Rock na madrugada – The Rolling Stones, “Sweet Sounds of Heaven”

Sonzaço no melhor estilo dos Stones, um blues-rock de verniz gospell, valorizado pelas participações mui especiais de Lady Gaga e Stevie Wonder, um apoio de luxo ao vozeirão de Mick Jagger. Esta é a segunda música liberada do álbum Hackney Diamonds, que será lançado no próximo dia 20 de outubro, em Londres. Um disco esperado há tanto tempo, cercado de expectativa quando à performance criativa dos Stones, e as duas músicas até agora conhecidas deixam a melhor das impressões.

A casa caiu: Moro é denunciado ao STF por espionar desembargadores, juízes e ministros do STJ

Documentos até então sob sigilo na 13ª vara de Curitiba revelam que Sérgio Moro corroborou um acordo de colaboração premiada que previa grampear, monitorar e levantar provas contra colegas da magistratura paranaense que tinham foro privilegiado e estavam fora, por força de lei, do alcance dele como juiz federal. O hoje senador diz que a acusação é infundada e que não existem gravações de pessoas com foro no processo.

O acordo foi celebrado em dezembro de 2004, e pessoalmente supervisionado, checado e monitorado por Moro ao longo de anos. O documento, agora enviado pelo delator ao Supremo Tribunal Federal, mostra que a colaboração previa, entre outras coisas, que o réu usasse escutas ambientais em encontros e conversas com políticos e juristas para obter informações sobre desembargadores do Paraná e ministros do Superior Tribunal de Justiça.

O delator da ocasião era um ex-deputado estadual e empresário, conhecido como Tony Garcia. Ele só obteve acesso formal aos termos que formalizam sua atuação como informante de Moro recentemente, quando o juiz Eduardo Appio, desafeto da Lava Jato, assumiu a 13ª vara e retirou o sigilo que existia há quase 20 anos sobre os autos.

No processo, agora remetido ao Supremo com a intenção de anular todos os efeitos da ação de Moro contra Tony, há registros até de conversas telefônica do ex-juiz com o réu, cobrando a entrega das tarefas que tinham sido estabelecidas no trato legal.

Os autos mostram que 30 missões foram delegadas ao delator como condição para a colaboração com o Ministério Público Federal, assinada por Moro. Procurado, o ex-juiz e hoje senador nega qualquer irregularidade, diz que Tony é criminoso condenado e que nenhuma das gravações entregues por ele envolve pessoas com foro.

Ainda segundo ele, elas “não incluem qualquer gravação de autoridade com foro privilegiado, nem têm qualquer relação com as investigações do Mensalão ou Petrolão”.

A descrição dessas “tarefas” é detalhada. Na de número 8, por exemplo, está registrado literalmente: “Caso TRF Ricardo Saboya Kury — Bertoldo [um advogado paranaense] teria obtido liminares favoráveis com o Des. [desembargador] Dirceu, mediante troca de favores. O beneficiário procurará obter a fita cassete junto a Nego Scarpin, onde constaria tal fato, podendo, neste caso, realizar escutas externas.”

Há outras menções a escutas e gravações em posses de terceiros que deveriam ser encontradas pelo delator para que ele pudesse obter os benefícios previstos no acordo. É o caso das tarefas 4 e 5.

“4) Caso Nego Scarpin – Bertoldo teria passado para a CPLI-BANESTADO a conta de Luiz Antônio Scarpin para extorquir dinheiro. (Trata-se do bilhete apreendidos manuscrito pelo Sérgio Malucelli com timbre da Votorantin). Estariam envolvidos o Deputado Iris Simões, o Dep. Mentor e o Vereador João Melão/SP. O beneficiário trará a prova documental e gravações. Essas gravações estão em poder de Nego Scarpim, envolvendo Desembargadores do TRF, advogados e políticos. 5) Caso Enio Fornea X Bertoldo. As fitas acima contêm gravações do auxílio dado a Enio Fornea por um Desembargador do TRF da 4o Região.” [sic]

Desembargadores e integrantes de Tribunais Regionais Federais, segundo a lei, só podem ser investigados pelo Superior Tribunal de Justiça. Deputados federais, também citados como alvos do delator que se tornou um agente informal de investigações, pelo Supremo.

Além de avançarem sobre colegas da magistratura que formalmente não poderiam ser investigados na primeira instância, o MPF e Moro incluem no acordo uma cláusula que tinha como principal, ou único destinatário, o próprio ex-juiz.

Afirmando ter sido ele mesmo, Moro, alvo de um grampo ilegal, determina-se que Tony recupere o grampo e o apresente à 13ª vara para providências cabíveis. O autor da escuta ilegal seria um advogado, Bertoldo, principal personagem das 30 tarefas distribuídas ao delator.

O feito está registrado na penúltima “missão” imposta a Tony. “29) Interceptação telefônica do Juiz Federal: Segundo Antônio Celso Garcia, o Advogado Bertoldo teria mandado interceptar a linha telefônica do Juiz Federal Sérgio Moro. O grampo teria ocorrido na PIC do MPE onde Bertoldo tem influência. De fato, as interceptações telefônicas do PCD revelam conversa entre Roberto de Siqueira e Eduardo Albertini sobre possível mandado de prisão expedido contra Toni Garcia. Bertoldo, por volta da 1 hora da manhã esteve na casa de Toni Garcia [sic] dizendo para que ele fugisse pois seria preso. Toni [sic] não acreditava e Bertoldo afirmou que tinha grampeado o telefone de Sérgio Moro e ouvira ele ligando para alguém da Força Tarefa para avisar que havia decretado a prisão de Toni [sic]. O beneficiário testemunhará e procurará obter a prova da materialidade delitiva.”

Além de assinar ele próprio o acordo de colaboração ao lado dos procuradores, Moro deixou no processo registros de uma série de cobranças feitas ao longo de anos contra o delator por não entregar tudo o que havia sido pedido, as 30 tarefas, na íntegra.

Em um dos episódios, a Polícia Federal, que monitorava as escutas feitas por e com o auxílio de Tony relata uma conversa, por telefone, do próprio delator com o ex-juiz. Toni, na ocasião, era réu de Moro.

Na conversa, Tony faz reparos ao trabalho do MPF e Moro diz que, independentemente disso, teria de dar alguma condenação ao delator, porque isso estava estabelecido no acordo fechado cerca de um ano antes. Tony foi condenado a seis anos de prisão por fraude em consórcios, mas teve, por conta de sua colaboração, a pena comutada em serviços comunitários. O benefício foi concedido por Moro.

Agora, o ex-colaborador do hoje senador vai ao Supremo para condenar Moro por atuação parcial, anular os efeitos de seu acordo e todas as informações levantadas por ele. O caso está com o ministro Dias Toffoli. Ele recebeu em anexo todas os registros do MPF, da PF e da própria 13ª vara que tratam da colaboração de Tony com Moro por anos no Paraná.

Na moção a Toffoli, o delator se apresenta como uma espécie de prévia, ou projeto piloto, do que viria a ser a Lava Jato.

Leia a íntegra da manifestação de Moro

Tony Garcia é um criminoso que foi condenado, com trânsito em julgado, por fraude e apropriação indébita. Em 2004, fez acordo de colaboração que envolveu a devolução de valores roubados do Consórcio Garibaldi e a utilização de escutas ambientais autorizadas judicialmente e com acompanhamento da Polícia Federal e do MPF. Essas diligências foram realizadas por volta de 2004 e 2005, e todas foram documentadas. Não incluem qualquer gravação de autoridade com foro privilegiado, nem têm qualquer relação com as investigações do Mensalão ou Petrolão. Aliás, a farsa afirmada por Tony Garcia é facilmente desmascarada por ele não ter qualquer gravação de magistrados do TRF4, STJ ou STF.

(Do g1)

Ídolos do Manchester United saem em defesa do criticado Casemiro

A temporada de Casemiro não tem sido fácil. O volante atravessa momentos de altos e baixos no Manchester United, situação diferente da que viveu quando chegou ao time inglês e logo se tornou um dos jogadores mais queridos da torcida. Os questionamentos ao brasileiro chegaram, mas ídolos do Manchester United saíram em defesa do jogador, capitão da seleção com o técnico Fernando Diniz.

Mikael Silvestre, francês que jogou pelo United por dez temporadas, afirmou que o momento ruim é consequência do esquema tático da equipe.

– Para o Casemiro brilhar, o time precisa estar organizado e ter o controle do meio de campo. Ele é excelente, mas sozinho no meio, fazendo o trabalho sujo da marcação, não vai ser suficiente para evitar que os outros times avancem e criem chances. Ele precisa receber o apoio de outros jogadores na marcação – afirmou Silvestre ao site “Bettingexpert.com”.

Popularidade na temporada passada

Para Silvestre, Casemiro deve jogar ao lado de Scott McTominay para ter um desempenho melhor. O volante escocês poderia ser o mesmo que foi Fred na temporada passada – o brasileiro deixou o United e se transferiu para o Fenerbahce, da Turquia.

Entretanto, muitas vezes o meia dinamarquês Eriksen é quem tem atuado no meio. Sem tantas qualidades defensivas, acaba deixando Casemiro sobrecarregado. Com outro jogador mais defensivo ao lado, Casemiro foi um dos destaques do Manchester United na temporada passada.

Levantamento do “Apostagolos.com” revelou que em 2022/2023 ele foi o jogador brasileiro da Premier League mais procurado pelos britânicos no Google, superando nomes como Ederson, Alisson, Roberto Firmino e Gabriel Jesus.

O resultado não foi surpresa para Paul Parker, ex-lateral-direito da seleção da Inglaterra e campeão da Premier League com o Manchester United nos anos 1990.

– Sem dúvida ele merece ser o jogador mais procurado pelos torcedores. Ficaria surpreso se fosse diferente. Ele joga pelo maior time do mundo, e é um jogador muito popular desse time. Além disso, ele tem tido uma grande carreira. Muito melhor do que a de outros jogadores, como Gabriel Martinelli, por exemplo. Ele tem sido um dos melhores jogadores de sua posição há uma década.

Jogador de confiança de Erik tan Hag e Diniz

Apesar das oscilações, Casemiro segue sendo um dos jogadores mais importantes do técnico Erik tan Hag. Neste início de temporada, esteve em campo em oito partidas, sempre como titular. É o jogador que mais atuou, ao lado do goleiro Onana.

O mesmo pode ser dito a respeito de Fernando Diniz. Casemiro foi capitão da seleção brasileira nas duas primeiras partidas da equipe nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. O treinador do Fluminense anunciou nova lista e o jogador do Manchester United foi novamente convocado para defender a seleção nas partidas contra Venezuela e Uruguai, em outubro.

O que mudou no Brasil 5 anos após o afastamento de Dilma

A matéria é de 5 de dezembro de 2021, mas traça um retrato perfeito sobre o país impactado pelo golpe de 2016. Em plena pandemia, sob o jugo de Bolsonaro, a desigualdade e a pobreza batiam à porta

Por Bruno Lupion, na DW

Em 12 de maio de 2016, o Senado Federal afastou a então presidente Dilma Rousseff do cargo para dar continuidade ao seu processo de impeachment, concluído mais de três meses depois.

A petista caiu por liberar créditos suplementares sem o aval do Congresso e atrasar o repasse de verbas a bancos que executam políticas públicas, com o objetivo de melhorar artificialmente as contas do governo, as chamadas pedaladas fiscais. O impeachment, porém, teve como pano de fundo outros motivos: recessão econômica intensa, enorme escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras, protestos de rua embalados pela Operação Lava Jato e falta de apoio político no Congresso.

Dilma recebeu uma notificação da decisão do Senado pela manhã, fez um discurso com ministros e aliados no Palácio do Planalto, recebeu flores e mensagens de últimos apoiadores e silêncio para a residência oficial. Apesar da insistência do petista em dizer que reverteria a decisão, havia entre seus correligionários um ar de derrota e melancolia.

Algumas horas depois, sem cruzar com Dilma, Michel Temer entrou no palácio e assumiu o cargo de presidente. No mesmo salão, agora repleto de políticos que não frequentavam o local desde o governo Fernando Henrique Cardoso, como líderes do DEM e do PSDB, e de outros que mudaram de lado, Temer deu posse ao seu novo ministério em clima de triunfo e força .

Nesses cinco anos, que abrangem a eleição de um presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro, e a eclosão de uma pandemia mundial, o Brasil ainda não retomou o nível econômico que tinha no início da década passada, viu a pobreza e a desigualdade aumentarem e seus fundamentos democráticos se erodirem. 

A seguir, alguns números e explicações sobre o que aconteceu no país nesse período:

Um dos motivos da queda antecipada de Dilma foi a recessão iniciada em 2015, no primeiro ano de seu segundo mandato, quando o PIB encolheu 3,8% em relação ao ano anterior. Em 2016, houve nova retração na economia, de 3,6%.

Foi a pior recessão da história do Brasil , provocada, entre outros motivos, por diminuição de investimentos, erosão dos fundamentos econômicos , crise de confiança, instabilidade política, escândalo da corrupção na Petrobras e fim do ciclo das commodities .

De 2017 a 2019, houve leve recuperação, com crescimento anual próximo de 1%, insuficiente para recuperar o terreno perdido e não sustentada no longo prazo. No início de 2020, no governo Bolsonaro e antes da pandemia, o país já entrou em recessão novamente.

O pânico global provocado pela covid-19 e as restrições à movimentação de pessoas acentuaram a recessão em 2020, quando o PIB caiu 4,1%. O resultado só não foi devido pior a generosos gastos públicos com o auxílio emergencial e apoio às empresas e aos estados.

O desempenho do PIB dos últimos anos fica mais evidente quando ele é dividido pelo número de habitantes do Brasil e atualizado pela inflação. O PIB per capita, atualizado para valores de 2020, foi de R$ 35,2 mil no ano passado, 11% menor do que o de 2012, quando era de R$ 39,6 mil.

O economista Claudio Considera, pesquisador associado da FGV-IBRE e ex-secretário de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda (1999-2002), vê nesse dado uma “nova década perdida” no país. “A economia vinha crescendo em torno de 1%, e em 2019 ainda não havia se recuperada da recessão. Ainda estávamos desenvolvendo, e quando veio a pandemia acabou de vez”, diz.

Ele avalia que a recessão de 2015-2016 se deveu majoritariamente a decisões econômicas erradas tomadas durante o governo Dilma, e que o governo Temer perdeu forças rapidamente para reverter o quadro após a divulgação de uma conversa do então presidente com o empresário Joesley Batista.

A vitória de Bolsonaro, assessorado na área econômica por Paulo Guedes, pró-mercado e entusiasta de reformas, fez alguns analistas apostarem que o país seria beneficiado por um grande fluxo de investimentos, o que logo mostrou uma ilusão. “As pessoas acham que as reformas virão e que o crescimento ocorrerá naturalmente, mas isso não acontecerá, ainda mais com confusão política todo dia, com um presidente ameaçando o Supremo”, diz Considera.

Ele afirma que o Brasil só conseguiria retomar um crescimento significativo e sustentável se houvesse maior intervenção do governo na economia, “não no estilo Dilma, criando empresas”, mas com investimentos em obras de infraestrutura, que geram empregos, renda e criam um círculo virtuoso . Esse plano, porém, só seria viável quando para superada a “política de balbúrdia” que ele identifica na gestão atual.

MAIS DESIGUALDADEE E POBREZA

A trajetória da desigualdade, medida pelo índice de Gini, também tem piorado nos últimos anos. Quanto mais próximo de 1 estiver o índice, mais desigual é a distribuição da renda.

O Gini atingiu seu mínimo da série história em 2015, com 0,525. Em 2016, ano do afastamento e posterior impeachment de Dilma, e sob efeito da recessão econômica, acelerou para 0,538 e cresceu até 2018, quando atingiu 0,545. Em 2019, oscilava para 0,543. O dado para 2020 ainda não está disponível.

Bruno Lazzarotti, pesquisador da Fundação João Pinheiro e coordenador do Observatório das Desigualdades, afirma que o Gini caiu até 2015 por uma combinação de fatores, entre eles os aumentos de reais do salário mínimo, que funciona também como referência para outras rendas como aposentadoria e Benefício de Prestação Continuada, e a expansão do mercado de trabalho em setores intensivos em mão de obra, como construção civil.

“Isso não transferiu renda do topo, mas aumentou a renda relativa da base da distribuição. Você eleva a renda dos mais pobres, ainda que não tenha retirado renda dos mais ricos”, diz. A trajetória também foi favorecida por políticas de proteção do mercado de trabalho, como a PEC das Domésticas, que entrou em vigor em 2013.

A tendência de queda do Gini se inverte na recessão de 2015-2016, que é regressiva. “Os setores mais ricos têm melhores meios de sua proteção de renda”, afirma. A piora foi acentuada pela alta da inflação no início do segundo mandato Dilma, que afeta com mais severidade os mais pobres.

A desigualdade piorou em alta nos anos seguintes, como resultado de crescimento fraco, redução dos investimentos públicos, flexibilização do mercado de trabalho, redução dos gastos com o Bolsa Família e outras políticas sociais e turbulência política, diz Lazzarotti. A queda do nível de Gini em 2019, segundo ele, pode ser consequência de um breve reativamento do mercado de trabalho ou apenas uma estabilização nesse patamar mais alto de desigualdade.

A projeção do Gini para 2020, antes que os dados sejam divulgados, é uma tarefa difícil. Se por um lado a pandemia derrubou a economia e a renda das famílias, o auxílio emergencial prejudicou a pobreza e a desigualdade. “Será um ano ruim para avaliar a média”, afirma. A ausência do auxílio emergencial nos três primeiros meses de 2021 e sua retomada com um valor bem inferior apontam para uma alta da desigualdade neste ano, diz Lazzarotti.

Por motivos semelhantes, a pobreza também apresenta trajetória de alta a partir de 2015, e cai de forma abrupta durante a pandemia por causa do auxílio emergencial. Mas a redução à metade do valor do benefício nos últimos quatro meses de 2020, seguida pela sua interrupção por três meses em 2021 e a retomada com um valor ainda mais baixo, em um momento em que o mercado de trabalho e a economia ainda estão frágeis, deve levar a uma alta específica da pobreza  neste ano, segundo o pesquisador. “É um choque terrível, e de uma hora para outra a realidade mais cruel se impõe”, diz.

DEMOCRACIA DETERIORADA

Outro aspecto no qual o Brasil experimentou muitas mudanças nesses últimos cinco anos foi a qualidade de sua democracia, que já vinha se deteriorando desde 2015 e piorou com a eleição de Bolsonaro, segundo índices elaborados por pesquisadores.

O instituto V-Dem, sediado na Suécia, produz indicadores relacionados à qualidade da democracia e da liberdade para cada país. Um deles é o índice de democracia liberal, que combina aspectos como qualidade das eleições, direitos individuais, liberdade de imprensa e de associação, capacidade de instituições controlarem o governo, respeito à lei e independência do Judiciário. Quanto mais próximo de 1, melhor a condição da democracia no país.

O Brasil teve uma pontuação de 0,789 em 2012, começou a cair em 2013, para 0,795, desceu para 0,626 em 2017 e em 2020 pontuou 0,511. No seu relatório do ano passado, o V-Dem destacou que o Brasil estava entre os dez países com a maior piora nesse índice, acompanhado pela Índia e pela Turquia.

O padrão é semelhante nessas nações, segundo o instituto: “O governante no poder primeiro ataca a mídia e a sociedade civil, polariza as sociedades desrespeitando oponentes e espalhando informações falsas, e aí então passa a enfraquecer as instituições formais.”

O índice de liberdade acadêmica , que mede a liberdade para professores e pesquisadores desenvolverem seu trabalho sem ameaças ou restrições, também caiu drasticamente nesse período no Brasil: de 0,929 em 2013, para 0,442 em 2020.

O professor José Álvaro Moisés, coordenador do Grupo de Pesquisa Qualidade da Democracia do IEA-USP, afirma que a crise na democracia brasileira relaciona-se a problemas estruturais de representatividade no seu sistema político. Para piorar, o impeachment de Dilma, apesar de “baseado em decisões legais e do Congresso”, “dividiu completamente o país”. Essa polarização foi explorada nas eleições de 2018, vencidas por um presidente de extrema direita “que é uma ameaça permanente à democracia” e vem aberta para tentar coibir a liberdade de expressão, segundo ele.

“É um governo autoritário, distante da ciência e do pensamento crítico”, afirma Moisés, com reflexos também no ambiente acadêmico, como redução da autonomia das universidades federais na escolha de reitores e pressão contra pesquisadores e professores críticos ao governo.

A volta dos chutes bem calibrados

POR GERSON NOGUEIRA

Vinícius Leite não fazia boa participação na Série C até Hélio dos Anjos chegar. Foi um dos jogadores beneficiados diretamente pela argúcia e capacidade de observação do treinador. Antes, sob o comando de Marquinhos Santos, o atacante era uma peça improdutiva, movimentando-se pouco e evitando sua grande arma, os chutes de média distância.

O baixo rendimento na fase inicial do campeonato era percebido pelo torcedor e pelo próprio atleta, segundo declarações recentes dele. Obviamente, tinha consciência de que estava muito aquém do que podia produzir. Sempre foi um jogador de mobilidade, com recursos capazes de superar a marcação e abrir espaço para finalizações perfeitas.

Antes do início da Série C, Vinícius só foi notado pelo gol no Re-Pa que marcou a reabertura do estádio Jornalista Edgar Proença, valendo pelo campeonato estadual. Mas, para um atacante de seu nível, em segunda passagem pelo Papão, o desempenho deixava a desejar.

Com a chegada de Hélio, com quem Vinícius havia vivido uma grande temporada em 2019 no PSC, as coisas mudaram drasticamente – para melhor. O técnico observou que uma das causas da má fase do time estava na falta de força e intensidade nos jogos.

Tratou de reforçar o condicionamento, a tempo de salvar a campanha e tornar o PSC um dos times de melhor resposta física no quadrangular decisivo. Parece uma equipe completamente diferente, embora com os mesmos jogadores de antes.

A partir daí, o PSC deixou de ser um time ciclotímico, de performance irregular. Passou a correr nos dois tempos, chegando até a surpreender adversários com uma intensidade maior na reta final das partidas. Foi o que ocorreu diante do Botafogo-PB, nas duas partidas.

E foram essas duas situações que revelaram o bom momento vivido por Vinícius Leite. Foi o artífice do gol de Jacy Maranhão no minuto final do confronto no Mangueirão e brilhou na vitória por 3 a 2, em João Pessoa, marcando um gol no 1º tempo e dando a assistência (meio sem querer) para o gol decisivo de Robinho no 2º tempo.

É legítimo esperar que, nos próximos dois compromissos, pela evolução demonstrada, Vinícius esteja pronto a contribuir para que o PSC confirme o acesso e a presença na decisão da Série C.

Governo pune ato de intolerância de servidora federal

O episódio envolvendo Marcelle Decothé, assessora da ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial, dá bem a medida de como a manifestação nas redes sociais se tornou um terreno movediço. Quem integra um governo que tem como uma de suas bandeiras mais caras o combate ao racismo e à intolerância, a jovem auxiliar da ministra pisou feio na bola.

Presente ao estádio do Morumbi para acompanhar junto com Anielle a final da Copa do Brasil e participar da assinatura de um documento simbólico da luta antirracista no país, Marcelle estava em missão de trabalho, mas se deixou trair pela emoção e o fanatismo esportivo.

Fez postagens na internet menosprezando e ofendendo a torcida do São Paulo e o povo paulista. Nada mais inadequado. O ministério da Igualdade Racial é um instrumento destinado a defender os interesses da população. Além disso, torcedoras são-paulinas não devem ser discriminadas, principalmente por uma funcionária federal.

O gesto de desatino foi um contraponto cruel às iniciativas positivas do governo Lula contra o racismo em todas as esferas, incluindo o futebol. Abriu espaço para as bizarras teses do racismo reverso (“racismo contra brancos”), brandidas pelas turbas extremistas.

Menos mal que Marcelle, por força de seu comportamento desastroso, foi demitida do Ministério da Igualdade Racial. Que sirva de exemplo, não apenas a assessores, mas a qualquer servidor público.

Um minuto de tributo pelo poeta imortal de “Paupixuna”

Clube de coração daquele que é um dos gigantes da música paraense, o PSC solicitou ontem à CBF que seja respeitado um minuto de silêncio antes do jogo de domingo contra o Amazonas em homenagem a Paulo André Barata, poeta e compositor de primeira linha.

Paulo André nos deixou na segunda-feira à noite, aos 77 anos. Era o dia de seu aniversário e as condolências pela sua morte envolveram desde o governador Helder Barbalho até os admiradores mais anônimos.

Mestre da poesia e da canção, Paulo André é neto de Alarico Barata, um dos fundadores do PSC. Pertencia a uma família alviceleste, o que inclui o pai, Ruy Paranatinga Barata, já falecido, e o jornalista Tito.

Cansei de encontrar o compositor em seu “escritório” vespertino, o Cosanostra, rodeado de amigos. Algumas vezes envergando a camiseta tricolor do Fluminense, sua outra paixão futebolística. 

Excelente e oportuna iniciativa do clube, permitindo à torcida bicolor que também homenageie Paulo entoando um de seus hinos amazônicos. Pode muito bem ser “Foi Assim”, música popularizada na voz de Fafá de Belém. A ideia foi lançada pelo amigo Aldo Valente, um dos baluartes deste espaço.

(Não que a rica produção de Paulo André se limite a este clássico. A cada momento, é possível descobrir pérolas, como a brilhante “Abismo”, que eu nem conhecia, produto de parceria com o também poeta Paes Loureiro).

Que os versos e a inspirada melodia da canção, misto de bolero e toada amazônica, bem ao estilo de Paulo e Ruy. O Pará perde um ícone, cuja obra permanece viva na memória e na admiração de todos os paraenses, bicolores ou não.

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 28)