A supremacia Vampeta

Fiquei abismado com a entrevista do presidente do Paissandu dizendo que, como se trata “apenas” de promessa, não se sente impelido a pagar imediatamente as gratificações dos jogadores pela conquista do título estadual. Observou que, entre a promessa e a obrigação legal, prefere a segunda: honrar o pagamento dos salários. Muito edificante e até elogiável a parte do respeito ao salário dos atletas. Mas, sob todos os pontos de vista, terrível a justificativa para o atraso nas gratificações.

Por essas e outras é que palavra de dirigente é como folha solta ao vento. Jogadores de futebol, mesmo aqueles mais novos, não acreditam numa vírgula do que os cartolas dizem. Por puro instinto de sobrevivência, sabem que o dirigente de clube não tem lá muito compromisso com a verdade – o que é terrível para os empregados de clubes e péssimo para o futebol como negócio. Já pensou numa atividade profissional cujos contratantes são visto como pouco (ou nada) confiáveis? Todo e qualquer relação de trabalho tem como base a confiança entre as partes. Sem confiança, simplesmente não há futuro.

É preciso, obviamente, procurar entender o ponto de vista do dirigente. Para Luiz Omar Pinheiro, as palavras dirigidas ao grupo de jogadores no calor da emoção, ainda nos vestiários, não têm gravidade ou o valor de lei. Foram promessas feitas na empolgação, na efervescência da festa pelo título paraense. Tudo, aparentemente, cabe nesses momentos. Inclusive tratar profissionais com amadorismo, misturando perigosamente as bolas do jogo.

Quando um dirigente, por mais neófito que seja, se aventura a tratar diretamente com jogadores de futebol precisa saber que está tratando com prestadores de serviços. Na sua empresa, o cartola lida com isso de forma absolutamente profissional, atento aos prazos e aos rigores legais. No clube, onde quase sempre passa poucas horas do dia, age como se todos estivessem ali por pura diversão. Ledo engano. Os atletas são trabalhadores e reagem a qualquer sinal de gratificação ou aumento salarial com as expectativas de um trabalhador. Contabiliza de imediato o dinheiro que vai entrar e passa a assumir compromissos levando em conta esse fato.

Não estou aqui tentando reinventar a roda ou crucificar o dirigente, mas apenas chamar atenção para um velho aleijão da estrutura do futebol brasileiro. Não é só no Paissandu que problemas dessa ordem ocorrem. É praxe em quase todos os clubes brasileiros. Os dirigentes, não remunerados, atuam sob impulso, distribuindo ordens e tarefas, fazendo cobranças de resultados e metas, mas pouco preocupados com a remuneração automática correspondente a essas obrigações.

Daí a assustadora quantidade de acordos descumpridos e contratos quebrados que conduzem à montanha de processos trabalhistas que praticamente inviabilizam a vida dos clubes. Decorre dessa realidade a imagem que a maioria dos atletas faz da elite de dirigentes brasileiros.

Tivessem voz – e coragem – quase todos repetiriam o célebre mantra do guru Vampeta, proferido num momento de irritação com os atrasos de pagamento no Flamengo. “Eles fingem que pagam e eu finjo que jogo”. Em poucas palavras e com extrema precisão, o velho volante baiano descreveu uma das farsas que corróem a estrutura do futebol no Brasil. Isso ocorreu há oito anos, mas nada mudou desde então, inclusive no Pará.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 10/06)

9 comentários em “A supremacia Vampeta

  1. Luiz Omar Pinheiro tem o perfil típico dos dirigentes dos anos 70 e 80 que viam o futebol brasileiro como a mera organização de times “em cima da hora” para jogar nos finais e meios de semana, embora naquela época os dirigentes fossem mais leais e cumprissem com o prometido.
    Aí Gerson, cabe uma pergunta que não quer calar: será que pra esses dirigentes seria interessante que os clubes se tornassem clubes-empresas, uma vez que a mudança de conceito na gestão dos clubes imporia o afastamento imediato de dirigentes fanfarrões e aloprados como Luiz Omar e muitos outros que infestam os clubes e se apropriam destes?
    O curioso é que a timemania apresentava um dispositivo em seu projeto que afirmava que os recursos que abateriam as dívidas dos clubes só seriam canalizados mediante transformação dos clubes em empresas. E quem consegiu derrubar esse dispositivo? Os próprios “clubes” (na verdade os cartolas) e a V.Srª CBF. Logo, aguentaremos o que aí está por muito, muito tempo…
    Infelizmente.

    1. Daniel,
      Não há saída nem a médio prazo. Acho que nossa geração não verá um sistema mais maduro e profissional regendo o futebol brasileiro. As coisas continuam bagunçadas porque aos cartolas o caos é conveniente. Na balbúrdia contábil dos clubes fica mais fácil tirar vantagens, fazer arranjos. O Flamengo é o exemplo mais bem acabado dessa bagunça. Clube mais popular do país, com patrocínio milionário da Petrobras até o ano passado, vive mergulhado em dívidas absurdas, que ninguém consegue explicar direito.

  2. Gerson, quando vc diz “Isso ocorreu há 12 anos” refere-se à declaração do Vampeta? Ele disse isso quando jogou no Flamengo, e jogou por lá em 2001. Então deve ter 8 anos.

    Abraços.

  3. é verdade muitas das vezes falta mas atitude do que palavras para luiz omar nunca gostei desse seu jeito falastrao dizer que a premiaçao nao esta no contrato porem ele como presidente tem a palvra sera que tudo que ele diz tem que estar em contrato ele prometeu a premiação. entao quer dizer que ele fala por falar e as palavras deles nao valem nada isso quer dizer que esse dirigente toma as atitudes mas como um torcedor do que como um presidente que deve sempre estar de cabeça fria para tomar as atitudes corretas e nao na emoçaõ do momento.

  4. É BOMBA: Será que o “Supremo VAMPETA” se sairia bem como DIRIGENTE de FUTEBOL? Acreditem: A resposta é NÃO. Idem JÚNIOR BAIANO. Jogadores de FUTEBOL não são “PRESTADORES DE SERVIÇO”. Se fossem, teriam que passar NOTAS FISCAIS DE SERVIÇO. Um dos PROBLEMAS está na CONTRACULTURA enraizada de associar DIRIGENTE à CARTOLA (quando a cartola faz mágica, TODOS FICAM $ATI$FEITO$, sem excessão, kkkkk! -Né não?). Solução?: TRANSPARÊNCIA BLINDADA DO VÍRUS DA PROSTITUTA ESPECULAÇÃO.
    Os ATLETAS merecem RESPEITO. Os CLUBES também. Portanto: MAIS SOCIALISMO e MENOS CAPITALISMO.

  5. Essa declaração do Luiz Omar, me fez lembrar os 9 x 0 pro paulista, não sei porquê.Lamentável.
    Cláudio Santos – Técnico do Columbia de Val de Cans

  6. Como acreditar em um Presidente que dirige o Clube de dentro de um barco!! Uma comedia esse Sr.!!

    Acho que o Presidente nao precisa estar sempre na midia, quando faz e’ pq usa isso em prol de seus interesses.

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