Pensar não dói

POR GERSON NOGUEIRA

O nome é pomposo, grandiloquente. Conselho de Desenvolvimento Estratégico do Futebol Brasileiro. Pela pinta, parece coisa séria. A porca torce o rabo quando a gente descobre que a coisa foi instituída pelo presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. Bate então a desconfiança natural quanto aos verdadeiros interesses por trás da iniciativa.

Compõem o tal conselho o coordenador de Seleção, Gilmar Rinaldi, o técnico Dunga, alguns membros da comissão técnica e ex-treinadores da Seleção Brasileira. Significa que estarão presentes à primeira reunião, na segunda-feira pela manhã, nomes como Carlos Alberto Parreira, Luxemburgo, Leão, Candinho, Carlos Alberto Silva, Zagallo e Sebastião Lazaroni.

Pensar sempre vale a pena e o senso comum ensina que várias cabeças pensam melhor que uma. Ocorre que na história da humanidade abundam exemplos de colegiados que conseguiram pensar e produzir coisas terríveis. No futebol, não é lá muito diferente.

A cartolagem que domina a cena futebolística, tendo a CBF como órgão máximo, é prova mais do que eloquente das burradas que um agrupamento heterogêneo de pessoas é capaz de arquitetar. Em escala planetária, a coisa se reproduz hoje na Fifa e sua plêiade de pilantras.

Quando criou o Conselho de Desenvolvimento Estratégico, Del Nero parece ter buscado reunir o melhor do pensamento futebolístico no país. Reservas à parte, não deixa de ser uma ideia interessante, mesmo que os técnicos que passaram pela Seleção tenham contribuído tão pouco para a evolução do futebol por aqui.

Com a prometida extensão do debate a acadêmicos e outros profissionais vinculados ao esporte é possível que a discussão se eleve e venha a produzir efeitos positivos. Tenho cá, porém, minhas dúvidas. Tudo que a CBF encabeçou invariavelmente teve apenas um objetivo: ampliar seu poder sobre o futebol no Brasil, num processo que envolve acima de tudo a captação de mais e mais dinheiro.

A preservação da essência do jogo, característica que deu ao Brasil o destaque que ocupa no mundo da bola há mais de 60 anos, nunca foi assunto prioritário nas rodas de conversas na entidade. Pelo contrário. O massacre representado por calendários irresponsáveis e a submissão dos clubes a um modelo predatório tornaram-se marcas das gestões na CBF desde Ricardo Teixeira.

Del Nero, acossado pelos pesadelos da investigação do FBI, tenta propor uma nova agenda. Tomara que não seja apenas jogo de cena.

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Leão corrige a rota para achar rumo certo

Pela primeira vez em meses, a semana azulina fechou sem qualquer conturbação à ordem. Até o espinhoso caso do leilão da área do Carrossel ganhou novo prazo de 30 dias para ser desenrolado. Para funcionários e atletas, a boa notícia foi o pagamento dos salários de abril e parte de maio, cujos atrasos eram motivo de inquietação e justa revolta entre os profissionais.

Com a saída de Pedro Minowa, licenciado, as coisas começam a engrenar. A inércia que dominava os principais pilares da gestão agora não existe mais. Sob a coordenação de André Cavalcante, a junta que dirige o futebol participa ativamente da vida do clube, dando suporte e assistência ao elenco de profissionais.

A diretoria já trabalha para conseguir quitar o mês de junho até o próximo dia 7, na semana da estreia do time na Série D. Com a credibilidade readquirida, os colaboradores voltaram a ajudar. Um exemplo disso foi a contribuição feita por um empresário da região de Castanhal.

Prosseguem as negociações com importante marca empresarial para assinar o patrocínio master na camisa durante a Série. A notícia de que o Esporte Interativo decidiu transmitir todos os jogos da equipe (via TV e internet) deve contribuir para a conquista de novos patrocinadores.

Acima de tudo, a nova mentalidade reinante no clube pode ser a chave para a reconstrução. Um bom indício é a convocação de representantes da torcida para uma reunião na próxima quinta-feira, 8, na sede social, a fim de discutir ideias que possam contribuir para o fortalecimento do clube.

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Penacho mais chamativo ainda é do Flamengo

O festivo desembarque de Paolo Guerrero ao Flamengo, além de salgar a folha salarial do clube em quase R$ 700 mil, ajuda a restituir um antigo e importante galardão rubro-negro.

O atacante peruano é dono de um dos mais inusitados penteados do mundo boleiro, superando em esquisitice o estilo punk-moicano de Léo Moura, antigo detentor do cetro de cabelo mais medonho do país.

Não há risco, pelo menos por enquanto, de o Flamengo ser superado nesse departamento.

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Bola na Torre

A rodada da Série C e a movimentação de Leão e Papão durante a semana são os temas em análise no programa desta noite. Guilherme Guerreiro apresenta, com participações de Giuseppe Tommaso, Valmir Rodrigues e deste escriba de Baião.

Começa logo depois do Pânico, por volta de 00h10.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 05)

3 comentários em “Pensar não dói

  1. É algo tão fadado à mesmice, amigo Gerson, que a maior contribuição dada por um desses treinadores há mais de duas décadas. Pepe Guardiola sempre declarou que inspirou-se no estilo de jogo da seleção de 1994 pra criar seu esquema TIC-TAC, em que a posse de bola é elemento fundamental ao controle do jogo.
    No entanto, depois disso, seu criador, Carlos Alberto Parreira, nada mais fez de útil como treinador e por onde passou acumulou fiascos, inclusive aquele de 2006, quando pateticamente desmentiu as imagens ao tentar defender a “forma física de Ronalducho”, símbolo de um time dado a farras, desinteresse e desrespeito sem que o treinador tivesse pulso firme ao menos para colocar em campo o que restava de profissionais.
    Ora, se não fomos capazes de aproveitar o que criamos, imagina essa ‘fogueira de vaidades’ quando for acesa. Certamente queimará muito dinheiro, produzirá muito blá blá blá e continuaremos ruminando nosso atraso técnico/tático decorrente da incompetência misturada à arrogância que acomete nossos treinadores.

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