Rock na madrugada – Liam Gallagher, “Once”

“Não sou um homem, sou Cantona.”

“Um artista aos meus olhos é alguém que pode iluminar um quarto escuro. Nunca encontrei e nunca encontrarei diferença entre o passe de Pelé para Carlos Alberto na final da Copa do Mundo de 1970 e a poesia do jovem Rimbaud. Existe em cada uma dessas manifestações humanas uma expressão de beleza que nos toca e nos dá uma sensação de eternidade”.

Só pelas frases singulares acima, o francês Eric Cantona já mereceria o tributo que Liam Gallagher lhe presta nesta canção. Eric, o Vermelho, ou The King of Manchester United. Os muitos apelidos carinhosos que ganhou da torcida do United reforçam o perfil de atacante formidável, mente afiada e homem politizado.

Não por acaso, Cantona tem como um de seus ídolos o brasileiro Sócrates. O clip mostra alguns momentos de esplendor em campo e atitudes polêmicas, como a voadora que aplicou num hooligan que o xingava durante um jogo do United. Cantona, sempre com posicionamentos à esquerda, afirmou que decidiu partir para o ataque ao perceber que era um fascista a provocá-lo.

Desespero da velha cartolagem

POR GERSON NOGUEIRA

Há uma coisa que o futebol brasileiro assimilou que tem grande importância no aspecto administrativo dos clubes: o surgimento da SAF (Sociedade Anônima de Futebol) como modelo de gestão pressiona positivamente as velhas estruturas de poder, que ficam com espaço de ação cada vez mais reduzido. A imensa margem de manobra que existia antes pode virar pó com o novo sistema.

Ninguém abre mão pacificamente de tanto poder. Clubes tradicionais como Botafogo, Cruzeiro, Bahia e Vasco já estão sob a égide da SAF. O Atlético-MG não tem SAF, mas é como se tivesse, pois o clube está nas mãos de um grupo de investidores e é administrado como empresa.

Começam a surgir sinais de descontentamento entre os antigos donos de clubes, dirigentes que se eternizavam nos cargos diretivos. Curiosamente, o primeiro grito partiu de setores de um clube que segue administrado no modelo tradicional: o Corinthians.

Quem saiu disparando ataques direcionados ao Botafogo foi o polêmico ex-presidente corintiano Andrés Sánchez, que dedica seu tempo a duelar nos bastidores do clube e a dar pitacos em programas de TV da capital paulista.

Foi justamente numa mesa-redonda que Sánchez soltou marimbondos contra o atual líder do Campeonato Brasileiro. Disse, sem ninguém perguntar –reforçando a ideia de que a fala foi cuidadosamente planejada – que a SAF do Botafogo “é uma mentira”, argumentando que o proprietário do clube, John Textor, teria contraído dívidas e os salários estariam atrasados.

As afirmações não têm fundo de verdade. Sánchez é conhecido por isso, mas suas bravatas não teriam maior consequência se não significasse uma admissão de temor do êxito do modelo. Como representante do velho sistema, Sanchez tem motivos de sobra para bombardear a SAF.

Em meio aos ataques gratuitos ao Botafogo, ele deu sinais de sua principal preocupação. Garantiu que o Corinthians jamais adotará a SAF, também sem nenhuma base concreta para afirmar isso. Todos os grandes clubes estão avaliando, mesmo discretamente, a ideia como fator de sobrevivência.  

Apesar de muito criticada, a do Vasco não foi citada por Sanchez. Malandro, ele não citou a de Ronaldo no Cruzeiro, com quem tem negócios. Não foi por acaso que escolheu a do Botafogo, que lidera o Brasileiro e mostra mais solidez que as outras. Não se pode afirmar que o modelo é perfeito, está em fase de introdução no país, mas mostra boas perspectivas.

O pesadelo de gente como Sánchez é que um eventual título botafoguense possa desencadear uma corrida à SAF na Primeira Divisão brasileira. Cenário que obviamente não agrada a dirigentes retrógrados e autoritários como ele e um punhado de outros menos estridentes.

Quando a Jovem Guarda bicolor terá chances na Série C?

Juninho, meia-atacante que veio da Tuna e já mostrou qualidades com a camisa do PSC, foi completamente esquecido depois da chegada de Hélio dos Anjos ao clube. Adepto de métodos pouco ortodoxos na gestão de elencos, o treinador é conhecido pela preferência que nutre por jogadores mais experientes e cascudos.

É uma tendência normal. A Série C é um campeonato que naturalmente leva a escolhas de atletas mais rodados. Quase todos os times têm quatro ou cinco veteranos no elenco. Alguns mais, como o Remo, que tem oito.

Ocorre que algumas situações de jogo permitem o aproveitamento de atletas mais jovens, capazes de imprimir velocidade e habilidade como forma de superar a marcação adversária. A única concessão que Hélio fez à garotada bicolor foi no segundo tempo do jogo com o Náutico.

Na ocasião, ele lançou Roger e a iniciativa resultou proveitosa. O garoto aproveitou um cruzamento na área para encher o pé e marcar o quarto gol do Papão. O que parecia ser um caminho aberto para futuras chances aos mais jovens não teve sequência no jogo seguinte, diante do Pouso Alegre.

Roger voltou a entrar, na vaga de Ronaldo Mendes, aos 28 minutos do segundo tempo. Juninho podia ter sido aproveitado quando João Vieira foi substituído por Nenê Bonilha ou quando Robinho saiu já nos minutos finais para a entrada de Arthur.

Há uma nova oportunidade pela frente. Contra o Confiança, no próximo sábado, com o time já classificado, nada impede que o treinador lance mão de uma equipe alternativa e mesclada. Seria um bom momento para avaliar o potencial de Juninho, cujas habilidades poderiam dar ao meio-campo uma leveza que até hoje não foi notada.

Ao mesmo tempo, Hélio poderia observar se o jovem meia-atacante tem condições de funcionar como uma alternativa viável para as dificuldades normais do quadrangular decisivo. A conferir.

Árbitro dá pênalti e mostra mais coragem que os analistas

Um pênalti claro marcado em favor do Vila Nova, ontem à noite, pela Série B, motivou uma tremenda pressão dos jogadores do Criciúma sobre o árbitro Bruno Mota Corrêa. O lance foi óbvio e claro. A coragem do apitador, que enfrentou as reclamações e revisou o lance no VAR, contrasta com a covardia dos comentaristas do jogo.

Caseiros e aparentemente preocupados com a torcida do Tigre, insistiram no argumento de que o lance era de difícil interpretação. Lorota. 

Tudo isso com imagens mostrando que o atacante do Vila Nova foi derrubado por trás, uma falta visível a todos. Depois de muita catimba, o goleiro Gustavo defendeu o pênalti cobrado por Guilherme Paredes, mas ficou a certeza de que nem sempre os árbitros são os vilões. 

(Coluna publicada na edição do Bola desta quarta-feira, 23)

Decisão judicial que inocenta Dilma reforça que impeachment foi golpe de Estado

Por Jeferson Tenório, no UOL

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região julgou nesta segunda (21) uma apelação do Ministério Público Federal contra a decisão no ano passado de, em primeira instância, arquivar uma ação contra Dilma e seus ministros. Durante o segundo mandato da ex-presidenta, eles foram acusados de improbidade pelo suposto uso de bancos públicos para forjar um resultado fiscal, atrasando, por consequência, o repasse da União às instituições.

A Justiça manteve a decisão que isenta Dilma das famosas “pedaladas fiscais”, assim como o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ex-presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

O fato é que a decisão desta segunda (21) impacta e reforça a narrativa de que o governo Dilma foi vítima de um golpe parlamentar em 2016, já que as acusações de pedaladas fiscais serviram de base para fundamentar o pedido de seu impeachment.

Para quem lembra e acompanhou o show de horrores em que se deu todo o processo de impeachment, desde a autorização de sua abertura, pelo então presidente da Câmara Eduardo Cunha, passando pela misoginia e violências verbais sofridas por Dilma, e toda a campanha desleal da oposição, esta decisão certamente reforça o discurso de golpe apontado desde sempre pelos governistas da época.

O impeachment levou Michel Temer ao poder. Na época, Temer assumiu a Presidência da República com a promessa de melhorar a economia e gerar empregos, entretanto, o que se viu foi a piora econômica e um aumento do desemprego. Além disso, o modelo conservador de Temer e sua linha ideológica e política prepararam o terreno para a ascensão vertiginosa da extrema direita no Brasil, que teve seu ápice na eleição de Jair Bolsonaro, em 2018.

A fragilidade da democracia brasileira segue sendo testada. Com as tentativas frustradas de Bolsonaro para dar mais golpe, aprendemos que, em uma sociedade democrática tão recente e atribulada como a nossa, precisamos manter a vigilância permanente, pois os ataques à democracia têm sido repetidos justamente pela falta de maturidade política.

Agora, sete anos após o impeachment, aquilo que já se suspeitava parece ganhar corpo e argumento mais sólido: foi golpe.