A arrancada rumo ao G8

POR GERSON NOGUEIRA

Com um time que obteve duas vitórias seguidas e dá sinais de que está assimilando a filosofia do técnico Hélio dos Anjos, o torcedor bicolor deve lotar o estádio da Curuzu hoje à noite, confiante em novo bom resultado. Diante do CSA, o Papão tem uma chance preciosa de entrar no G8.

A esperança é plenamente sustentada na realidade. Mesmo sem grande desempenho, o PSC conseguiu superar adversários difíceis. Primeiro, foi o então líder Amazonas; depois, venceu o clássico Re-Pa. Saltou da 13ª posição para a 18ª, a um ponto apenas da zona de classificação.

Para seguir vencendo, o Papão parece precisar apenas de coragem e força de vontade. A tarefa deve ser turbinada pela evolução do time. Hélio dos Anjos teve pouco tempo para colocar em prática suas ideias. Identificou problemas físicos no elenco, falta de força e intensidade.

Os últimos dois jogos mostraram que essas dificuldades começam a ser superadas. É um caminho complexo, que traz o risco de problemas gerados pela sobrecarga nos exercícios. Ao chegar, Hélio deixou claro que não seria possível ir em frente com os baixos níveis de velocidade e resistência.

Nesse processo, alguns resultados são evidentes. Os laterais estão mais participativos e o meio-de-campo mostra uma combatividade que não existia no período de Marquinhos Santos. A parte criativa, sob responsabilidade do veterano Robinho, é um ponto ainda em aberto.

Talvez pela dificuldade física, o meia-armador não tem conseguido um rendimento que facilite a vida dos atacantes. Mário Sérgio e Nicolas Careca continuam dependendo excessivamente de cruzamentos na área. As jogadas trabalhadas com a bola no chão praticamente inexistem.

Não há dúvida que a evolução do time se sustenta no nível de confiança que os jogadores adquiriram diante do discurso motivacional de Hélio. Em tom enfático, ele repete exaustivamente que é possível alcançar os resultados buscados. Injeta otimismo a cada preleção.

Diante do CSA, que está empatado com o PSC em número de pontos (18), embora uma posição atrás, a receita de fé no próprio taco será colocada à prova. O adversário não é conhecido pela ousadia. Provavelmente, vai jogar fechado e à espera de um contra-ataque. Ao Papão caberá ter paciência e método para furar o bloqueio defensivo alagoano. (Foto: Marcio Melo/Ascom PSC)

Com várias baixas, Leão busca superação no Recife

As más notícias têm sido frequentes no Remo nas últimas semanas. Perdeu dois jogos seguidos, vacilou nos detalhes e amarga a permanência na 17ª colocação. A presença no Z4, além de incômoda, é denunciadora da campanha descuidada e recheada de erros desde a estreia.

Ao contrário dos demais competidores, o Remo desperdiçou os quatro primeiros jogos. Sob o comando de Marcelo Cabo, foi o pior início de campeonato da história do clube em competições nacionais.

Como ninguém perde 12 pontos impunemente, as consequências estão chegando agora. Na reta decisiva da fase de classificação, o Remo mostra-se instável e pouco efetivo. Ricardo Catalá, responsável pelos pontos conquistados a partir da 5ª rodada, parece ter esgotado seus truques.

A partir do empate com o Figueirense, em Belém, o Leão começou a exibir fragilidades. Não venceu mais, o que comprometeu o esforço de recuperação. As duas derrotas em Belém, para Operário e PSC, complicaram os planos de buscar a classificação. Com 13 pontos, o Remo precisa lutar para não cair. E até essa missão se mostra desafiadora.

Sem Pedro Vitor, seu melhor atacante, e sem Pablo Roberto – negociado pelo Vila Nova com o futebol português –, seu meia mais talentoso, Catalá vai escalar um time bastante modificado contra o Náutico, hoje, no Recife. Tem Uchoa e Richard Franco, mas não contará com Muriqui na frente.

Marcelo, o questionado meia de confiança do técnico, deverá ser o titular da meia-cancha, ao lado de Uchoa, Richard e Rodriguinho. Outra opção, mais confiável, seria Paulinho Curuá como segundo volante.

Seja qual for a formação remista, o cenário não muda: o Náutico é um adversário duríssimo dentro de seus domínios. Ocupa a 5ª colocação e joga para se aproximar do número mínimo de pontos para se classificar.

Bola na Torre

Guilherme Guerreiro apresenta o programa, a partir das 22h, na RBATV, com a participação de Valmir Rodrigues e deste escriba de Baião. Em pauta, os jogos das séries C e D. A edição é de Lourdes Cezar.

Futebol feminino: caminhos para consolidar sucesso

Na véspera da estreia do Brasil na Copa do Mundo de futebol feminino, a torcida ainda mostra um certo distanciamento em relação ao time de Pia Sundhage, talvez pela pouca familiaridade com as atletas da Seleção. A exceção é Marta, que não tem mais o apelo de antes.

Uma recente pesquisa realizada no Reino Unido aponta uma outra realidade: 68% dos homens mantêm uma atitude misógina em relação à modalidade praticada pelas mulheres.

Há também a percepção sexista. A discriminação de gênero se mostra ainda muito forte na sociedade. Além disso, como historicamente recebe menos investimento, o futebol feminino é visto como se tivesse menor qualidade ou fosse menos importante.

A falta de visibilidade também contribui para o baixo apelo. É preciso ainda observar que a história do feminino é bem mais curta do que a do masculino. A primeira Copa dos homens ocorreu em 1930, enquanto o Mundial feminino só surgiu em 1991.

Nem tudo está perdido. Os especialistas indicam que o caminho para obter mais aceitação é investir na exposição e na visibilidade, com mais torneios e eventos. É a melhor maneira de normalizar as coisas. 

(Coluna publicada na edição do Bola deste domingo, 23)

A frase do dia

“Parabéns pra quem fez o ‘buzz’ do filme da boneca no Brasil. Antes os caras torravam milhões na promoção. Hoje plantam polêmicas e o público faz campanha por um filme que ainda nem viu. Do mesmo jeito que limpa a mesa do McDonald’s e faz as transações bancárias para o banco”.

Luiz Carlos Azenha, jornalista

Rock na madrugada – Bob Dylan, “Idiot Wind”

Melhor versão de “Idiot Wind”, as imagens do vídeo focam as expressões faciais dele, aqui num figurino inteiramente inusitado, em estilo cigano. A banda que o acompanha tem um Rob Stoner fantástico nas linhas de baixo e a guitarra de Dave Mansfield dita o ritmo desse clássico de Dylan. Cinquenta anos depois, a performance se mantém atualizada, retratando um dos maiores astros do rock na plenitude, inclusive quanto ao uso perfeito da voz.

De outubro de 1975 a maio de 1976, Dylan caiu na estrada ao lado de alguns de seus amigos mais talentosos num histórico roteiro de shows pelo país, denominado “Rolling Thunder Revue” – que virou um documentário primoroso de Martin Scorsese para a Netflix.

Hoje detentor de um Prêmio Nobel de Literatura, Dylan brilha intensamente nos shows, que coincidiu com o lançamento do disco “Desire”. Joan Baez (com ele na foto abaixo), Roger McGuinn, T Bone Burnett, Ramblin’ Jack Elliott, Mick Ronson, Scarlet Rivera, Allen Ginsberg, Sam Shepard, Joni Mitchell, Ringo Starr, Patti Smith, Dennis Hopper e Phil Ochs, entre outros, são os amigos que ajudaram a deixar a turnê ainda mais memorável.

Tom Cruise: o empreendedor impossível

Dois segredinhos para você trabalhar como o ícone (e minha babação sobre o filme novo)

Por André Forastieri

Tom Cruise não é melhor ator do mundo, o mais bonito, o mais forte, o mais nada. Ele é bom, bonito e forte o suficiente. Como muitos outros atores. Mas é o maior astro do planeta e isso já tem umas três décadas. Seus filmes já renderam mais de onze bilhões de dólares, só de bilheteria. 

O novo “Missão Impossível” vai aumentar bem o bolo. Vimos ontem na estréia. A família é fã de blockbusters bilionários pra ver no IMAX, ou como os batizou minha mulher, “filminho”.

“Ajuste de Contas” é o ideal platônico de big filme de ação pra fazer pipoca voar. Certeiro na premissa, espetacular no escopo, extasiante na retina e anfetamínico na direção. Se você não ficar com o coração na boca é porque ele parou de bater.

A fortuna de Tom está por volta de U$ 600 milhões. Tem 61 anos e não dá nenhum sinal de desacelerar. Depois da continuação deste “Missão Impossível” em 2024, seu plano é filmar na Estação Espacial.

Qual o segredo de Tom Cruise? São dois.

Primeiro: ele sabe no que é bom. Se concentra nisso e se cerca de pessoas que têm o talento e habilidade para fazer do seu bom, ótimo. Como o diretor Christopher McQuarrie, seu parceiro de quase dez anos.

Cruise sabe o que o mercado, nós, queremos dele. Se dedica a poucos projetos. A cada década que passa foca mais em filmes que têm sua cara, seu DNA: filmão pra ver no telão.

Você se esforça pra ser cada vez melhor no que é bom?

Segundo, ele se dedica. Se dedica MESMO.

Antes, durante e depois. Antes: na seleção, gestação, formatação, casting e até financiamento do projeto. Se esforça para ter o máximo de controle sobre seus projetos. Montou a própria produtora em 1993.

Durante: se expondo como raramente um ator se expõe, fazendo seus próprios stunts. Energizando toda a equipe. Mantendo o astral lá no alto. Liderando. Sendo perfeccionista. Sempre com aquele sorriso de vencedor nos lábios. 

Depois: na divulgação incansável do filme. Que funciona também e principalmente porque não vemos Tom Cruise o tempo todo na mídia ou nas redes sociais. 

Quando ele dá as caras, é sempre um evento. Imagem editadinha, nenhuma palavra fora de lugar. Aprendeu com as besteiras que soltou no passado.

Ei, não importa se todo mundo já sabe do novo filme e todo mundo conhece Tom Cruise; você tem que vender o peixe. Comunicação é a alma do negócio.

Você se dedica de verdade? E aliás, vende bem seu peixe?

É impossível um sujeito ser na vida real o que a imagem de Tom Cruise nos sugere.

Não seria surpresa se de perto ele seja um mitômano intragável, com um ego cósmico e veleidades de gênio. É o destino provável dos popstars de qualquer ramo. 

Mais quando fama e fortuna chegaram cedo e se instalaram. Mais ainda quando você saiu do nada, como Cruise.

Você não ascende em um ambiente tão competitivo quando Hollywood sendo gente fina. Nem se mantém ali no topo da pirâmide. As rasteiras e facadas nas costas estão no script. As recebidas e as cometidas.

Na filmagem deste “Missão Impossível”, no meio da pandemia, vazou um esporro de Tom em membros da equipe. Soa escroto. Soa humano. Uma brecha na fachada de Mr. Perfeito.

Jamais saberemos de fato quem ele é.

Mas vamos falar aqui do ícone Tom Cruise, não do homem.

Você não gostaria de trabalhar com Tom Cruise? Virando a pergunta ao contrário: você não gostaria de trabalhar como Tom Cruise?

Eu gosto de pensar em Tom Cruise, o ícone, como um exemplo de (sinto muito se você não gosta da palavra) empreendedor.

Empreender é se aventurar. Mas também é controle.

Requer perspectiva, persistência, pressão na direção precisa. Não tenho força de vontade ou disciplina remotamente semelhantes às de Tom.

Mas frequentemente me pergunto: como posso fazer melhor aquilo no que já sou bom? E como me dedicar com energia e inteligência a isso, sem desperdiçar esforço e tempo com desvios e distrações?

E você?

Rock na madrugada – George Harrison, “What Is Life”

Um clássico formidável do beatle místico. George Harrison havia composto uma grande quantidade de músicas enquanto integrava os Beatles e pareceu desentocar todo o material de uma vez só. Sobre “What is Life”, uma das joias do super disco “All Things Must Pass” (1971), muita gente já se debruçou em busca de um significado. Críticos musicais, biógrafos e até teólogos tentam esmiuçar e explicar a letra aparentemente simples, mas de forte teor filosófico, como quase tudo que Harrison fez. A dança do casal de jovens é mais do que ilustrativa. Mostra a saída do lar em direção ao mundo, encontros e desencontros, celebração de liberdade, amor e vida.

A revista Rolling Stone descreveu como um clássico definitivo e uma “exultante canção de rendição”. Um super time de músicos foi convocado por Harrison para a gravação. Eric Clapton faz os solos principais de guitarra, na companhia da banda Delaney & Bonnie and Friends. Harrison produziu a música junto com Phil Spector, cuja produção de Wall of Sound também contribui com um arranjo de cordas de John Barham e vários violões acústicos, tocados pelo Badfinger , colegas e protegidos de Harrison na Apple Records.

Rockão poderoso, sucesso no mundo inteiro, “What Is Life” ilustra brilhantemente as cenas finais de “Os Bons Companheiros” (Goodfellas, 1990), filme de Martin Scorsese. Apareceu também na trilha sonora de outras longas-metragens – Patch Adams (1998), Big Daddy (1999), Away We Go (2009), This Is 40 (2012) e Instant Family (2018).