Vida inteligente no meio-campo

POR GERSON NOGUEIRA

O veterano Robinho é um dos símbolos da recuperação do PSC na Série C. Foi um dos beneficiados com a chegada de Hélio dos Anjos. O técnico identificou as carências mais visíveis do elenco, principalmente quanto à força e à intensidade, tratando de submeter os jogadores a uma nova rotina de exercícios para melhorar o condicionamento.

Não foi em vão. Com essa decisão, os resultados logo apareceram. O time que corria pouco, não resistia à pressão dos adversários e sempre morria na reta final dos jogos virou um dos mais fortes fisicamente da competição.

Robinho, que normalmente atuava apenas por 45 minutos, com baixa movimentação em campo, hoje é um dos mais dinâmicos da equipe. Desloca-se entre a defesa, o meio e o ataque, sempre participando das ações mais importantes.

Quando chegou em maio, ainda na gestão de Marquinhos Santos, Robinho era visto como um jogador talhado para liderar a equipe em campo. Experiente, com passagens de sucesso por grandes clubes, como o Cruzeiro, tinha a missão de ocupar o lugar deixado por Ricardinho.

As assistências e cobranças de escanteio ajudaram a disfarçar o mau desempenho dos primeiros jogos. Na verdade, Robinho não fazia muito em função da desorganização reinante, além da falta de força e resistência.

Nas entrevistas que tem dado, o meia não disfarça a alegria com o próprio rendimento. Atribui isso às dicas e providências de Hélio dos Anjos, que hoje distingue Robinho como um dos nomes mais importantes do grupo.

Para o confronto decisivo de domingo, no Mangueirão, contra o Botafogo-PB, Robinho é um dos mais entusiasmados. Disse que vinha esperando pela oportunidade de jogar em um estádio cheio. Acostumado a ter o Mineirão cheio em jogos do Cruzeiro, ele já percebeu que a Fiel Bicolor é capaz de mover montanhas pelo sonho do acesso.

O período vivido no PSC deu ao meia um conhecimento maior sobre a natureza peculiar da Série C, um campeonato diferente de tudo que ele já disputou, ainda mais na fase do quadrangular. Os detalhes definem jogos e, algumas vezes, a transpiração pode ser mais decisiva que a inspiração.

Scout é um dos segredos do sucesso do líder Botafogo

O êxito do Botafogo no Brasileiro de 2023, ocupando a liderança com 51 pontos e 10 de vantagem sobre o segundo colocado, Palmeiras, está fincado na qualidade de atletas como Lucas Perri, Adryelson, Marlon Freitas, Cuesta, Eduardo e Tiquinho Soares. São jogadores prospectados e avalizados pelo departamento de scout do Glorioso.

A partir do momento que o clube abraçou o modelo SAF, adquirido pelo investidor John Textor, o Botafogo preparou uma estrutura capaz de monitorar talentos no Brasil e na América do Sul. Alessandro Brito é o profissional que cuida do scout, junto com o diretor de futebol André Mazzuco (ex-executivo do PSC).

Os detalhes estão contidos em matéria de Giba Perez e Richard Souza, no GE, que destrincham o setor mais importante da guinada do Fogão.

Os profissionais do clube observam os jogadores pesquisados, tanto presencialmente quanto através de vídeos. Todas as informações vão para um banco de dados, uma espécie de plataforma multiclubes.

Um total de 19 funcionários integram a equipe. São quatro coordenadores, três scouts pro, oito observadores de base, dois analistas de desempenho do futebol profissional e dois da base.

Campeão da Série B em 2021, o Botafogo precisava ser inteiramente reconstruído quando a SAF chegou. No final do ano passado, foram contratados 22 novos jogadores, entre eles o goleiro Lucas Perri, os zagueiros Adryelson e Cuesta, o lateral-esquerdo Marçal, o volante Tchê Tchê, o meia Eduardo e o centroavante Tiquinho Soares.

Até dirigentes de outros clubes são unânimes em reconhecer que o trabalho desenvolvido na área de scout do Botafogo é um dos melhores do país. O processo é simples e funcional, a partir da necessidade do elenco. O scout busca, nas informações obtidas, atletas que se encaixem no perfil desejado.

Atento às exigências da temporada, o scout mudou o perfil de contratações em 2023. Passou a mirar em oportunidades de mercado e jogadores jovens.

Diego Hernandez, de 23 anos, Mateo Ponte, de 20, e Valentín Adamo, também com 20, são exemplos dessa nova preferência, além de Matías Segóvia, paraguaio de 20 anos que virou xodó da galera botafoguense.

Estudo da Fifa pretende diminuir interferência do VAR

Ganhou destaque, nos últimos dias, uma declaração do ex-árbitro e atual comentarista Renato Marsiglia sobre o estudo em andamento na Fifa para modificar a regra do impedimento nas avaliações do VAR. A ideia, desenvolvida pelo ex-técnico Arsene Wenger, já está em fase de testes.

De cara, a mudança vai significar um aumento na quantidade de gols validados pelo VAR. Boa parte dos especialistas da Fifa identifica nessa preocupação milimétrica do VAR um risco para o futebol como espetáculo.                                      

Os testes se iniciaram em torneios das categorias de base da Itália e da Suécia, há dois anos. Pelos planos de Wenger, o VAR será orientado a não dar mais impedimento se o jogador tiver uma parte do seu corpo tocando no corpo do adversário.

Da mesma forma, não seria mais impedimento uma perna do jogador na mesma linha de um defensor, invertendo o conceito adotado atualmente. Hoje, para o VAR, qualquer parte do corpo à frente significa impedimento. A ideia é inverter isso.

Segundo Marsiglia, caso Wenger consiga aprovar a ideia, 99% dos gols anulados seriam validados. Outro aspecto positivo é facilitar a ação do VAR. Onde atualmente são traçadas duas linhas, passaria a ter uma apenas.

Quando houver discussão sobre uma situação de impedimento, será muito mais fácil de resolver porque é uma linha apenas. Na prática, quase zera a sempre polêmica discussão do impedimento.

Para a maioria dos árbitros e observadores, incluindo Marsiglia, o VAR contribui para a lisura do jogo, mas muitas vezes altera a essência do futebol, interferindo em questões onde não deveria agir. Como ocorre na Premier League, onde as revisões são rápidas e a interferência é mínima. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta sexta-feira, 15)

Rock na madrugada – Deep Purple, “Perfect Strangers”

O ano de 1984 foi marcado pela tão esperada reunião da formação clássica do Deep Purple – Ian Gillan, Ritchie Blackmore, Roger Glover, Jon Lord e Ian Paice. Foi a primeira vez que o quinteto inglês se reuniu desde 1973. Para celebrar o reencontro, eles gravaram um novo álbum de estúdio, “Perfect Strangers”, e saíram em turnê pelo mundo. Esta interpretação da música-título do disco aconteceu em Melbourne, Austrália. Um show elogiadíssimo, que resgatou a chama original do Deep Purple, misturando as novas faixas com clássicos da fase setentista.

Pena que logo depois a banda se dissolveu novamente, dando margem à entrada de novos músicos. Jon Lord partiu e Blackmore rompeu definitivamente com Gillan.

Sobre as dúvidas ofensivas

POR GERSON NOGUEIRA

O PSC e o Botafogo-PB têm a oportunidade, neste domingo, no Mangueirão, de desempatar um duelo particular. Em 15 jogos, foram cinco empates e cinco vitórias para cada lado. É uma estatística que serve de cenário para as dificuldades previstas para um jogo já naturalmente equilibrado na briga pelo acesso à Série B.

Para tirar a limpo essa rivalidade, o Papão precisa melhorar sua produção ofensiva. Nos dois primeiros jogos do quadrangular, o ataque só marcou duas vezes. A batalha pelo acesso exige mais volúpia ofensiva.

E é aí que reside o maior desafio no caminho de Hélio dos Anjos. Sim, a defesa e o meio-de-campo estão em evolução. Em Manaus, depois de seis partidas, o Papão saiu de campo sem sofrer gols. A meia-cancha também mostrou sinais positivos, com a entrada em cena de Alencar.

Dureza mesmo é calibrar o setor ofensivo. O ataque mais utilizado desde que Hélio assumiu o comando técnico foi Nicolas Careca-Mário Sérgio-Vinícius Leite. Careca mostrou utilidade como atacante de referência e pivô, facilitando a exploração do jogo aéreo e liberando espaço para Mário.

Ausente do confronto com o Amazonas, Careca tem lugar garantido ao lado de Mário Sérgio na formação que começa a partida com o Botafogo, domingo. Vinícius Leite, de comportamento mais discreto nas últimas partidas, é o mais ameaçado neste momento.

A característica de recomposição e a capacidade de atuar mais recuado podem deixar Vinícius no time. Ocorre que Hélio tem várias outras alternativas, caso pense em sufocar o Belo desde o começo. Mirandinha, que ainda não engrenou, tem possibilidades. Ronaldo Mendes, que começou em Manaus, também pode ser lembrado.

Outras alternativas menos cotadas ficam por conta de Bruno Alves, que não tem sido muito utilizado por Hélio, o serelepe Juninho e Gustavo Custódio, um atacante esquecido nas partidas mais recentes. (Foto: Jorge Luís Totti/Ascom PSC)

De ressaca do Mangueirão, Brasil pena para vencer o Peru

Poucas vezes na história recente da Seleção Brasileira jogadores experientes e de alto nível erraram tantos passes em 90 minutos. Contra o Peru, na terça-feira à noite, o Brasil esteve irreconhecível e a baixa produção ofensiva passou pelo excesso de erros, com destaque para o volante Casemiro e o atacante Neymar.

E não foram erros cometidos em lances forçados, sempre de difícil execução. Não, foram passes curtos, com jogadores próximos. Do lado de fora, o técnico Fernando Diniz demonstrava irritação crescente com tantos atropelos no desenvolvimento de jogo da Seleção.

No primeiro tempo, um jogo surpreendente duro para o Brasil, que ficou nos primeiros minutos tentando se livrar da marcação adiantada aplicada pelos peruanos. Ainda assim, em lances rápidos, Raphinha e Richarlison botaram a bola no barbante, mas o VAR anulou os gols.

O 2º tempo trouxe um Brasil ainda mais dispersivo, sem criatividade e com imensos buracos entre defesa e meio-campo. Após apenas dois bons chutes a gol, a partida parecia se encaminhar para um placar chocho.

Aí Neymar cobrou um escanteio e Marquinhos desviou de cabeça, vencendo o goleiro peruano, aos 44 minutos. Um gol que literalmente caiu do céu, tirando o empate da pauta. Um resultado frustrante, embora o Brasil tivesse tido mais posse de bola e iniciativas de ataque.

Fiquei com a clara impressão de que a Seleção estava de ressaca das manifestações de carinho recebidas em Belém. Sem o calor da torcida paraense, o time sentiu o baque e não foi tão efetivo como se esperava.

Campanha garante salto do Fogão no ranking de clubes

A liderança isolada do Campeonato Brasileiro, dono de uma campanha inédita até aqui, garante ao Botafogo um salto gigantesco no ranking mundial de clubes organizado pela IFFHS (Federação Internacional de História e Estatísticas do Futebol). Pulou nada menos que 85 posições em relação à lista anterior, divulgada em junho.

O Fogão aparece como o quinto melhor brasileiro classificado no ranking, atrás de Flamengo (3º), Palmeiras (9º), São Paulo (13º) e Fortaleza (17º). A IFFHS considera os resultados dos últimos 365 dias nas competições nacionais e internacionais.

Com 10 pontos de vantagem sobre o 2º colocado no Brasileiro, o Botafogo conseguiu esse avanço no ranking com 190 pontos somados até aqui, posicionando-se em 20º lugar, bem próximo da Roma (190,5), a 19ª.

O Botafogo também é, de longe, o clube da Eagle Football – holding do milionário John Textor – mais bem posicionado. O Lyon é apenas o 175º colocado, com 88 pontos, enquanto o Crystal Palace é o 236º, com 74. O RWD Molenbeek nem aparece na lista.

Os 10 primeiros do Ranking da IFFHS são: 1) Manchester City – 312 pontos; 2) Real Madrid – 301; 3) Flamengo – 268; 4) Inter de Milão – 249; 5) Porto – 239; 6) Al Ahly (EGI) – 236,5; 7) Manchester United – 230; 8) Napoli – 225; 9) Benfica – 221; e 10) Palmeiras – 221.

Furacão desfalcado deita e rola em cima do Fla

Depois de ver o Atlético-PR passear diante do Flamengo, metendo 3 a 0 e perdendo uma carrada de gols, ontem à noite, em Cariacica (ES), a pergunta óbvia é: como o Botafogo conseguiu perder para o time de Jorge Sampaoli dentro do ‘tapetinho’ do estádio Nilton Santos?

Só os caprichos do futebol explicam situações desse tipo. Cabe lembrar, ainda, que o Furacão estava desfalcado de seis jogadores titulares, entre os quais Fernandinho e Vítor Roque. Mesmo assim, botou o Fla na roda.

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 14)