Um abismo financeiro entre os rivais

POR GERSON NOGUEIRA

A possibilidade do acesso do Remo à Série A descortina uma realidade inédita na vida dos grandes rivais do futebol paraense. Se o Leão subir, abrirá um abismo financeiro superior a R$ 100 milhões em relação ao Papão, levando em conta o faturamento que a Primeira Divisão garante.

Um cálculo conservador aponta faturamento anual superior a R$ 150 milhões para um clube que chega à Série A oriundo da Série B. Se isso se confirmar, o Remo terá uma receita bruta suficiente para estabelecer pela primeira vez neste século ampla vantagem em relação ao Paysandu.

A questão aqui é financeira, quem vai faturar mais na próxima temporada. Caso permaneça na Série B, o Remo seguirá com uma receita em torno de R$ 50 milhões. Já o PSC terá menos de um terço disso na Série C, o que compromete seriamente qualquer plano de crescimento.

Ao contrário, a preocupação de dirigentes e conselheiros é com a sobrevivência do clube dentro da Terceira Divisão, com brutal redução de receita e dificuldades naturais para montar um time competitivo. É um processo de quase recomeço para um clube que esteve na Série B por duas temporadas seguidas nos últimos anos.  

Caso Pedro Rocha e seus companheiros consigam materializar os sonhos do Fenômeno Azul, o Remo chegará ao paraíso da plenitude financeira. Como nunca em sua história, terá uma receita abundante para formar um elenco de qualidade e condições para executar as obras do CT de Outeiro e a ampliação do estádio Banpará Baenão.

Além das verbas de participação, contratos de transmissão e cotas de patrocínio, o Remo terá a vantagem de entrar na 5ª fase da Copa do Brasil, com premiação correspondente. Haverá ainda o enfrentamento com grandes clubes, propiciando 19 arrecadações robustas no estádio Jornalista Edgar Proença, o Mangueirão.

Há também o dinheiro oriundo do acordo com as ligas. A LFU, com 11 clubes, distribui R$ 1,4 bilhão por ano, enquanto a Libra, com nove times (Remo e PSC inclusos), divide R$ 1,35 bilhão, montante que compreende repasses fixos e bônus por desempenho técnico e audiência.

Os valores impressionam pela abundância e, quanto à rivalidade local, representam a abertura de um espaçamento técnico só visto nos anos em que o PSC disputava a Série B e o Remo patinava na D ou sem divisão. Significará uma inflexão importante no cenário das últimas décadas.

Mangueirão na rota turística do continente

O estádio Jornalista Edgar Proença foi incluído na Rota Turística do Futebol do Mercosul, circuito que conecta os maiores estádios e museus esportivos de Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia, promovendo o futebol como patrimônio cultural e turístico.

A presença do Mangueirão carimba o Pará como potência esportiva, turística e cultural do continente. A escolha é um prêmio à revitalização do estádio, que permitiu sua utilização em grandes espetáculos, como jogos das Eliminatórias Sul-Americanas, desde a reinauguração em 2023.

Único estádio do Norte incluído na Rota Mercosul, o Mangueirão terá como concorrentes os principais estádios do continente, como os míticos La Bombonera (Argentina) e Centenário (Uruguai).

O circuito está vinculado à marca Visit South America, que busca valorizar o futebol como uma das expressões culturais mais fortes da identidade sul-americana. Ao distinguir o Mangueirão, a Conmebol reconhece o relevo que a arena multiuso paraense conquistou no cenário internacional.

Começa o processo de desmanche na Curuzu

Consciente da proximidade do rebaixamento, a diretoria do PSC começou a fase de desligamentos no elenco. Além de Rossi, que já estava afastado da equipe, o clube acertou as contas com os jogadores Ronaldo Henrique, Novillo, Thiago Heleno, Denner, Quintana e Dudu Vieira (já desligado).  

Com essas mudanças, o clube tenta se antecipar aos litígios que certamente irão ocorrer nos próximos meses, a exemplo do que se viu em 2024.

É um passo inevitável e necessário, pois as despesas precisam ser enxugadas o quanto antes. O desmonte já vai afetar a participação nas quatro rodadas finais. Para enfrentar o Atlético-GO, amanhã (31), em Goiânia, Márcio Fernandes terá um grupo reduzido.

Apenas 20 jogadores estarão à disposição. Entre os relacionados para o jogo, três jovens da base: Lucca, Kauã Hinkel e Pedro Henrique, que entrou contra o Avaí. O cenário lembra outras situações de “fim de festa” quando os garotos são sempre lembrados para compor elenco.

Pena que mais uma vez a utilização da prata da casa seja puramente para quebrar galho, sem obedecer a um planejamento sério e sem o menor interesse em preservar a garotada ao final da temporada.  

(Coluna publicada na edição do Bola desta quinta-feira, 30)

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