A volta dos chutes bem calibrados

POR GERSON NOGUEIRA

Vinícius Leite não fazia boa participação na Série C até Hélio dos Anjos chegar. Foi um dos jogadores beneficiados diretamente pela argúcia e capacidade de observação do treinador. Antes, sob o comando de Marquinhos Santos, o atacante era uma peça improdutiva, movimentando-se pouco e evitando sua grande arma, os chutes de média distância.

O baixo rendimento na fase inicial do campeonato era percebido pelo torcedor e pelo próprio atleta, segundo declarações recentes dele. Obviamente, tinha consciência de que estava muito aquém do que podia produzir. Sempre foi um jogador de mobilidade, com recursos capazes de superar a marcação e abrir espaço para finalizações perfeitas.

Antes do início da Série C, Vinícius só foi notado pelo gol no Re-Pa que marcou a reabertura do estádio Jornalista Edgar Proença, valendo pelo campeonato estadual. Mas, para um atacante de seu nível, em segunda passagem pelo Papão, o desempenho deixava a desejar.

Com a chegada de Hélio, com quem Vinícius havia vivido uma grande temporada em 2019 no PSC, as coisas mudaram drasticamente – para melhor. O técnico observou que uma das causas da má fase do time estava na falta de força e intensidade nos jogos.

Tratou de reforçar o condicionamento, a tempo de salvar a campanha e tornar o PSC um dos times de melhor resposta física no quadrangular decisivo. Parece uma equipe completamente diferente, embora com os mesmos jogadores de antes.

A partir daí, o PSC deixou de ser um time ciclotímico, de performance irregular. Passou a correr nos dois tempos, chegando até a surpreender adversários com uma intensidade maior na reta final das partidas. Foi o que ocorreu diante do Botafogo-PB, nas duas partidas.

E foram essas duas situações que revelaram o bom momento vivido por Vinícius Leite. Foi o artífice do gol de Jacy Maranhão no minuto final do confronto no Mangueirão e brilhou na vitória por 3 a 2, em João Pessoa, marcando um gol no 1º tempo e dando a assistência (meio sem querer) para o gol decisivo de Robinho no 2º tempo.

É legítimo esperar que, nos próximos dois compromissos, pela evolução demonstrada, Vinícius esteja pronto a contribuir para que o PSC confirme o acesso e a presença na decisão da Série C.

Governo pune ato de intolerância de servidora federal

O episódio envolvendo Marcelle Decothé, assessora da ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial, dá bem a medida de como a manifestação nas redes sociais se tornou um terreno movediço. Quem integra um governo que tem como uma de suas bandeiras mais caras o combate ao racismo e à intolerância, a jovem auxiliar da ministra pisou feio na bola.

Presente ao estádio do Morumbi para acompanhar junto com Anielle a final da Copa do Brasil e participar da assinatura de um documento simbólico da luta antirracista no país, Marcelle estava em missão de trabalho, mas se deixou trair pela emoção e o fanatismo esportivo.

Fez postagens na internet menosprezando e ofendendo a torcida do São Paulo e o povo paulista. Nada mais inadequado. O ministério da Igualdade Racial é um instrumento destinado a defender os interesses da população. Além disso, torcedoras são-paulinas não devem ser discriminadas, principalmente por uma funcionária federal.

O gesto de desatino foi um contraponto cruel às iniciativas positivas do governo Lula contra o racismo em todas as esferas, incluindo o futebol. Abriu espaço para as bizarras teses do racismo reverso (“racismo contra brancos”), brandidas pelas turbas extremistas.

Menos mal que Marcelle, por força de seu comportamento desastroso, foi demitida do Ministério da Igualdade Racial. Que sirva de exemplo, não apenas a assessores, mas a qualquer servidor público.

Um minuto de tributo pelo poeta imortal de “Paupixuna”

Clube de coração daquele que é um dos gigantes da música paraense, o PSC solicitou ontem à CBF que seja respeitado um minuto de silêncio antes do jogo de domingo contra o Amazonas em homenagem a Paulo André Barata, poeta e compositor de primeira linha.

Paulo André nos deixou na segunda-feira à noite, aos 77 anos. Era o dia de seu aniversário e as condolências pela sua morte envolveram desde o governador Helder Barbalho até os admiradores mais anônimos.

Mestre da poesia e da canção, Paulo André é neto de Alarico Barata, um dos fundadores do PSC. Pertencia a uma família alviceleste, o que inclui o pai, Ruy Paranatinga Barata, já falecido, e o jornalista Tito.

Cansei de encontrar o compositor em seu “escritório” vespertino, o Cosanostra, rodeado de amigos. Algumas vezes envergando a camiseta tricolor do Fluminense, sua outra paixão futebolística. 

Excelente e oportuna iniciativa do clube, permitindo à torcida bicolor que também homenageie Paulo entoando um de seus hinos amazônicos. Pode muito bem ser “Foi Assim”, música popularizada na voz de Fafá de Belém. A ideia foi lançada pelo amigo Aldo Valente, um dos baluartes deste espaço.

(Não que a rica produção de Paulo André se limite a este clássico. A cada momento, é possível descobrir pérolas, como a brilhante “Abismo”, que eu nem conhecia, produto de parceria com o também poeta Paes Loureiro).

Que os versos e a inspirada melodia da canção, misto de bolero e toada amazônica, bem ao estilo de Paulo e Ruy. O Pará perde um ícone, cuja obra permanece viva na memória e na admiração de todos os paraenses, bicolores ou não.

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 28)

Rock na madrugada – Steppenwolf, “Magic Carpet Ride”

Steppenwolf, que ganhou fama como a banda favorita dos motoqueiros e estradeiros em geral, surgiu em 1967 na cena musical de São Francisco, nos Estados Unidos. A maior parte do grupo veio da formação original do canadense The Sparrows. O nome Steppenwolf foi influenciado pelo livro “O Lobo da Estepe”, escrito por Hermann Hesse e uma espécie de Bíblia da contracultura no final dos anos 60. “Magic Carpet Ride”, do álbum Candy (1968), foi o segundo grande hit da banda, abaixo apenas do clássico “Born to be Wild”.

Mestre da música paraense, Paulo André Barata morre aos 77 anos

“Hoje, 25 de setembro, dia em que completou 77 anos, meu querido irmão PAULO ANDRÉ BARATA partiu para o céu infinito. Foi músico e compositor paraense de quatro costados. Torcedor do Paysandu e do Fluminense. Amou os animais e cantou a Amazônia. Dedicou sua vida à criação artística e ao bem comum. Que DEUS o proteja, conduza e o ampare em sua nova caminhada e morada”.

Em mensagem nas redes sociais, o jornalista Tito Barata comunicou ontem à noite a morte do poeta, músico e compositor Paulo André Barata, seu irmão mais velho. A música paraense (e nacional) de qualidade sofrem uma perda irreparável.

Em parceria com o pai, o também poeta e compositor Ruy Paranatinga Barata, Paulo André é responsável pela criação de clássicos da música regional, como “Foi Assim” (eternizada na voz de Fafá de Belém”, “Pauapixuna”, “Esse Rio É Minha Rua”, “Indauê Tupã”. Paulo compôs também com outros parceiros, como João Donato, com quem fez “Nasci para Bailar”.

Paulo André estava internado há mais de uma semana no Hospital Porto Dias, em Belém. O compositor será velado a partir desta noite, no hall de entrada do Theatro da Paz. O sepultamento está marcado para a manhã desta terça-feira (26) no cemitério Santa Izabel, em Belém. 

Paulo André foi o maior parceiro de composições do pai Ruy, advogado, historiador, professor e político nascido no dia 25 de junho de 1920, em Santarém. A colaboração entre pai e filho gerou canções brilhantes que hoje pertencem à cultura nortista e se tornaram conhecidas em todo o país.

Uma aula de Elis

Uma refinada aula de intepretação no palco do Festival de Montreux, em 1979. Com a apurada técnica habitual, Elis Regina canta “Cobra Criada”, de João Bosco e Paulo Emílio, cercada por uma banda de responsa – Hélio Delmiro (guitarra), César Camargo Mariano (teclados), Paulinho Braga (bateria), Luizão Maia (baixo) e Chico Batera (percussão). Um momento precioso da melhor MPB.

Um prêmio à obsessão ofensiva

POR GERSON NOGUEIRA

Um jogo eletrizante em boa parte do tempo, repleto de gols e lances de muita emoção. Uma autêntica final. E o PSC saiu vencedor, com uma atitude de time campeão, buscando a vitória o tempo inteiro. Sofreu um gol logo de cara, mas não amofinou, obtendo o empate e a virada. Tomou novo empate, mas seguiu combativo e eficiente até o triunfo final.

Por 3 a 2, o PSC derrotou o Botafogo-PB, na tarde de sábado, no estádio Almeidão, em João Pessoa, pela 4ª rodada do Brasileiro da Série C. O resultado coloca o time paraense na liderança do grupo C com 10 pontos, dependendo de apenas um ponto em dois jogos para garantir o acesso à Série B 2024. Domingo, o Papão pode atingir seu objetivo até mesmo se perder – isto se o Volta Redonda não vencer o Botafogo.

Não se pode jamais dizer que a partida foi monótona ou arrastada. Logo aos 20 segundos, em lance rápido que surpreendeu a zaga do Papão, Renatinho lançou Pipico no centro da área. Este deu um leve toque e abriu o marcador. Aos 17 minutos, Mateus Anderson lançou Pipico, mas o atacante errou o chute.

Parecia o pior dos cenários para os bicolores, mas o desdobramento do jogo mostrou que o time de Hélio dos Anjos não desanima com facilidade. Aos 30 minutos, o árbitro assinalou um pênalti para o Papão, mas Mário Sérgio bateu fraco e Mota agarrou.

Aos 40’, em cruzamento rasteiro de Robinho na área, Edilson se atirou na bola para empatar. Logo em seguida, atacando sempre, veio a virada: Vinícius Leite pegou um rebote e mandou no canto direito do gol de Mota.

O 1º tempo sinalizava para um resultado favorável ao PSC. Ledo engano. Aos 49’, o Belo foi buscar o empate. Cruzamento na área, o incansável Pipico subiu entre os zagueiros e meteu de cabeça, fazendo a torcida botafoguense voltar a vibrar.

Sem abrir mão do ataque, o PSC voltou para a etapa final pressionando o setor defensivo do Belo. Logo aos 6 minutos, após cruzamento de Robinho, o volante João Vieira disparou um chute perigoso.

O gol estava amadurecendo. Aos 11’, Nicolas Careca cruzou na área, Vinícius Leite não conseguiu finalizar, mas a bola sobrou para Robinho estufar as redes. Um prêmio à obsessão ofensiva do time e à grande atuação de Robinho, o melhor em campo.

A emoção continuou viva. Aos 35’, o incansável Pipico aproveitou uma escaramuça na área e marcou seu terceiro gol, empatando a partida. O VAR, porém, revisou o lance e anulou tudo. O volante Wesley Dias ainda foi expulso antes da partida terminar tomando o segundo amarelo.

Além do jogador botafoguense, Hélio dos Anjos também foi excluído da partida. Voltou a reclamar e xingar o árbitro após o fim do primeiro tempo. Contra o Amazonas, na próxima rodada, será a quarta vez que o treinador desfalca o time à beira do campo.

Pipico, que marcou apenas um gol nas 12 partidas que fez pelo PSC no ano passado, apareceu surpreendentemente como titular do Botafogo e deu muito trabalho. Fez dois gols, podia ter marcado o terceiro e incomodou a zaga bicolor. Por pouco, não foi o herói ninja do confronto.

Dorival devolve ingratidão com charme e elegância

A vitória do São Paulo foi justa (2 a 1 no placar agregado), indiscutível e definidora de um momento especial do futebol no Brasil. O técnico campeão, aliás tricampeão, é um legítimo profissional nativo, forjado na experiência inicial de jogador, seguida da passagem pela comissão técnica em cargo subalterno até chegar à condição de treinador.

Dorival Júnior, que fez carreira nos campos como Junior, triunfou ontem, com a serenidade habitual, devolvendo a ingratidão sofrida no ano passado, quando treinou o Flamengo e conquistou de uma só tacada a Copa do Brasil e a Copa Libertadores da América.

Demitido sem razão lógica, ficou uns tempos em casa, de onde só saiu para atender o convite do São Paulo. Começou o trabalho à sua maneira, sem pressa ou espalhafato. O resultado se materializou de maneira triunfante e até irônica: com a conquista da Copa BR sobre o próprio Flamengo.

Na partida de ontem, o São Paulo foi inicialmente pressionado pelo visitante, que colocou Bruno Henrique, Gerson, Arrascaeta e Pedro adiantados. A pressão quase deu certo. Aos 30 segundos, Pedro teve grande chance, mas chutou em cima do goleiro Rafael.

O Tricolor melhorou o posicionamento a partir dos 30 minutos. Teve três chances seguidas, com Calleri, Rato e Lucas Moura. Quando estava mais à vontade no jogo, o São Paulo sofreu o gol. Aos 43’, Pedro passou para Pulgar, que bateu cruzado. O goleiro Rafael desviou, mas a bola tocou na trave e voltou para Bruno Henrique marcar.

Aos 50’, o empate: Wellington Rato cobrou falta na área, o goleiro Rossi rebateu de soco e Rodrigo Nestor aparou de primeira, de fora da área. Um golaço para reacender as esperanças são-paulinas.

Veio o segundo tempo e as emoções afloraram. O Flamengo, precisando do gol, foi à frente, mas custou a levar perigo. Quando conseguiu ameaçar, com Pulgar e Ayrton Lucas, a bola não achou o caminho do gol. O São Paulo também buscou o ataque, com Lucas e Luciano. O 1 a 1 permaneceu até o fim, para delírio dos 64 mil torcedores no Morumbi.

E, logicamente, para a consagração de Dorival Júnior, o principal personagem da decisão, cumprimentado por todos – flamenguistas, inclusive – e exibindo a humildade que faz dele ainda maior do que é. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta segunda-feira, 25)

O choro é livre: São Paulo conquista Copa BR e o ‘cheirinho’ volta com toda força

O mistério dos R$ 625 milhões da Camargo Corrêa “embolsados” pela Lava Jato?

Por Carla Castanho, no Jornal GGN

A decisão do ministro Dias Toffoli considerando a prisão de Lula um “erro judiciário histórico” e declarando “imprestáveis” as provas extraídas dos sistemas da Odebrecht, joga uma pá de cal sobre inúmeros processos da operação Lava Jato e lança luz sobre possíveis ilegalidades cometidas em outros acordos de leniência.

Nesta semana, o Tribunal de Contas da União reconheceu irregularidades na destinação de recursos oriundos de acordos de leniência e delação premiada pelo Ministério Público, ressaltando a falta de transparência e controle. A “gestão caótica” de dinheiro obtido pela Lava Jato a partir dos acordos de colaboração também foi apontada em relatório parcial do Conselho Nacional de Justiça. O Conselho Nacional do Ministério Público também investiga os acordos.

Um dos mistérios a serem resolvidos envolve o acordo de leniência da Camargo Corrêa. Assinado por figuras como o ex-procurador Deltan Dallagnol e seu então colega Diogo Castor de Mattos, o acordo feito pela Procuradoria do Paraná tinha uma cláusula curiosa, que destinava 89% do valor da multa cível de 700 milhões de reais para a “Operação Lava Jato”.

Ou seja, a “Lava Jato” estabeleceu no acordo que embolsaria 625 milhões de reais. O acordo foi homologado por Sergio Moro, que sequer tinha competência para arbitrar multa cível. Em 2019, a CGU e a AGU celebraram outro acordo, de 1,4 bilhão de reais, com a Camargo Corrêa. Mas não se sabe se, no intervalo entre um e outro acordo, a empreiteira executou a multa em contas controladas por Moro.

Portanto, não está claro se a “Lava Jato” recebeu parte ou a totalidade desses 625 milhões de reais, onde foram depositados e qual destinação que foi dada. Procurada via assessoria de imprensa, o Ministério Público Federal no Paraná não respondeu a reportagem. A defesa da Camargo Corrêa não quis comentar o assunto. O espaço segue aberto.

Quando assumiu a 13ª Vara Federal de Curitiba, o juiz Eduardo Appio tratou de levantar o segredo de Justiça. Segundo o Conjur, Appio chegou a fazer fez um levantamento que questiona o paradeiro de 3 bilhões de reais decorrentes dos acordos da Lava Jato. Mas após seu afastamento por causa do caso Malucelli, o novo juiz Murilo Scremin Czezacki devolveu o sigilo novamente.

O que se sabe, conforme imagem abaixo, é que a multa deveria ser paga em até nove parcelas anuais e já se passaram oito anos desde sua homologação. 

O caso deverá ser analisado pelo CNJ, que faz uma correição na 13ª Vara e no TRF-4, assim como pelo CNMP. As investigações mira, sobretudo, a verba bilionária que a Lava Jato pretendia injetar em uma “fundação” a ser gerida com ajuda da Transparência Internacional. O plano nebuloso foi abordado pelo STF.

O jurista Pedro Serrano, consulta pelo GGN, afirmou que os acordos na Lava Jato são recheados de falhas e irregularidades a serem investigadas.

“Esses acordos de leniência, conforme inclusive aponta o primeiro relatório parcial da correição do CNJ, tiveram uma série de ilegalidades das mais variadas formas e naturezas. Uma delas é a atribuição de recursos públicos para uma fundação privada a ser constituída e dirigida pelas pessoas físicas dos procuradores, né? É algo muito grave. Isso é uma apropriação privada de dinheiro público”, explicou.

TRANSGRESSÕES DO MPF

A construtora Camargo Corrêa, com mais de 80 anos de atuação nas áreas de energia, saneamento, mineração, óleo e gás, portos, aeroportos, rodovias, sistemas de transportes e construções industriais, no Brasil e no exterior, foi uma das empresas investigadas na Lava Jato. A propósito, foi a segunda a cooperar com as investigações, depois da Setal. 

Tudo começou em 2014, quando a Polícia Federal deu início aos mandados de prisão. O ex-presidente do conselho administrativo da construtora, João Auler, e o então presidente, Dalton Avancini e seu vice, Eduardo Leite, foram presos por suspeita de crime em cartel em licitações da Petrobras, delataram e deixaram a prisão em 2015. Auler se recusou e foi condenado por Moro a 9 anos de prisão.

Após as delações, começaram os acordos de leniência que sequer poderiam ter sido protagonizados pelo MPF. O próprio TRF-4 – que costumava chancelar as decisões de Moro – reconheceu isso em 2019. Na sequência da Setal, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e a J&F Investimentos.

Serrano frisou a “política estabelecida pela Lava Jato, de coação das pessoas a delatarem Lula, quer dizer, todo mundo sabia que se delatasse Lula ou alguém do PT, tinha mais chance de ser aceita a leniência ou a delação”.

A Vaza Jato mostrou que, no caso da Camargo Corrêa, houve interferências por parte de Moro, que impôs aos executivos que cumprissem pena por pelo menos 1 ano em regime fechado. Com o reforço da imposição feita por Dallagnol, os delatores ficaram, então, um ano em prisão domiciliar. 

HISTÓRICO DE ACORDOS – CADE

O primeiro acordo foi fechado pela Camargo Corrêa em meados de 2015 com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Trata-se de um Termo de Compromisso de Cessação (TCC) no valor de 104 milhões de reais. Diferentemente do acordo de leniência, o TCC não extingue a punição completa. 

A Camargo Corrêa admitiu, então, junto a dois executivos – Leite e Avancini – o crime de cartel em licitações da Petrobras, além de prestar informações para o caso Angra 3 e Eletronuclear.

Em nota, a empresa disse ter firmado o termo “em processo de apuração de condutas anticompetitivas no mercado de obras civis e montagens industriais no setor de óleo e gás onshore no Brasil. Esse acordo é consequência da decisão da Administração da empresa de colaborar com as investigações para identificar e sanar irregularidades, além de seguir aprimorando seus programas internos de controle e compliance”.

MPF-DF

Um outro acordo mais sóbrio foi firmado em 2018, em agosto, pelo Ministério Público Federal no Distrito Federal, quando a empresa já tinha se dividido em duas. A Construções e Comércio Camargo Corrêa S.A (CCCC), que ficou com as obras que já estavam em andamento e as pendências da Lava Jato, e a Camargo Corrêa Infra, que ficou com os novos projetos.

“Nos termos do relatado no Histórico da Conduta anexo ao Acordo de Leniência firmado com o Cade e o MPF, esclarece-se que a conduta perpetrada pela Colaboradora teve por objetivo assegurar vantagens, que foram afinal concretizadas no êxito na Concorrência nº 02/2007 para a contratação da execução das obras e serviços de engenharia de construção do novo edifício sede do Tribunal Regional Federal da Primeira Região”.

AGU E CGU

Em 2019, em seu último acordo de leniência, o valor pactuado foi de 1,396 bilhão de reais. Assinado pela Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia-Geral da União (AGU) com um valor que supera todos os outros, o prazo para o pagamento da multa pela Camargo Corrêa foi estendido até 2038, com correção da Selic. 

Com uma rota melhor delineada, os recursos serão destinados à União e às entidades lesadas. Mais de 330,3 milhões de reais por propinas; 905,9 milhões de reais por influência em contratos fraudulentos; 36,2 milhões de reais por multa administrativa – Lei Anticorrupção – e 123,6 milhões de reais por multa civil – Lei de Improbidade Administrativa. 

Até agora, sabe-se que a Camargo Corrêa devolveu 235,6 milhões de reais diretamente à Petrobras, conforme divulgado pela própria estatal em novembro do ano passado. 

Escaramuças e ladroagens da família Bozo

Vitória sensacional deixa Papão com a mão no acesso à Série B

Com grande atuação e uma vitória de virada sobre o Botafogo-PB, por 3 a 2, o PSC põe a mão na vaga do acesso à Série B 2024. Surpreendido com um gol antes de 1 minuto, marcado pelo veterano Pipico, o Papão soube se recompor e passou a dominar as ações na metade do primeiro tempo. Teve um pênalti em seu favor, mas o goleiro Mota defendeu a cobrança de Mário Sérgio. Logo em seguida, Edilson empatou. E, aos 49 minutos, veio a virada pelos pés de Vinícius Leite, que aproveitou um rebote e bateu da entrada área. O problema é que, aos 52′, Pipico voltou a marcar e empatou a partida.

No segundo tempo, depois da expulsão do técnico Hélio dos Anjos, o meia Robinho assinalou o gol da vitória após um cruzamento de Vinícius Leite. A reta final do jogo foi emocionante, com oportunidades de parte a parte. O Belo ainda teve um gol de Pipico anulado, mas a festa final coube aos bicolores no estádio Almeidão.

O PSC alcançou 10 pontos e lidera o Grupo C do Brasileiro da Série C. Para garantir o acesso, o Papão depende de uma vitória do Volta Redonda sobre o Amazonas, que se enfrentam na noite deste sábado, no Rio de Janeiro.

Riscos que rondam o Botafogo

POR GERSON NOGUEIRA

O Botafogo sobreviveu bem à perda de um técnico de ideias fortes e bons resultados no Campeonato Brasileiro. Depois que Luís Castro se foi, Claudia Caçapa entrou em cena por quatro jogos e deu conta do recado. Aí veio o técnico substituto, Bruno Lage, e não está claro se ele dará conta do desafio de conduzir o time ao título brasileiro.

A gordura ainda é razoável – sete pontos – mas os sinais de estagnação são visíveis e preocupantes. O Botafogo não vence há quatro partidas, definha taticamente a cada nova rodada. Os trunfos individuais começam a afundar junto com a baixa performance coletiva.

Tiquinho Soares, artilheiro do time e do campeonato, ainda não marcou desde seu retorno, após mais de um mês lesionado. Diego Costa, que veio para ser uma alternativa, até agora não disse a que veio, embora tenha tido poucas chances. O gol que marcou contra o Galo foi anulado.

Na sexta-feira, contra o Corinthians, os erros se repetiram. Mesmo contra um time apenas mediano, o Botafogo não encontrou meios de se impor. Perdeu o capitão Marçal logo aos 20 minutos. O cartão vermelho foi questionável, mas a atitude do lateral-esquerdo foi imprudente demais.

Afinal, até o Manequinho lá de General Severiano sabe que as arbitragens não refrescam com o Botafogo, são sempre implacáveis. As decisões são sempre rigorosas e as dúvidas se transformam em certeza. Não é novidade, mas agora é muito mais sério, afinal há um título nacional em disputa.

Como ocorreu diante do Atlético-MG, o Botafogo começou jogando no campo adversário, mas aos poucos foi arrefecendo, como se estivesse entediado. Veio a expulsão e aí o time se agarrou à defesa como única expectativa na partida.

É claro que a desvantagem numérica impõe cuidados maiores, mas não pode significar a renúncia absoluta ao ataque. Deixar à vontade o adversário é um risco permanente. O gol corintiano até custou a sair, já no 2º tempo, mas o lance é revelador do atual momento do Botafogo.

Junto à linha de fundo, o lateral Di Plácido desistiu de marcar o adversário e este conseguiu cruzar, apanhando a defesa desarrumada. Depois de sofrer o gol, o Botafogo se anulou ainda mais. O técnico Bruno Lage, que havia custado a fazer mudanças, mexeu errado.

Botou Hugo na lateral-esquerda, como era óbvio, mas esqueceu de Carlos Alberto, um jogador rápido e bom finalizador. Deixou Vítor Sá, cansado desde o primeiro tempo, e botou Junior Santos quando não havia muito mais a fazer. Tiquinho podia ficar mais tempo em campo.

Outro problema: o Botafogo foi buscar três jovens jogadores no futebol sul-americano, mas Bruno Lage simplesmente não os utilizou. Não jogam nunca. O time precisa estar inteiro, menos esgotado fisicamente, é hora de rodar elenco. E, quem sabe, mandar o Lage rodar também.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro comanda o programa, com as participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. O programa começa às 22h, na RBATV. Em pauta, a quarta rodada do quadrangular da Série C. A edição é de Lourdes Cezar.

Belém será sede de pré-olímpico de basquete feminino

O basquete feminino será a grande atração no calendário esportivo de 2024 em Belém. Pela primeira vez, o pré-olímpico da modalidade terá a capital paraense como sede. O anúncio foi feito no início desta semana pelo governador Helder Barbalho.

A Arena Guilherme Paraense, o Mangueirinho, será palco dos jogos. A arena fica bem ao lado do estádio Jornalista Edgar Proença, que há três semanas sediou a estreia da Seleção Brasileira nas Eliminatórias Sul-Americanas, diante da Bolívia.

A competição pré-olímpica confirma a condição privilegiada do Pará como centro de eventos esportivos de âmbito internacional. Helder, que estava em viagem a Nova York, destacou o fato:

“Eu acabo de ser informado que Belém foi escolhida para ser a cidade-sede do pré-olímpico de basquete feminino. Pela primeira vez na história do Brasil seremos sede de um evento desta importância, para que nossas atletas disputem vaga para representar o Brasil nas Olimpíadas de Paris”.

A competição terá a participação de grandes seleções internacionais. A França, por ser sede dos Jogos Olímpicos, e os Estados Unidos, cuja seleção é a atual campeã, são as primeiras confirmadas, o que dá bem a medida do nível do pré-olímpico.

Dorival: a chance de ser bicampeão e de dar o troco

O argentino Calleri pode vir a ser a arma do São Paulo para repor uma injustiça histórica que o futebol assistiu no ano passado: a demissão de Dorival Júnior pelo Flamengo após ganhar a Copa do Brasil e a Libertadores. O atacante tricolor marcou o gol no jogo de ida da decisão da Copa deste ano e essa vantagem pode garantir o bicampeonato a Dorival.

Hoje à tarde, quando o São Paulo receber o Flamengo no Morumbi, todas as atenções estarão concentradas em Dorival, técnico experiente e vitorioso, cuja trajetória também revela um profissional de fina estampa. Dorival jamais reclamou ou criticou seus incompetentes algozes rubro-negros. Talvez por isso muita gente estará na torcida por ele.

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 24)