Com uma vitória de 2 a 1 sobre o Ipiranga, na noite deste sábado, no Mangueirão, o Remo deixou temporariamente a zona do rebaixamento e passa a ocupar a 14ª colocação. O primeiro tempo foi confuso e travado, mas o Remo abriu o placar com Claudinei finalizando com perfeição um cruzamento de Evandro, aos 31 minutos.
No 2º tempo, o Leão veio com mudanças no lado direito (Ronald saiu para a entrada de Lucas Mendes) e ficou desguarnecido, propiciando ao Ipiranga o empate, que veio pelos pés de MV, aos 6 minutos. Desarrumado e nervoso, o Remo ficou muito exposto e quase sofreu o segundo gol. William Barbio perdeu duas boas chances.
Nos minutos finais, já com Richard Franco em campo, o Remo foi à frente empurrado pela torcida e acabou chegando ao gol na base do abafa. A defesa gaúcha rebateu uma bola cruzada na área e Richard Franco aproveitou para bater cruzado, assegurando a vitória azulina, aos 39′.
Dirão meus detratores que eu estou velho – e que por isso, por estar velho, quase uma múmia, dou de implicar com tudo o que é novo. Repilo com veemência o que – antecipo – se dirá a meu respeito por conta do que vou lhes contar.
Há uma nova praga (nem tão nova assim, mas é de certo modo recente) que tem me tirado do sério.
Tudo, rigorosamente tudo hoje em dia, é uma experiência (e a palavra desgasta-se mais, a cada vez que é pronunciada).
Dia desses entrei, sozinho (estou apaixonado por mim mesmo, como lhes contei aqui, e tenho amado fazer programas comigo), num restaurante.
Sentei-me. E veio até mim, o garçom.
Não era exatamente um garçom, na verdadeira e clássica acepção da função: era um estudante, um universitário, em busca de, honestamente, arcar com os estudos. Mas há toda uma diferença (chocante) na liturgia.
Estendeu-me o cardápio.
Pedi um Dry Martini e uma água com gás.
Estava lendo atentamente o cardápio quando ele, o garçom, voltou com meu drink e com a água. Ajeitou a taça e o copo diante de mim, e disse:
— Já escolheu, brother? – é assim que eles tratam os clientes.
— Ainda não. – respondi constrangido.
— Posso te dar uma sugestão?
— Claro.
Ele, então, ajeitou-se (fez pose, eu diria). E apontando para uma das entradas, soltou:
— Essa experiência, um tanto cítrica… – eu o interrompi e pedi a conta.
Ele ficou sem entender nada.
Mas ouvir aquilo – experiência – me cortou o barato.
Tudo agora é experiência. Tudo.
Ninguém mais diz que gostou de almoçar no restaurante tal. Emposta-se a voz:
— Vale muito a experiência! As carnes, então…
Vira-e-mexe uma besta complementa:
— Prefiro a experiência marítima. Frutos do mar, peixes…
Mudemos o cenário.
Estava num táxi, semana passada, e mal pude acreditar no anúncio que ouvi (o motorista estava sintonizado numa rádio cujo nome não lembro). O locutor anunciava um plano funerário e encerrava o reclame dizendo que a experiência da morte seria infinitamente mais tranqüila com a assinatura do tal plano garantida.
Beira, reconheçam, o inacreditável.
Um amigo bateu o telefone pra mim por esses dias. Estava preocupado – foi o que ele disse – com a separação (separei-me, vocês que me lêem já sabem). Marcamos um chope. Cheguei na hora marcada, uma rotina, e cinco minutos depois ele adentrou o botequim. Eu estava já terminando o primeiro chope. Ele sentou-se sôfrego. Com uma das mãos, pediu dois chopes. E arfou, eu diria até que com alguma inveja:
— Como está sendo a experiência da separação?
Inventei uma desculpa qualquer e fui embora.
É tremendo o efeito manada: experiência, estou sendo repetitivo de propósito, serve pra rigorosamente tudo.
Beber um vinho, agora, é uma experiência. Comer, idem. O sujeito termina de ler um livro e dá de elogiar a experiência que foi, e a coisa vai ganhando ares de pandemia – ninguém escapa.
Hoje mesmo – escrevo na noite de sexta-feira – fui a uma cafeteria aqui em Copacabana.
Dirigi-me ao balcão e pedi:
— Um pão de queijo e um café coado da casa – como o cardápio, exposto na parede, apresentava a bebida.
A mocinha (visivelmente universitária) redarguiu:
— O senhor não quer viver a experiência de um Hario?
Fui embora sem me despedir (e, claro, sem o pão de queijo e o café).
AS NOVAS CAFETERIAS
Quem é mais velho – como eu – conhece o Café Gaúcho, no Centro do Rio. A Lolló, em Copacabana. Ou o Palheta, na Tijuca.
Três cafeterias tradicionalíssimas.
As três com balcões imponentes, onde se serve o cafezinho, o bom e velho cafezinho que o brasileiro tanto gosta.
Você chega, compra ficha – o método é o mesmo nas três – e pede o seu café, que é servido em questão de segundos.
Estão em extinção.
As novas cafeterias são diferentes.
São uma experiência diferente.
Você chega e se depara com 5, 6, 7, 8 funcionários. Todos de avental. E só há você de cliente – o salão está à mosca, no singular.
Quem te atende?
Ninguém.
A bossa, nas novas cafeterias, é testar a paciência do cliente – que não tem razão nenhuma nesses estabelecimentos.
Dizem, os que entendem do riscado (estou sendo debochado, aviso), que essa é a onda das novas cafeterias: o sujeito deve esquecer do mundo do lado de fora, do trabalho, dos filhos, das responsabilidades, deve deixar de lado o celular (eles anunciam, como se fosse uma glória!, que não há rede Wi-Fi disponível), deve pedir o café sem pressa, deve até esquecer que pediu o café, tamanha a demora, e deve bebê-lo gelado, com olhos e boca de êxtase. Deve, inclusive, pedir o autógrafo do barista que fez toda a mise-en-scène, elogiá-lo, adulá-lo e outros bichos.
O que se dá é o seguinte: você fica ali, olhos vidrados naquela quantidade de funcionários, e ninguém te dá atenção. Uns 10, 15 minutos depois (ou 20) é que se aproxima alguém.
Daí você pede um café. Assim. Simples.
— Um cafezinho, por favor.
— Aqui não servimos cafezinho. Só cafés especiais.
— Tá bem. Me vê um.
— Qual o método?
— Oi?
— De extração.
— Qualquer um.
— Pode ser coado?
— Pode.
— Hario?
— Pode ser.
— Ou prefere prensa francesa?
— Qualquer um.
Daí vem o garçom. De avental, rabo de cavalo, piercing, trazendo nas mãos uma balança, um bule, uma base acrílica, um filtro de papel, e você gemendo, ganindo, desesperado pelo seu café.
Quinze minutos depois, quinze!, o café fica pronto.
Lançado em 1986, “Bigmouth…” é um dos maiores sucessos dos Smiths, banda de Manchester fundada em 1982 e desfeita em 1987. O conceito de indie rock (rock independente) foi praticamente inaugurado pelo grupo de Morrissey (vocal), Johnny Marr (guitarra), Andy Rourke (baixo) e Mike Joyce (bateria). Com um estilo melodioso, letras depressivas e confessionais, os Smiths conquistaram a geração pós-punk e influenciaram centenas de bandas mundo afora, inclusive no Brasil – Renato Russo nunca escondeu que seguia a pegada dos ingleses, imitando até os trejeitos de Morrissey no palco.
Depois que o grupo acabou, em meio a desavenças entre o cantor e o guitarrista, após o lançamento do álbum Strangeways, Here We Come, Morrissey e Marr abraçaram carreiras individuais bem-sucedidas. O registro aqui é de um show de Morrissey em Londres (2004), com sua atual banda de apoio.