Tramoia de Zambelli também expõe as Forças Armadas

Por Rodrigo Martins, na CartaCapital

A deputada federal Carla Zambelli, do PL paulista, precisou entregar o passaporte e todas as suas armas à Polícia Federal. A medida cautelar não tem relação com o fato de a parlamentar ter perseguido um homem negro pelas ruas dos Jardins, região paulistana de bairros abastados, com uma pistola em punho, às vésperas do segundo turno das eleições de 2022. O que assombra a bolsonarista, alvo de mandados de busca e apreensão cumpridos por agentes da PF na quarta-feira 2, é a exposição de suas tramoias golpistas.

Nesta mesma data, o hacker Walter Delgatti Neto, protagonista do escândalo da “Vaza Jato”, foi preso. Recentemente, ele confessou ter sido contratado pela parlamentar para invadir o sistema da Justiça Eleitoral, bem como o celular e o e-mail de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal e então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, durante as eleições de 2022. O objetivo era demonstrar a suposta fragilidade do sistema eleitoral, tese explorada à exaustão por Jair Bolsonaro para justificar a liderança de Lula nas pesquisas e, depois, a derrota nas urnas.

Em depoimento à PF, o hacker disse que a deputada o contratou em setembro passado, durante um encontro sigiloso às margens de uma rodovia. Delgatti não conseguiu acessar as urnas eletrônicas, sem conexão com a internet, nem o celular de Moraes. Teve, porém, acesso aos e-mails antigos do magistrado, mas não encontrou nada comprometedor. Agora surgem evidências de que ele também inseriu documentos falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão, sob a tutela do Conselho Nacional de Justiça. Entre as adulterações figuravam alvarás de soltura de indivíduos presos por motivos diversos e um mandado de prisão expedido contra Moraes.

Depois de ter desfilado na companhia de Delgatti por meses, Zambelli agora diz ter contratado o hacker apenas para fazer a integração de seus perfis nas redes sociais com o seu site oficial. Nega qualquer acerto para devassar a vida de Moraes, mas está cada vez mais difícil sustentar essa versão. 

Em julho, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, confirmou que a parlamentar apresentou o hacker à direção do partido durante a campanha de 2022. Segundo ele, Delgatti teria pedido um emprego, mas não foi atendido. O especialista em invadir sistemas também teria sido apresentado a Bolsonaro, com ideia fixa de que as urnas eletrônicas poderiam ser violadas. 

Não bastasse, Delgatti agora afirma à PF que o relatório das Forças Armadas sobre a fiscalização do processo eleitoral se baseou em suas “explicações”. De acordo com o advogado Ariovaldo Moreira, defensor do hacker, seu cliente esteve em reuniões no Ministério da Defesa. “Ele realmente esteve lá e prestou algum serviço, mas ele também recebeu propostas de invasões”, disse o advogado em entrevista à GloboNews.

Ao convocar uma coletiva de imprensa na Câmara dos Deputados, a parlamentar convidou colegas do PL e de outros partidos para acompanhá-la. Apenas meia dúzia de gatos-pingados compareceram. Pudera. Além das revelações feitas por Delgatti e Costa Neto, a PF identificou pagamentos feitos pelo staff da parlamentar ao hacker. “Verifica-se que, do montante de R$ 13.500,00, a quantia de R$ 10.500,00 foi enviada por RENAN CÉSAR SILVA GOULART, valendo-se de 3 transferências bancárias via PIX; e que o valor de R$ 3.000,00 foi enviado, numa única transferência bancária via PIX, por JEAN HERNANI GUIMARÃES VILELA”, informa a decisão do Supremo Tribunal Federal que autorizou os mandados contra Zambelli.

Goulart é assessor do deputado estadual Bruno Zambelli, do PL paulista, irmão de Carla. Já Vilela é funcionário do gabinete da parlamentar. Diante das evidências apresentadas pela PF, a deputada bolsonarista não teve como negar os pagamentos, mas insiste que eles correspondiam ao suposto trabalho executado por Delgatti em seus perfis nas redes sociais e site oficial. 

A participação do hacker na auditoria feita por oficiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, apontados como “especialistas em Tecnologia da Informação e defesa cibernética”, é mais uma nódoa na reputação das Forças Armadas. Depois de proteger os acampamentos golpistas na porta de quartéis, corretamente classificados como “incubadoras de terroristas” pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, a cúpula militar agora busca, a todo custo, apagar as próprias digitais na intentona bolsonarista de 8 de janeiro. 

À frente de um Inquérito Policial Militar sobre o tema, o coronel Roberto Jullian da Silva Graça, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Planalto, concluiu há pouco que as tropas responsáveis pela segurança do Palácio do Planalto não tiveram qualquer responsabilidade pela invasão dos golpistas. Se o governo recém-instalado tivesse feito um planejamento adequado, sustenta o coronel, teria sido possível reforçar o efetivo e evitar a entrada da horda bolsonarista ou, pelo menos, ter minimizado os estragos. 

Convenientemente, o inquérito ignora um fato decisivo para o desfecho da trama golpista. A PF tentou remover o acampamento dos extremistas em frente ao QG do Exército, em Brasília, ainda em dezembro, mas oficiais do Exército não permitiram a ação. “Quando nós fomos de novo lá, no dia 8 de janeiro, tinha tanque de guerra no meio da rua, impedindo que a polícia entrasse para retirar aquelas pessoas do acampamento. Então, isso é uma sequência”, lembrou o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, no mesmo dia em que o relatório do coronel Graça foi revelado pela mídia.

Muito antes de os brasileiros comparecerem às urnas nas eleições de 2022, CartaCapital vinha alertando seus leitores sobre as tramoias golpistas de Bolsonaro e as movimentações de Zambelli com o hacker da “Vaza Jato”, além de apontar as frágeis alegações das Forças Armadas para colocar em dúvida a lisura do processo eleitoral. Uma a uma, as mentiras espalhadas pela extrema-direita durante a campanha de 2022 estão ruindo, sobretudo com o avanço das investigações da PF sob a supervisão da Suprema Corte. 

Ainda assim, parlamentares bolsonaristas continuam a propagar fake news sobre o 8 de janeiro, buscando responsabilizar o governo que seria golpeado, e não os golpistas que devastaram as sedes dos Três Poderes.

A frase do dia

“Ministério da Defesa usa hacker (cracker) criminoso. Ajudante de Ordens vira vendedor de jóias roubadas. As Forças precisam ser desArmadas urgentemente”.

José de Abreu, ator

Templo da culinária tapajônica hospeda Lula em Alter do Chão

Presidente se hospeda em bangalô às margens do rio Tapajós, no Pará; Casa do Saulo fecha atividades para turistas até domingo

Por Natashia Santana, da Folha de SP

O presidente Lula (PT) passará o fim de semana em Alter do Chão, distrito turístico de Santarém (PA), às margens do rio Tapajós ao lado da primeira-dama Janja. Lula chegou com a mulher e assessores nesta sexta-feira (4) à Casa do Saulo, hotel e restaurante na praia do Carapanari. Ele ficará em um dos dez bangalôs do local.

A hospedagem foi recém-criada anexa ao restaurante do chef Saulo Jennings, que cunhou a expressão “cozinha tapajônica”, em referência à culinária com peixes típicos da região. Além do restaurante em Alter do Chão, ele mantém filiais em Belém e no Rio de Janeiro.

Não será a primeira vez que Lula terá à disposição os serviços do chef. Saulo serviu bolinho de piracuí na recepção oferecida a convidados no dia da posse, em janeiro. O presidente também almoçou no restaurante dele em Belém, em junho, ao lado do governador Helder Barbalho (MDB) e do agora ministro Celso Sabino (União Brasil).

O custo médio da diária de um bangalô é de R$ 800. A Presidência da República e o hotel não informaram como e se a hospedagem foi cobrada.

Os dez bangalôs estão reservados para a comitiva presidencial. Guias de turismo foram informados de que o espaço estará fechado para visitantes até domingo (6), quando está prevista a saída de Lula do local.

Nesta sexta-feira, o presidente teve agenda no interior do Amazonas, em Parintins. Na segunda-feira (7), há previsão de visita do petista a um navio-escola em Santarém e a uma unidade da Universidade Federal do Oeste do Pará.

Obs.: a Casa do Saulo, onde Lula se hospeda, não fica em Alter do Chão, mas na praia do Carapanari, em Santarém.

Armados e insanos: PF prende e justiça solta terrorista que ameaçou dar um tiro em Lula

O fazendeiro chegou a tentar descobrir o hotel em que o presidente se hospedará em Santarém, para a Cúpula da Amazônia no Pará

A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (3) um fazendeiro do Pará que ameaçou “dar um tiro” em Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante a visita do presidente ao Estado, na semana que vem. A informação foi confirmada a CartaCapital pelo Ministério da Justiça.

Trata-se de André Luiz Teixeira, que chegou a tentar descobrir o hotel em que Lula se hospedará em Santarém, entre 4 e 7 de agosto, para a Cúpula da Amazônia no Pará. Ele responderá pelos crimes de ameaça e incitação de atentado contra autoridade por motivação política. 

O fazendeiro também é investigado por relação com grilagem de terras e garimpo na região. Nas redes sociais, o ministro Flávio Dino disse que a PF “seguirá aplicando a lei contra criminosos”:
“Mesmo após o fracasso dos atos golpistas de 8 de janeiro, ainda existem pessoas que ameaçam matar ou agredir fisicamente autoridades dos Poderes da República. Isso não é ‘liberdade de expressão’”.

O fazendeiro preso na tarde de quinta-feira (3) em Santarém, oeste do Pará, pela Polícia Federal, após denúncia de que teria ameaçado dar tiro na barriga do presidente Lula, conseguiu a liberdade provisória nesta sexta (4). Acompanhado pelo advogado Renato Martins, Arilson Strapasson (foto) participou de audiência de custódia na sede da Justiça Federal em Santarém. A juíza, Mônica Guimarães, que presidiu a audiência, determinou como medida cautelar que o fazendeiro não se aproxime de Alter do Chão, balneário distante cerca de 37km da zona urbana de Santarém pelos próximos 10 dias.

De acordo com o advogado Renato Martins, em Santarém, Arilson tem casa em Alter do Chão e na região do Chapadão e ambos os imóveis foram altos de busca e apreensão na manhã desta sexta. Arilson Strapasson mora no município de Novo Progresso, no sudoeste do Pará, mas não deve retornar para lá, por enquanto, segundo o advogado.

O advogado informou que estava aguardando a comunicação da justiça ao Centro de Recuperação Agrícola Silvio Hall de Moura, para que Arilson Strapasson seja solto.

VIGILANTE INVESTIGADO POR AMEAÇAS

A Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão nesta sexta-feira (4) contra um vigilante de Belém (PA) suspeito de propagar imagens com ameaças ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em redes sociais.

Lula viaja para a região Norte nesta sexta e cumpre agenda pela manhã em Parintins (AM). No fim de semana, deve descansar em Alter do Chão, vila paradisíaca próxima a Santarém. Na próxima semana, o presidente se reúne com chefes de Estado de países vizinhos na Cúpula da Amazônia, em Belém.

Segundo divulgou a PF, as buscas tentam “evitar a possibilidade de atentado ao presidente, posto que o suspeito atua profissionalmente como vigilante e possui arma de fogo”. A GloboNews apurou que o suspeito foi levado para prestar depoimento. E que, como as postagens tinham sido feitas há mais tempo, não foi possível expedir uma prisão em flagrante.

Nas buscas, a PF apreendeu o celular do vigilante – mas não encontrou armas no endereço em que o mandato foi cumprido. A operação foi autorizada pela 3ª Vara Criminal da Justiça Federal do Pará. (Com informações de CartaCapital, UOL, Folha de SP)