
POR GERSON NOGUEIRA
É sempre um acontecimento quando a Seleção Brasileira joga em Belém ou em qualquer capital. A cidade muda de feição. Sim, o futebol tem dessas coisas. Mexe com paixões, sentimentos, afetos. Alguém vai dizer, até com razão, que o futebol brasileiro não tem feito por onde inspirar mais tanta alegria e fervor junto ao torcedor.
Os últimos anos, as frustrações, as campanhas meia-boca em duas Copas seguidas, a chatice insuportável de um técnico metido a filólogo, o visível recuo técnico do futebol praticado por aqui. Tudo isso forma um caldo de mágoas que afeta muita gente.
Há, porém, uma reserva afetiva que cerca a Seleção como instituição nacional. Isso independe de momentos ruins, dos desmandos corporativos, das gestões toscas de CBF e clubes. O torcedor, por mais castigado que tenha sido pelos insucessos do escrete, resiste.

É que a memória que prevalece é a da Seleção vitoriosa, pentacampeã do mundo, celeiro de grandes craques da bola. É o orgulho por 1958, que revelou Pelé ao mundo; por 1962, do apogeu de Garrincha; por 1970, do espetáculo de tática e técnica; por 1994, o título da objetividade; e por 2002, do time dos 4 Rs (Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Roberto Carlos).
Ao reverenciar a Seleção, apesar dos recentes embaraços pela utilização perniciosa da camisa canarinho como símbolo politiqueiro, o torcedor está expressando a imensa veneração histórica pela equipe mais vitoriosa do mundo. É um orgulho torcer pelo escrete, independentemente da fase boa ou ruim.
Observei isso nas quatro Copas que cobri. O orgulho pelos feitos brasileiros nos gramados não se restringe aos brasileiros. Há muita gente espalhada por outros países que nutre sincera admiração pela Seleção. Na África do Sul, em 2010, a torcida local estava quase sempre do nosso lado.
Na Alemanha-2010 e no Qatar-2022, a Seleção era sempre recebida com uma expressão de carinho. A simples menção ao Brasil desperta gestos naturais de simpatia, o que é uma façanha e tanto para um país (ainda) de Terceiro Mundo.

É, portanto, inteiramente natural que o paraense esteja feliz por saber que por toda esta semana a Seleção Brasileira “mora” no Pará, desfrutando de sabores e delícias que só a Cidade das Mangueiras oferece. Hospedar os principais jogadores do país é motivo de sobra para o belemense estufar o peito, exibindo a pavulagem.
No primeiro treino, Diniz não faz mistérios
No primeiro treino da Seleção no estádio Jornalista Edgar Proença, houve a repetição daqueles exercícios para movimentar jogadores com roda de bobo e troca de passes. Fernando Diniz estreou no comando com a prática da tarde de ontem, mas não exibiu nenhuma grande diferença em relação ao estilo habitual como treinador de clube.
Apenas Gabriel Jesus não participou do treino, pois chegaria somente à noite. Os demais 22 jogadores, incluindo Neymar, foram conhecer o gramado do Mangueirão. A novidade é que Diniz permitiu que os jornalistas acompanhassem o treinamento por 30 minutos. Na era Tite, de tantos mistérios e lorotas, o tempo era mínimo.
A partir de hoje, com o elenco completo, é provável que o treinamento seja mais dedicado a orientações táticas. É justamente aí que reside a grande curiosidade do torcedor em relação ao trabalho de Diniz.
O técnico surpreendeu positivamente, mas o assessor Rodrigo Paiva resolveu bancar o VAR da coletiva de Danilo e Lucas Perri, com interferência desnecessária em pergunta dirigida ao goleiro botafoguense.
Um sucesso inesperado na lateral esquerda do Papão
Kevyn tem sido um lateral-esquerdo eficiente, vigoroso e goleador. Encaixa como luva no Paysandu e é, ao lado do meia Robinho, o principal destaque do time de Hélio dos Anjos no quadrangular da Série C. Com entusiasmo e muita presença ofensiva, tornou o time menos dependente das ações pelo meio.
No domingo, foi decisivo ao marcar o gol de empate contra o Volta Redonda. O jogo estava enrolado, o visitante havia feito 1 a 0 e a torcida começava a ficar impaciente. No primeiro bom cruzamento na área, Kevyn estava lá para desviar a bola para as redes.
Um gol que representou alívio e evitou a derrota na estreia em casa. Mais ou menos no mesmo grau de importância do gol marcado pelo lateral contra o Náutico. Um salto, de peixinho, garantiu o empate em jogo duríssimo na Curuzu.
De repente, para surpresa de todo mundo, Kevyn vem se tornando o jogador mais letal em situações de tensão. Essa importância aumenta ainda mais ante os desafios que o time terá pela frente no quadrangular, a começar pelo jogo em Manaus, sábado, contra o Amazonas.
O empate frustrou um pouco a expectativa da torcida, que contava com uma estreia vitoriosa para alavancar a caminhada rumo ao acesso.
Mas, tendo ainda cinco jogos pela frente, o Papão segue com boas chances desde que consiga uma vitória fora de casa e vença seus jogos em Belém, contra Botafogo-PB e Amazonas.
Kevyn tem se sobressaído porque se beneficiou do trabalho de recondicionamento físico do elenco. Tem aproveitado para mostrar eficiência no lado defensivo e muito empenho nas ações ofensivas, aparecendo para cruzar bolas e também para finalizar.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 06)