RAÍZES DO METROSSEXUALISMO OU PRÉ-HISTÓRIA DA POUCA VERGONHA
Por Xico Sá
Ainda no madrugador ano de 1926, um circunspecto editorial do Chicago Tribune pôs na conta do galã Rodolfo Valentino (1995-1926) a culpa pela primeira onda de afemenizaçao do homem na América. Pura sacanagem dos jornalistas, óbvio, como nos relata o escriba H.L.Mencken n´O Livro dos Insultos, relançado agorinha pela Cia. das Letras.
Jornalismo marron à parte, quem teria sido, cá na terra do mulato de inzonas tantas, o responsável pelas primeiras influências na baitolização do macho brasileiro de raiz?
O Databotequim, instituto de pesquisas nocturnas deste cronista de costumes, despachou as suas mais gentis funcionárias para ouvir o distinto público nas boas casas do ramo.
O cantor Mário Reis (1907 -1981), rapaz de fino trato, teria sido o nosso primeiro homem célebre a influenciar a plebe rude nesse quesito, conforme o levantamento feito por nossas vestais e imparciais pesquisadoras.
Não que fosse construído à imagem e semelhança do Valentino de “Os quatro cavaleiros do apocalipse” ou de “O Sheik”, por exemplo. Simplesmente por emprestar uma sensibilidade mínima ao então cenário de macheza absoluta. O intérprete de “Carinhos da vovó” e “Deus nos livre do castigo das mulheres” era um moço cuidadoso com o visual, um dândi, sempre na estica e nos bons modos.
O mais lembrado é Mário Reis, sim senhor. A fila de possíveis pioneiros, todavia, nela incluídos héteros e homos semi-declarados, dobra quarteirões.
Castro Alves, rival do abolicionista Joaquim Nabuco nessa peleja, tem destaque na galeria, como lembra a amiga Bia Abramo ao cronista. Beirava o janota, é o que diz o seu biógrafo Alberto da Costa e Silva.
Ai vemos também na fila o João do Rio, o Cauby Peixoto, a Carmem Miranda –praticamente inventora do travestismo no país-, o boleiro Heleno de Freitas, que de tão preocupado com o visual chegava a jogar futebol com um pente no bolso e tantos outros gamenhos do meu Brasil varonil, como diz o Zé Bonitinho, este o mais radical e testosteronizado dos nossos ídolos televisivos do gênero.