O passado é uma parada…

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Robert Redford (Bob Woodward) e Dustin Hoffman (Carl Bernstein), como os repórteres de “Todos os Homens do Presidente”, filmaço de 1976 sobre o escândalo de Watergate. Direção de Allan J. Pakula.

Prisão de Dirceu divide ainda mais país rachado em 2

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POR PAULO NOGUEIRA, no DCM

Mais uma vez, com a prisão de Dirceu, o juiz Sergio Moro promove uma divisão no Brasil. Num país já visceralmente dividido, é uma péssima notícia.

Sobre a competência de Moro o tempo vai falar. Desde já está claro que ele tem um papel de divisor, e não de somador.

A direita festejou, como era de esperar. Nas redes sociais, antipetistas trataram Dirceu da forma como a mídia o retratou, com a ajuda milionária da Justiça, desde que o PT subiu ao poder: como um demônio.

Os fanáticos de direita não querem apenas que Dirceu seja preso. Querem que ele morra, que ele apodreça na cadeia. Mas eles são apenas parte do todo.

Do outro lado, os progressistas ficaram extremamente incomodados com a prisão. Prender alguém que já estava preso? Preventivamente, como se Dirceu pudesse fugir para a Venezuela ou o que for?

E provas, onde as provas? Dirceu não pode efetivamente ter prestado serviços para as empresas, amparado em sua rede de relacionamento?

Ou é só gente do PSDB que recebeu, sempre, dinheiro limpo em consultorias depois de deixar o governo?

Moro tem uma questão de imagem a ser trabalhada. Para muitos brasileiros, seu rigor é unilateral. Ou melhor, é excludente. Exclui os tucanos.

O PSDB recebe doações. O PT propinas. Esta parece ser a visão de Moro e da Polícia Federal.

O mundo deve ser mais complexo que isso.

Pairou também sobre muitas pessoas a seguinte questão: Perrela está solto. Ricardo Teixeira está solto. Marin só foi preso por estar fora de sua zona de proteção no Brasil. Cássio Cunha Lima, o líder do PSDB no Senado, está solto, mesmo tendo sido flagrado comprando votos de desvalidos paraibanos com dinheiro público.

Pior.

Eduardo Cunha está solto. Com as ameaças contra quem podia desmascará-lo, com uma propina de 5 milhões obtida com métodos de gangster, com o depoimento em rede nacional de uma advogada que largou tudo para se livrar da sombra aterrorizante de Cunha.

E Dirceu preso. Sempre ele? Sempre petistas?

Alguma conta não fecha aí. Não à toa, entre os progressistas floresceu a hipótese de que a prisão cumpria dois objetivos.

Um, tirar do centro das atenções o atentado contra o Instituto Lula. Dois, atiçar os ânimos dos antipetistas para o protesto contra Dilma em poucos dias.

Que Moro já mostrou gostar de estardalhaço para suas movimentações, está claro. Isso não é nada bom para ele, que pode se achar mais importante do que é e depois, como Joaquim Barbosa, sofrer com a perda dos holofotes.

Mas é muito pior para a sociedade.

Se Moro não for capaz de provar que é mais do que um homem que divide, seu legado na história será melancólico.

A dúvida é se ele ainda tem tempo – e vontade — para reformar a imagem de juiz partidário.

Leão acorda a tempo e vence

POR GERSON NOGUEIRA

O resultado foi excelente, a vitória por 3 a 0 consolidou a liderança no grupo, mas é preciso dizer também que o Remo levou 66 penosos minutos para fazer gol na fraca defesa do desorganizado Náutico de Roraima. Quem vê o placar final imagina jogo fácil – não foi. Quando Léo Paraíba balançou as redes, aproveitando cruzamento de Alex Ruan, o desespero já começava a dominar os arraiais azulinos, temendo um tropeço diante do pior time da chave.

Depois do gol, o time parece ter tirado um peso gigantesco dos ombros e passou a acertar passes e até a arriscar chutes, coisa rara ao longo da partida. E aí pontificou o melhor jogador da equipe.

O time roraimense se entregou e aí Eduardo Ramos se encarregou de  fechar o caixão em lances que atestaram a incrível fragilidade do adversário. Mais avançado, ele aproveitou bem as incríveis falhas da defesa do Náutico e ampliou a vitória para 3 a 0 com dois gols, aos 31 e 41 minutos.

Estranho foi o comportamento do Remo no primeiro tempo, aceitando passivamente o bloqueio defensivo imposto pelo visitante, exatamente como ocorreu no primeiro jogo na Arena Verde, contra o Rio Branco.

Com até nove jogadores posicionados atrás da linha da bola, o Náutico raramente saía de seu campo. Cuidava apenas de bloquear, mas deixava o Remo com a posse de bola. Só que os azulinos não sabiam o que fazer para chegar ao gol. Perdiam-se em chutões, toques laterais e passes errados – situação agravada pelo estado do campo, muito seco e irregular.

Rafael Paty e Welthon nada produziam, mas é preciso entender que não havia qualquer jogada para explorar os dois homens de frentes. Ramos era o mais lúcido, mas o time não engrenava.

Na etapa final, quando a situação tendia a se complicar, até mesmo por alguns ataques perigosos do Náutico, Cacaio resolveu finalmente lançar Léo Paraíba e Leandro, respectivamente nas vagas de Gabriel e Welthon.

Acertou em cheio. Com Paraíba em campo, o time pela primeira vez passou a ter jogadas individuais e não se limitava a dois jogadores fixos no ataque. Sem um esquema bem azeitado, a única saída teria que vir através de iniciativas isoladas. E Paraíba não teve medo de arriscar.

Depois do primeiro gol, a presença ofensiva do Remo cresceu bastante, facilitada também pelo cansaço do Náutico. Ficou claro que, para os próximos desafios, dentro e fora de casa, Paraíba passa a ser opção natural, pois não fica preso a uma função na área. Busca o jogo, é rápido e arrisca chutes.

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Da série “mistérios insondáveis do futebol”

O veterano Leandrão, ex-Remo e agora no Brasil de Pelotas, é o artilheiro da Série C com 9 gols.

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Santos, Santos, Santos…

O Flamengo entrou com a autoridade de quem tem o melhor atacante do continente e a imensa torcida a embalar o time, mas do outro lado havia o tradicional alvinegro praiano. Dois gols-relâmpago no fim do primeiro tempo deram a certeza de vitória, inclusive para a emissora que transmitia a partida. Ledo engano.

Depois do intervalo, Ricardo Oliveira, artilheiro da Série A, e o garoto Lucas Lima se encarregaram de mudar o script. E provar que nem o Mengo é tão poderoso assim, muito menos o Peixe é essa garapa toda.

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Cartola licenciado já ensaia o retorno

Bastou a situação desanuviar um pouco e o time começar a engrenar na Série D para que aves emplumadas se empenhem a estimular um retorno de Pedro Minowa à presidência do Remo, antes mesmo de expirar a licença por ele solicitada. O discurso, sem qualquer consistência lógica, é o de que teria sido vítima de pressões.

Talvez os defensores da ideia imaginem que toda a bagunça deixada após cinco meses de gestão, contribuindo para o agravamento da situação junto à Justiça Trabalhista e a desordem administrativa no clube, foi deixada de lado e esquecida pelos conselheiros e pela torcida.

Desconhecer o volume de informações sobre as lambanças do presidente licenciado pode ser um grave erro estratégico de seus apoiadores, com sérias consequências para o clube e para o próprio cartola.

Como se não bastassem todos os atropelos financeiros decorrentes de quase 12 anos de más administrações, o Remo ainda se vê à mercê dos arroubos politiqueiros de quem não tem qualquer preocupação com a história do clube.

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Águia perde nos 20 minutos finais

Foi a quinta derrota na competição. O resultado mantém o Águia na zona de rebaixamento da Série C, a cinco pontos do oitavo colocado (Cuiabá). Contra o América-RN, ontem à tarde em Natal, o time de João Galvão até fez um bom primeiro tempo, atacando e mantendo o domínio da partida, mas não conseguiu fazer gol. Mais objetivos, os donos da casa aproveitaram a única oportunidade, com o ex-azulino Adriano Pardal, aos 29 minutos.

No segundo tempo, logo aos 9 minutos, Adriano Pardal ampliou e o Águia não teve forças nem para esboçar reação. O resultado empurra o time marabaense para uma situação inédita: dez jogos sem vencer na Série C.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 03)