Liderado por Paul Rodgers, carismático vocalista que começou no Free, nos idos de 1970, o Bad Company segue na estrada. Neste show de 2011, um registro caprichado do clássico hino de guerra da banda em show na Inglaterra.
O ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, seu faz-tudo e mais um pouco, coronel Mauro Cid, prestou depoimento à CPI instalada na Câmara Distrital, em Brasília, nesta quinta-feira, 24.
Como havia feito na CPI dos Atos Golpistas, recorreu ao direito de se manter calado. Uma bateria de perguntas foi feita, mas ele permaneceu silente.
A conclusão óbvia é que o cabra tem muito a esconder. Ou, por outro lado, pode-se apelar ao dito popular- quem cala, consente. De um jeito ou de outro, a complicação é inevitável.
“Um artista aos meus olhos é alguém que pode iluminar um quarto escuro. Nunca encontrei e nunca encontrarei diferença entre o passe de Pelé para Carlos Alberto na final da Copa do Mundo de 1970 e a poesia do jovem Rimbaud. Existe em cada uma dessas manifestações humanas uma expressão de beleza que nos toca e nos dá uma sensação de eternidade”.
Só pelas frases singulares acima, o francês Eric Cantona já mereceria o tributo que Liam Gallagher lhe presta nesta canção. Eric, o Vermelho, ou The King of Manchester United. Os muitos apelidos carinhosos que ganhou da torcida do United reforçam o perfil de atacante formidável, mente afiada e homem politizado.
Não por acaso, Cantona tem como um de seus ídolos o brasileiro Sócrates. O clip mostra alguns momentos de esplendor em campo e atitudes polêmicas, como a voadora que aplicou num hooligan que o xingava durante um jogo do United. Cantona, sempre com posicionamentos à esquerda, afirmou que decidiu partir para o ataque ao perceber que era um fascista a provocá-lo.
Há uma coisa que o futebol brasileiro assimilou que tem grande importância no aspecto administrativo dos clubes: o surgimento da SAF (Sociedade Anônima de Futebol) como modelo de gestão pressiona positivamente as velhas estruturas de poder, que ficam com espaço de ação cada vez mais reduzido. A imensa margem de manobra que existia antes pode virar pó com o novo sistema.
Ninguém abre mão pacificamente de tanto poder. Clubes tradicionais como Botafogo, Cruzeiro, Bahia e Vasco já estão sob a égide da SAF. O Atlético-MG não tem SAF, mas é como se tivesse, pois o clube está nas mãos de um grupo de investidores e é administrado como empresa.
Começam a surgir sinais de descontentamento entre os antigos donos de clubes, dirigentes que se eternizavam nos cargos diretivos. Curiosamente, o primeiro grito partiu de setores de um clube que segue administrado no modelo tradicional: o Corinthians.
Quem saiu disparando ataques direcionados ao Botafogo foi o polêmico ex-presidente corintiano Andrés Sánchez, que dedica seu tempo a duelar nos bastidores do clube e a dar pitacos em programas de TV da capital paulista.
Foi justamente numa mesa-redonda que Sánchez soltou marimbondos contra o atual líder do Campeonato Brasileiro. Disse, sem ninguém perguntar –reforçando a ideia de que a fala foi cuidadosamente planejada – que a SAF do Botafogo “é uma mentira”, argumentando que o proprietário do clube, John Textor, teria contraído dívidas e os salários estariam atrasados.
As afirmações não têm fundo de verdade. Sánchez é conhecido por isso, mas suas bravatas não teriam maior consequência se não significasse uma admissão de temor do êxito do modelo. Como representante do velho sistema, Sanchez tem motivos de sobra para bombardear a SAF.
Em meio aos ataques gratuitos ao Botafogo, ele deu sinais de sua principal preocupação. Garantiu que o Corinthians jamais adotará a SAF, também sem nenhuma base concreta para afirmar isso. Todos os grandes clubes estão avaliando, mesmo discretamente, a ideia como fator de sobrevivência.
Apesar de muito criticada, a do Vasco não foi citada por Sanchez. Malandro, ele não citou a de Ronaldo no Cruzeiro, com quem tem negócios. Não foi por acaso que escolheu a do Botafogo, que lidera o Brasileiro e mostra mais solidez que as outras. Não se pode afirmar que o modelo é perfeito, está em fase de introdução no país, mas mostra boas perspectivas.
O pesadelo de gente como Sánchez é que um eventual título botafoguense possa desencadear uma corrida à SAF na Primeira Divisão brasileira. Cenário que obviamente não agrada a dirigentes retrógrados e autoritários como ele e um punhado de outros menos estridentes.
Quando a Jovem Guarda bicolor terá chances na Série C?
Juninho, meia-atacante que veio da Tuna e já mostrou qualidades com a camisa do PSC, foi completamente esquecido depois da chegada de Hélio dos Anjos ao clube. Adepto de métodos pouco ortodoxos na gestão de elencos, o treinador é conhecido pela preferência que nutre por jogadores mais experientes e cascudos.
É uma tendência normal. A Série C é um campeonato que naturalmente leva a escolhas de atletas mais rodados. Quase todos os times têm quatro ou cinco veteranos no elenco. Alguns mais, como o Remo, que tem oito.
Ocorre que algumas situações de jogo permitem o aproveitamento de atletas mais jovens, capazes de imprimir velocidade e habilidade como forma de superar a marcação adversária. A única concessão que Hélio fez à garotada bicolor foi no segundo tempo do jogo com o Náutico.
Na ocasião, ele lançou Roger e a iniciativa resultou proveitosa. O garoto aproveitou um cruzamento na área para encher o pé e marcar o quarto gol do Papão. O que parecia ser um caminho aberto para futuras chances aos mais jovens não teve sequência no jogo seguinte, diante do Pouso Alegre.
Roger voltou a entrar, na vaga de Ronaldo Mendes, aos 28 minutos do segundo tempo. Juninho podia ter sido aproveitado quando João Vieira foi substituído por Nenê Bonilha ou quando Robinho saiu já nos minutos finais para a entrada de Arthur.
Há uma nova oportunidade pela frente. Contra o Confiança, no próximo sábado, com o time já classificado, nada impede que o treinador lance mão de uma equipe alternativa e mesclada. Seria um bom momento para avaliar o potencial de Juninho, cujas habilidades poderiam dar ao meio-campo uma leveza que até hoje não foi notada.
Ao mesmo tempo, Hélio poderia observar se o jovem meia-atacante tem condições de funcionar como uma alternativa viável para as dificuldades normais do quadrangular decisivo. A conferir.
Árbitro dá pênalti e mostra mais coragem que os analistas
Um pênalti claro marcado em favor do Vila Nova, ontem à noite, pela Série B, motivou uma tremenda pressão dos jogadores do Criciúma sobre o árbitro Bruno Mota Corrêa. O lance foi óbvio e claro. A coragem do apitador, que enfrentou as reclamações e revisou o lance no VAR, contrasta com a covardia dos comentaristas do jogo.
Caseiros e aparentemente preocupados com a torcida do Tigre, insistiram no argumento de que o lance era de difícil interpretação. Lorota.
Tudo isso com imagens mostrando que o atacante do Vila Nova foi derrubado por trás, uma falta visível a todos. Depois de muita catimba, o goleiro Gustavo defendeu o pênalti cobrado por Guilherme Paredes, mas ficou a certeza de que nem sempre os árbitros são os vilões.
(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 23)
O Tribunal Regional Federal da 1ª Região julgou nesta segunda (21) uma apelação do Ministério Público Federal contra a decisão no ano passado de, em primeira instância, arquivar uma ação contra Dilma e seus ministros. Durante o segundo mandato da ex-presidenta, eles foram acusados de improbidade pelo suposto uso de bancos públicos para forjar um resultado fiscal, atrasando, por consequência, o repasse da União às instituições.
A Justiça manteve a decisão que isenta Dilma das famosas “pedaladas fiscais”, assim como o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho.
O fato é que a decisão desta segunda (21) impacta e reforça a narrativa de que o governo Dilma foi vítima de um golpe parlamentar em 2016, já que as acusações de pedaladas fiscais serviram de base para fundamentar o pedido de seu impeachment.
Para quem lembra e acompanhou o show de horrores em que se deu todo o processo de impeachment, desde a autorização de sua abertura, pelo então presidente da Câmara Eduardo Cunha, passando pela misoginia e violências verbais sofridas por Dilma, e toda a campanha desleal da oposição, esta decisão certamente reforça o discurso de golpe apontado desde sempre pelos governistas da época.
O impeachment levou Michel Temer ao poder. Na época, Temer assumiu a Presidência da República com a promessa de melhorar a economia e gerar empregos, entretanto, o que se viu foi a piora econômica e um aumento do desemprego. Além disso, o modelo conservador de Temer e sua linha ideológica e política prepararam o terreno para a ascensão vertiginosa da extrema direita no Brasil, que teve seu ápice na eleição de Jair Bolsonaro, em 2018.
A fragilidade da democracia brasileira segue sendo testada. Com as tentativas frustradas de Bolsonaro para dar mais golpe, aprendemos que, em uma sociedade democrática tão recente e atribulada como a nossa, precisamos manter a vigilância permanente, pois os ataques à democracia têm sido repetidos justamente pela falta de maturidade política.
Agora, sete anos após o impeachment, aquilo que já se suspeitava parece ganhar corpo e argumento mais sólido: foi golpe.
Inteligência alertou autoridades bem antes do 8 de janeiro sobre “vandalismo”, “invasões” e “confronto” no DF
Por Laura Scofield, Caio de Freitas Paes
Até agora, não se sabia detalhes sobre o papel da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a crise golpista entre o término das eleições de 2022 e o fim do governo Bolsonaro (PL). Com exclusividade, a Agência Pública obteve relatórios encaminhados à CPMI do 8 de janeiro, que revelam que não faltaram alertas oficiais aos governos de Jair Bolsonaro (PL) e Ibaneis Rocha (MDB-DF), além de avisos aos serviços de inteligência das Forças Armadas, quanto à gravidade do que acontecia em Brasília (DF). Em 27 de dezembro, por exemplo, ao avaliar riscos antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Abin descreveu o cenário que se veria na futura invasão aos Três Poderes de 8 de janeiro.
Invasão de manifestantes ao Congresso, STF e Palácio do Planalto em 8 de janeiro; inteligência alertou autoridades sobre risco de violência
Em um dos relatórios o órgão indicou o “elevado grau de radicalização e potencial para mobilização para violência” de “integrantes do movimento em frente ao Quartel General do Exército em Brasília”, o que poderia resultar em “atos de vandalismo e dano à propriedade pública e privada”, “invasões ou bloqueios de prédios, espaços públicos e infraestruturas críticas” e “confronto contra forças de segurança”.
Naquele mesmo dia 27, a Abin também produziu um relatório focado na presença de militares extremistas na capital, com “indicativos de mobilização para violência” no “acampamento em frente ao Quartel General do Exército” – trata-se, aqui, dos reservistas “boinas vermelhas”, relatados em reportagem da Pública no mês passado.
No dia 28 de dezembro, o órgão de inteligência enviou um novo relatório com uma “avaliação de conflitos sociais” para o fim da transição de governo, entre 31 de dezembro e 6 de janeiro. “Os recentes desdobramentos do processo de transição de poder e a perspectiva de realização da Cerimônia de Posse tendem a catalisar a frustração de membros para a radicalização”, conforme o material consultado pela reportagem.
No dia seguinte, 29 de dezembro, houve uma tentativa frustrada de desmonte do acampamento em frente ao QG do Exército, cancelada por decisão do Comando do Exército. Ainda em março, a Pública expôs a falta de integração entre o Comando Militar do Planalto (CMP), a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) e a Polícia Federal (PF) para evitar o levante golpista na capital.
Os documentos da Abin também revelam como a agência enxergava o papel de grupos extremistas na crise golpista. No início de dezembro, a agência constatou uma novidade: “até o pleito eleitoral de 2022, não se identificava histórico de envolvimento de grupos de supremacistas e neonazistas com pautas políticas ou manifestações”.
A situação mudou com o bolsonarismo e “adeptos de movimentos de deslegitimização (sic) do Estado, de supremacismo branco e neonazismo” passaram a constituir “os vetores mais prováveis de ameaças extremistas ideologicamente motivadas no contexto da posse presidencial”, de acordo com o relatório do dia 28 de dezembro.
“Destaca-se o aumento do risco de que as ações violentas sejam realizadas com emprego de arma de fogo – inclusive de precisão e longo alcance. As armas utilizadas podem ser convencionais ou construídas em impressoras 3D”, acrescentou o mesmo texto.
A Abin ainda apontou a possível inspiração dos golpistas: a invasão ao Capitólio, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021. Para a agência, o “espelhamento de movimentos originados no exterior e importação de agendas políticas e de narrativas conspiratórias” dos EUA para o Brasil elevavam “a preocupação em relação à ocorrência de incidentes como a invasão de Capitólio”.
A memória do trabalho da Abin entre 1º de outubro de 2022 e 1º de janeiro de 2023 possui mais de 500 páginas de alertas e relatórios de inteligência. O material foi enviado pela agência em resposta a requerimento da relatora da CPMI, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), pedido este aprovado pela comissão.
Os avisos da Abin eram geralmente enviados a pastas centrais durante a crise golpista, como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do general Augusto Heleno, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) de Anderson Torres e o Ministério da Defesa (MD) do general Paulo Sérgio Nogueira, além dos serviços de inteligência das Forças Armadas e da Casa Civil do hoje senador Ciro Nogueira (PP-PI).
Ainda conforme os materiais consultados pela reportagem, as polícias federais e a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal – responsável pela proteção da Esplanada e da Praça dos Três Poderes – também foram avisadas dos riscos durante o período.
O trabalho da inteligência do governo federal na crise golpista vem à tona em meio à queda da cúpula da segurança do Distrito Federal, por suposta omissão no impedimento dos atos extremistas que culminaram nas invasões aos prédios públicos.
A Procuradoria Geral da República (PGR) acusa os oficiais de alta patente da corporação de terem recebido informes de inteligência sobre os riscos de invasão aos Três Poderes e não terem agido – em função de um suposto “alinhamento ideológico” com os golpistas. Não à toa, o STF determinou a prisão preventiva de sete membros da cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal (PM-DF) na última sexta (18).
Inteligência também alertou que parte dos acampados no QG estavam armados
Ao contrário da tese bolsonarista que afirma que o acampamento em frente ao QG do Exército era pacífico, a inteligência do governo federal se preocupava com o potencial de violência gestado no local durante a transição de governo. A inteligência da Abin alertou que alguns dos acampados tinham acesso e porte de armas de fogo, além de terem participado da tentativa de invasão à sede da PF em Brasília na noite de 12 de dezembro – quando da diplomação de Lula como presidente.
Em relatório produzido no 16 de dezembro a Abin avalia que o episódio serviu “como oportunidade de propaganda por atores extremistas violentos para recrutamento de novos adeptos e para aglutinação de atores radicalizados” na capital.
“A manutenção das estruturas de apoio nas proximidades das rodovias e de OM [Organizações Militares] permite o prolongamento da mobilização, com estabilidade no número de participantes”, segundo outro relatório, de 13 de dezembro, um dia após os ataques na capital.
À época, o órgão de inteligência monitorava o fluxo de ônibus e veículos particulares rumo a Brasília, identificando quatro pontos de forte presença do agronegócio como origem das carreatas que vinham clamar por intervenção militar e golpe de estado na capital.
“O primeiro compreende municípios ao longo da BR-163 e da BR-364. O segundo fluxo deslocou-se pela BR-158, proveniente da região de Água Boa/MT. O terceiro deslocou-se pela BR-020 a partir da região de Luiz Eduardo Magalhães/BA. O quarto fluxo inclui grupos menores de caminhões provenientes de diversas cidades de Goiás, sobretudo Rio Verde/GO e Jataí/GO, no eixo da BR-060”, de acordo com o mesmo relatório de inteligência.
Na última semana do ano, a Abin também monitorou as movimentações nos pontos de concentração de bolsonaristas, que contestavam o resultado eleitoral nas principais cidades do país. Nos dias 23, 26, 27, 28 e 29 de dezembro foram compartilhados alertas com mapas sobre a situação dos acampamentos nas capitais brasileiras.
À época, o órgão de inteligência indicava que não havia “incidentes” ou “riscos identificados” nos locais monitorados. Ao menos no caso de Brasília, a análise dos alertas da Abin contradiz a conclusão dos relatórios já citados – que identificaram riscos provenientes dos acampamentos e alertaram sobre a possibilidade de radicalização.
A agência também estimou a quantidade de pessoas que estariam no QG. Em 26 de dezembro, o número chegaria a mil acampados, com desmobilização nos dias seguintes. 4 dias depois, cerca de 700 pessoas continuariam no local. Na manhã de 8 de janeiro, ao menos 3.900 chegaram de ônibus a Brasília, apontou a Abin.
No Distrito Federal, os principais pontos acompanhados pelo órgão de inteligência foram: o QG do Exército, pela presença por mais de dois meses do acampamento golpista; o hotel Meliá, onde o presidente Lula ficou hospedado durante o governo de transição; o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República, onde Jair Bolsonaro estava recebendo apoiadores após mais de um mês de silêncio depois de sua derrota eleitoral; e a Praça dos Três Poderes.
VAZIO DE INTELIGÊNCIA EM MOMENTOS CRUCIAIS
Há outros pontos de destaque no material consultado pela Pública – como um vazio de informações por mais de um mês, durante a consolidação dos acampamentos golpistas não apenas em Brasília, mas em outras capitais brasileiras.
No conjunto de documentos não há nenhum relatório de inteligência produzido entre 28 de outubro e 24 de novembro passados. Neste período, a Abin apenas emitiu alertas encaminhados às autoridades públicas.
O vácuo de relatórios se repetiu em um momento crucial, na primeira semana de governo Lula. Nos documentos acessados pela reportagem, não há relatórios de inteligência que tenham sido produzidos entre 31 de dezembro de 2022 e 9 de janeiro de 2023 – um tipo de informação essencial para a prevenção da tentativa de golpe ocorrida em Brasília. Novamente, a inteligência apenas enviou alertas.
Por exemplo, durante as invasões do dia 8 de janeiro, a Pública revelou que o termo “festa da Selma” foi usado como código para convidar golpistas a invadir os prédios públicos sem serem identificados pelas autoridades ou pelo monitoramento das redes sociais. Nos documentos acessados, nada indica que este termo estivesse sendo monitorado nas redes pela inteligência do Estado. Na última quinta-feira (17), a Polícia Federal prendeu oito suspeitos ligados ao uso do termo na internet por meio da Operação Lesa Pátria.
Após o dia 10 de janeiro, a Abin passou a produzir uma série de relatórios sobre o que havia ocorrido no final de semana. O material, também consultado pela Pública, tem quase 400 páginas e aprofunda a atuação de empresas do agronegócio e do garimpo ilegal na tentativa de golpe; a presença de grupos extremistas em Brasília (DF) antes do 8 de janeiro; além da listagem de empresas que teriam financiado ônibus e caminhões em direção à capital federal no período.
A Pública procurou todos os órgãos citados na reportagem como recebedores dos alertas e relatórios de inteligência entre 1º de outubro e 31 de dezembro de 2022, para saber quais providências foram tomadas a partir do repasse das informações da Abin.
A Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal afirmou que “todos os fatos relacionados à operação do dia 8 de janeiro de 2023 estão em processo de apuração” e destacou que “todas as informações e dados solicitados pelos órgãos responsáveis pelas investigações foram encaminhados no prazo”. Questionada sobre a prisão da alta cúpula da PM-DF, a pasta informou que “não comenta sobre investigações em curso”.
A Marinha do Brasil afirmou que “cabe ao Centro de Inteligência da Marinha analisar os relatórios de Inteligência recebidos de outros órgãos de Inteligência integrantes do Sistema de Brasileiro de Inteligência e assessorar a Força Naval estritamente no tocante ao cumprimento de suas atribuições constitucionais”. “Coube à MB [Marinha do Brasil] garantir a segurança dos seus ativos e contribuir para a segurança do Palácio do Itamaraty, tarefas executadas com pleno êxito”, disse ainda a Força.
Até o fechamento do texto, não houve retorno do restante dos órgãos que receberam os alertas e relatórios da Abin. Caso se manifestem, a reportagem será atualizada.
Partida será no dia 8 de setembro, no estádio do Mangueirão, em Belém, no Pará
Os ingressos para a partida da estreia da Seleção Brasileira Masculina nas Eliminatórias da Copa do Mundo começam a ser vendidos nesta segunda-feira (21), às 15h, pelo site cbf.eleventickets.com. No dia 8 de setembro, o Brasil enfrenta a Bolívia, No Mangueirão, em Belém (PA), pela primeira rodada da competição.
Na última sexta-feira (18), o técnico da Seleção Brasileira Masculina, Fernando Diniz, convocou os jogadores para a disputa das duas primeiras rodadas das Eliminatórias. Este será o primeiro jogo da Seleção Brasileira na busca pela classificação ao próximo mundial.
O jogo foi anunciado pelo governador Helder Barbalho no dia 31 de julho, em suas redes sociais. “Eu festejo pela paixão que o futebol representa para o nosso Estado. Festejo que o investimento que fizemos no nosso Mangueirão, permita que nós voltemos, depois de 11 anos, a receber a Seleção Brasileira em nosso Estado, com uma diferença: um jogo de eliminatória”, disse Helder na ocasião.
O jogo da Seleção Brasileira só será possível devido à reconstrução, ampliação e modernização do estádio estadual Jornalista Edgar Proeça, o Mangueirão, executada pelo Governo do Pará. Com a obra entregue em abril deste ano o estádio ganhou status de arena, com capacidade para mais de 50 mil pessoas.
O novo Mangueirão dispõe de rampas exclusivas para pessoas com deficiência (PcDs); novas bilheterias e novos elevadores; placas de energia solar; sistema de coleta de água da chuva para utilização nos banheiros; espaços para projetos sociais; salas multiuso; novo gramado, do tipo “bermuda celebration”, mais adequado ao clima do Pará e utilizado nos estádios que recebem jogos da Copa do Mundo.
O estádio foi aprovado por representantes da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), após inspeção em todas as instalações. Para o jogo da Seleção Brasileira estão sendo cumpridas todas as recomendações da CBF para garantir conforto e segurança ao torcedor.
Em 2026, a Copa do Mundo terá, pela primeira vez, três sedes oficiais: Canadá, Estados Unidos e México. Também reunirá 48 seleções. Com exceção de Japão e Coreia do Sul, em 2002, as demais edições do campeonato mundial de futebol foram disputadas em apenas um país.
Valores dos ingressos:
CAT-3 – Arquibancada lado A – Inteira: R$200 – Meia: R$100
CAT-2 – Arquibancada lado B – Inteira: R$300 – Meia: R$150
CAT-1 – Cadeira lado A – Inteira: R$400 – Meia: R$200
CAT-1 – Cadeira lado B – Inteira: R$400 – Meia: R$200
Pecuarista Bruno Heller é suspeito de ser o maior devastador da Amazônia. É acusado de ter desmatado 2.710 hectares (28 campos de futebol por dia!) entre março e junho de 2021, aproveitando o apagão por que passaram os órgãos de fiscalização Ibama e ICMBio no governo Bolsonaro.
Representação simbólica do poderio dos jornalistas dentro da empresa, centro nervoso de suas atividades, palco de uma agitação permanente, com pessoas entrando e saindo, escrevendo e falando ao telefone, fumando e blasfemando contra o horário de fechamento, a velha Redação de jornal deu os últimos suspiros. Sua morte, já conhecida por muitos, acaba de ser oficialmente declarada por um de seus mais qualificados representantes: o prestigioso New York Times fez o seu obituário.
Parte significativa da saga dos jornalistas, justamente a que lhe conferia distinção, poder e certa magia, exibida em tantos filmes que a celebrizaram, a redação não existe mais. Depois de obrigados a passar mais de dois anos dentro de casa devido à pandemia de Covid 19, alguns profissionais acreditavam que na volta tornariam a encontrar o mesmo palco iluminado. Mas os salões estavam vazios, sem alma, e sem a fauna agitada dos repórteres voltando das ruas com suas histórias para contar.
Repórteres, editores e demais profissionais envolvidos na operação de fazer jornal trabalham agora em casa. Não há mais aquele bom dia matinal, a paquera, a discussão da pauta por pessoas barulhentas e ansiosas. A grande redação veio aos poucos sendo reduzida, cortada, desmembrada, fatiada, até ter sua morte anunciada em grande estilo na prestigiosa seção de Obituário do jornal americano. Com ela, morre um espaço livre e verdadeiro do fazer jornalístico.
Perguntará o crédulo leitor: mas como se faz um jornal de verdade sem uma redação no meio do caminho desta complicada operação? Faz-se, mas é enorme a perda de qualidade em termos de veracidade, apuração, emoção, confronto de idéias. Sai de cena o palco democrático onde se expressavam vozes diversas, num cenário tomado por máquinas de escrever, cinzeiros entupidos de guimbas de cigarro, uma grande mesa central com telefones e laudas do jornal, mesas menores espalhadas pelos cantos. As redações pareciam um espaçoso e desorganizado ateliê. Picasso poderia aparecer ali para trabalhar.
Um desses ambientes típicos de trabalho onde homens e mulheres desenvolvem seus processos de criação. No final da tarde, quando os repórteres estavam voltando da rua para escrever, a excitação aumentava e com ela a nuvem de fumaça que os fumantes despejavam no salão enquanto batiam apressadamente nas pretinhas (o teclado da máquina de escrever) na obsessiva procura do lead. Valério Meinel, gabaritado repórter de Polícia, era um deles. Na sucursal Rio da Folha, ele chegava da rua vestido com sua capa de detetive de filme noir. Anunciava alto para todos o furo que ia dar. Sentava diante da Olivetti, puxava uma lauda, enfiava na máquina e começava a escrever. Batia, batia no teclado e nada de sair o texto. Tirava e rasgava a folha com um gesto teatral, atraindo a atenção de toda redação. Até que acertava a frase e proclamava que encontrara a lauda do lead, diante do alívio e palmas dos demais.
Trabalhei como repórter numa redação de jornal durante quase 30 anos, a partir do final da década de 1960. Na primeira e maior delas, a do Jornal do Brasil, na avenida Rio Branco, trabalhavam mais de 70 pessoas, juntando todas as editorias, Esporte, Geral, Economia, Política, Educação, Fotografia, Cidade, mais os contínuos, que iam e vinham. Uma infernal babel criativa onde tudo funcionava. Cada um em sua mesa folheando anotações e escrevendo sua matéria.
Redação sempre foi predominantemente lugar de repórter, o principal personagem desta engrenagem. Bastava pegar um jornal para ver que o repórter estava na base de quase tudo que era publicado. É ele que está na rua, no local do crime, no tiroteio na favela, na sala do ministro, no pregão da bolsa, no enterro da Rita Lee, observando, anotando, apurando.
Onde anda o repórter hoje, perguntará o desconfiado leitor. Desapareceu, talvez em casa, cuidando das plantas e dos bichos, e o jornal é feito por outros profissionais, colunistas, cronistas, fotógrafos, editores. São os colunistas que dão noticias e chamadas, não se veem mais grandes reportagens que celebrizaram tantos repórteres.
Quem quisesse saber o que estava acontecendo tinha que passar pela redação. Pólo de aglutinação do jornal, com a estratégica mesa do Chefe de Reportagem dominando o cenário, ponto de partida e de finalização das tarefas diárias, para lá convergiam repórteres e fotógrafos. Ali as matérias eram lidas, avaliadas e discutidas entre eles e com as chefias, dando ao trabalho uma característica solidária e coletiva.
No processo de fechamento, primeiro a redação tornou-se limpa, asséptica, assumiu ares de um moderno escritório onde se fala baixo, cada repórter em sua mesa com seu computador. Móveis discretos, de preferência de aço, iluminação fluorescente, ar refrigerado. A grande redação foi dividida e as editorias instaladas em salas próprias separadas por divisórias e geralmente incomunicáveis, tornando difícil o contato entre pessoas de áreas diferentes.
Neste figurino moderno, o repórter tornou-se um provedor de conteúdo, a redação tornou-se mais elitista e foi se distanciando da rua e dos leitores, com os quais sempre procurou manter uma saudável proximidade, com suas portas democraticamente abertas para os leitores, que se sentiam atraídos pelo fascínio que irradiava. Segundo a colunista Maureen Dowd, encarregada de escrever o obituário do New York Times, passam pela redação hoje poucas pessoas, e as fileiras de mesas e computadores estão sempre vazias.