Sobre o Botafogo

Por Jailson Melo

Amigo Gerson,
Outra vez reitero as saudações botafoguenses.
Não sei se o Botafogo será o campeão brasileiro este ano. Não há como o saber. Nem o quero
saber. Por uma mui simples: o fim de um campeonato marca o fim de uma jornada. Delimita o
tempo de uma catarse, o tempo de uma doce felicidade. Põe termo a uma celebração e
inaugura o tempo da lembrança pretérita.
Honestamente, à semelhança de um caboclo amazônida que, deitado numa rede, contempla
satisfeito o ir e vir das águas de um rio (num disque-disque macio que brota dos coqueirais,
lembra?), cá estou eu e assim quero ficar. Penso, hiperbolicamente que não me encontro
solitário nesse devaneio. Creio estar cercado de Didi, Amarildo, Paulo César Caju, Mirandinha,
Gerson, e dos dois maiores: A Enciclopédia do Futebol e O Anjo das Pernas Tortas. Creio ouvir
risadas satisfeitas, creio ver lágrimas de contemplação e desassombro. Não me refiro ao
futebol a que assisto, pois de uma forma ou de outra é esse o nome que se dá ao que se
pratica por outros 23 clubes. Refiro-me ao espetáculo gravado nas minhas retinas, todavia, ao
que o Clube de Marechal Severiano tem repetidamente realizado.
Dá gosto, um imenso gosto de ver o Botafogo. Não digo isso calcado nas tantas vitórias. Falo
da arte de jogar, independentemente do resultado, pois o que importa na arte do esporte é
justamente o processo artístico, o desassombro das estratégias, a feérico alegria. E isso, a
tradicional Estrela Solitária o faz com esmero. As arquibancadas do Engenhão se transformam.
É uma catarse. É um rio bramindo. É uma plateia em gozo extremo.
Eis a razão porque me pego absorto: a alegria de presenciar esse momento roubou-me as
palavras, mas me trouxe a lágrima ao ver meus filhos, no dia dos pais, ostentando com orgulho
a camisa da Estrela Solitária. Basta-me
.

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