José Lessa é um dos mais experientes repórteres do rádio esportivo paraense, com extensa folha de serviços prestados à Rádio Clube do Pará. Marcou época com um estilo contundente, mordaz e às vezes engraçado também. No podcast da Aclep, entrevistado por Gesiel Lopes, ele faz um balanço da carreira vitoriosa, que se confunde com a história do rádio contemporâneo no Pará. Vale a pena acompanhar.
Dia: 14 de julho, 2023
Lula, Sílvio Santos e o recalque
Por Brasilino Assaid Sfair da Costa (*)
Sábado passado, a convite do amigo, o médico Manoel Paixão, fui ao Bar The Beatles, do João, bater um papo com uma turma da saúde. Lá havia outras pessoas que, como eu, não eram da área. Mas todos bem politizados e comprometidos socialmente. Com alguns que estavam perto de mim, e conheci ali mesmo, comentei que iria escrever sobre o recalque da classe média brasileira, tão visível em relação a Lula, mas não a Silvio Santos. Porém, bar, sabe como é, uma conversa emenda na outra, sem que nenhuma chegue à conclusão da narrativa engendrada.
Pois bem, há mais de um ano queria escrever sobre o tema. Trabalho, cansaço, ansiedade, ainda decorrente da Covid-19, sempre adiavam meu plano. Na terça-feira, porém, vi e ouvi o humorista Carlos Alberto de Nóbrega descarregando todo o preconceito e ignorância que caracterizam a quase totalidade dos bolsonaristas, em relação ao Lula. O vídeo viralizou e se transformou no impulso definitivo para meu texto.
Pois bem, quem estudou minimamente História, sabe que um dos cenários que favoreceram a ascensão dos Fascismos, na Europa, foi o medo que grande parte da classe média tinha de perder seu sonho de se tornar elite, ameaçado pela vitória da Revolução Bolchevique, ocorrida em 1917 e pelo crescimento dos movimentos operários. Por aqui, hoje, a classe média, que enfeita sua cozinha com um Air Fryer, comprado em dez vezes, no cartão, vibra e inveja o sucesso de Sílvio Santos, pensa que é rica, e é absolutamente recalcada com Lula.
Ignorantes e burros por opção, se imaginam como o exemplo da meritocracia. Já vi gente dona de empresa pequena, mas que lhe dá uma vida confortável, se gabando de ter vindo do nada, sendo que estudou, no ensino particular, da alfabetização à faculdade. Parodiando Suassuna, se essas pessoas que viveram no ar condicionado, com comida à mesa todos os dias e em escolas particulares definem sua situação com o substantivo nada, que substantivo eu vou usar para expressar o quadro material de quem passa fome, num barraco sem saneamento e energia elétrica?
Aí está o ponto crucial. Essa gente não está nem aí para a miséria. Tem horror, medo! Não se comove em ver crianças famintas perambulando pelas ruas. Mas são capazes de ir às lágrimas com a narrativa da vida de Sílvio Santos. Um simples camelô que se tornou um dos maiores empresários do Brasil. Mas, pera aí, a trajetória do Lula é ainda mais exemplar. Um operário, um metalúrgico, que se tornou, não apenas Presidente do Brasil, mas o Presidente do Brasil mais respeitado e popular no mundo todo. Ah, mas eu não gosto do Lula porque ele é ladrão. Mentira! Conheço bem essa gente. Nunca gostaram do Lula. Sempre carregaram o mesmo preconceito exposto vergonhosamente por Carlos Alberto da Nóbrega. O acusavam de analfabeto, mal educado, sem instrução, desde a década de 1980. Ora, nem Silvio Santos nem Lula têm diplomas universitários. Ocorre que, quando o operário ousou ser candidato, então, o preconceito se multiplicou. E, recentemente, as elites econômicas, apoiadas pelos EUA, num Congresso vergonhoso, valeu-se de uma Justiça promíscua, de um juiz e um promotor criminosos, para derrubar Dilma e jogar Lula na cadeia, num processo de centenas de páginas e nenhuma prova.
Mas esse ódio da classe média ao Lula não tem a ver com corrupção. Nem com comunismo. Nem com grau de instrução. Se for por falta de diploma, Lula recebeu títulos de Doutor Honoris Causa de várias Universidades, no Brasil e no exterior. Não tem a ver, também, com Ditadura. O Silvio Santos, que também não tem diploma superior, apoiou a Ditadura, ora. O problema com Lula é outro. É que ele se importa com os pobres e miseráveis. E eles não aceitam que um cara que veio “de baixo” e virou uma estrela mundial, continue ligado às suas raízes sociais, mesmo sem pertencer mais a elas. É a luta de Lula por justiça social que incomoda essa gente escrota, ignorante e subserviente aos seus exploradores. É o medo de proletarização que as acompanha, como um pesadelo interminável, alimentado, desde o século passado, cinicamente, por extremistas de direita e ultraliberais. Criam fantasmas e os estúpidos acreditam.
Se Lula chegasse à Presidência da República e não se incomodasse com os mais pobres, com a Justiça, com doentes, com indígenas, com o público LGBTQIAP+, com mulheres, com afrodescententes, nem com a Educação e a Ciência. Se o Lula fosse desumano, burro e mau caráter, talvez ele fosse o ídolo dessa gente cretina.
Quem quer dinheiroooo???!!!
(*) Professor de História da rede particular, formado pela UFPA; pesquisador do Departamento de Patrimônio Histórico da Fumbel.
Não há razão prática ou teórica para pôr militares nas escolas
Instituições funcionam melhor com disciplina, mas ela não deve ser imposta a ferro e fogo
Por Hélio Schwartsman, na Folha de S. Paulo
Foram as escolas cívico-militares que me puseram a favor da possibilidade de ensino domiciliar. A perspectiva de um futuro sombrio, em que seríamos governados por Eduardo Bolsonaro e no qual todas as escolas seriam militarizadas, me fez ver com bons olhos a existência de uma saída legal para que os netos que ainda não tenho jamais fossem obrigados a pisar numa instituição dessas.
É certo que escolas funcionam melhor quando há um pouco de disciplina, mas daí não decorre que ela deva ser imposta a ferro e fogo e acompanhada de continências, fardas, ordens unidas e exibições deprimentes de nacionalismo. Um bom diretor civil é em tese capaz de manter as rotinas necessárias ao aprendizado. No mais, jovens precisam ter algum espaço para experimentar e até transgredir. Faz parte do crescimento.

Já a tão propalada excelência das escolas cívico-militares deve ser vista com boa dose de ceticismo. Os entusiastas dessas instituições não apresentam estudos que amparem suas afirmações e nem sequer detalham as estatísticas. De todo modo, não é difícil melhorar o desempenho de escolas isoladas quando elas recebem mais verbas que as outras e têm a oportunidade de direta ou indiretamente livrar-se de alunos com mau desempenho acadêmico ou disciplinar. O desafio para os sistemas de ensino é melhorar com o nível de recursos de que já dispõem e sem excluir ninguém.
Aplaudo com vigor, portanto, a decisão do governo Lula de descontinuar o programa federal de escolas cívico-militares. Governadores dizem que vão mantê-las em âmbito estadual. Não gosto, mas, desde que observadas certas garantias, como a de que sempre haverá alternativas civis para quem preferir, não creio que haja inconstitucionalidade. Está dentro de suas prerrogativas fazê-lo.
O fato concreto é que não há razão prática ou teórica para colocar militares nas escolas. Eles foram há pouco postos na saúde e tivemos um morticínio.
Desenrola: 1,5 milhão de pessoas com dívidas até R$ 100 vão ter nome limpo a partir de 2ª feira

O programa “Desenrola”, criado pelo governo federal para a renegociação de dívidas, começará a operar já na próxima segunda-feira (17). A data foi antecipada pelo Ministério da Fazenda em uma portaria, publicada nesta sexta (14). Por enquanto, a renegociação vale apenas para a faixa 2 do programa, para pessoas com renda mensal de até R$ 20 mil.
Segundo o governo, também a partir de segunda-feira, os maiores bancos do país terão que “limpar o nome” de até 1,5 milhão de correntistas que têm dívidas inferiores a R$ 100. Esse processo tem que ser concluído até o próximo dia 28.
A medida não é um perdão de dívidas. O débito inferior a R$ 100 continuará existindo, mas os bancos se comprometem, pelo programa, a não usar essa dívida para inserir os correntistas no cadastro negativo.
Na prática, se a pessoa não tiver outras dívidas inscritas no cadastro negativo, fica com o “nome limpo” – e pode voltar a comprar a prazo, contrair empréstimo ou fechar contrato de aluguel, por exemplo.
Esse compromisso foi um pré-requisito estabelecido pelo governo para que os grandes bancos pudessem participar do Desenrola. O prazo original iria até o fim de julho, mas foi antecipado junto com a nova data do programa.
A faixa 1 do programa Desenrola, para quem tem renda de até R$ 2.640 (dois salários mínimos) ou está inscrito no Cadastro Único do governo federal (CadÚnico), deve começar a operar em setembro. (Com informações do g1)