som assim como para o trabalho de pós-produção (montagem/edição das imagens).

JUSTIFICATIVA

“O Brasil criou seus impasses por meio do esquecimento. Como se não falar, não julgar, não elaborar, pudesse nos garantir alguma forma de paz. Foi assim em vários momentos de sua história, criando uma verdadeira compulsão de repetição. As violências coloniais nunca foram objeto de elaboração devida. Da mesma forma, as violências da ditadura militar foram caladas através de uma anistia que, longe de ter sido resultado de algum “acordo nacional”, foi fruto de uma imposição dos próprios militares e da conveniência de seus aliados civis. Este é um país de silêncio. 

Só que agora está claro para quem quiser ver que esse silêncio nos custa caro. Ele custa nosso futuro. Pois um país que ignora a força histórica, da justiça e da reparação condena-se a estar sempre acorrentado ao seu próprio passado. Ele não pode nunca ver o passado passar, porque aqui não há luto, não há dolo, não há responsabilização.  

A partir do começo de 2023, o país ganhará tempo para se fortalecer diante dos embates que virão. A extrema direita brasileira, apoiada na ressurreição do fascismo nacional, demonstrou força enorme e, contrariamente ao pensamento mágico de alguns, não desaparecerá. Combatê-la passa por nomear seus crimes e exigir verdade e justiça. O país não aguenta mais um pacto extorquido e nem merece mais uma farsa dessa natureza. 

Os mesmos que não foram responsabilizados pelos crimes perpetrados pela ditadura militar voltaram para “gerir” o país em um de seus momentos mais dramáticos, a saber, diante da pandemia mundial que levou ao menos 700 mil pessoas entre nós. Esse número aterrador não foi uma fatalidade, mas sim fruto da negligência criminosa e da indiferença atroz. O que ocorreu entre nós foi um crime de Estado e deve ser tratado como tal. Por isso, chamamos todes à luta pela instalação de um Tribunal Popular que tem como função forçar o debate público e a ação do novo governo. 

Essa ação deve ser acompanhada de outra, tão urgente quanto necessária. Por isso, este chamado é também para juntarmos forças e exigirmos a desmilitarização imediata do Estado brasileiro. Isso significa tanto o afastamento dos militares das instâncias de decisão e administração do Estado quanto o afastamento de toda a cúpula do comando militar envolvida com o governo anterior. Que todos eles passem para a reserva. Nos últimos quatro anos, os militares chantagearam continuamente a sociedade brasileira, com ameaças de golpe e intervenções diretas nos processos políticos nacionais. Isso não pode passar impune”.

Em uma democracia, os militares não existem politicamente. Eles não falam, não agem e não intervêm sob circunstância alguma. Uma das maiores aberrações da Constituição de 1988 foi definir as forças armadas como “guardiãs da ordem”. Em uma democracia real, quem defende a sociedade é a própria sociedade e não necessita de qualquer força exterior a si mesma para tanto. Está na hora de nos defendermos de nossos “defensores”.

Convidamos a todos para essa dupla luta. Mostremos de forma clara o que não aceitamos mais e consolidemos uma força ofensiva que obrigue os que nos governam a terminar, de uma vez, com a espiral de silêncio que marcou até hoje nosso país.

Manifesto ColetivoInstagramTwitterE-mailYouTube

Rock na madrugada – Simon & Garfunkel, “The Boxer”

Interpretação histórica de “The Boxer” no Central Park (NY), em 1979. Vozes impecáveis, talvez as mais bem sincronizadas do rock, Paul Simon e Art Garfunkel legaram ao mundo um punhado de grandes canções. The Concert in Central Park virou um álbum ao vivo de grande sucesso. A gravação foi registrada num show beneficente realizado em 19 de setembro de 1981, presenciado por mais de 500 mil pessoas. A dupla se separou no final dos anos 90, mas Simon continua na ativa, experimentando sons e participando de eventos filantrópicos.

Presidente da Alepa recebe comitiva de prefeitos para pedir revisão da cota do ICMS

O chefe do Poder Legislativo do Pará, deputado Chicão (MDB), acompanhado de diversos deputados estaduais, recebeu uma comitiva com vários prefeitos de cidades paraenses que foram reivindicar uma revisão da cota parte do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), devolução tributária que destina aos municípios os recursos que os Estados arrecadam em seu território.

Algumas prefeituras enfrentam uma situação financeira delicada, com sérias dificuldades para cumprir suas obrigações fiscais, segundo a Federação das Associações de Municípios do Estado do Pará (Famep). (Foto: Celso Lobo)

Familiares de Damares Alves voltam a ameaçar acampamento do MST no Pará

Agricultores relatam a destruição das lavouras. O acusado pelas intimidações, Marcos Bengston, responde em liberdade por assassinato de sem terra em 2010

Da Rede Brasil Atual

As famílias reivindicam a fazenda Cambará, atualmente com nome de Acampamento Quintino Lira, desde 2007. | Foto: Renan Mattos/MST

São Paulo – As famílias do Acampamento do MST Quintino Lira, em Santa Luzia, no Pará, enfrentam já há uma semana ameaças e intimidações por parte de Marcos Bengtson. Administrador da fazenda Cambará, ele é filho de Josué Bengtson, pastor e ex-deputado federal do PTB, tio da senadora Damares Alves (Republicanos-DF). Os agricultores relatam a destruição de seus meios de subsistência, especialmente as plantações, além de derrubada de árvores e até incêndio de casas de forno.

Desde 2007 as famílias acampadas em área da fazenda Cambará reivindicam a área ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e ao Instituto de Terras do Pará (Iterpa). Trata-se de uma terra pública grilada, que deveria ser destinada para fins de reforma agrária.

Segundo o MST, a família Bengtson está envolvida em diversos escândalos e crimes. Josué Bengtson foi cassado por corrupção da “Máfia das Ambulâncias” em 2018. Em maio deste ano, a Polícia Federal apreendeu um avião com 290 kg de maconha com destino à Igreja do Evangelho Quadrangular, fundada e liderada por Josué Bengtson.

Marcos Bengtson, por sua vez, foi responsável pelo assassinato do agricultor Sem Terra José Valmeristo Soares, conhecido como Caribé, em 2010. Antes de morrer, a vítima foi submetida a tortura. Embora preso na época, atualmente responde ao processo em liberdade.

As famílias do Acampamento Quintino Lira e comunidades próximas têm sido alvos também de envenenamento, por meio da pulverização aérea de agrotóxicos. Um crime denunciado às secretarias de saúde e meio ambiente do município. Os trabalhadores rurais também denunciaram os diversos crimes cometidos por Marcos Bengtson à Delegacia de Conflitos Agrários (DECA).